terça-feira, 1 de junho de 2010

As habilidades de leitura: muito além de uma simples decodificação

Mônica Garcia Barros

RESUMO

A leitura é uma das habilidades mais importantes e fundamentais que podem ser desenvolvidas pelo ser humano. É a partir da leitura de mundo que o aluno pode compreender a realidade em que ele está inserido e chegar a importantes conclusões sobre o seu mundo e os aspectos que o compõem. A habilidade de leitura é essencial e dá suporte para o estudo de outras áreas do conhecimento. Ao estudar matemática, a criança terá que realizar a leitura de sinais, de números existentes em uma determinada situação, bem como a leitura dos enunciados das questões propostas nas atividades. Já em história, ela irá se encontrar com um universo de palavras que caracterizam uma época, um acontecimento. Sendo capaz de realizar uma leitura proficiente desse contexto, ela não só compreenderá o passado, como também poderá estabelecer paralelos sobre a época estudada e a realidade atual. As habilidades de leitura vão muito além de uma simples decodificação, na verdade, vão além da própria compreensão do que foi lido. Mas quais são os conhecimentos e habilidades de leitura que o aluno deve ter? A habilidade que se deve ter de leitura não é somente traduzir sílabas ou palavras (signos lingüísticos), em sons, isoladamente (a decodificação). É sobre as habilidades de leitura e as etapas de leitura que abordaremos neste trabalho.

Palavras-chave: Habilidades de Leitura. Etapas de Leitura. Leitura no Livro Didático.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo abordar aspectos que fazem parte do desenvolvimento das habilidades de leitura dos alunos, em especial, do 2º ciclo do ensino fundamental em que os alunos ainda estão num processo de alfabetização. Habilidades que possibilitam o aluno compreender não só as tarefas em língua portuguesa, e sim, outras disciplinas. Na verdade, o aluno compreende não apenas o contexto escolar, mas o contexto de sua própria vida e do mundo contemporâneo.

A leitura é uma das habilidades mais importantes e fundamentais que podem ser desenvolvidas pelo ser humano.

É a partir da leitura de mundo que o aluno pode compreender a realidade em que ela está inserida e chegar a importantes conclusões sobre o seu mundo e os aspectos que o compõem.

A habilidade de leitura é essencial e dá suporte para o estudo de outras áreas do conhecimento. Ao estudar matemática, a criança terá que realizar a leitura de sinais, de números existentes em uma determinada situação, bem como a leitura dos enunciados das questões propostas nas atividades. Já em história, ela irá se encontrar com um universo de palavras que caracterizam uma época, um acontecimento. Sendo capaz de realizar uma leitura proficiente desse contexto, ela não só compreenderá o passado, como também poderá estabelecer paralelos sobre a época estudada e a realidade atual.

As habilidades de leitura vão muito além de uma simples decodificação, na verdade, vão além da própria compreensão do que foi lido.

Mas quais são os conhecimentos e habilidades de leitura que o aluno deve ter?
A habilidade que se deve ter de leitura não é somente traduzir sílabas ou palavras (signos lingüísticos), em sons, isoladamente (a decodificação), é muito mais que isso, a boa leitura deve passar pelas seguintes etapas:

1º - Decodificar;
2º - Compreender;
3º - Interpretar, e
4º - Reter.


A LEITURA EM QUESTÃO SEGUNDO PESQUISADORES

Para Dansereau , “a leitura como processo é constituída pelo conhecimento de símbolos gráficos (escritos ou impressos) que servem para estimular significados da experiência passada do leitor”.

Para Lionel Bellenger , “ler é ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário”.

Para o pedagogo e matemático Gaston Milaret , “ler é ser capaz de transformar uma mensagem escrita numa mensagem sonora segundo certas leis precisas. É compreender o conteúdo da mensagem escrita, é ser capaz de julgá-lo e de apreciar seu valor”.

Para Ezequiel Theodoro da Silva3, “ler é, antes de tudo, compreender”.

Para Magda Becker Soares, “leitura não é (...) ato solitário; é interação verbal entre indivíduos e indivíduos socialmente determinados”.

A autora diz também que a leitura:

(...) do ponto de vista da dimensão individual de letramento (a leitura como uma ‘tecnologia’), é um conjunto de habilidades lingüísticas e psicológicas, que se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de compreender textos escritos. (...) refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. (SOARES, 2002, pp. 68-69)

Ler para Borel-Masonny (1949), “significa, estando-se diante de um signo escrito, encontrar a sua sonorização.” (1960), “ler oralmente significa, diante de um signo escrito, encontrar sua sonorização portadora de sentido”.
Já para Foucambert,

(...) Ler é funcionar como uma agulha de um toca-disco que transforma vibrações de um certo tipo em sinais de um outro tipo.
(...) A leitura é um equilíbrio entre o processo de identificação de palavras que não pudemos prever com precisão – e que, por isso, informam – e o processo de verificação da antecipação de palavras que pudemos prever – e que, portanto, informam menos.
(...) Não existe leitura se não existir uma expectativa, uma pergunta, uma questão, antes da interação com o texto.
(...) Ler é ser questionado pelo mundo e por nós mesmos, é saber que certas respostas podem ser encontradas no escrito; é poder ter acesso a esse escrito; é construir uma resposta que integre uma parte das informações novas e tudo o que já sabemos.
(...) Ler é verificar a exatidão de uma antecipação. (apud BARBOSA, 1990, p.90)

A leitura é um processo no qual “o leitor é um sujeito ativo que processa o texto e lhe proporciona seus conhecimentos, experiências e esquemas prévios.” (SOLÉ, 1998, p. 18)

AS ETAPAS DE LEITURA

“No processo de leitura, ocorrem, pelo menos, quatro etapas, segundo uma visão psicolingüística: decodificação, compreensão, interpretação e retenção”. (Cabral, 1986).

A decodificação

O aluno primeiramente decodifica os símbolos escritos. É uma leitura superficial que, apesar de incompleta, é essencial fazê-la mais de uma vez num mesmo texto. É o momento em que o aluno deve anotar as palavras desconhecidas para achar um sinônimo, passo importante para passar para a próxima etapa de leitura, a compreensão do que foi lido.
Segundo Menegassi (1995, p. 87)

Na decodificação, há a ligação entre o reconhecimento do material lingüístico com o significado que ele fornece. No entanto, ‘muitas vezes a decodificação não ultrapassa um nível primário de simples identificação visual’, pois se relaciona a uma decodificação fonológica, mas não atinge o nível do significado pretendido

Segundo Angela Kleiman (1993 apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 82), "as práticas de leitura como decodificação não modificam em nada a visão de mundo do leitor, pois se trata apenas de automatismos de identificação e pareamento das palavras do texto com as palavras idênticas em uma pergunta ou comentário”.

A compreensão

Após passar pela etapa da decodificação, o aluno deve captar o sentido do texto lido. Deve saber do que se trata o texto, qual a tipologia usada, compreender o que o autor pretendeu passar e ser capaz de resumir em duas ou três frases a essência do texto.

Nas questões referentes à essa etapa, as respostas podem ser encontradas literalmente no próprio texto, ou escritas de outra forma, porém estão explícitas no texto.

Para Leffa (apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 85), “ler é interagir com o texto, considerando-se o papel do leitor, o papel do texto e a interação entre leitor e texto”.

A respeito disso, Menegassi; Calciolari (2002) complementa que “nesse caso, a compreensão só ocorre se houver afinidade entre o leitor e o texto; se houver uma intenção de ler, a fim de atingir um determinado objetivo.”

A interpretação

Na terceira etapa da leitura, o aluno deve interpretar uma seqüência de idéias ou acontecimentos que estão implícitas no texto.

O aluno não encontrará facilmente as respostas no texto se não o compreendeu, pois apenas com uma boa compreensão o aluno conseguirá interpretar sentidos do texto que não estão escritos literalmente.
O educador e escritor Rubem Alves nos diz que:

Na vida estamos envolvidos o tempo todo em interpretar. Um amigo diz uma coisa que a gente não entende. A gente diz logo: "O que é que você quer dizer com isso?". Aí ele diz de uma outra forma, e a gente entende. E a interpretação, todo mundo sabe disso, é aquilo que se deve fazer com os textos que se lê. Para que sejam compreendidos. Razão por que os materiais escolares estão cheios de testes de compreensão. Interpretar é compreender. (ALVES, 2004)

Quando o professor lê um texto com os alunos e faz a seguinte pergunta: “o que o autor quis dizer com isso?”, está fazendo o início de uma interpretação, porém o aluno terá primeiro que conhecer o texto e compreendê-lo, assim terá condições suficientes para fazer uma boa interpretação.

A retenção

Nessa última etapa, o aluno deve ser capaz de reter as informações trabalhadas nas etapas anteriores e aplicá-las: fazendo analogias, comparações, reconhecendo o sentido de linguagens figuradas ou subtendidas, e o principal, aplicar em outros contextos refletindo sobre a importância do que foi lido fazendo um paralelo com seu cotidiano, aprendendo com isso, a fazer suas próprias análises críticas.

A última etapa no processo de leitura (...) é a retenção, que diz respeito ao armazenamento das informações mais importantes na memória de longo prazo. Essa etapa pode concretizar-se em dois níveis: após a compreensão do texto, com o armazenamento da sua temática e de seus tópicos principais; ou após a interpretação, em um nível mais elaborado. (MENEGASSI, apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002 p. 83)

Apesar de toda essa preocupação com as habilidades de leitura, na escola, ela deve ser uma aprendizagem e não uma técnica resultante de uma mecanização ou receita a ser seguida. Deve ser uma ação do aluno refletindo, levantando hipóteses e se interando sobre o objeto de conhecimento. Certos “tabus” instituídos pelo poder dominante do professor, que define leituras como próprias ou impróprias, devem ser extintos da sala de aula. E para que esses “tabus” sejam extintos é preciso lembrar que:

um primeiro princípio para a construção de uma nova pedagogia da leitura diz respeito ao conhecimento, pelo professor, das circunstâncias de vida dos alunos e à recuperação, como ponto de partida, das suas experiências vividas. (SILVA, 1998, p. 26)

O que o professor deve fazer é conhecer seus alunos no que diz respeito ao seu estilo de vida, culturas e ideologias; e tomar como ponto de partida as várias experiências vividas pelos alunos. Essa é a base de uma preparação da aprendizagem de leitura, não esquecendo de valorizar as opiniões e gostos desses alunos.

A maneira como a escola conduz o aluno à leitura, através do bê-a-bá, pode acarretar sérios problemas para a formação do leitor. O reconhecimento das famílias silábicas, como das letras, faz parte do processo de decifração e não da leitura, como comumente se pensa. (VILAR, 2001)

A leitura, na escola, não serve para aprender a ler, e sim, para aprender outras coisas, serve para treinar a pronúncia dos alunos na língua materna e para ensinar gramática; tornando-se uma atividade secundária com apenas alguns poucos minutos de dedicação.

Tem como objetivo sanar os problemas de escrita, considerados mais importantes, possuindo a concepção de que "a melhor coisa que a escola poderia oferecer aos alunos é a leitura (...) se um aluno não se sair bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, a escola já cumpriu grande parte de sua tarefa". (CAGLIARI, 1996)

Alunos e professores estão acostumados a usarem a leitura para vários fins, menos para o que, realmente, ela serve.

Os alunos lêem para depois “copiar” o que uma personagem disse, ou o que o autor disse; lêem para procurar “erros” de ortografia ou para observar no texto o que eles aprenderam nas aulas de gramática, ou lêem para responder à uma chamada oral do professor, para poder provar que leu o que ele pediu.

Mas esse não é o objetivo dos livros, a leitura serve para formar leitores pensantes e críticos que saibam resolver problemas novos e jamais vividos. Não basta copiar o que o autor disse, tem que formular suas próprias idéias para defender ou criticar o autor, ou aplicar o novo conhecimento ao seu cotidiano.

DESENVOLVENDO AS HABILIDADES DE LEITURA NOS ALUNOS

O aluno somente terá habilidades de leitura se tiver primeiramente o hábito de ler. Mas, como fazer com que nossos alunos tenham gosto pela leitura?

O gosto pela leitura nem sempre surge do nada. Apesar de algumas crianças terem o gosto pela leitura sem ser imposto pelo professor, elas são a minoria, e já foi comprovado que depende da influência dos pais.

O professor, depois dos pais, tem o papel principal e mais importante no desenvolvimento de hábitos e habilidades de leitura dos alunos, porém, não deve ser autoritário a ponto de escolher sozinho o que seus alunos devem ou não ler. O professor deve levar em conta as diversidades dentro da sala de aula e valorizar os gostos e opiniões formadas pelos alunos.

Mas, ler e escrever é um compromisso só do professor de língua portuguesa ou também dos professores das outras áreas do conhecimento?

Esse é um ponto em que se deve insistir muito hoje, a tendência é julgar que cabe ao professor de Português ensinar a desenvolver habilidades de leitura e de escrita. Freqüentemente, professores das outras disciplinas se queixam com o professor de Português de que os seus alunos não estão sabendo compreender o problema de Matemática, o texto de História, o texto de Ciências. Na verdade, essa competência, essa responsabilidade não é só do professor de Português, nem o professor de Português é inteiramente competente para desenvolver habilidades de leitura de um problema de Matemática, por exemplo. Porque tem uma terminologia específica, tem uma forma específica de se apresentar, como o livro de Ciências, como o livro de Geografia. Não é o professor de Português quem vai ensinar um aluno a ler um mapa, nem quem vai ensinar a ler um gráfico. Isso são atribuições específicas dos professores que trabalham com essas formas de escrita. Então, cabe a eles desenvolver essas habilidades de leitura e de escrita também. Escrever um texto de História, ou de Ciências, não é a mesma coisa que escrever uma crônica, se o professor de Português pede uma crônica. São gêneros diferentes, cada área de conteúdo tem um tipo específico de texto que cabe ao professor dessa área ensinar o aluno a escrever ou a ler. Mas, essa é uma questão que tem sido difícil, porque os professores de outras áreas que não Português não têm recebido formação na área de leitura, isso seria necessário, introduzir na formação desses professores alguma disciplina, enfim, alguma formação na área de leitura e produção de texto para que eles pudessem trabalhar com isso. (SOARES, 2002).

Para despertar o gosto pela leitura nos alunos, eles devem ter a autonomia de escolher o que quer ler, o que na maioria das vezes são livros de literatura infanto-juvenis.


A IMPORTÂNCIA DOS PAIS NO INCENTIVO A LEITURA

Não podemos colocar a responsabilidade de incentivo à leitura somente a cargo dos professores, os pais possuem um papel muito importante nesse processo.

Os pais devem incentivar a leitura de seus filhos antes mesmo deles iniciarem a vida escolar, reservando alguns minutos do dia para ler livros infantis para eles. Quando estiverem alfabetizados, esses minutos devem continuar, porém, são eles que vão ler os livros que podem ser até os mesmos inicialmente para que comparem o que eles ouviam com o que eles estão lendo.

Os pais devem evitar expressões como "Está errado!" ou "Está lendo mal!", deve-se utilizar expressões como "Agora vamos ler juntos..." e apontar para as palavras à medida que, lentamente, as lê.

Deve-se aumentar a auto-estima da criança elogiando todos os progressos, até os aparentemente mais insignificantes.

É importante variar os gêneros, propondo leituras de livros infanto-juvenis, matérias de jornal, revistas infantis, textos informativos, receitas, manuais etc.

Falar sobre o livro que a criança vai ler é interessante, pois agusta a curiosidade da criança em saber como a história vai acabar. Ao final da leitura é fundamental discutir sobre o que ela leu solicitando que ela faça um paralelo com algum exemplo real do cotidiano.

Visitas regulares à bibliotecas podem ser divertidas, pois a criança aprende a escolher e localizar o livro que lhe agrada, podem visitar cessões especiais para crianças com vídeos e brinquedos e também pesquisar algum assunto para trabalhos escolares.

Mas todo esse processo não deve ser forçado, deve haver um interesse por parte da criança, para que esse processo seja prazeroso e não obrigatório.

A LEITURA E O LIVRO DIDÁTICO

Segundo pesquisa realizada por Zanini (1998), em pleno regime militar, década de 70, foi criada uma nova Lei (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 5692/71). Essa década é considerada, na área da educação, como a “década dos modelos”.

A LDB, em sua concepção de linguagem, previa um aluno capaz de aprender um novo conceito ou saber por meio de repetições, prática de exercícios que o levasse à respostas seguindo o modelo.

Nesse sentido os professores ganharam um grande aliado: o “livro didático”, pois traziam exercícios já elaborados, pronto para serem realizados pelos alunos, no próprio livro (o chamado consumível). E o mais interessante era que o professor ganhava o livro que continha as respostas dos exercícios realizados pelos alunos (o chamado “livro do professor”). Esse era o lado bom desse vínculo entre professor-livro didático.

Por outro lado, o professor, ao se encontrar numa relação de dependência ou acomodação, não foi além do que continha o livro didático, sem menos ainda contestá-lo se era eficaz ou suficiente para um bom ensino, principalmente de leitura e interpretação.

Isso tudo fez com que o aluno se tornasse reprodutor de modelos dos quais eram principalmente de livros didáticos e cada vez menos de seus professores. Fato que fez com que os professores perdessem campo para os livros didáticos “(...) uma vez que as suas aulas já vinham preparadas, dentro de uma realidade que nem sempre era a de seus alunos, e a sua obrigação era ‘cumprir’ um programa pré-estabelecido(...)” (ZANINI, 1999, p. 81).

AS ETAPAS DE LEITURA NUM LIVRO DIDÁTICO

A seguir analisaremos um livro didático de língua portuguesa da 5ª série do ensino fundamental utilizado em uma escola estadual no ano de 2003 no município de Maringá.
Figura 1. Livro do qual, um dos textos, analisaremos a seguir.









Esse livro, composto de 4 unidades de 2 capítulos cada, leva o título de: Português: Leitura, Produção, Gramática. Leila Lauar Sarmento. 5ª série, São Paulo: Ed. Moderna, 2002.

Cada capítulo é composto por três textos para leitura (primeira, segunda e terceira leitura), após cada leitura há quatro tipos de atividades sobre o texto lido (relendo o texto, conversando sobre o texto, explorando o texto e interagindo com o texto).

Os títulos dessas atividades, parecem ter relação com as etapas de leitura:
- Relendo o texto = decodificação
- Conversando sobre o texto = compreensão
- Extrapolando o texto = interpretação
- Interagindo com o texto = retenção

A seguir analisaremos se a relação feita anteriormente faz sentido e se as questões propostas nas atividades seguem uma ordem de raciocínio no que diz respeito às etapas de leitura.

Análise do texto

“O Sapo e o Boi” – Fábulas de Esopo – tradução: Heloísa Jahn, São Paulo: Ed. Companhia das letrinhas, 1994.

- Relendo o texto

1) O sapo e o boi é uma narrativa, pois apresenta uma história, situada num tempo e espaço, personagens e narrador. O texto apresenta narrador em 3ª pessoa. Ele não é personagem. O tempo e o espaço são indefinidos. Identifique a história e as personagens.
Essa questão não exige do aluno uma compreensão, nem interpretação, e muito menos, uma retenção do que foi lido, o aluno apenas precisa exercitar seu conhecimento de produção textual, pois o texto foi usado, nesta questão, como pretexto para verificação de gênero literário.

2) O que despertou o sentimento de inveja no sapo e por quê?

Já essa questão propõe ao aluno uma compreensão do que leu, podendo a resposta ser tirada do próprio texto. Como já vimos, essa é a segunda etapa de leitura pela qual o aluno deve passar.

3) Você acha que o sapo se tornaria igual ao boi, se ele ficasse grande? Por quê?

Essa questão já exige do aluno um pouco mais de atenção, é uma questão de interpretação (o que está implícito no texto), terceira etapa de leitura.

4) Apesar das advertências dos amigos, o sapo continuou a se estufar. Diante dessa atitude, como podemos caracterizá-lo?

Apesar dessa questão parecer do tipo retenção, ela, na verdade é uma interpretação, pois a resposta será baseada na última linha do texto que é a moral da história.

5) Que mensagens nos passa a moral do texto? “Seja sempre você mesmo.”

Essa também é uma questão de interpretação, apesar de também parecer com uma questão de retenção. A mensagem que a moral do texto passa é baseada na interpretação da própria moral. Essa questão permite respostas pessoais, porém dentro do sentido que o texto deixou, caso contrário será considerada incorreta, ou pelo professor, ou pelo autor do texto.

- Conversando sobre o texto

1) Que tipo de pessoas o boi e o sapo representam nessa fábula? O que você pensa sobre elas?

Pessoalmente não diria que esta questão é totalmente de retenção, eu diria que é uma questão de transição entre a interpretação do sentido proposto e a retenção numa opinião pessoal do aluno.

2) Na sua opinião, para que o sapo se tornasse elegante, era necessário que se transformasse em boi? Por quê?

Essa questão, como a anterior, ainda não está na etapa de retenção, pois o aluno ainda tem que interpretar uma possibilidade de acontecimento no texto, o aluno não está trazendo o sentido do texto para seu cotidiano, mesmo que a questão seja de opinião.

- Extrapolando o texto

1) O que você pensa sobre as pessoas que vivem insatisfeitas consigo mesmas? O que lhes diria?

Após bastante compreensão e Interpretação, aparece uma questão de retenção, na qual o aluno poderá colocar suas idéias a respeito de um assunto que, embora esteja relacionada com o assunto do texto, a opinião do aluno é sobre o cotidiano comum das pessoas.

2) Você está feliz com sua aparência e seu jeito de ser? Esclareça sua resposta.

3) Se você pudesse ser outra pessoa, quem você gostaria de ser? Por quê?

São ambas questões de retenção, e agora de opiniões bem pessoais

- Interagindo com o texto

Essa atividade não está relacionada com as habilidades e etapas de leitura, suas questões são de prática de gramática e figuras de linguagens.

Esse texto que acabamos de analisar, possui atividades que estão dentro da ordem das etapas de leitura. Apesar de termos analisado as atividades de apenas um texto do livro, o fato da distribuição das atividades dos textos serem padronizadas, podemos tirar hipóteses de que o livro didático está de acordo com as etapas de leitura, possibilitando ao aluno uma possível habilidade de leitura sem muitas dificuldades ao resolver as questões propostas.

Colocamos anexo o texto analisado com suas respectivas atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir com este trabalho que para que o aluno chegue à habilidade de criticar (retenção) sem grandes dificuldades, ele deve passar pelas habilidades de leitura sucessivamente, sem mudar essa ordem, pois para uma compreensão o aluno deve, obviamente passar pela etapa de decodificação – se não ler o texto não vai conseguir compreendê-lo. Por sua vez, o aluno poderá interpretar um texto facilmente, se ele o compreendeu. Conseqüentemente o aluno só conseguirá criticar (reter) o sentido que o texto pretendeu passar, fazendo paralelos com seu cotidiano, e colocando sua opinião como uma análise crítica sobre o assunto, se ele compreendeu e interpretou o texto em questão.

Concluímos também que todo esse processo a ser seguido numa leitura é o que faz a diferença no ensino de leitura na sala de aula. É a partir daí que o aluno começa a ter um bom hábito de leitura e conseqüentemente uma boa produção textual.

Concluímos, por fim, que ler é mais do que uma simples decodificação, é muito mais que a própria compreensão; é saber ler, compreender o que foi lido, interpretar o sentido do que foi lido e criticar (reter) essas informações de maneira que possa transferi-la para seu cotidiano, fazendo análises críticas e dando opiniões pessoais traçando paralelos entre o que aprendeu com a leitura com sua vida.

Este é o verdadeiro hábito de ler!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. São Paulo: Ed. Cortez, 1990.
CABRAL, L. S. Processos psicolingüísticos de leitura e a criança. Porto Alegre: Letras de Hoje, v. 19, n. 1, pp. 7-20, 1986.
CAGLIARI, Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Ed. Scipione, 1996.
MENEGASSI, Renilson José; CALCIOLARI, Angela Cristina. A leitura no vestibular: a primazia da compreensão legitimada na prova de Língua Portuguesa. Maringá: UEM – Acta Scientiarum, v. 24, n. 1, pp. 81-90, 2002.
MENEGASSI, Renilson José. Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções básicas ao professor. Maringá: Revista UNIMAR, v.17, n. 1, pp. 85-94, 1995.
PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: voz de criança. 3. ed., 2. impressão, São Paulo: Ed. Ática, 2001.
SILVA, Ezequiel Theodoro. Elementos de Pedagogia da Leitura. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.
SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed., 5. reimpressão, Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2002.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6. ed., Porto Alegre: Ed. Artmed, 1998.
ZANINI, Marilurdes. Uma nova visão panorâmica da teoria e da prática do ensino de língua materna. Maringá: UEM – Acta Scientiarum v. 21 n. 1, pp. 79-88, 1999.

ANEXO A

Texto analisado “O Sapo e o Boi”



















ANEXO B
Atividades analisadas referente ao texto anterior


















Mônica Garcia Barros - Estudante de Letras (Português / Espanhol) CESUMAR – PR
Fonte: Psicopedagogia Online

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