segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ler é Viver: Leitura deve começar no berço, defendem educadores

Adriana Fricelli

Érika de Moraes nem era alfabetizada, mas pegava um livro, mesmo que estivesse de ponta-cabeça, e dizia aos pais: “Estou lendo”, apenas para imitá-los. “Eu costumo dizer que criança não aprende só por repetição, mas também por repetição”, diz Moraes, jornalista e doutoranda em lingüística, salientando a importância dos pais em incentivar o hábito de leitura nos filhos.

Outra maneira de cativar os primeiros leitores é não obrigá-los a ler obras inadequadas para o preparo do jovem. “Muitas vezes as escolas pedem para o aluno ler Machado de Assis, mas ele ainda não está preparado para isso. Não quero dizer que não é para ler literatura, mas, às vezes, a forma de estimular poderia ser diferente”, defende a jornalista.

Para Moraes, qualquer tipo de leitura é válido para despertar o hábito. “É lendo por prazer que a pessoa descobre suas próprias afinidades. E mais: torna-se capaz de fazer uma escolha mais livre, já que adquiriu mais ferramentas para apreender significados”, coloca.

A docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutora em lingüística e língua portuguesa Maria Angélica Seabra Rodrigues Martins acredita que os professores precisam se conscientizar da necessidade deles mesmos se prepararem melhor para poder utilizar os recursos disponíveis, como a Internet.

“Antes de indicar aos seus alunos, os próprios professores precisam ler os clássicos. Mas eles também perderam esse contato, já que os que se formaram da década de 80 para cá nem tiveram aula de filosofia”, afirma Martins, que indica como obra indispensável a todos “Por que ler os clássicos”, de Italo Calvino.

Há mais de 30 anos trabalhando com crianças, a pedagoga Mariangela Aparecido Bincoleto sente diariamente as dificuldades em incutir o hábito de leitura nos pequenos. “Com o computador, as crianças estão lendo menos ainda”, lamenta.

Mas ela insiste por acreditar que “quanto mais cedo se convive com a variedade de textos, mais autonomia a pessoa vai ter na vida”. O Instituto Social São Cristóvão, onde trabalha, é freqüentado por crianças carentes que vão à escola e depois à entidade para fazer reforço escolar.

“Trabalhamos muito para fazer o desenvolvimento da leitura com os alunos. Porque sabemos que se eles lerem bem, irão bem em qualquer outra disciplina”, afirma a pedagoga, que recomenda como leitura essencial “O Resgate da Esperança”, de Gisela Laporta Nicolelis.
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Imprescindível

A partir da leitura, o ser humano tem contato com conteúdos filosóficos e antropológicos e cresce como pessoa, defende a professora Maria Angélica Seabra Rodrigues Martins. “Por meio da leitura você vai fazendo conexões com Jung, Sócrates, Nietzsche e transporta isso para um livro ou para um filme que esteja assistindo”, afirma Martins.

A jornalista e lingüista Érika de Moraes pensa que, pela leitura, o aluno adquire uma argumentação e coerência de texto, além de tomar consciência da realidade. “O leitor não tem condições de fazer viagens físicas para todos os lugares, mas, pelos livros, ele vai conhecer diversos mundos”, diz.
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Ulysses Cardoso de Oliveira, aposentado, 71 anos.
Livro: “Como Triunfar Sobre Obstáculos”, de Dale Carnegie.
“Este livro me ajudou a suportar, a ultrapassar as barreiras”.

Ivo Francisco Barbosa, estudante de geografia, 21 anos.
Livro: “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda.
“Gostei muito, porque nunca li nenhum livro que abordasse a formação da estrutura política brasileira com tanta profundidade”.

Nilo Sérgio Alves Júnior, gerente de livraria, 35 anos.
Livro: “O Maior Vendedor do Mundo”, de Og Mandino.
“De certa forma, este livro está ligado à minha profissão. Nele, fala-se sobre a história de um grande vendedor que seguia uma série de princípios éticos”.

Priscila Gonçalves Bernardes, estudante de jornalismo, 21 anos.
Livro: “Muito Longe de Casa: memórias de um menino-soldado”, de Ishmael Beah
“O mundo não gira ao seu redor. Perto da história deste garoto de Serra Leoa, que vive fugindo e lutando, meus problemas não existem”.

Euzemar Florentino Júnior, estudante de geografia, 19 anos.
Livro: “Brasil, a Terra e o Homem”, de Aroldo de Azevedo.
“O livro fornece uma noção mais ampla sobre a morfologia brasileira”.

Roberto Francisco De Bau, dono de sebo, 45 anos.
Livro: “Alegria e Triunfo”, de Lourenço Prado.
“É um livro que traz ensinamentos para o dia-a-dia, de como se portar e respeitar o próximo”.

Maria Luiza Zanzarini Araújo, bibliotecária, 54 anos.
Livro: “A História Sem Fim”, de Michael Ende.
“A história é lindíssima, da luta contra o fim da fantasia”.

Mariangela Aparecido Bincoleto, pedagoga.
Livro: “O Resgate da Esperança”, de Gisela Laporta Nicolelis.
“Como o próprio nome diz, temos que caminhar. Nunca podemos perder a esperança”.

Paulo Henrique Leite Pereira, funcionário público, 55 anos.
Livro: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.
“Hoje vivemos uma situação de guerra urbana não declarada, mas muitos não sabem que ao contrário da idéia de nação pacífica, o Brasil sediou muitas guerras”.

Um comentário:

  1. Ouvir estórias dotadas de magia, desde a mais tenra idade, permitirá à criança que desenvolva sua percepção para solucinar seus conflitos e angústias, a partir da identificação que estabelece com os personagens, em um mundo em que tudo é possível. Ouvir desperta o gosto pela leitura, que mais tarde será procurada naturalmente pela criança, o que colaborará para o desenvolvimento de seu intelecto, da imaginação e o controle das emoções.
    Maria Angélica Seabra R.Martins (Unesp-Bauru)

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