Jorge Werthein*
O Brasil vem reduzindo sua taxa de analfabetismo com velocidade constante nas últimas décadas. Hoje, ela é de 9% da população -16 milhões de analfabetos absolutos com 15 anos ou mais.
A pessoa que não sabe ler nem escrever se sente profundamente limitada e discriminada. Não consegue entender o jornal, não sabe pegar ônibus nem possui condições para obter um emprego. Sua auto-estima é baixa.
O Indicador de Analfabetismo Funcional informa que 67% dos brasileiros têm interesse na leitura. Mas não existem bibliotecas em cerca de 1.000 municípios dos 5.564. Em 89% deles não existem livrarias. Lê-se pouco.
O governo federal, os governos estaduais e municipais e diversas instituições da sociedade civil promovem ações para fornecer livros, informações e alcançar o brasileiro que está na ponta da linha, em alguma região menos desenvolvida. É um tremendo esforço que envolve pesada logística.
Não é fácil. Os resultados estão chegando. Poderiam ter mais velocidade. Porém, é inegável que a situação de hoje é melhor que a de ontem.
O que faz a diferença agora é a tecnologia. Os professores dispõem de recursos impensáveis anos atrás. Eles têm à disposição projetores, computadores com acesso à internet e a possibilidade de interagir com outros centros de excelência.
Em vários países, é normal ter salas de aula com até 300 alunos, que são convidados a ler antecipadamente sobre o tema que o professor vai expor.
E, posteriormente, voltam aos livros para conferir o que foi apresentado. É um ensino de massa que visa qualificar muita gente em pouco tempo.
Mas há outro caminho ainda não totalmente percebido no Brasil. A nova tecnologia dos telefones celulares - a chamada 3G. Telefone não é mais utilizado apenas para comunicação oral. Ele se presta para transmissão de dados, para ver televisão, para receber e mandar e-mails, para ouvir rádio, para ler jornais, para ver filmes.
É para essa nova tecnologia que os gestores da educação precisam olhar com atenção. Os professores devem se capacitar para usar a nova linguagem. Hoje, existem mais de 3 bilhões de telefones celulares no mundo. No Brasil, já foram comercializados 130 milhões de aparelhos. Eles cobrem mais de 80% do território nacional.
O plantador de soja no interior de Mato Grosso sabe o preço exato de seu produto nas Bolsas por intermédio do aparelho. É ele que transmite as notícias mais importantes e faz a conexão daquele remoto produtor no setentrião brasileiro com o mundo.
Esse é o novo caminho. Na internet, há de tudo. É preciso dispor das ferramentas certas e saber utilizá-las para obter o melhor resultado.
Infelizmente, os dados disponíveis nos censos elaborados pelo Ministério da Educação indicam que 50% dos professores da rede pública não têm computador. Se eles não dispõem do equipamento, não saberão ensinar o aluno a chegar à rede mundial.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que se desenvolve apesar dos desníveis de renda entre pessoas e regiões. Algumas delas, como é comum na Amazônia, são de acesso difícil ou quase impossível via terrestre. O ideal seria ter boas escolas, inclusive profissionalizantes, em cada um dos 5.564 municípios brasileiros.
Mas, na prática, a realidade é difícil, onerosa e demorada. A cidadania decorre do processo de educação. O homem e a mulher alfabetizados conhecem seus direitos e seus deveres. Vão transmiti-los aos filhos e descendentes. Vão ajudar a escolher melhor os governantes e a julgá-los nos momentos adequados.
Isso é cidadania. Não há como falar em cidadão se não houver educação que molde o espírito e prepare o jovem para a aventura da vida adulta, com todos os seus desafios, problemas e incertezas. O Brasil cresceu aos saltos, aos ciclos, mas o seu resultado tem sido extremamente positivo.
Há um país a ser feito. E uma sociedade a ser construída por cidadãos. Seus habitantes só vão merecer a cidadania plena se cuidarem da educação com o carinho que o assunto requer e a prioridade de que necessita. Inclusão digital é um capítulo importante do processo brasileiro de levar educação de qualidade para todos.
Aqueles 9% de analfabetos deverão desaparecer em pouco tempo. O Plano de Desenvolvimento de Educação estabelece que dentro de 15 anos todas as crianças com até oito anos estarão alfabetizadas no Brasil. É possível, é viável. Restarão os analfabetos funcionais, os que sabem ler e escrever, mas não conseguem entender o texto que está diante deles. E sempre haverá espaço e caminho para evoluir na construção da cidadania.
* Jorge Werthein é sociólogo e doutor em Educação pela Universidade Stanford (EUA). Foi representante da Unesco no Brasil e é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana)
Fonte: O Dia Online
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