Se o governo federal tem mesmo a intenção de incentivar a leitura – com o que todo mundo evidentemente está de acordo –, as medidas propostas por ele para atingir tal objetivo não poderiam ser piores. Em primeiro lugar, porque o “imposto do livro” – de 1% sobre o faturamento, a ser pago pelas editoras, distribuidores e livrarias –, que vai alimentar um Fundo Pró-Leitura, poderá produzir efeito contrário ao desejado.
Como aquela alíquota de 1% será cobrada em cada elo da cadeia editorial, ela se converterá, na prática, em 2,1% no preço final do produto. As editoras alegam, com razão, que a venda de livros é particularmente sensível ao preço e que, portanto, qualquer aumento afeta diretamente as vendas. Se vingar o imposto sugerido, as empresas do setor serão forçadas a reajustar os preços de seus catálogos. Com os livros mais caros, elas temem uma queda nas vendas. Sim, porque é pura ingenuidade imaginar que editoras, distribuidoras e livrarias vão absorver aquele aumento de custo para segurar os preços.
Como e por que o governo fechou os olhos a tudo isso – ou não lhe deu a importância devida – é algo que só ele pode explicar. Mas as questões levantadas pelas suas propostas para incentivar a leitura vão além desses aspectos materiais. O comitê gestor do Fundo Pró-Leitura, a ser dirigido pelo Ministério da Cultura terá a participação, não do setor editorial, mas da sociedade, o que é muito vago. Em “sociedade” cabe tudo. Se ele estiver a isso determinado, dificilmente se impedirá que o governo escolha os representantes da “sociedade” que mais lhe convenham.
Esse é apenas um indício de que a administração federal parece disposta a exercer um “dirigismo cultural”, que nada tem a ver com o correto e saudável incentivo à leitura e cujos perigos são evidentes. O outro e mais preocupante é a proposta de criação da figura de “mediadores” de leitura, pessoas encarregadas de incentivar o hábito de ler entre os jovens brasileiros. Algumas perguntas se impõem: Quem serão e como serão escolhidos esses “mediadores”? Não é grande o risco de que sejam contratados “companheiros” petistas em larga escala para essa função, o que converteria seu trabalho em proselitismo partidário e ideológico? O que garante que eles serão mais eficientes nessa função do que os professores? Por que tanto zelo com a leitura em governo chefiado por um presidente que já deixou claro que não gosta de livros e não hesitou em declarar que não lê “porque dá sono”?
Os que podem e devem exercer a função de “mediador” de leitura são os parentes das crianças e jovens, se têm condições para tal, ou então os professores, porque isto na verdade faz parte de seus deveres. Não há muito o que inventar nesse terreno.
Fonte: Jornal da Tarde
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