Luciana La Fortezza
Para Jorge Miguel Marinho, a grande importância é oferecer leitura sem amarras, em que as pessoas se descubram.
O grande mal da escola, inclusive no ensino superior, é a leitura impositiva, segundo e escritor e professor de literatura Jorge Miguel Marinho. De acordo com ele, a literatura deve ser livre de amarras. No entanto, atualmente, é tratada em sala de aula de modo utilitário. “A literatura não se presta a ensinar definitivamente as coisas, ela simplesmente vai dando pistas da realidade”, explica.
Ainda assim, os livros passam conhecimentos como geografia, filosofia e política. Para exemplificar, Marinho cita ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos. “A grande importância é oferecer aos leitores, nas mais variadas etapas de sua vida, leituras em que eles se descubram. A relação entre livro e leitor é imprevisível. Machado de Assis é espetacular, um autor universal, mas não quer dizer que fulano vai necessariamente gostar dele”, afirma.
Antes de mais nada, a relação com literatura é de ordem emocional, destaca o professor. “Ler é uma forma de felicidade”, comenta, ao citar Jorge Luis Borges. Todo o restante do conhecimento vem depois.
“A escola ainda é o lugar privilegiado para desenvolver o gosto pela leitura. Por que não dá certo? Porque normalmente o professor utiliza a literatura para ensinar outros componentes. Ler é uma forma de devaneio. O conhecimento vem posteriormente, de forma natural. Nossa formação é muito prática”, reitera Marinho, que lançou recentemente a obra “A convite das palavras: Motivações para ler, escrever e criar” (Editora Biruta).
Um outro problema apontado pelo escritor é a tendência do professor apresentar textos muito distantes da realidade do aluno. “Os intermediários da leitura são fundamentais, a existência do professor é inestimável, tem muitos professores maravilhosos, mas eles têm que ter a sensibilidade de apresentar livros para os alunos como se fossem pratos de doce. Certamente, todo mundo gosta de ler, só não teve um exercício para descobrir sua leitura. Mesmo uma leitura sem grande qualidade literária, se o aluno gosta, a relação com as palavras é tão profunda que ele passa a exigir leituras mais aprofundadas”, afirma.
Para chegar lá, várias opções devem ser apresentadas, assim como várias interpretações devem ser aceitas, não apenas a do professor. Todas são igualmente interessantes, garante Marinho.
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‘Literatura não é ciência’, diz professora
A literatura é arte, não ciência, adverte a professora de literatura brasileira e portuguesa da Universidade do Sagrado Coração (USC) Glória Maria Palma. Os educadores, no entanto, normalmente tratam o texto literário de forma sisuda e apresentam a seus alunos uma leitura desprovida de prazer.
Na luta para abrir um espaço ao texto literário na vida de pessoas que cresceram longe dele, Glória realiza leituras coletivas e dramatizadas, por exemplo. “Faço oficinas, como literatura e gastronomia, literatura e pintura etc. Gosto do texto literário, mas tenho que abrir, que facilitar. Quando se faz um projeto legal, os alunos adoram. Eu sei que dá, mas tem que ter aquele batalhão preparando”, comenta.
As atividades elaboradas por ela para crianças de 5ª e 6ª séries contam com roupinhas, adereços de papel, enfim, uma parafernália para atrai-las. “A questão é que não estamos mais usando muito a palavra e texto é palavra. Nem a palavra oral, quanto mais a escrita. Hoje tudo é muito visual. Dizem que uma imagem diz tudo, mas diz coisa nenhuma. Tem que conhecer muito para ler bem uma imagem”, comenta a professora.
Glória ressalta que, atualmente, a educação cultural das crianças está praticamente nas mãos das escolas. Não só porque os pequenos passam o dia todo nas instituições, mas também em virtude da maioria das crianças ser oriunda de famílias carentes, que pouco podem contribuir com o repertório delas.
“Ficou a incumbência para as escolas e elas não se movimentaram para ter um projeto global de leitura. Para estimular tem que ter um professor preparado, um professor lido. E o nosso professor de língua é um professor que vem das classes populares, que não têm o hábito da leitura. A cultura da escola está se massificando. Estou falando de um grupo que se propõe a ensinar outros grupos. Eles erram”, opina a professora.
Resultado: muitos alunos chegam à graduação sem conseguir degustar um texto literário. Foram acostumados com a simplicidade da televisão, por exemplo. “Os programas gastam um dinheiro imenso para tornar o produto palatável. Em geral, os textos não são palatáveis. O professor, então, tem que o ler com eles, mostrar o vocabulário e quando os alunos dão conta do texto, acham ótimo”, informa Glória.
De acordo com ela, existe uma crise envolvendo a literatura literária porque outras mídias passaram a dar conta do conteúdo dos livros. Atualmente, ele pode ser conferido em filmes, novelas e seriados. A literatura, na sua opinião, atualmente, ficou restrita aos grupos mais intelectualizados, ligados às universidades públicas.
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Caótico
É uma inverdade dizer que as criança não leem. Elas leem, mas fazem uma leitura caótica, explica a professora DE literatura brasileira e portuguesa Glória Maria Palma, da Universidade do Sagrado Coração (USC).
“As crianças vão lendo conforme o que vai caindo nas mãos. Leem romances, best sellers. As escolas têm que ter projetos que contemplem as várias leituras. As informativas, as literárias e até usar a leitura caótica do aluno para a produção de alguma coisa interessante”, recomenda a professora.
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru
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