quarta-feira, 30 de junho de 2010

Por que lemos pouco?

Rodrigo Capella - Escritor e Poeta

O brasileiro lê, em média, um livro por mês. Não se trata de uma estatística precisa, mas sim de um número calculado após muita observação. Justificando: o tempo para lazer é relativamente curto e as pessoas têm poucos minutos para se dedicar à leitura e absorver os conhecimentos escritos, que podem ir desde uma palavra nova até curiosidades sobre a vida de personagens históricos.

Nessa pressa do mundo globalizado, não é raro, portanto, encontrarmos homens e mulheres olhando fixamente para o livro enquanto se penduram num ônibus lotado ou devorarem páginas e páginas na sala de espera do dentista ou ainda sentarem no banco da praça e dedicarem algum tempo do almoço para virar duas páginas e interpretar algumas figuras. O esforço é louvável, embora insuficiente. Na Europa, lê-se três livros por mês, totalizando trinta e seis ao ano, um número bem expressivo perto da marca brasileira que, quando muito, chega aos doze anuais.

Mas, por que o brasileiro lê pouco? A preguiça é o principal fator e, normalmente, vem associada ao desinteresse pela leitura. Como desculpa, dizem que o tempo para lazer é curto. Está na hora de uma verdadeira revolução no mundo das letras, com propostas e metas bem definidas.

A inclusão digital, que atualmente está em várias pautas de discussões, é uma boa alternativa, embora devesse ser rapidamente ampliada. Possibilitar aos jovens estudantes o acesso a livros virtuais ajuda a suprirmos o déficit de leituras, mas não resolve totalmente o problema.

A esse acesso devemos agregar aulas sobre a Internet e suas aplicabilidade, dinâmicas educativas com o objetivo de despertar no jovem a busca por informações e livros diversos, e também pesquisas amplas que oferecerão embasamentos antes dos jovens acessarem desenfreadamente a Internet.

Justificando: o livre contato com esse mundo virtual pode, na maioria das vezes, transformar os adolescentes em dependentes de jogos com muita luta e sangue, e pouco raciocínio e criatividade, estagnando, desta forma, um processo educativo que se inicia na maternidade e se estende por toda a vida.

Os alunos precisam, então, desde cedo ser incentivados a ler livros pela Internet. Tudo é uma questão de hábito. Se for bem cultivado, os resultados serão muito positivos e veremos, por exemplo, adolescentes colando os olhos na tela para apreciar obras de autores nacionais, como Machado de Assis e Lima Barreto, mas também de internacionais, tais como Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle.

Justificando: o contato contínuo e sadio com esses romances virtuais vai, certamente, enriquecer o vocabulário e a argumentação dos jovens, ampliar sensivelmente o conhecimento literário e histórico, oferecer momentos de puro prazer e, principalmente, mostrar que ler no computador pode ser tão divertido quanto jogar futebol na rua.

Vale a pena traçar e desenhar um Brasil melhor. Com esses procedimentos em prática e com muita dedicação dos professores, monitores e alunos, a inclusão digital pode ganhar em importância e, dessa maneira, passar a ser um importante mecanismo de incentivo à leitura, de amadurecimento psicológico dos jovens e do conseqüente combate ao déficit de educação.

A leitura e a escola

Aldenira Silva de Oliveira - Jornalista

Diversas pesquisas têm apontado que são poucos os brasileiros, principalmente os mais jovens, que cultivam o hábito da leitura. Esse fato é atribuído, segundo alguns estudiosos da literatura, à falta de incentivo dos pais e dos professores. Outros admitem que a diminuição do número de leitores deve-se à revolução tecnológica que oferece informações “mastigadas”, e que, pela velocidade como são divulgadas, não permitem interpretações ou maiores reflexões sobre os temas abordados.

Há ainda aqueles que justificam o fato esclarecendo que os brasileiros não gostam de ler porque lhes falta concentração, ou porque acreditam que a mídia televisiva é suficiente fonte de informação para o seu dia-a-dia.

Apesar de toda essa polêmica, entretanto, em um aspecto os estudiosos têm opinião unânime: a mídia, de um modo geral, exerce grande influência na sociedade e é considerada essencial para fortalecer os processos de formação de opinião pública e da prática da cidadania. No entanto, as informações obtidas via eletrônica devem ser aprofundadas por aquelas veiculadas em livros e jornais, ainda por muito tempo insubstituíveis. E, por isso, tema recorrente quando a discussão é a leitura.

Escritores e professores têm estimulado essa discussão. Para eles, é preciso que o brasileiro, desde criança, entenda que a leitura é indispensável para o seu aprimoramento pessoal e profissional.

Na escolaridade, a leitura está veiculada à alfabetização, à decifração de um código escrito. Assim sendo, passa a ser compreendida como um processo que envolve expressões formais e simbólicas que se dão a conhecer através de várias linguagens. Ou seja, aprende-se a ler quando se estabelece uma ligação afetiva entre o sujeito que lê e o texto que o desafia.

Saber ler é, pois, saber o que o texto diz e o que não diz. É tanto decodificar quanto compreender, pois “decodificar sem compreender é inútil; compreender sem decodificar é impossível”. O ato de ler e registrar o que é lido mecanicamente sem que haja criticidade não leva o leitor à geração de novos significados nem à conscientização do que está sendo assimilado. Ler não é simplesmente reter ou memorizar, mas compreender e criticar.

Dessa maneira, à medida que a leitura vai se desenvolvendo, perguntas e respostas vão ocorrendo, simultaneamente, formando um processo criativo, crítico e pessoal, atingindo contextos (político, econômico e social) aos quais o leitor está inserido. É imprescindível, pois, que na fase inicial da leitura, quer de livros, quer de jornais ou de revistas, o leitor conte não só com o apoio dos pais, mas também de professores, educadores de um modo geral.

Assim, partindo-se do pressuposto de que a escola é uma instituição estabelecida pela sociedade moderna para a transmissão da cultura às novas gerações e por meio da qual são trabalhados determinados estímulos que visam ao desenvolvimento de potencialidades, é difícil concebê-la sem leitura. Logo, é dever das instituições de ensino criar um ambiente propício para a formação do leitor brasileiro.

Mas o que as escolas vêm fazendo para facilitar esse processo?

Sabe-se que, atualmente, algumas escolas já incluem em seu programa anual atividades que priorizam a leitura, inclusive de jornais e revistas informativas, por meio de atividades para os alunos e através de palestra-oficina para os seus pais. Essa iniciativa parte do princípio de que para uma criança habituar-se à leitura é preciso ter pais que também gostem de ler.

Acredita-se que, agindo desse modo, será possível desfaze-se a percepção disseminada de que a geração atual não gosta de ler ou não sabe interpretar o que ler.

Literatura infantil resiste

Ângela Corrêa

Em tempos de games violentos, programas de TV de conteúdo duvidoso e toda sorte de informação a um clique de distância, é mais fácil acreditar que os contos de fadas estão com os dias contados. Ledo engano. Hoje, quando se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil (que também homenageia Monteiro Lobato, que completaria 128 anos), a realidade não se mostra pessimista.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2008 pelo Instituto Pró-Livro, aponta ávidos novos leitores. Na faixa etária 5-10 anos, a média anual de leitura é de 6,9 livros. Entre os maiores (11-13 anos), é ainda mais positiva: 8,5. O mesmo levantamento indica 1,3 livro/ano por habitante.

"Nunca a criança esteve tão perto da ficção como hoje, mesmo que a partir dos games. E gosta dos livros porque chegaram até aqui como melhor suporte para literatura", diz a escritora Andréa del Fuego, de São Bernardo, que, depois de dois títulos juvenis, espera chegar às lojas seu primeiro infantil, Irmã de Pelúcia.

O fato de os aparatos tecnológicos não substituírem os livros não facilita o papel dos autores. "Realmente é um desafio escrever para a criança de hoje. Competimos com tantos tipos de mídia e temos de evoluir junto para prender a atenção dela", afirma Eva Furnari, que completa 30 anos de carreira em agosto.

Famosa pela personagem Bruxinha, que nasceu em formato de tira, e também por seus trabalhos como ilustradora, Eva acredita que é preciso acompanhar a inquietação desse momento. "Hoje, a linguagem tem de ser bastante ágil, sem grandes descrições. E isso se modifica sempre: cada geração supera a anterior em diversos aspectos."

Assim como o apetite dos leitores por histórias, o nicho também expandiu. De 2007 para 2008 o mercado editorial registrou aumento de 14% em títulos de literatura infantil. No mesmo período, o adulto despencou 20%. Os números foram medidos na pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, elaborada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP.

NADA DE CLICHÊ!

Alfabetizadas e precocemente digitalizadas, crianças e adolescentes contemporâneos se sentem confortáveis apenas quando mergulham em histórias parecidas com seu cotidiano, certo? Não exatamente.

"Eles estão muito disponíveis a descobertas. Se incentivados, jogam videogame, mas depois sentam-se para ler ou ouvir qualquer tipo de história. Para nós, autores, escrever a partir dessas características é tolher a criatividade", afirma Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, cartunista do Diário que lançou dois títulos infantis neste ano.

Para o editor e escritor Rodrigo Lacerda, o excesso de adereços que levam a essa realidade tecnológica é dos maiores erros encontrados no setor. "O livro é uma porta para que eles conheçam outros aspectos, outras realidades. Em O Fazedor de Velhos (título juvenil lançado há dois anos) incluí até referências a ópera, gênero que não costuma ser muito bem aceito pelos mais jovens, e pintura. Só tive boas respostas com respeito a isso", diz Lacerda.

COMO INCENTIVAR?

A curiosidade natural das crianças é grande aliada, mas os adultos podem evitar que uma futura rejeição. "Gosto de uma frase de Mario de Andrade: ‘Conselho é que nem sol de inverno: ilumina, mas não aquece''", diz Lacerda. Para o escritor, a melhor maneira de formar leitores é dar exemplo. "Tem de ler também, não adianta só falar. Também tem de dar liberdade absoluta para criar um cânone próprio. O filho tem de ter o direito de escolher o que gosta ou vai se desinteressar, vai achar que nesse mundo não há espaço para sua sensibilidade", defende.

Autores se divertem ao criar

Para quem se dedica às histórias adultas, surpreender-se matutando histórias infantis pode ser bastante recompensador - principalmente no que se refere ao prazer de escrevê-las. Essa é a experiência dos escritores Rodrigo Lacerda e Andréa del Fuego.

Em 2008, Lacerda trabalhava em um romance e estava, como ele mesmo diz, "sofrendo" com o pesado processo criativo. "Me veio então a história do feiticeiro que tinha o poder de envelhecer as pessoas. Quando sentei para escrever, saiu muito rápido. Era instintivo. No caminho, o personagem mudou: um sábio que ajudava as pessoas a amadurecer. Dediquei à minha filha, Clara, que na época tinha 12 anos".

O autor diz que manteve a espontaneidade e adequou a linguagem a um formato simples, próprio para o público-alvo. "Quando fui à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) no ano passado, o (dramaturgo) Domingos de Oliveira disse que existe o país dos livros escritos, que parecem estar prontos desde o começo. Para mim foi assim."

Andréa se surpreendeu quando se deu conta de que a trama de A Sociedade da Caveira de Cristal, que vinha pensando, só se adaptaria ao formato juvenil. "Foi delicioso. Como não convivo com crianças, recorri à minha própria infância. Naquela época, não havia problema nenhum, só certezas. Escrevi com essa voz, em primeira pessoa. Eles se identificaram muito". relembra. Além deste livro, lançou no ano passado Quase Caio. No fim do ano passado, A Sociedade teve os direitos vendidos para uma produtora de cinema, que está captando recursos para começar as filmagens.

Ler é prazeroso!

Autor: Mariele Parronchi

Bruno, Caio, Marcelo, Mariana, Matheus, Talita e Vinícius são estudantes do ensino médio. Todos possuem o hábito de ler... porque estão na época de se preparar para o vestibular. "Lemos os livros necessários para as provas de vestibular, mas são poucos. Preferimos os resumos ou até mesmo os filmes indicados. É mais fácil", falam. Ou seja: a leitura ainda está longe de ocupar um espaço mais nobre na vida dos jovens brasileiros.

As raízes dessa situação podem estar na colonização portuguesa, que não tinha como preocupação o desenvolvimento cultural das colônias. Tanto que, no Brasil, foi somente em meados de 1840 que surgiram as primeiras livrarias e bibliotecas.

No âmbito escolar, foi no século 20 que o mercado editorial olhou o público infanto-juvenil como consumidor e passou a publicar livros adequados a esse contigente.
A modernidade, porém, criou outros obstáculos. "Hoje em dia temos a Internet, que facilita muito as coisas. Um livro custa em média R$ 30 e na Internet posso achar o resumo de graça, além de ser mais fácil", opina Vinícius Giacon, de 18 anos.

A influência que a Internet provoca nos hábitos de leitura do adolescente é um tema que polemiza os debates sobre educação. A rede internacional de computadores foi o meio de comunicação que mais rapidamente se expandiu no mundo. As tecnologias de informação e comunicação na Internet disponibilizam o acervo de bibliotecas digitais e virtuais, expandindo os limites do ensino e pesquisa.

Os interesses de leitura sofrem influência da idade, sexo, grau de alfabetização, etnia, fatores socioeconômicos e disponibilidade de material. A influência da família, o comportamento dos professores e bibliotecários e os ambientes social, psicológico e educacional também concorrem para a formação de atitudes em relação à leitura.

Para a professora de Português Lia Rossetti, a leitura faz parte do desenvolvimento humano. Aglomera, diz ela, aspectos ideológicos, culturais e filosóficos que irão compor o pensamento humano, exigindo uma posição crítica do leitor. "O hábito de ler tem que ser cultivado desde pequeno. Os jovens de hoje não são incentivados a ler, tanto em casa como na escola. Se você está acostumado a ver seus pais lendo desde pequeno, com certeza criará o hábito", explica.

Conforme Lia, a leitura deve ser prazerosa. "O emprego de obras literárias nas escolas deve ser de maneira cativante", fala. Segundo a educadora, as pessoas que lêem têm outra visão das situações. "Grande parte de nossa evolução depende diretamente do que ouvimos e principalmente do que aprendemos pelas leituras. Um livro, um texto, um jornal se constituem em meios para elevar-nos intelectual e espiritualmente", opina.

Matheus Breda, 19, concorda. Para o estudante, a prática da leitura traz benefícios para o futuro. "Leio jornal todo dia. Com o hábito da leitura, temos assunto para conversar, imaginação para escrever e também nào passamos apuros na hora de ler", conta.

País é 7º no mercado de livros

O Brasil ocupa o sétimo lugar no mercado mundial de livros. O índice é de um livro por habitante - longe da relação norte-americana de dez livros por habitante.

Mariana de Almeida, 19, considera a cultura brasileira carente de leitura. "O adolescente considera a leitura das obras literárias como uma atividade penosa. Portanto, é papel fundamental da escola e da biblioteca reverter este pensamento e cativar o jovem a descobrir o significado da leitura", diz a estudante.

Projeto Cidade da Leitura em Limeira

"Cidade da Leitura" terá livros, ginástica e música

Em comemoração ao Dia Nacional da Leitura, celebrado no dia 12 de outubro e instituído pela Lei nº 11.899, de 8 de janeiro de 2009, e também ao Dia das Crianças, e ainda visando estimular o gosto e o hábito de ler em crianças, jovens e adultos, a Prefeitura de Limeira, por meio das secretarias municipais, irá realizar nos dias 29, 30, 31 de outubro e 1º de novembro, no Parque Cidade, das 9h às 17h, o evento Cidade da Leitura com entrada franca e programação variada.

A maior atração ficará por conta do Bosque da Leitura, com livros amarrados por meio de fios nas árvores, onde na sombra do bosque os visitantes poderão \'colher\' seu livro e se deliciar com uma bela história. Serão disponibilizados cerca de 4 mil livros para o público infantil, jovem, adulto, braile e baixa visão, além de livros de escritores limeirenses doados pelo CPP (Centro do Professorado Paulista). Os livros serão distribuídos em 3 áreas: no Bosque Encantado e ao lado da quadra de basquete, livros infantis estarão pendurados nas árvores; já nos viveiros dos pássaros haverá livros para jovens e adultos.

Durante o evento, a Secretaria da Educação irá inaugurar a Casa de Histórias, com um teatro especial apresentado pelo Cemep (Centro Municipal de Estudos Pedagógicos). Os alunos da Rede Municipal de Ensino visitarão o local nos períodos da manhã e tarde, e poderão desfrutar de várias atividades. O evento contará com apresentações e performances do Núcleo Cia. de Teatro que oferecerá contadores de histórias, animadores caracterizados como personagens da literatura infantil e um monólogo teatral com crônicas e poesias para adultos.

A Secretaria da Cultura disponibilizará espaço para troca de livros, apresentação de bandas musicais e outras atrações culturais. Toda infraestrutura de apoio, monitores, som, palco, segurança e logística contará com o empenho das secretarias municipais de Turismo e Eventos, Segurança Pública e Meio Ambiente. O Centro Educacional João Fischer Sobrinho disponibilizará livros em braile e para pessoas com baixa visão, além de intérpretes na língua de sinais (Libras) durante as apresentações. No dia 30 de outubro, sexta-feira, haverá duas apresentações do Coral Mãos que Encantam.

O evento é uma parceria das secretarias municipais da Educação; Turismo e Eventos; Cultura; Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Bioatividades; Ceprosom (Centro de Promoção Social Municipal); Segurança Pública; Assessoria Geral de Comunicações; além do apoio de outros departamentos da administração municipal.

Estimular o hábito da leitura

O objetivo do evento é estimular o gosto e o hábito pela leitura tanto nas crianças quanto nos adultos. Organizado pela diretora do Departamento de Gestão de Suprimentos (DGS) da Secretaria da Administração, Cassiana Pessatti de Toledo, trouxe ainda a apresentação do Núcleo Cia. de Teatro. Vestidos de palhaços e caracterizados com personagens de histórias infantis, eles levaram a garotada aos risos.

Depois, junto com o prefeito, todos os visitantes e as crianças caminharam pelo “Bosque Encantado”. No passeio, a meninada sentou em pedaços de lonas que cobriam a folhagem seca que estava sobre a terra, para ouvir contos infantis narrados pelos integrantes da companhia.

O secretário da Cultura, Adalberto Mansur, ressalta que o período de incentivo a leitura é importante, “pois desperta a atenção das pessoas”. “Sem esse trabalho não é possível a comunidade ter a valoração cultural”, destaca Mansur, ao afirmar que a ocasião também permite a inclusão social.

Para Silvio, a “Cidade da Leitura” é um sonho da Prefeitura, que se realiza para o município. “Toda cidade desenvolvida conquistou esse nome quando passou a investir na leitura”, completa. Silvio, na cerimônia, agradeceu aos professores e pais que dedicam uma parte do seu tempo para contar histórias às crianças, “afinal esse método proporciona o crescimento intelectual e criativo delas”.

4 mil livros nas árvores

O primeiro dia do evento conta com diversas atividades agendadas para toda tarde desta quinta-feira. A festa continua até o próximo domingo, 1º de novembro, no Parque Cidade, das 9 às 17h, com entrada franca e várias opções de lazer. Entretanto, a comissão organizadora avisa que a programação está sujeita a alterações.

Nas árvores do parque, cerca de 4 mil livros foram disponibilizados para o público infantil, jovem, adulto, braile e baixa visão. Obras escritas por autores limeirenses – que foram doados pelo Centro do Professorado Paulista (CPP) – também compuseram o cenário. Os livros foram distribuídos em 3 áreas: no "Bosque Encantado" e ao lado da quadra de basquete, onde se encontram os livros infantis; já nos viveiros dos pássaros os livros é destinada aos jovens e adultos.

A Secretaria da Cultura reservou um espaço para troca de livros e apresentação de bandas musicais, entre outras atrações culturais. A infraestrutura de apoio, como monitores, som, palco, segurança e logística contou com o empenho das secretarias municipais de Turismo e Eventos, Segurança Pública e Meio Ambiente, e demais secretarias municipais.

Espaço também para deficientes

O Centro Educacional "João Fischer Sobrinho" ainda cedeu livros em braile e para pessoas com baixa visão. Além de intérpretes na língua de sinais (Libras) para as apresentações.

A “Cidade da Leitura” apenas foi possível acontecer com o trabalho em conjunto desempenhado pelas secretarias municipais da Educação; Turismo e Eventos; Cultura; Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Bioatividades; Ceprosom; Segurança Pública; e Assessoria Geral de Comunicações. Além do apoio de outros departamentos da administração municipal.

Fonte: Prefeitura Municipal de Limeira
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Projeto de leitura apoia uso de diário

Autor: Redação JL

Desde pequena, a estudante Larissa Sandy Medeiro, de 10 anos, passou a relatar todos os seus segredos em um caderno de anotações. Considerado seu amigo inseparável, o diário de Larissa hoje está repleto de confissões. "Peguei gosto pela escrita e pela leitura assim, registrando em meu diário as experiências do dia a dia. Hoje, não consigo ficar longe dele", diz.

Considerado um gênero da escrita, o texto de diário foi inserido na grade curricular de 180 alunos da 4º série da EMEIEF "Maria Apparecida de Luca Moore", localizada no Jardim Aeroporto. O projeto, denomidado de "Ler e Escrever", pertence à uma campanha desenvolvida pela Secretaria de Estado da Educação, como incentivo à leitura nas escolas.

De acordo com a coordenadora pedagógica da unidade, Alessandra Daniele Pascoto, desde o início do segundo bimestre, os alunos passaram a redigir textos em primeira pessoa, relatando a rotina na escola, em casa e com os amigos. Na manhã de ontem, a escola distribuiu um diário para cada aluno para selar o projeto.

Para ela, além incentivar a escrita, o diário servirá também como um amigo para dividir as alegrias e tristezas, bem como de um momento de reflexão. "Trata-se de um exercício que propicia privacidade e cultiva a criatividade", observa a coordenadora.

Da mesma opinião, a professora Regina Helena Zacharias lamenta não ter tido a mesma oportunidade ainda quando criança de ter um diário. No entanto, ela confessa que pretende iniciar um junto com os seus alunos. "Realmente é o nosso amigo fiel e inseparável, pois não é sempre que temos alguém do nosso lado para nos ouvir", argumenta.

CIENTÍFICO

Conforme a coordenadora, a partir do próximo bimestre, os alunos conhecerão novos gêneros da escrita, como o texto científico. O tema a ser abordado será sobre os olhares deles sobre o bairro que moram, com o título "Onde vivo?".

Pesquisa aponta aumento de mercado de livros para crianças e adolescentes

Autor: Redação JL

A leitura não é apenas uma das ferramentas mais importantes para o estudo e o trabalho, é também um dos grandes prazeres da vida. Ajudar as crianças e os jovens a descobrirem essa verdade é uma missão importante, que cada cidadão deve abraçar com entusiasmo.

A indústria livreira do Brasil tem feito a sua parte. Segundo a pesquisa “Produção e Vendas do Mercado Editorial 2008”, que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe) elaborou a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), no período de 2008 o número de títulos voltados ao público infantil cresceu 14,02% na comparação com 2007. Também houve um incremento de 41,88% nos lançamentos de novas obras de literatura juvenil. Esses percentuais, num universo total de 13,39% novos títulos colocados no mercado, revela uma clara disposição em atingir mais crianças e jovens.

Além de apostar em mais títulos, as editoras também colocaram mais exemplares no mercado: foram 4,95% a mais de livros infantis e 9,26% a mais de livros juvenis do que em 2007. Vale ressaltar que, na média geral, a produção de novos exemplares foi 3,17% menor em 2008 do que no ano anterior.

O fato de os jovens e as crianças estarem lendo mais do que os adultos já havia sido evidenciada em levantamentos anteriores. A "Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil", de 2007, revelou que cerca de 39% dos 95,6 milhões de leitores brasileiros têm entre cinco e 17 anos. Entre os entrevistados de até 10 anos de idade, a média foi de 6,9 livros por ano. A estatística aumenta na faixa etária dos 11 aos 13 (8,5 livros por ano) e cai levemente entre os jovens de 14 a 17 anos (6,6). Infelizmente, porém, a maior parte das leituras é feita por exigência da escola: somente 0,9 livro é escolhido por iniciativa própria entre os leitores de até 10 anos, subindo para 1,4 na faixa dos 11 aos 13 anos e para 1,6 entre os jovens de até 17 anos.

A mesma pesquisa também demonstrou que o incentivo para a formação de jovens leitores vem da escola e da família, sobretudo das mães. Cerca de 73% dos leitores com idade entre cinco e 10 anos citaram as mães como principais incentivadoras do hábito e da leitura. E, entre os adultos que cultivam o hábito de ler, um em cada três disse ter lembrança da mãe lendo um livro, e 87% afirmaram que os pais liam para eles antes de dormir.

Para estimular as crianças e os jovens a, cada vez mais, lerem por prazer e não por obrigação, algumas medidas são importantes. A primeira delas consiste em facilitar o acesso às obras literárias. De acordo com a presidente da CBL, Rosely Boschini, estimular a leitura significa construir mais e melhores bibliotecas, equipada com mobiliário especialmente desenhado e estantes com altura adequada, de modo a facilitar o acesso dos pequenos leitores aos seus objetos de interesse. "Aumentar o número de bibliotecas é fundamental, pois há um grande número de municípios brasileiros que não dispõem de nenhuma. Mais livrarias também são necessárias. O Brasil tem hoje menos de 4 mil estabelecimentos do gênero, enquanto o ideal seria existirem pelo menos 10 mil", diz.

Outro ponto importante apontado por ela é que o livro tem que ser atrativo e interessante. "Neste ponto, as editoras brasileiras vêm cumprindo seu papel. Dos livros laváveis para bebês aos romances de aventura destinados aos jovens, há um universo de publicações lindamente encadernadas, com acabamentos primorosos e enredos variados, perfeitos convites para quem está começando a vida ingressar num mundo novo de aventuras, sonhos, fantasias e experiências variadas. Tanto isso é verdade que o produto editorial brasileiro vem obtendo grande sucesso nas feiras internacionais do setor, como a de Bolonha, principal eventual mundial do setor de livros infanto-juvenis".

Igualar as condições de acesso, incentivar as crianças de maneira positiva e envolver cada vez mais os pais e os professores na missão de iniciarem os mais jovens no universo infinito da leitura são providências urgentes e fundamentais para todos.

Falta biblioteca em escolas públicas - Dificulta o acesso a leitura

Autor: Redação JL
Falta biblioteca em escolas públicas

Nem metade delas tem este espaço; Estado prefere salas de leitura

Para brincar, os parquinhos. Para comer, a cantina. E para ler? Só um cantinho reservado na sala de aula. Pesquisa feita pelo Jornal de Limeira mostrou que menos da metade das escolas da rede pública de Limeira possui biblioteca. O levantamento foi realizado em 78 escolas municipais e 30 estaduais. Das 108 unidades públicas, apenas 51 (ou 47,2%) têm biblioteca.

O déficit é predominante na rede municipal. De 78 escolas de educação infantil e ensino fundamental, só 26 (ou 33%) possuem uma sala específica dedicada à leitura. Treze manifestaram ter um "pequeno acervo" de livros. Isso pode ser explicado, em parte, por conta da idade dos alunos. Os centros infantis (CIs) são destinados a crianças de 0 a 3 anos. Ao todo, são 17 CIs em Limeira.

O incentivo à leitura se inicia de forma mais forte a partir dos 4 anos, quando a criança entra na educação infantil e começa a ser alfabetizada.

O próprio secretário de Educação de Limeira, Antonio Montesano Neto, admite um outro problema. Segundo ele, as escolas não possuem bibliotecas por conta da falta de espaço específico para a instalação destes espaços, além da questão da idade das crianças, que "ficariam perdidas frente a tantos livros", diz. "As novas escolas estão recebendo salas específicas para as bibliotecas", complementa.

Da rede municipal, as escolas que trabalham com educação infantil e ensino fundamental juntos são as que mais têm o espaço específico para o acervo de livros - são 18 bibliotecas em 37 escolas. Por meio da Assessoria de Comunicações da prefeitura, a secretaria informou que as escolas dispõem de cantinhos de leitura. "Dependendo da escola e da demanda, é necessário optar pelo uso da sala para aulas, mas todas as escolas possuem acervo de livros, independentemente do espaço físico", cita.

Ainda conforme a assessoria, as escolas receberam 5.280 livros só este ano. Serão entregues outras 19 mil unidades, que já foram compradas. Montesano explica que todas as classes recebem livros iguais e atuais. Duas coordenadoras de escolas municipais ouvidas pelo Jornal - e que preferiram ficar no anonimato - elogiaram os livros enviados pela secretaria. Ambas, porém, comentaram que nas escolas onde dão aulas não há um espaço específico para a biblioteca.

A situação é diferente nas escolas estaduais. Das 30 unidades da rede em Limeira, 25 (ou 83,3%) possuem bibliotecas. A Secretaria de Estado da Educação, porém, prefere falar em "salas de leitura". A nomenclatura é mais do que um detalhe. "Possuímos salas de leitura coordenadas por professores readaptados. As salas não exigem bibliotecários formados", informa por meio da assessoria de imprensa.

Das 30 escolas estaduais, apenas quatro (13,3% do total) informaram ter bibliotecários. Na rede municipal, são sete (9%). No lugar de criar bibliotecas, a secretaria estadual aposta na distribuição de livros aos estudantes (veja nesta página).

Estímulo ao aluno, diz pedagoga

Para a pedagoga e professora do 1º ano do ensino fundamental Solange Cristina de Oliveira Hergert, os cantinhos de leitura são eficientes no incentivo ao hábito de ler, mas as bibliotecas estimulam mais o aluno por conta da variedade de títulos. Além disso, as crianças criam o hábito de freqüentar bibliotecas - o que é positivo.

"Sabemos que despertar o gosto pela leitura é complicado, tem que tentar alguns macetes para estimular", diz Solange. Livros com letras grandes e ilustrações ricas são os mais indicados na alfabetização dos alunos. Em uma biblioteca freqüentada por estudantes de diferentes séries, deve haver livros de níveis variados. "Por mais que seja infantil, os professores precisam orientar as crianças para ter contato com aqueles feitos para suas idades", afirma.

A pedagoga salienta que ir à biblioteca traz benefícios, além da leitura em si. "Levar as crianças para a biblioteca ensina alguns valores - como respeito, silêncio e noções de comportamento", explica Solange.

Estado entregará livros

Os 3,3 milhões de estudantes de 5ª à 8ª série e de ensino médio da rede estadual ganharão até o fim deste ano três livros infanto-juvenis de escritores brasileiros. O projeto é da Secretaria de Estado da Educação.

Os alunos receberão também um atlas geográfico e um dicionário (a ser entregue no próximo ano). Estudantes do 2º e 3º anos do ensino médio receberão dicionários bilíngüe. Ao todo, serão 9,9 milhões de livros, 3,3 milhões de dicionários e 3,3 milhões de atlas.

A secretaria também enviará às escolas de 5ª à 8ª série e ensino médio uma coleção de livros temáticos.
Para crianças de 7 a 10 anos, há outro projeto. Até o fim do ano, os 230 mil alunos de 1ª série do ensino fundamental terão nas salas de aula um "cantinho da leitura" com livros infantis, almanaques e revistas.

São 2,2 milhões de exemplares adquiridos pela secretaria. A iniciativa - que inclui ainda a disponibilização de um globo terrestre nas classes - será implantada posteriormente nas salas das outras séries - 2ª, 3ª e 4ª.

Crianças têm 1º contato com os livros

Autor: Stefanie Archilli

Letícia, 6, aluna da Escola Municipal Aracy Nogueira Guimarães, levou para a casa um presente único, que ela pretende compartilhar com seus colegas de classe e vizinhos. Um livro, sorteado durante a "Hora do Conto", na Biblioteca Infantil Profa Cecília Quadros, foi o presente que Letícia e mais três crianças ganharam. Os alunos não possuem livros em casa e nunca estiveram na biblioteca.

O primeiro contato com uma biblioteca foi empolgante, como descreve Bianca, 5. "Gostei muito de brincar. Quero vir aqui de novo", falou. Letícia também quer frequentar a biblioteca. "Aprendi muito com os livros", disse.
Os 15 alunos da escola, acompanhados da professora Talita Daiane da Silva, participaram do projeto "A Hora do Conto", que proporcionou um momento de leitura e brincadeiras. "Fiz a leitura de um livro sobre profissões e, depois, eles começaram a brincar com os jogos. É uma experiência muito gratificante para a vida adulta deles, que tem uma vida de carências, sem livros e brinquedos", declarou a contadora de histórias da biblioteca, Ana Paula Vaz.

Segundo a professora da classe, as crianças têm pouco contato com livros e brinquedos, por isso é importante o acesso a cultura. "A reação deles mostra a importância destes momentos lúdicos", revelou.

INCENTIVO

Outra turma de alunos também estava na biblioteca fazendo leituras e brincando com os jogos. A escola particular "Mamãe Coruja" possui um projeto de incentivo e desenvolvimento da leitura, que leva os alunos, a cada 15 dias, à biblioteca. "Eles fazem a carteirinha, pegam um livro e, depois de 15 dias, devolvemos os livros e eles retiram um novo. Dessa forma, estamos incentivando a leitura em casa", falou a professora Silvana Domiciano.

Letícia, 5, leu o livro em casa com o pai e escolheu uma nova história nesta segunda visita a biblioteca. "Tenho bastante livro em casa, mas é gostoso ler as histórias da biblioteca", falou.

Kayk, 5, fez a carteirinha e também já escolheu um livro. "Gosto dos livros com bastante figura", disse.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Por que as mulheres, brasileiras ou francesas, leem mais que os homens?

Lourdes Magalhães*

“Mulher, você vai gostar, tô levando uns amigos pra conversar…” No centenário do Dia Internacional da Mulher, provavelmente a personagem de Chico Buarque, na divertida “Feijoada completa”, nem estaria em casa para recepcionar a trupe de amigos do marido. Ela estaria ocupada, desenvolvendo mil projetos no trabalho ou consumindo cultura. Brincadeiras à parte, dados estatísticos mostram os avanços e a inclusão feminina nos ambientes culturais e corporativos. As mulheres leem mais no Brasil, como demonstra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. Os dados revelam que 55% dos leitores brasileiros são mulheres – elas consomem, em média, 5,3 livros por ano contra os 4,7 livros anuais lidos pelos homens. Um outro estudo, conduzido pelo Instituto QualiBest, revelou que as mulheres internautas também leem mais: 55% leem pelo menos um livro por mês contra 42% dos homens. Nessa pesquisa, 65% afirmaram que leem por prazer, sendo ficção e romance os gêneros preferidos.

Mas, como não posso pecar pelo ufanismo, adianto que esse não é um fenômeno brasileiro. Pesquisas internacionais comprovam que as mulheres consomem mais cultura, ou seja, leem mais literatura de qualidade; assistem mais peças teatrais e filmes; visitam museus e exposições; e são maioria nas plateias de espetáculos de dança. Como se não bastasse, elas ocupam a maioria das cadeiras nos cursos de humanidades. Na Europa e Estados Unidos, por exemplo, superam os homens na leitura de ficção.

Em viagem recente a Paris para participar de encontros com autores, tive acesso – pela leitura de jornais e conversas informais com escritores franceses – a relatórios do governo francês que analisam dados de pesquisas realizadas entre 1973 e 2003 sobre a relação feminina com a cultura. Em 1973, por exemplo, 72% dos homens franceses leram um livro em 12 meses; em 2003 esse índice caiu para 63%. Entre as mulheres, o índice subiu de 68% (1973) para 74% (2003). Essa constância no crescimento do consumo cultural feminino ultrapassou o status de tendência para consolidar a permanência.

Um dado interessante que consta nesse compêndio de pesquisas sob o título “A fábrica sexual do gosto cultural” é que a participação feminina no consumo de cultura é mais significativo na faixa dos 40 anos – idade, na Europa, de jovens mães – que dão ênfase à educação cultural das meninas. Não à toa, uma pesquisa com três mil famílias mostrou que meninas entre seis anos e 14 anos leem mais que os meninos da mesma idade; sendo que 38% têm no cotidiano atividades culturais e artísticas como cursos de balé, teatro e pintura, contra 20% dos garotos.

No Brasil, a queda no analfabetismo indica que temos um longo caminho pela frente, mas que avançamos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que entre 1991 e 2001 a taxa de analfabetismo caiu de 20,1% para 13,6% da população. No tocante à escolaridade assistimos à ascensão feminina contínua, um processo de inclusão educacional muito relevante porque tem reflexos na participação feminina nos melhores postos de trabalho do País. Em 2007, entre os brasileiros com mais de 12 anos de estudo – inseridos, portanto, no nível superior de ensino – 57% são mulheres. A projeção do IBGE é que a cada 100 pessoas com 12 anos ou mais de estudo, 56,7% são mulheres e 43,3% homens. Em 2009, de acordo com a empresa internacional Great Place to Work, 43% dos postos de trabalho das 100 “Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil” são ocupados por mulheres; elas estão em 36% dos postos de liderança, inclusive na presidência de empresas.

Voltando ao título que motiva este artigo – “Por que as mulheres, brasileiras ou francesas, leem mais que os homens? – antes que alguém evoque a maior sensibilidade feminina para as artes, o hipotético “tempo de sobra” ou argumentos similares, recorro novamente ao estudo francês. Quando questionados no estudo sobre o que estão fazendo nos momentos de lazer, homens e os meninos revelam: dedicam mais tempo à televisão – especialmente programas de esportes –, acessam a internet e convidam os amigos para jogar videogame.

* Lourdes Magalhães é presidente da Primavera Editorial. Executiva graduada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, EUA). Com experiência como consultora por 20 anos, a executiva atua no mercado editorial nacional e internacional desenvolvendo parcerias e contratos com agentes literários na avaliação de obras para a compra de direitos autorais, além de participar ativamente de feiras internacionais do setor. Lourdes Magalhães atuou em editoras consideradas referência no mercado como Ática, Scipione, Grupo Abril e Editora Brasiliense.

Cobrador monta biblioteca itinerante em ônibus de Brasília

Acervo com 4.000 títulos foi montado a partir de doações. Passageiros podem retirar livros de graça.

Com a ajuda de doações, o cobrador Antonio Conceição Ferreira montou uma biblioteca itinerante em Brasília dentro do ônibus onde trabalha.

Os passageiros podem retirar os livros de graça para ler durante a viagem ou levá-los para casa.

No início, Antonio ficou com medo de fixar o porta-livros no ônibus. Achou que alguém até podia reclamar, mas a biblioteca itinerante já tem quase um ano e até agora só recebeu elogios.

“Às vezes, estou em pé, o ônibus lotado, e, ainda assim, dá um tempinho, pego o livro, abro, continuo lendo e o tempo passa mais rápido”, diz Adriana Leandro, operadora de telemarketing.

Quem lê anota o nome numa ficha e devolve o livro quando quiser. "Não cobro nada. É só apenas o incentivo à leitura para que o trabalhador tenha um poder crítico e incentive o seu filho no caminho da educação”, afirma Antonio.

Acervo

O acervo fica guardado num quartinho alugado do outro lado da rua onde ele mora. São pilhas e pilhas de livros e revistas: 4.000 títulos que valem mais do que o salário de R$569 dele.

“A minha idéia começou eu colocando o livro em cima da caixa do cobrador. O passageiro passava olhando, via o título”, conta Antonio. “Aí, teve uma passageira que ficou olhando e perguntou: ‘Cobrador, o senhor gosta de ler?’ Falei: ‘Gosto’.” E, a partir de então, ele começou a receber doações.

“Só educação que dá uma vida melhor para o ser humano”, diz o cobrador, que nasceu no interior do Maranhão e mora no Distrito Federal num quarto e sala no fundo de um terreno com a mulher e dois filhos.

Fonte: G1

Livros de graça nas ruas

Iniciativa de professora e 30 alunos do Instituto Coração de Jesus de abandonar obras literárias em espaços da Praça da Estação, no Centro da capital, encanta trabalhadores

Daniel Antunes - Estado de Minas
Publicação: 24/04/2010


Cláudio Roberto, gari que achou livro no banco da praça:
"Não sou muito de leitura, mas achei esse livro interessante"

A manhã de sexta-feira foi atípica para muita gente que saiu para trabalhar e passou pela Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte. A iniciativa de uma professora de inglês deixou surpresos os pedestres, que encontraram durante o trajeto livros espalhados nos bancos, telefones públicos, nas escadarias do metrô e no chão da praça. O objetivo da educadora Eliene de Souza, 26 anos, e dos 30 alunos da 5ª série do Instituto Coração de Jesus, do Bairro Nova Suíssa, na Região Oeste da capital, era despertar a atenção da população para a importância da leitura no cotidiano. O projeto “Leave a Book!” (abandone um livro) foi inspirado num modelo de troca de livros nos Estados Unidos, conhecido como Bookcrossing, uma prática de deixar um livro num local público para que outros o encontrem, leiam e voltem a abandoná-lo em algum lugar e assim sucessivamente.

Dentro de cada livro, foi deixado um bilhete, informando ao leitor que poderia levá-lo para casa. Colocamos também um endereço de e-mail, para que o leitor pudesse comentar sobre o livro e o projeto. Também, em cada livro, o estudante deixou escrito o motivo da indicação. Na pesquisa que fizemos com os alunos, descobrimos que o método de indicar livro é dos mais eficientes para o incentivo da leitura”, comentou a professora Eliene de Souza.

A auxiliar administrativa Elizete Ferreira de Oliveira, de 21 anos, olhou com desconfiança, pensou em parar, seguiu adiante, mas acabou voltando. Encontrou na escadaria da estação do metrô, na Praça da Estação, um livro infantil que narra a história de uma menina, que aprende de forma descontraída a importância da família. Pensou nos dois filhos ainda pequenos que gostam de ler e acabou pegando o material, e depois de folhear, colocou-o na bolsa e seguiu adiante para o trabalho. “No início, fiquei surpresa, achei que alguém havia perdido o livro, mas, como dono não apareceu, resolvi levar para casa. Depois quero indicá-lo para outras pessoas. É uma ideia muito inteligente, que tem tudo para dar certo e atrair mais pessoas para essa diversão que é a leitura”, comentou.

DESCANSO

A poucos metros, o gari Cláudio Roberto, de 36 anos, sentava num dos bancos da Praça da Estação para descansar. Era mais um dia de trabalho exaustivo debaixo do forte calor. No assento, achou um livro que conta a história de um menino e seus amigos que disputam as ruas do bairro com uma turma adversária. Olhou para os lados e, como não encontrou o dono do livro, acabou aproveitando o momento de descanso para ler. “Não sou muito de leitura, mas achei esse livro interessante”, afirmou.

O ritmo frenético do dia a dia da promotora de vendas Dulcinéia Gregório, de 37, foi interrompido quando entrava na estação do metrô. No caminho, encontrou um livro na escadaria. Achou estranho, mas resolveu pegar o material que contava a história da Bíblia. “Sou evangélica e o título do livro me chamou a atenção. Não sou de andar olhando para o chão, mas hoje tive a sorte de encontrar esse livro.”

A história adaptada do livro Maria vai com as outras, desenhos e histórias de Sylvia Orthof, será a diversão do fim de semana dos filhos e dos sobrinhos do porteiro Hormino Ribeiro do Amaral, de 46, que encontrou o livro no chão da Praça da Estação, perto do chafariz, quando voltava para casa depois de trabalhar durante a madrugada. “Só peguei porque vi o bilhete informando que o livro era para ser levado para casa por quem o encontrasse. Vou pedir a minha mulher para ler a história para as crianças”, entusiasmou.

PROJETO

O projeto “Leave a Book!” ainda deve envolver alunos de 5ª e 6ª séries do Instituto Coração de Jesus. Uma fábrica, praças nos arredores da escola no Bairro Nova Suíça, Região Oeste da capital, e um local turístico de Belo Horizonte, a ser definido, serão os próximos locais onde os alunos vão deixar os livros. “Mostrando para as pessoas a importância da leitura, os estudantes também acabam ganhando incentivo extra para continuar a ler. Para elaborarmos o projeto, pesquisamos os hábitos de leitura no mundo e comparamos o Brasil com os países da Europa. Os alunos descobriram que no Brasil essa prática é muito menor do que nos países desenvolvidos”, contou Eliene de Souza.

O estudante Bruno Vinícius, de 11 anos, que participou da entrega dos livros, disse que, depois de ver o interesse da população que pegou os livros, já pensa em distribuir os exemplares que já leu e guarda em casa. “Se não serve mais para mim, para outras pessoas pode ser importante e a gente tem de incentivar o interesse das pessoas pela leitura”, afirmou.

COMO FUNCIONA

Desde 2001, um site norte-americano, chamado Bookcrossing, mescla o mundo on-line com o mundo off-line por meio de livros. Os interessados cadastram-se no site, juntamente com o livro que pretende “doar ao mundo”. Colocam um número de rastreamento único (definido pelo site) e instruções dentro de cada livro e aí é só deixá-lo em algum lugar público para ser encontrado. Quando alguém encontra um destes livros, tem todas as instruções necessárias para ir ao site registrar a localização do livro e depois repassá-lo, dando continuidade ao processo. Além do valor cultural da iniciativa, participar de um projeto como este pode ser muito divertido. Nunca se sabe onde um livro vai parar. “A nossa ideia era fazer esse mesmo processo em Belo Horizonte com os alunos, mas é muito complicado. Por isso, criamos um e-mail para a pessoas que encontrar o livro nos escrever e dizer se pretende passá-lo adiante”, conta Eliene de Souza.

Fonte: Uai

sábado, 26 de junho de 2010

Poema "Viajar pela leitura" de Clarice Pacheco

Mais um clique e outro poema sobre leitura.

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Clarice Pacheco

Viajar pela leitura
sem rumo, sem intenção.
Só para viver a aventura
que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso
quem gosta de ler.
Experimente!
Assim, sem compromisso,
você vai me entender.
Mergulhe de cabeça
na imaginação!

Poema " A leitura" de Marisa Gonçalves de Almeida Santos

Um clique aqui, ali e acolá e encontro esse poema sobre leitura. Achei muito legal... Compartilho com vocês.

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Marisa Gonçalves de Almeida Santos
Sorocaba / SP

A leitura

Caminho entre prateleiras;
Eiras... beiras de papéis;
Deleito-me nas esteiras das rimas;
Poesias;
Crônicas... literaturas infinitas;
Embriago-me no coquetel das palavras;
Mistura inebriante de poeira e traça voraz???
Acelero meu intelecto;
Transporto-me para os contos...
De fadas;
De amadas... safadas...
Emoções...
Divagações!
Letras miúdas... cinzentas;
Impressão amarelada pelo tempo;
Puro conhecimento!
Escorrego nos "Ss"; "Us"...
Faço das letras diversão pueril...
Escorregadores; escadas e trampolins;
Me arrisco...
Despenco!
Embaraço-me nas cedilhas... nos tils;
Cerro meus olhos;
Entrego-me!
Deixo Sofia nas asas da imaginação me levar;
E me revelar...
Mistérios que somente o livro tem!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Os espaços convencionais e alternativos de leitura - 2006 - Dissertação de Ivana Aparecida Lins Gesteira

A dissertação da Ivana foi defendida na Universidade Federal da Bahia - UFBA

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GESTEIRA, Ivana Aparecida Lins.  Os espaços convencionais e alternativos de leitura.

Resumo da dissertação:
Espaços Alternativos de Leitura visa a abordar a questão da leitura como instrumento capaz de contribuir para que os sujeitos tenham a consciência democrática e permaneçam ativos no mundo do trabalho da atual sociedade. O objetivo principal é apresentar um estudo sobre o acesso à informação discutindo questões relativas à disseminação da informação, o papel da biblioteca pública e às redes humanas de leitura. O acesso à informação e ao conhecimento pelas classes sociais menos privilegiadas, através da utilização dos espaços públicos de leitura. Por meio de um estudo exploratório, investiga-se o papel da biblioteca pública, como sendo um espaço convencional de leitura e que não vem atendendo aos seus objetivos primordiais, que é o de contribuir para a compreensão do mundo e ampliação dos horizontes que fortalecem a cidadania, por meio da ação cultural, cedendo espaço para o atendimento aos leitores advindos da rede básica de ensino, que buscam a pesquisa escolar. São estudados os Espaços Alternativos de Leitura – EALs que surgem e se legitimam nas comunidades carentes para dar conta do escasso número de bibliotecas públicas, e que se caracterizam, na sua organização e estruturação, em formato de redes colaborativas ou solidárias. Os resultados apresentados destacam o mapeamento dos Espaços Alternativos de Leitura existentes na cidade do Salvador. Realiza-se um levantamento que identifica 12 desses espaços de leitura, divididos aqui em dois tipos, físicos ou virtuais, e uma investigação no intuito de conferir maior visibilidade e compreensão na sua origem, estrutura e funcionamento.

Acesso ao texto na íntegra:
http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=622

O bibliotecário e a mediação

Ezequiel Theodoro da Silva

Por várias vezes, em diferentes lugares do Brasil e do exterior, afirmei que uma revolução qualitativa da leitura brasileira tem de contemplar, necessariamente, questões relacionadas com a existência de uma rede articulada de bibliotecas e pela ampliação pedagógica do trabalho dos bibliotecários.

Neste texto, retomo, reitero e amplifico esse posicionamento mesmo porque os governos continuamente cometem verdadeiros crimes para escamotear as necessidades de trabalho científico, tecnológico e técnico no âmbito da organização e disponibilização de acervos de leitura para as múltiplas comunidades existentes nas regiões brasileiras.

As duas pesquisas nacionais sobre hábitos de leitura do povo brasileiro, publicadas com o nome "Retratos da Leitura" (ver http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=48), mostram que 34% da população nunca foi a uma biblioteca; nas classes D e E, esse percentual sobe para 49%. Esses indicadores mostram a imensa distância que existe entre a casa do cidadão e os espaços formais onde se tem acesso à cultura escrita.

Inexistentes ou anacrônicas

Tais "retratos", em verdade, apenas fazem redundar o óbvio no que se refere às bibliotecas: ou elas inexistem ou estão paradas no tempo ou ficaram apenas nas intenções, sem nunca terem sido organizadas e postas a funcionar condignamente. Em que pesem os cursos de biblioteconomia e de ciências da informação, a mostrar, de forma escancarada, que existe profissional graduado e habilitado para atuar na sociedade, a atitude das autoridades tem sido a de fuga ou de esquiva da responsabilidade, deixando que as comunidades "se virem" no que se refere aos suportes profissionais que facilitem a convivência com livros e outros veículos da escrita.

Recentemente, telefonou-me uma repórter de um jornal curitibano para perguntar o que eu achava de uma experiência de formação de uma biblioteca comunitária. Contou-me ela que os catadores de lixo da cidade tinham "catado" livros e revistas e fundado uma biblioteca para o segmento de catadores de lixo. Louvei a iniciativa, informei que os livros poderiam expandir os horizontes de mundo dos catadores de lixo etc., etc., mas, quando disse que era o governo que deveria organizar e manter as bibliotecas, a repórter entrou em parafuso, achando que não dera a devida importância à iniciativa grandiosa daquela comunidade.

Essa experiência com a "biblioteca catada" não é muito diferente de outras que conheço pelo Brasil, como borracharia-biblioteca, baú-biblioteca, peixaria-biblioteca, boteco-biblioteca, jumento-biblioteca etc., enaltecidas e espetacularizadas pela mídia como soluções absolutas para o problema da nossa vergonhosa situação nessa área. Numa análise mais fria e crítica e sem querer de maneira nenhuma desmerecer as iniciativas do borracheiro, do peixeiro e/ou do dono do jumento, o que vemos, de maneira reiterada, é a escamoteação dos governos, no passar dos anos, com aquilo que é mais do que claro, cristalino e evidente: que sem bibliotecas na real acepção da palavra e sem gente especializada, formada em biblioteconomia, para dinamizá-las profissionalmente, continuaremos incentivando os arremedos e, pior, curvando-nos à fuga de responsabilidade pelas esferas governamentais.

"Melhor isto do que nada", dirão as más línguas. E talvez a minha própria língua já tenha dito isto à luz das possibilidades libertárias dos processos de leitura em si: o fenômeno de que a leitura autônoma pode levar à emancipação das pessoas e gerar a consciência das necessidades. Esse processo pode ser mais bem conhecido através da leitura do livro O queijo e os vermes - o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido, de Carlo Ginzburg (Companhia das Letras, 1987). Entretanto, o crescimento do número de livros desses acervos comunitários, a diversificação dos suportes da leitura, a organização, preservação e recuperação das obras, a sofisticação dos serviços de apoio aos usuários, a seleção de livros de interesse da comunidade em seus segmentos (infantil, adulto, 3ª idade,etc.) impõem, necessariamente, a presença de serviços especializados para fazê-los. E daí a esperança de que o profissional bibliotecário possa ser envolvido para cuidar dessas tarefas e encaminhar os trabalhos de maneira objetiva e embasada nos saberes sistematizados, oriundos da área de biblioteconomia.

Os estereótipos em torno da figura do bibliotecário são também escaramuças para se esquivar da responsabilidade de sua contratação para trabalhos em diferentes tipos de bibliotecas, principalmente as escolares e as comunitárias. De fato, ao longo da nossa história e sendo muito fortalecida após a década de 1960, foi construída a imagem do bibliotecário como um trabalhador insensível, normatizado e normativista, catalogador de livros, controlador do silêncio dos espaços, estafeta dos castigos escolares, que em muito contribuíram para a sua "dispensa" no momento de constituição e de desenvolvimento das bibliotecas.

A briga de Darcy Ribeiro

Recordo-me, por exemplo, das grandes escaramuças entre Darcy Ribeiro, trabalhando para o governo Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), e a classe dos bibliotecários, com aquele afirmando que estes nada tinham a contribuir com a educação pública e com os CIEPs então estruturados. Tal estereótipo, infelizmente, ainda está muito presente no imaginário de muitas autoridades brasileiras, mas convém perguntar a quem esse estereótipo está servindo realmente... No meu ponto de vista, ele também serve à política de esquiva que vem sendo adotada pelos governos em relação à implantação de bibliotecas municipais, escolares e comunitárias neste país. Quer dizer, em se tratando de bibliotecas, sempre se dá um jeitinho e dentro desse jeitinho o bibliotecário nunca está incluído!

Para não colocar o bibliotecário como "vítima" de uma história meio ao contrário, acredito ser também importante uma visada crítica para dentro dos cursos de biblioteconomia ou de ciências de informação, oferecidos por diferentes instituições de ensino superior. Com o fim das habilitações, são raros os cursos que desenvolvem uma base adequada de conhecimentos e práticas para atuação que não seja em centros de informações e/ou empresas. A realidade escolar e as realidades comunitárias não são refletidas e discutidas ou então são tangencialmente tratadas, fechando o círculo vicioso de que o governo não contrata bibliotecários para as escolas e comunidades e, portanto, não existe por que tratá-las durante o período de formação básica. Daí que, quando da necessidade de profissionais para trabalhar nas bibliotecas escolares, ajeita-se, às carreiras, uma oficina rápida para que professores ou membros de uma comunidade recebam dois pingos de biblioteconomia para "tomar conta da biblioteca".

Em recente visita que fiz a minha cidade natal, cruzei com a filha de um amigo que, sei, possui tão somente o diploma do ensino fundamental. Portanto, sem ensino médio e muito menos o superior. Depois dos apertos de mãos e dos abraços, perguntei o que ela vinha fazendo. Ela me disse que era a responsável pela biblioteca da faculdade local e me pedia, naquele instante, que eu enviasse os meus últimos livros porque os professores e alunos tinham muito interesse nos meus escritos.

Um navio à deriva

Ora, sem querer desmerecer a escolaridade dessa conhecida e sua dedicação à biblioteca, fiquei perguntando se uma biblioteca de ensino superior poderia ser responsavelmente organizada e dinamizada por uma pessoa tão jovem e com formação leiga ou muito precária. Vê-se, aqui, mais um episódio desta comédia tragicômica chamada "biblioteca brasileira". Sei, também, por exemplo, que falar para muitos prefeitos sobre a necessidade de contratação de bibliotecário é estar disposto a ouvir impropérios de volta.

Finalizando esta reflexão, creio que a melhor imagem da problemática das bibliotecas no Brasil seja a do filme E la nave va, de Federico Fellini. De fato, igual ao infindável problema da leitura no país, "haja paciência" para tanta contradição, para tanto descaso, para tanto cinismo. Se considerarmos uma biblioteca como um lugar para o qual constantemente nos dirigimos a fim de incrementar a nossa humanidade, então cabe indagar se a falta de humanidade em solo nacional, reiterada pela mídia todos os dias, não tem uma relação com a ausência e falta de bibliotecas em solo brasileiro.

De verdura e leitura

Helena Maria Gramiscelli Magalhães

Ao longo dos anos de exercício do magistério, venho ouvindo chavões e máximas que penetram o processo educacional que se impregna dessas sandices e as perpetuam. Ando meio cansada deles, principalmente daquele que se refere ao (desenvolver o) gosto pela leitura.

Como ocorre isso? Não ocorre. Ninguém ensina ninguém a gostar de algo ou de alguém. Não posso, por exemplo, ensinar minha amiga solteira a gostar de um homem maravilhoso que conheço, ou se apaixonar por ele. Sou eu quem o acha galante e gentil cavalheiro, talhado para fazer par com ela. Que técnica poderia eu usar para que ela se interessasse por ele? Nenhuma. Isso não existe. No caso das paixões e dos amores, você troca olhares com uma pessoa e algo ocorre; é o famoso bateu, é o chan, que ninguém entende ou segura. Daí para frente, é só alegria, conquista fácil, se o chan bateu também tiver batido no parceiro.

Minhas netas nunca gostaram dos verdinhos, as decantadas verduras tão necessárias à alimentação de todos para garantir boa saúde; gostar delas é problemas para as crianças, aliás, para alguns adultos, também, crianças que já foram e delas bem se recordam.

Verdade nua e crua é que elas, as verduras, as tais verdinhas, são horríveis mesmo, não têm gosto algum, de nada. Se quisermos que elas tenham sabor, temos de adicionar sal, tempero, azeite, ou molhos, alcaparras, mostarda e, aí, sim, desfrutamos delas, achando que seu sabor é bom, quando esse gosto é proveniente não delas, mas indubitavelmente, dos temperos que a elas adicionamos.

Em função da boa saúde, e para atender às demandas dos ditos populares e dos nutricionistas de plantão, dizemos às crianças que as verduras são gostosas. É isso mesmo, a gente mente para as crianças na tentativa de enganá-las. Ledo engano, o desgosto se reflete em seus rostos, quando elas comem os tais verdinhos que, desacompanhados, não fedem, nem cheiram; são insípidos. E, embora eu admita sempre que elas sejam essenciais à saúde, sou frontalmente contra as mentiras, principalmente as desnecessárias, quando se trata de como lidar com crianças ou adolescentes em seu processo de formação física, moral e psicológica. E, considero mentira desnecessária, tanto dizer às crianças que verduras são gostosas, quanto dizer a quem não gosta de ler, que ler é bom.

Verduras são “gostosas” para quem já se acostumou a comê-las – sim, comê-las é questão de hábito, não de gosto –, sem discutir seu sabor e porque já entende o importante papel que elas desempenham como elementos fundamentais do processo de crescimento físico e mental dos indivíduos e no da manutenção da saúde.

Não discutirei as múltiplas facetas e utilidades dos vegetais em sua contribuição para uma alimentação completa e saudável, pois, muitos profissionais da área de nutrição já o fizeram. Comer verduras, hoje, é consenso, em termos de necessidade. No passado, as crianças não discutiam, comiam o que os pais mandavam e estes ignoravam a importância de se comer tais clorofilados, mas colocavam na mesa as folhinhas colhidas das suas hortas. Questão de desconhecimento científico, de hábito, e de economia.

Por isso, acho estranho, quando leio textos de teóricos do ensino de línguas dizerem que vão sugerir atividades cujo objetivo é desenvolver nos alunos o gosto pela leitura de textos escritos; fico surpresa, pois do mesmo modo como não podemos fazer alguém gostar de alguém, ou de verdinhas, não podemos fazer alguém gostar de fazer qualquer coisa, muito menos de ler textos escritos.

A questão é de dupla ordem. Primeiramente, só se pode desenvolver algo que já existe; é questão de semântica e lógica. Não posso desenvolver aquilo que não existe. Se o aluno não gosta de ler, como vamos desenvolver essa falta de gosto, esse gosto que não existe? Eu teria de esperar que ele nascesse de novo já com tal gosto. Em segundo lugar, mentiras têm pernas curtas – os que não gostam de ler, e eles existem, logo descobrem a fraude – e esta leva ao descrédito de quem a apregoa. Daí o risco que os profissionais do ensino das línguas correm ao repetirem afirmativas desse tipo.

Dizer, então, a um aluno que não gosta de ler textos escritos que vai desenvolver seu gosto pela leitura é mentira de discurso semântico e deslavado achincalhe à lógica filosófica, já que, como afirmei, não se desenvolvem entidades, coisas, objetos inexistentes. Se o aluno tem o gosto pela leitura, posso ajudá-lo a desenvolvê-lo, aprimorar sua capacidade interpretativa, até a chegar ao ponto de ele se tornar um viciado em leitura. Sonhar não é proibido! Porém, se o aluno não tem o gosto, tenho um problema que precisa de solução.

Como, por um lado, creio serem essas mentiras uma das causas de os alunos não acreditarem no ensino do português, que já anda enfrentando problemas sérios para ensinar leitura e escrita, já que o ensino depende do ler e do escrever bem, por outro, sabemos que muito já se discutiu sobre essas questões; acho é hora de enfocar as soluções.


Tanto para a verdura quanto para a leitura a solução é a mesma, única e simples: a verdade pura. Digam às crianças que verdura é horrível e nada tem de gostoso, mas que é remédio e, por isso, elas têm de comê-la, que não podem, a exemplo dos remédios, escolherem tomar ou não; elas têm de tomar. Com a verdura ocorre o mesmo: é preciso comer o remédio. Verdura é remédio contra as doenças.

Quanto à leitura de textos, digam o mesmo: se você acha que ler é ruim (e o é para alguns, assim como é puro encantamento para outros), pode continuar a achar. Digam aos alunos que vocês respeitam seu desgosto pela leitura, mas que precisam ler de qualquer modo, não por gosto ou vontade, mas por necessidade: leitura é remédio contra a ignorância; é medicamento tal qual a verdura. Leitura é antídoto contra o veneno da alienação, da opressão, da inculcação de valores escusos, contra o escamoteamento da verdade social e política. Ler institui um estado do saber tão legítimo que, depois de apropriado, ninguém pode tomar ou deletar.

É preciso que os professores aceitem os alunos que não gostam de ler. Eles não têm culpa de não gostarem de ler. Posso garantir isso, porque eu mesma odeio ler, mas leio e muito, todos os dias, por necessidade de estudo, boa saúde mental e sobrevivência no mundo global. Ninguém, mas ninguém mesmo, nem as mais sofisticadas técnicas utilizadas para desenvolver meu gosto pela leitura nesse mundo de Deus, fizeram-me gostar de ler. No entanto, alguém num passado bem distante, sabiamente, me aceitou como eu era: pária por não gosta de ler textos escritos, já que avaliava minhas outras leituras, as amenas como a de mundo e a das imagens que não costumam causar problemas. Esse alguém me ensinou, não a gostar de ler – tarefa inviável -, mas a formar o hábito de leitura, como remédio contra a ignorância e a maldade do mundo.

É isso mesmo, verdura e leitura (... e elas até rimam!) são remédios, uma contra doenças e a outra contra a ignorância, reitero, que têm de ser aplicados em doses homeopáticas, contínuas e progressivas; às vezes, elas precisam ser empurradas goela abaixo com sabedoria e, se vomitadas, devem ser tomadas de novo. Verdura e leitura exigem formação de hábitos, ou seja, que a gente se habitue a usá-las. Agradeço à mestra que me fez entender isso; acho que ela nunca se deu conta disso.

Helena Maria Gramiscelli Magalhães - Professora aposentada da Faculdade de Educação da UFMG, onde lecionou as disciplinas Prática de Ensino de Português e de Línguas Estrangeiras, Didática de Licenciatura e Fundamentos do Ensino de Língua Materna. Leciona no PREPES, pós-graduação da PUC- Minas, nos cursos de inglês e português, as disciplinas Análise do Discurso IV (O discurso do Humor) e Semântica II (O Discurso do Humor Negro Brasileiro), e Semantics and Translation, Morphosyntax e Metodologia da Pesquisa Científica III (Produção de Monografias).

terça-feira, 22 de junho de 2010

Projeto Cidadão - Jeito criativo de proporcionar leitura

A S.O.S Pequeninos lança biblioteca itinerante com caixas plásticas que se transformam em prateleiras em cada local

Lu Dressano

Uma biblioteca itinerante terá início nas próximas semanas para despertar o desejo de leitura em 3,7 mil meninos e meninas de 25 entidades assistidas pela S.O.S Pequeninos. Uma doação de 600 títulos pelo Colégio Porto Seguro, de Valinhos, resultou na criação do Projeto Conhecer e o inusitado é a forma encontrada para andar com os livros e os filmes didáticos pedagógicos: tudo será acomodado em caixas plásticas que se transformarão em prateleiras no local a ser montado. “Como não temos um carro apropriado, esta foi a forma encontrada para levar e atender toda a comunidade”, resume a presidente da organização não-governamental, Stella Marcondes Martins.

A creche Tia Lea, no Jardim São Pedro, será a primeira a receber a novidade. Durante um mês, crianças com idade entre 3 e 6 anos terão a chance de começar a ampliar o universo de informações.Depois, a biblioteca muda de lugar. E para preparar os monitores de cada entidade, um curso de formação de biblioteca foi ministrado e envolveu 31 participantes. Os voluntários da S.O.S Pequeninos conseguiram ajuda com profissionais da área e até uma apostila foi elaborada para orientar as atividades.

Busca por valores

Há nove anos, quatro mães conscientes da importância da formação moral de seus filhos se juntaram para buscar fortalecimento em valores humanos. Passaram a incluir na rotina das crianças um dia para a discussão de temas como amor, solidariedade, respeito, ajuda e gratidão. Os encontros aconteciam na Igreja Nossa Senhora das Dores, no Cambuí. O grupo começou com sete crianças, em seis meses eram 25 e em um ano já contava com 45. Era o início da S.O.S Pequeninos.

A fundadora e presidente da organização é Stella Marcondes, uma “católica rebelde” como ela mesma se define. Arquiteta e mãe de três filhos explica: “Ajudar só meus filhos não resolvia mais. Em pouco tempo tive a sensação de que a minha família era muito maior e os benefícios que buscava para os meus quis estender a todos”. Para Stella, só a educação não basta para formar uma pessoa, há necessidade de uma busca espiritual, mas direcionada para a aplicação diária. “Isso é imprescindível para toda e qualquer pessoa que se sensibilize com as diferenças sociais e sonhe com um mundo melhor para todos”, acredita.

Noventa voluntários (com idade entre 13 e 60 anos), parcerias com empresas, a contribuição mensal de 40 sócios e mais os eventos promocionais formam a base solidária para atender cada entidade “naquilo que realmente precisam”, diz a fundadora. Este ano, as ações estiveram voltadas para reformas e melhorias nos espaços físicos. As 25 entidades recebem orientação de uma equipe técnica e o grupo voluntário ganha suporte e direção na identificação e consolidação das ações.

O núcleo de voluntariado conta também com a atuação dos jovens, “que desde cedo recebem informações e percebem a importância do social hoje. Eles podem promover mudanças mais rápidas e significativas”, aponta Stella. A participação da moçada gerou o Projeto Recreando, em que mensalmente são realizadas oficinas de teatro, de contadores de histórias, de esporte e de recreação. “Brincadeiras e diversão ajudam a passar valores éticos”, ressalta a fundadora.

Dia dos pequeninos

Para marcar o Dia das Crianças foi lançado em outubro do ano passado o dia dos pequeninos. A comemoração deste ano promete repetir um programa com festas e passeios oferecidos durante dois meses. As crianças até 18 anos são divididas em grupos e participam de atividades bastante diferentes de suas rotinas. “Vamos investir neste projeto para poder a cada ano apresentar algo mais às crianças e jovens e poder transformar em sorrisos uma realidade triste e sofrida”, diz empolgada a fundadora.

A biblioteca itinerante tem data marcada para setembro para iniciar as atividades. As crianças contarão com opções de leitura diversificada e as escolhas passam pela Coleção Pequenos Amigos, em que um dos títulos é O Golfinho; encontram uma fábula indígena recontada em O Melhor de Mim para o Melhor dos Mundos; as tradicionais de La Fontaine, entre outras.

AS ENTIDADES

Instituto Educacional Professora Maria do Carmo Arruda Toledo
Creche Santa Rita de Cássia/Ilce da Cunha Henry
Centro de Formação Semente da Vida
Lar Escola Jesus de Nazaré
Grupo das servidoras, Léa Duchovni de Campinas
Associação Campineira de Recuperação da Criança Paralítica
Instituto Dom Nery
Associação do Pão dos Pobres de Santo Antonio
Fundação Bezerra de Menezes
Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo
Serviço Social Nova Jerusalém
Associação Projeto Quero-Quero
Centro Educacional de Assistência Social Menino Jesus de Praga
Creche Gustavo Marcondes
Creche Mãe Luiza
Centro Educacional Integrado
Associação dos Amigos da Criança (AMIC)
Casa da Criança Madre Anastácia
Fundação Douglas Andreani
Grupo Comunitário Criança Feliz
Casa da Criança de Sousas
Associação de Educação do Homem de Amanhã
Creche Mãe Cristina
Núcleo Assistencial Gerônimo Mendonça
Lar Pequeno Paraíso

SAIBA MAIS

S.O.S Pequeninos

Av. Dr. Sílvio de Moraes Salles, 101, Cambuí- Fone: 3294-4772


O jovem brasileiro e a leitura

Graciema Pires Therezo

Para dizer da importância da leitura para o jovem hoje, lembro as palavras de Ezequiel Teodoro da Silva, ao afirmar a natureza transcendental da palavra. Por ter o ser humano uma inteligência lingüística, o ato de ler é que lhe permite conhecer palavras para exprimir seus sentimentos, suas emoções, suas idéias. Permite-lhe estar no mundo como pessoa; pôr-se em contato, pelo poder da escrita, com as idéias dos grandes homens, mesmo que distantes no espaço ou mortos já há séculos. Permite-lhe fruir do belo literário, alcançando, em suas fontes, a expressão do que não pode ser expresso pela oralidade nem exposto pela linguagem denotativa. Por aí se deduz que ler não só propicia o crescimento intelectual do jovem, como o desenvolvimento de sua sensibilidade, sua formação como ser humano. Mas ele não sabe disso.

Contardo Calligaris, em artigo publicado na Folha de São Paulo, conta da alegria de trabalhadores imigrantes italianos, em um curso de alfabetização de adultos, ao conseguirem ler pequenos parágrafos de grandes obras literárias e reconhecer, em situações de vida, conflitos vivenciados por personagens dos grandes clássicos. E não eram crianças em busca de fantasias, nem adolescentes em busca das emoções trazidas por livros de aventuras. Eram homens maduros penetrando nos grandes mistérios da vida humana em suas trágicas dimensões.

Como professora de Leitura e Produção de Textos na Universidade, sinto-me à vontade para fazer algumas reflexões nascidas da experiência e da observação. A resposta de uma aluna sobre suas leituras das férias de julho (“— Eu só li torpedos”), em um primeiro momento extremamente impactante, é a prova de que os jovens modernos, mesmo tendo ingressado em uma Faculdade, continuam a roubar-se das possibilidades de crescimento intelectual pelo desprezo pela leitura. Preferem as mensagens do celular, as conversinhas pelo MSN, os e-mails em linguagem cifrada à página de um livro. Modernidades à parte, idiossincrasias de professora de Português descontadas, o que fica é uma indagação sobre as razões da famosa “falta de hábito de leitura” tão amplamente discutida nos COLES e nas salas dos professores de todas as escolas que se prezam. Por que o brasileiro lê tão pouco?

A justificativa corrente é a de que o nosso é um país pobre, de que as pessoas não têm dinheiro nem mesmo para comprar jornal, quanto mais para gastar em livro; que este é caro, artigo de luxo para a esmagadora maioria da população. Estatísticas mostram que, no Brasil, foram vendidos, em 2005, menos livros que em Buenos Aires, apenas uma cidade da Argentina, país recém-saído de crise econômica, de moeda fraca e política ainda em reestruturação. Será mesmo que o brasileiro não tem condições financeiras que lhe permitam o hábito de ler? Entretanto, as mesmas estatísticas revelam que, no shopping-list dos Estados Unidos, o livro está entre os primeiros dez itens de consumo, enquanto, no Brasil, entre os dez primeiros aparecem cosméticos e produtos para cachorro (veja-se o número de pet shops nas grandes cidades brasileiras...) Será que isso não leva a crer que a questão é cultural e, não, econômica?

Há exemplos maravilhosos de pessoas que freqüentam sebos, tomam livros emprestados de bibliotecas, de parentes, e, até mesmo, exemplos de catadores de papel que lêem livros jogados no lixo. Recentemente os jornais publicaram a notícia de uma biblioteca formada com mais de mil desses exemplares e disponibilizada aos amigos por um morador de favela. E há exemplos de uma elite endinheirada que tem televisão de plasma, computadores de última geração, celulares substituídos a cada novo modelo no mercado, mas que não lê.

O Brasil tem uma cultura da oralidade e, não, da escrita. A criança brasileira fica poucas horas na escola e o resto do dia vê televisão, fala e ouve. A própria escola é oralizante, pois o professor prefere dar aula expositiva, “facilitando” para o aluno, em linguagem coloquial, as explicações que, no manual didático, estão em texto escrito de coesão mais “difícil” e vocabulário “mais complicado”. Até mesmo em cursinhos pré-vestibulares, nota-se que alguns professores acreditam, ingenuamente, que, ao aproximar sua linguagem da do jovem, suas explanações ficam mais claras . E o aluno é imaturo para perceber que a facilitação, até mesmo com o uso de expressões populares e gírias mais comuns, contribui para afastá-lo não só da norma culta das obras que deve ler para suas provas de ingresso na universidade, mas do nível padrão que deve adotar em seus textos escritos. Repertório insuficiente para a expressão escrita clara de suas idéias sobre questões propostas nos vestibulares e pobreza vocabular na hora da redação revelam, claramente, essa falta de leitura.

Graciema Pires Therezo é professora de Leitura e Produção Textual na PUC-Campinas