quinta-feira, 17 de junho de 2010

Hemodiálise com leitura

Iniciativa feita há nove anos pela Unifor leva 400 pessoas a aprender a ler e escrever durante as sessões de hemodiálise

Aos 13 anos de idade, Felipe Lopes ainda não sabe ler e nem escrever. Não por negligência dos pais ou falta de interesse. Felipe é paciente renal crônico e necessita fazer hemodiálise três vezes por semana. Seu estado de saúde não permite que ele freqüente a escola regularmente e, com isso, tem dificuldade em acompanhar, com naturalidade, os amigos da mesma idade. Sua história é a da muitos outras crianças e jovens com a mesma doença. Alguns, como é o caso de Felipe, na fila para o transplante, outros passarão o resto da vida se submetendo a diálise.

Ansiedade e sofrimento, nesses casos, se confundem. A dor do tratamento se mistura a dor em não poder viver o cotidiano. Pouco se pode fazer com relação à Medicina. O caminho é o único a seguir. Mas eles se multiplicam quando se interfere na questão de outros ângulos. É o caso do projeto Educação e Saúde, dos cursos de Psicologia, Pedagogia, Ciências Sociais e Letras, da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Por meio dele, os pacientes, inclusive os mais velhos, são alfabetizados ou recebem reforço escolar, durante a quatro horas da diálise, três vezes semanais. Além da educar, os 11 bolsistas, quatro voluntários e uma professora-coordenadora desenvolvem atividades lúdicas durante o tempo em que permanecem ligados à máquina de hemodiálise. “Há ainda o exercício da afetividade fraterna entre alunos e pacientes que se sentem isolados da vida diária”, afirma a coordenadora, Hermínia Lima.

A iniciativa existe há nove anos e nasceu, conta a professora, quando uma adolescente acometida de síndrome renal manifestou forte desejo de dar continuidade a seus estudos, solicitando que isso fosse feito durante as horas difíceis das sessões de tratamento. De lá para cá, 400 pessoas já foram alfabetizadas.

A equipe atua no Instituto do Rim, no Meireles; no Instituto de doenças Renais, na Av. Bezerra de Menezes; e na Policlínica do Rim, no Centro. São 99 pessoas beneficiadas, entre 12 crianças e jovens, 78 adultos e nove idosos. “Me sinto muito bem quando eles chegam aqui com as atividades”, diz uma das pacientes. A primeira coordenadora do projeto, Lina Maria Fernandes Gil, conta que o trabalho tem reconhecimento nacional. “Inclusive, conquistou, duas vezes consecutivas, o prêmio nacional de Cidadania Empresarial: em 2001, em Salvador; e 2002, em Brasília.

O aluno e supervisor, Vítor Mendonça, explica o número restrito de voluntários no fato das salas das clínicas serem repletas de máquinas, fios e outros acessórios que ocupam os espaços, além do trânsito de enfermeiros. “Logo, não se pode colocar muitas pessoas nessas salas, pois lá acontecem muitas ocorrências que necessitam de espaço e atenção especial para serem realizadas”. Ao transformar a clínica em sala de aula, avalia a atual coordenadora, Hermínia Lima, os alunos da Unifor têm exercido influência direta na auto-estima dos pacientes, melhorando a reação deles ao tratamento. “Hoje, eles se sentem mais valorizados”, atesta.

Leda Gonçalves
Repórter

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Educação, com muito amor e saúde

É quase impossível não se envolver emocionalmente com o projeto depois de conhecer de perto a realidade sofrida dos pacientes das clínicas de hemodiálise. Considero esta ação uma das mais importantes atividades de extensão realizadas pela Universidade de Fortaleza.

Os alunos do Curso de Psicologia da Unifor têm contribuido de forma muito significativa para amenizar o sofrimento dos pacientes renais crônicos. Além disso, a Instituição proporciona a esses alunos a vivência de uma experiência extremamente densa: através das atividades do projeto os alunos saem dos limites da sala de aula e entram em contato direto com a sociedade e seus problemas.

Os alunos realizam não só atividades pedagógicas, mas também atividades lúdicas com o intuito de promover um pouco de alegria durante os momentos difíceis de realização da diálise. Percebemos ainda que há o exercício da afetividade fraterna entre alunos e pacientes. O convívio com os jovens da iniciativa promove ainda essa interação afetiva saudável que acaba contribuindo indiretamente e positivamente no resultado do tratamento.

Hermínia Lima
Professora e coordenadora do projeto

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