sexta-feira, 11 de junho de 2010

BookCrossing - Uma biblioteca do tamanho do mundo

Mariana Caminha
Um dos mais típicos hábitos ingleses se revela na primavera. Depois dos sofríveis meses de frio, nada como aproveitar o sol (ainda um pouco tímido) nas espreguiçadeiras dos parques londrinos.

E lá estava eu, na grama, numa manhã “quente” de domingo.

Além da alegria de acordar e deparar com um céu praticamente sem nuvens, ao tomar a famosa Piccadilly Line com destino à estação de Hyde Park, encontro no assento ao lado um livro abandonado.

Foi a primeira vez que encontrei um livro (de Shakespeare) propositadamente esquecido.

Já conhecia o projeto chamado BookCrossing, criado por Ron Hornbaker em 2001, mas nunca tinha tido a sorte de achar um livro como aquele, que havia viajado por vários países até chegar a um banco do metrô londrino.

A idéia de criar o BookCrossing foi inspirada em sites similares, como o WheresGeorge.com (que rastreia notas de dólar pelo número de série).

O lema, então, é: “Leia um livro. Se gostou, passe-o para a frente”.

Depois de se inscrever no http://www.bookcrossing.com/ e conseguir um número de cadastro para o livro que se vai ler, o próximo passo (depois de lida a obra, claro) é se dirigir a um lugar público e “acidentalmente” esquecê-la por lá, para que o próximo leitor possa encontrá-la.

E se o novo leitor seguir direitinho as instruções contidas na primeira página, declarando o número de cadastro no site, é possível rastrear a caminhada do livro e saber por quantos lugares ele já andou.

Bacana, não? É como fazer do mundo uma grande biblioteca.

Hoje o BookCrossing tem quase 1 milhão de participantes, espalhados por 130 países. E só depois de encontrar o livro é que eu soube da fama que o projeto tem aqui na Inglaterra.

Verdade que os ingleses gostam muito de ler. Mesmo ainda sofrendo os efeitos da crise financeira, as editoras do Reino Unido conseguiram vender, só no ano passado, quase 800 milhões de livros, 8% a mais que em 2005.

Ainda assim as escolas se preocupam em melhorar a relação das crianças inglesas com a leitura. E resolveram inovar.

Em vez de brigar com a tecnologia, agora alguns professores resolveram adotar computadores de mão (como um iPad) nas tarefas de casa. Eles garantem que os alunos se mostram bem mais entusiasmados com a leitura, já que com a versão eletrônica dos livros é possível fazer anotações personalizadas e acessar um dicionário digital.

Há quem já veja o futuro do BookCrossing com outro nome: E-BookCrossing. De uma maneira ou de outra, o importante mesmo é LER.

Como disse o nosso querido José Mindlin, esse grande brasileiro que nos deixou um exemplo admirável de paixão pela leitura: “Eu não gostaria de viver em um mundo onde não houvesse livros.”

Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir.

Fonte: O Globo

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