quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sobrevida para o hábito de ler

05/11/2011

Mesmo com tanta tecnologia, ferramentas e meios digitais de disseminação da informação, os livros ainda são apreciados por muitos na busca pelo conhecimento

Patrícia Emiliano

Desde o final do último século, especialistas ao redor do mundo vêm prevendo o sumiço dos livros e o declínio do hábito da leitura em impressos. O apego ao cinema, televisão, videogames e o fascinante mundo da internet são alguns dos elementos responsáveis por essa “profecia”. Aliados a essa tendência, o pouco apreço à instrução como valor social, a pobreza e a falta das bibliotecas públicas, além do corre-corre da vida cotidiana, poderiam conspirar para que o livro como objeto de desejo estivesse fadado ao desaparecimento. Mas, contrariando as expectativas, jovens e crianças itabiranas cultivam o prazer da leitura e reconhecem que um bom texto ainda é imprescindível para o crescimento na vida pessoal e profissional.

Aarão Moreira de Castro Almeida, 10, apesar da pouca idade, rapidamente tomou gosto pelos livros. O garoto já perdeu a conta de quantos leu. Atualmente, lê “Coração de Tinta”, da escritora alemã Cornelia Funke, de 456 páginas. A vontade de devorar histórias começou graças aos pais, que o incentivavam dando livros de presente, mesmo antes de ele saber ler. “Eles traziam livros com histórias curtas e liam para mim e eu fui gostando”, lembra o pequeno leitor.

Em casa, Aarão tem um balcão de livros. Quando há algum de que goste mais, logo pede para os pais toda a coleção do autor. “Às vezes, leio o mesmo livro mais de uma vez. Se começo um e não gosto, troco para outro e depois volto nele, mas nunca deixo um livro pela metade. Muitas vezes eu prefeito ler do que ver televisão ou ficar no computador”. Para Aarão não importa o tamanho do livro, mas o conteúdo que ele oferece. Se lhe interessar, com certeza será lido. O estudante, de dez anos, pega emprestado um livro por semana na biblioteca da escola e o maior livro lido por ele até hoje foi “Ilíadas: Odisseia Original”, de 1.003 páginas.

Para o pai de Aarão, o técnico de automação industrial, Antônio Rubens de Castro Almeida, ter apresentado a leitura ao filho desde criança fez com que hoje ele entenda e tenha uma percepção melhor da vida e do mundo. “O hábito de ler ajuda as crianças a se relacionar melhor com os outros, a aprender mais facilmente e a gostar de descobrir coisas novas”, diz o pai.

Além do incentivo dos pais, o garoto também recebe incentivo na escola onde estuda. Para a professora e coordenadora de Português da Fide, Maria Ruth de Castro Almeida, é dever de todas as instituições de ensino investir em livros e impressos. Ambos requerem habilidades que favorecem o foco, leitura linear, concentração e conhecimento de mundo. “A linguagem é rica e, através da leitura, a pessoa adquire poder de argumentação, melhora a escrita e sabe se expressar melhor. Nada que a tecnologia substitua”, opina a professora.

Na escola em que Ruth trabalha, os alunos do 2º ano, com idade de 7 anos, levam livros para casa semanalmente. Eles também têm, uma vez por semana, aula de Literatura. Os alunos ainda trabalham com as obras de Carlos Drummond de Andrade e de outro autor que escolherem. Ruth considera imprescindível que o hábito de ler seja incentivado na base e tenha início em casa, sendo complementado e reforçado na escola.

Outra amante da leitura é Beatriz Leite Pessoa, também de dez anos. Assim como o menino Aarão, ela teve o incentivo à leitura em casa, por meio dos pais. Hoje, o hábito é continuado e estimulado pelos projetos literários da escola que constantemente apresenta novidades aos alunos. “O livro distrai, me ensina e imagino tudo o que leio. Às vezes leio até no recreio”, conta Beatriz. A garota entende que a leitura a ajuda na escola, principalmente quando precisa usar a imaginação para fazer redações. Entre os preferidos estão os romances e obras de ficção, como as sagas Crepúsculo e Harry Potter. Todos já foram lidos.

Já a colega Amanda, de 11 anos, gosta de ler de tudo. O seu interesse se estende a revistas, jornais, livros e impressos em geral. Como a mãe é professora, em casa sempre tem acesso a livros e a assinaturas de revistas e jornais. Começou a ler por curiosidade e logo se apaixonou. Amanda diz que hoje tenta influenciar o irmão mais novo, de sete anos, “mas ele prefere mesmo é ficar no computador”. No entanto, ela não desiste e quer aproveitar junto do irmão os três armários repletos de livros que a família tem em casa. Hoje, ele só é usufruído pela irmã mais velha, de 16 anos.

Conhecimento à disposição

A biblioteca Luiz Camillo de Oliveira Netto, da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, única biblioteca pública de Itabira, conta, atualmente, com um acervo de cerca de 30 mil livros. Lá podem ser encontradas obras de literatura infanto-juvenil e para adultos, obras de referência e obras informativas de todas as áreas do conhecimento. Tem também acervo em Braille, que inclui obras de diferentes escritores, como Machado de Assis, Victor Hugo e também de autores de Best Sellers, como Dan Brown. Nela também é possível ter acesso a periódicos, como jornais e revistas, e também à internet.

Segundo a bibliotecária Elisabete Tércio dos Santos, os livros disponíveis são bastante utilizados e a biblioteca frequentada, ao contrário do que muita gente pensa. O público, em sua maioria, é formado por estudantes e jovens em geral. Os adultos procuram mais livros de auto-ajuda e romance. Por semana, de acordo com Elisabete, passam pelo local cerca de 600 usuários. Somente em agosto foram emprestados, exatamente, 1.089 livros.

Como forma de incentivar a leitura na cidade, a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade promove alguns projetos como o “Pegue, leia e repasse”, e “Leia mais”, no qual um lote de 913 livros é distribuído em sete pontos da cidade. Quem queira ter acesso aos livros da Biblioteca Pública deve fazer um cadastro mediante taxa única de R$ 2,00.

Livros e cinema

A proprietária de uma livraria em Itabira, Juliana Cássia Naves Araújo, atribui o resgate do interesse dos jovens pela leitura aos livros cujos roteiros basearam filmes no cinema. É o caso das sagas Harry Potter, Crepúsculo, Percy Jackson, Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia, verdadeiros fenômenos de vendas. “Muitos jovens que não gostavam de ler adquiriram o hábito por meio dos livros de Harry Potter, por exemplo. Foi uma febre de vendas”, conta a empresária.

De acordo com Juliana, as pessoas compram mais os livros divulgados pela mídia. O que escapa dessa onda de mercado são os livros infantis, escolhidos, normalmente, por um impulso afetivo das crianças. “É importante que os pais deixem seus filhos optar pelo que eles querem ler. Claro que é necessário orientar naquilo que é adequado para a idade. No entanto, vejo aqui muitos pais querendo que os filhos leem literatura, obras que eles consideram de qualidade. Neste momento cria-se uma antipatia entre a criança e o livro”, explica Juliana.

Com o know how de quem vive do mercado literário, a empresária avalia, ainda, que em Itabira falta incluir o hábito de ir a uma livraria como cultura e como forma de lazer. “Nos grandes centros, levar os filhos à livraria é uma forma de diversão. Hoje, os livros também estão evoluindo, ganhando maneiras, texturas, formas diferenciadas, sons, línguas estrangeiras. Ele deve ser dado como presente, incentivando a leitura. Um livro pode ser muito mais divertido que um brinquedo e é muito mais barato e didático”.

Livros para educar

Há quem tenha paixão por livros e não abra mão de estar sempre atualizado frente às novidades oferecidas no mercado, como é o caso da empresária Carolina Lage e Silva, de 33 anos. Toda semana, ela vai à livraria em busca de novidades previamente pesquisadas. Ela conta que sua casa se tornou uma biblioteca para amigos e parentes e exibe entusiasmada a estante com centenas de livros.

O seu amor pelos livros surgiu na escola, quando ainda estava na 4ª série. Toda semana, a professora pedia que os alunos levassem um livro para casa e, assim, ela se apaixonou por eles. “Quando comecei a trabalhar, passei a comprar livros. São meus companheiros. Não consigo dormir sem ler. E, como viajo muito a trabalho, sempre tem um na minha bolsa. Até nas viagens de férias sempre levo um comigo”, diz a empresária.

O hobby de Carolina já influencia a filha Luíza, de três anos e meio. De tanto receber livros de presente, a pequena já se sente confortável transformando o cenário de casa em biblioteca. No momento em que a mãe era entrevistada, Luíza se mantinha entretida com livros aos montes, espalhados pela sala, e contando histórias para a coleguinha Laura a partir das gravuras que via em seus livrinhos.

Para a pedagoga Leir Lage, quando os pais leem para os filhos pequenos, mais que um incentivo, o gesto representa um ato de carinho. “A criança se sente acolhida e associa essa sensação a coisas boas. É um ganho para a vida toda, fazendo com que ela sinta essa relação com o livro. A criança só se tornará um leitor no futuro se conseguir adquirir o hábito desde cedo”, conclui a pedagoga. 








terça-feira, 1 de novembro de 2011

Aprender a ler transformou minha vida

Cidades, domingo, 30/10/2011
Larissa Claro

Aprender a ler transformou minha vida


Aos 36 anos, o operário da construção civil, Everaldo Francisco dos Santos, experimenta o prazer da leitura. Ele é um dos alunos do Projeto Escola Zé Peão, que além de alfabetizar, promove o incentivo à leitura nos canteiros de obras de João Pessoa por meio de uma biblioteca volante. O livro que agora faz parte da rotina de Everaldo não deveria ser algo pontual, mas inserido na realidade de todos os paraibanos.

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, um em cada três brasileiros conhece alguém que venceu na vida graças à leitura. Um desses brasileiros é o operário paraibano. “Aprender a ler transformou a minha vida. Agora eu vejo o mundo de uma forma diferente porque posso identificar as coisas, como o que está escrito em placas”, revelou Everaldo.

Apesar dos esforços do Ministério da Cultura para diminuir o número de municípios sem bibliotecas no país, a procura pelos equipamentos ainda é discreta. Na Paraíba, em um ano, caiu de 15 para sete o número de cidades sem bibliotecas públicas municipais.

Ainda assim, especialistas e usuários reclamam da defasagem no acervo, falta de modernização nas instalações e, principalmente, a desvalorização do profissional de biblioteconomia, que nem sempre está à frente desses equipamentos.

Ontem, foi o Dia Nacional do Livro. Promover o acesso a ele e a mais bibliotecas ainda é um desafio para a Paraíba e o Brasil.
221 Bibliotecas

Em todo o Estado, 221 bibliotecas públicas, entre cadastradas e não cadastradas no Sistema Nacional de Bibliotecas, atendem a população. Esse número, no entanto, pode ser maior, já que algumas bibliotecas não constam em cadastros e levantamentos da Fundação Biblioteca Nacional, como a Biblioteca Pública do Estado, localizada na Avenida General Osório, e a do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGP).

1 para 17 mil
Se a atual situação do Estado for comparada ao último levantamento da FBN sobre o cenário nacional, feito em 2009, a Paraíba ocupa uma posição mais favorável: uma biblioteca para cada 17 mil habitantes, enquanto no Brasil sobe para 33 mil o número de habitantes por biblioteca.

Sete cidades da PB não têm biblioteca

Dos 223 municípios da Paraíba, apenas Belém do Brejo da Cruz, Borborema, Cubati, Itatuba, Pocinhos, Riachão do Bacamarte e Campo de Santana não possuem bibliotecas. Já as cidades de João Pessoa, Cabedelo, Santa Cruz e Santa Rita possuem mais de uma. Na Capital, constam no Sistema Nacional de Bibliotecas o equipamento do Espaço Cultural (Biblioteca Juarez Gama Batista), a Biblioteca Municipal (que será instalada no antigo Conventinho, no Varadouro) e a Biblioteca Ariano Suassuna, na Casa do Artesão.

De acordo com a coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas, Cybelle Macedo Nunes, apenas 132 bibliotecas de 127 municípios estão cadastrados no Sistema. Ela explica que é fundamental que todas as bibliotecas públicas municipais se cadastrem para receber do Ministério da Cultura todos os benefícios ofertados através de programas de assistência à biblioteca, como distribuição gratuita de livros, computadores para modernização e apoio técnico.

O nome já diz a que veio: Projeto Escola Zé Peão. A iniciativa de proporcionar aos operários da construção civil a possibilidade de aprender a ler é do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil (Sintricon), mas ganhou parceiros ao longo dos anos. Hoje, dois projetos de extensão da Universidade Federal da Paraíba complementam a ação. Trata-se de uma biblioteca volante e ações culturais. As duas iniciativas são coordenadas pelas professoras e coordenadoras do curso de Biblioteconomia, Geisa Flávia e Alba Lígia.

O projeto Zé Peão teve início em 1991 e ganhou a adesão do projeto ‘Biblioteca Volante: Instrumento de Lazer, Cultura e Informação’ cinco anos depois. Em 2011, 20 anos depois da primeira aula, outra iniciativa do curso da Biblioteconomia da UFPB se uniu ao projeto: a Ação Cultural. Agora, além de ofertar livros aos operários, eles participam de diversas ações culturais, como a visita a bibliotecas e a museus da cidade.

O senhor Everaldo Francisco dos Santos, mencionado no início da matéria, é um dos operários beneficiados pelo projeto. Para ele, aprender a ler foi um divisor de águas, já que durante toda a sua vida a insegurança foi um sentimento sempre presente. “Antes eu não sabia ler uma placa, tinha que perguntar sempre as pessoas. Hoje eu posso identificar as coisas. Pegar um papel na mão e ler o que tem nele é muito prazeroso”, disse.

Everaldo mora na cidade de Alagoinha, mas passa a semana em João Pessoa trabalhando na construção de um prédio no bairro Jardim Luna. As aulas de alfabetização acontecem de segunda a quinta-feira, sempre à noite. Parece obra do destino, mas atualmente ele presta serviço à construtora ABC.
Paraibano lê só 4,2 livros por ano

De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano, sendo que 3,4 são livros indicados pela escola (incluindo didáticos) e apenas 1,3 livros são lidos fora da escola. O paraibano lê um pouco menos: 4,2 livros por ano. Nos três meses anteriores a pesquisa, 45% da população pesquisada disse não ter lido nenhum livro. Isso mostra quanto a leitura precisa ser estimulada na população brasileira.

Para a bibliotecária e coordenadora do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal da Paraíba, Geisa Flávia Câmara, esse estímulo deve começar nas escolas, mas algumas instituições trabalham os equipamentos de leitura de maneira equivocada. “A leitura deve ser trabalhada como instrumento de lazer, libertação e prazer, nunca como castigo. O aluno gazeia aula, por exemplo, e como castigo ele é levado para a biblioteca”, ressaltou. A vice-coordenadora do curso e também conselheira do Conselho Regional de Biblioteconomia, Alba Lígia de Almeida, concorda com a colega e acrescenta: “Os alunos não sabem utilizar a biblioteca e todos os serviços que ela oferece, justamente porque não há profissionais capacitados”, alertou.

A categoria vem lutando pela presença de bibliotecários formados em todos os equipamentos, sejam bibliotecas públicas, escolares ou particulares. De acordo com a Lei 12.244/ 2010, até 2020 todas as escolas públicas e privadas devem ter bibliotecas e estas devem contar com profissionais qualificados. Os resultados deverão surgir em médio prazo, mas, para Alba Lígia, a Lei representa um grande avanço e terá um papel significativo na educação de crianças e adolescentes. “O papel do bibliotecário não é só gerenciar livros, mas promover o acesso a informação e o estímulo a leitura através de várias ações, desde a organização de uma vitrine que chame a atenção do leitor, até contar histórias, e se o bibliotecário não tem esse dom, ele pode ser um mediador. O que não pode é transformar a biblioteca em depósito de livros”, afirmou.

Conselheiro de governança do movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos afirma que o papel do bibliotecário no século 21 mudou radicalmente. “O profissional tem que ter a percepção de que a biblioteca não é apenas um lugar de armazenar livros e que o seu papel não é controlar devolução e empréstimo de livros. Hoje o bibliotecário tem que ser um catalisador, ele deve ajudar os alunos a chegar de modo mais fácil ao conhecimento”, comentou.

De acordo com o Censo Escolar 2010, das 1.190 escolas públicas da rede estadual, 509 têm bibliotecas ou salas de leitura, o equivalente a 42,47%. Já nas redes municiais de ensino, o número é ainda mais alarmante. Apenas 12% das escolas dos municípios paraibanos possuem bibliotecas. São 6.008 escolas e apenas 721 bibliotecas.

JP terá biblioteca pública moderna


Por deficiência na estrutura física do antigo Conventinho, no Varadouro, a entrega da Biblioteca Municipal de João Pessoa, prevista para este semestre, ainda não aconteceu. O equipamento promete ser o mais moderno do Estado, com sistema de automação e uma ilha com 32 computadores conectados à internet disponível aos usuários. O acervo de mais de 18 mil publicações está armazenado em um depósito da prefeitura e aguarda o fim da reforma para ocupar as estantes. O acervo será dividido por setores, com espaços exclusivos para obras infantis, braile, periódicos e autores paraibanos.

O coordenador da implantação da Biblioteca Municipal de João Pessoa, Marcos Paulo Rodrigues, disse que a inauguração ainda não tem data, mas garante que as obras estão sendo conduzidas a todo vapor. “Estava tudo certo para entregarmos no início do semestre, antes da prova do Enem, mas quando as obras começaram os engenheiros viram que o prédio não tinha alicerce, então tivemos que realizar novo processo de licitação”, explicou.

Atualmente, a equipe está trabalhando no Centro de Capacitação de Professores (Cecapro), onde realiza, entre outros trabalhos, o de automação do acervo. Segundo Marcos Paulo, a Biblioteca Pública de João Pessoa vai abrir todos os dias. Será a única na Capital com acesso ao público nos finais de semana. O coordenador também adiantou que a prefeitura municipal vai apoiar projetos realizados pela população de incentivo à leitura. “Essas pessoas estão realizando o trabalho do Estado, portanto, a prefeitura vai dar todo o apoio. A proposta de Lei já foi aprovada na Câmara Municipal e já estão sendo articuladas as questões burocráticas”, afirmou.

Maioria não é informatizada

A maioria das bibliotecas públicas da Paraíba funciona basicamente com o acervo, mobiliários e equipamentos enviados pelo Ministério da Cultura através de kits de implantação e modernização de bibliotecas, formado por um acervo de pouco mais de mil livros, dois computadores, uma televisão, quatro mesas, seis estantes, entre outros equipamentos. Para especialistas e usuários de bibliotecas, o acervo, em geral, é defasado, e a falta de um sistema informatizado atrasa o acesso ao conhecimento.
Até as grandes bibliotecas do Estado – a exemplo da Juarez Gama Batista, do Espaço Cultural, e a Biblioteca Pública do Estado, na Avenida General Osório – sofrem com essas condições. A primeira possui um acervo de aproximadamente 100 mil publicações, entre livros, periódicos, atlas, enciclopédias, CDs, DVds, entre outros. Por mês, registra uma presença média de quatro mil usuários. No último mês de agosto, foram 456 empréstimos. Entre as bibliotecas públicas do Estado, a do Espaço Cultural é a maior do Estado, mas também apresenta problemas para os usuários.

Não há computadores disponíveis para usuários, como também não existe sistema informatizado. Os usuários também reclamam da defasagem do acervo. A biblioteca ficou fechada para reforma por seis anos, reabrindo ano passado com novo piso, cadeiras, mesas e sistema de ar condicionado. Apesar de não disponibilizar computadores, a biblioteca oferece internet wi-fi para os usuários. “O acesso a internet era uma solicitação constante dos usuários. Ainda não tivemos condições de adquirir computadores, mas o acesso a internet não era impossível. Muitos usuários já trazem notebooks, iPads e tablets para pesquisar”, comentou.

A candidata ao vestibular Raiara Viena, de 21 anos, frequenta a biblioteca do Espaço Cultural desde que abriu. Ela procura o espaço para estudar e explica que encontra o silêncio e o conforte que precisa. A estudante não depende do acervo da biblioteca, mas conta que já presenciou alunos de Direito e candidatos a concursos públicos reclamarem da defasagem dos livros. “Eles contam que o acervo não é atualizado. Para mim, o maior problema é o espaço. As vezes a gente não encontra lugar pra sentar de tão procurada que ela é. Fora isso, não vejo problema. A biblioteca é confortável, tem ar condicionado e a iluminação é boa”, conta.

O autônomo Edson Alencar, de 45 anos, é cadastrado na biblioteca Juarez da Gama Batista há quase 20 anos. A cada 15 dias, ele vai à biblioteca devolver e pegar novos livros, hábito que cultiva desde a juventude. Para o profissional autônomo, apesar de não encontrar todos os títulos que procura, a biblioteca do Espaço Cultural atende bem a comunidade. “Há um desinteresse muito grande pela leitura, principalmente por pessoas da minha geração. Acho que quando uma pessoa quer ler ela dá um jeito e o faz, não pode depender exclusivamente da biblioteca”, afirma.

Edson sente falta de um sistema informatizado, mas conta que procurar os títulos nas estantes é um bom exercício de memória e de incentivo a novas leituras. “Eu prefiro o sistema tradicional ao sistema informatizado porque a gente acaba encontrando outros títulos de interesse, mas sei que faz falta”, conta. Esse também é um problema enfrentado pelos usuários da Biblioteca Pública do Estado, a mais antiga do Estado, localizada no Centro da Capital.

A coordenadora do equipamento, Kátia Augusta da Silva, garante que a biblioteca será automatizada, mas por enquanto o sistema ainda é manual.
Dos livros tradicionais aos digitais


O radialista Paulo Santos anda com uma biblioteca a tiracolo. Atualmente são 25 exemplares, de Eça de Queiróz ao peruano Mario Vargas Llosa. As obras estão no iPad que adquiriu há dois anos, onde já leu pelo menos 20 livros - “com conteúdo grande”, ele destaca - e incontáveis revistas e apostilas. Para o radialista, o livro é interessante, mas o hábito da leitura é mais importante e deve ser estimulado seja através do livro ou a partir de dispositivos eletrônicos.

“A minha geração ainda vê o livro como algo insubstituível. O livro é interessante, mas o hábito da leitura é mais importante e não podemos por capricho de uma geração barrar o processo de desenvolvimento da humanidade”, disse. O radialista conta que atualmente lê mais no dispositivo eletrônico do que no papel. “A gente pode guardar fragmentos dos textos para ter acesso depois só ao que interessa. Isso conta muito pra mim”, explica.

O radialista também vê os audiobooks com bons olhos, mas recorrer sempre a esse formato, para ele, é sinônimo de preguiça. “Eu só escuto se for noutra língua pra estimular a fluência. Criar o hábito só de ouvir é preguiça, mas a atual geração vê de maneira diferente. Acha legal. De qualquer forma, está absorvendo a informação”, afirma.

As novas mídias, como os iPads, tablets e-books, ainda são uma realidade longe das bibliotecas públicas da Paraíba. O conselheiro do Todos Pela Educação, Mozart Neves, explica que o conceito de biblioteca nos dias atuais passou a ser de um ambiente de troca de conhecimento que vai além da consulta ao livro, por isso o acesso às mídias eletrônicas são importantes e indispensáveis. “É papel do Estado começar a prover essas condições de acesso a informação”, disse.

Para a bibliotecária Geisa Flávia, as novas mídias são importantes, mas se muitos alunos brasileiros não têm sequer acesso ao livro, o governo deveria se preocupar primeiro com o essencial, para depois de preocupar com a tecnologia. “Se conseguirmos aliar o tradicional ao tecnológico, melhor, mas a preocupação primeira deve ser o acesso ao livro”, comentou.

Sobre a polêmica de que as novas mídias levarão ao fim do livro, a assessora de imprensa da Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid) especialista em Gestão Estratégica da Comunicação Digital, Fabrícia de Oliveira, comenta: “Algumas pessoas (independente da idade) têm uma intimidade maior com o livro, seja pelo manuseio das páginas, peso, cheiro do papel, exibição nas estantes. Sendo assim, o livro no formato tradicional nunca será substituído, continuará sendo especial, não perderá sua essência. Uma mídia não substitui a outra, elas se complementam. O importante é ampliar as formas de leitura”.

Fonte: Correio da Paraíba