segunda-feira, 21 de junho de 2010

Para acadêmicos, qualquer tipo de leitura é válida

As pesquisas insistem em dizer que o brasileiro lê pouco - 1,8 livros por habitante ao ano, segundo dados do Ministério da Cultura. Balela! “É mais fácil dizer que o povo brasileiro não tem interesse de ler. Mas isso é tão enganoso quanto dizer que o brasileiro é vagabundo e não tem memória. Brasileiro lê sim, mas não o que gostaríamos que ele lesse”, afirma o antropólogo e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Cláudio Bertolli Filho.

Nas viagens que freqüentemente faz a São Paulo, o antropólogo reparou na imensidão de pessoas que lê nos metrôs e ônibus. Nas mãos, costumam carregar revistas populares, literaturas de cordel e outras publicações não tão elitizadas. “Você extrai coisas boas tanto de livrinhos populares, quanto de um Nietzsche”, defende Bertolli.

Mas, segundo o antropólogo, existe um grande preconceito por parte dos acadêmicos e da classe média brasileira, refletido inclusive nas bibliotecas públicas. “Eu tive notícias de bibliotecas que incineravam ou jogavam fora doações de livros mais populares. O próprio grupo acadêmico se sente constrangido em admitir que lê ‘Harry Potter’, por exemplo”, lamenta.

A professora de história Sônia Maria Mozer pensa o mesmo: qualquer leitura é válida. “Tem uma série de colegas que criticam ‘Harry Potter’. Eu acho maravilhoso que crianças façam fila para comprar os livros do mago, porque elas não estão apenas comprando, elas estão dando um passo importantíssimo para a humanização”, diz.

Internet

Ao contrário de muitas correntes, estudiosos escutados pela reportagem não vêem a Internet como inimiga da leitura, muito pelo contrário. Para a professora Sônia Mozer, o mundo virtual oferece uma gama de acessos aos livros. “Quando você entra no Google (site), você está entrando na maior biblioteca do mundo”, compara a professora.

O professor de filosofia da Universidade do Sagrado Coração (USC) Silvio Motta Maximino ainda indica outra boa utilidade da Internet: o acesso a outras fontes de informação. “Se depender apenas do rádio e da televisão, um eleitor, por exemplo, fica vítima do marketing, não tem uma compreensão maior da forma de pensar do seu candidato”, analisa.

Apesar da concorrência com outras mídias, o hábito de leitura pelo papel continua fundamental às pessoas, na opinião do antropólogo Cláudio Bertolli Filho. “De todos os meios de comunicação, o jornal impresso é o que tem mais credibilidade, porque as pessoas podem processar melhor a informação, meditar, refletir e guardá-lo”, diz.
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Transformação

“A leitura, ou o aprendizado da escrita, representa um salto na evolução da humanidade”, sustenta o professor de filosofia da Universidade do Sagrado Coração (USC) Silvio Motta Maximino. De acordo com ele, o hábito de ler está relacionado ao desenvolvimento de partes do cérebro, responsáveis pelo aumento da capacidade de refletir e compreender o mundo. “A leitura provoca um efeito físico no cérebro, além do espiritual e psíquico”, afirma Maximino.

Para o antropólogo Cláudio Bertolli Filho, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a leitura é potencialmente transformadora. “Ela sempre gera um espaço de reflexão onde estou me construindo como ser humano. Conhecer aquilo que eu não conheço, por mais picuinha que seja, acaba construindo uma consciência de identidade”, diz Bertolli.
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Silvio Motta Maximino, professor de filosofia, indica o livro “Sugar Blues: o gosto amargo do açúcar”, de William Dufty. “Este livro influenciou a minha alimentação. A obra fala sobre o hábito de consumo do açúcar refinado, dos males causados por ele”.

Sônia Maria Mozer, professora de história indica “Odisséia”, de Homero; “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri; e “Do Contrato Social”, de Jean-Jacques Rousseau. “Todos esses livros são completos”.

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