A autora, Tamara de Souza Brandão Guaraldo, é colaboradora de Opinião
A manchete de capa do JC de domingo abordou um tema de grande relevância social: o hábito da leitura e a formação de leitores. Os dados da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo, apresentados na reportagem, mostram que apenas 1 em cada 5 brasileiros tem o hábito de ler. O desafio da promoção da leitura, que possa tornar o conhecimento acessível, é dever do Ministério da Cultura e da Educação aliados aos sistemas de ensino e universidades, exigindo esforços de todos. A partir do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) lançado pelo governo federal em 2006, a leitura passa a ser reconhecida como política pública de Estado. A educação e cultura são critérios prioritários, capazes de definir o grau de desenvolvimento socioeconômico de uma nação.
O PNLL também apresenta a necessidade da formação de mediadores, sejam educadores, bibliotecários ou outros, para atuar em projetos que fomentem a leitura, como performances poéticas, rodas literárias, oficinas de criação literária, clubes de leitura nos mais diversos espaços. Porque mesmo se há livros por perto, falta aquela iniciativa que abre as portas para as obras: estamos diante da importância dos mediadores e da mediação da leitura, principalmente no âmbito familiar e escolar, como bem destacado pela reportagem de domingo. Reforça essa tese a última edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, feita com 5.012 pessoas em 311 municípios, em 2007, com uma amostra que representou todo o universo da população brasileira com 5 anos de idade ou mais, ilustrando em números os fatos trazidos pelo JC sobre a questão. Nessa investigação, foi considerado leitor quem declarou ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa e não leitor quem declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses. A pesquisa foi coordenada pelo Observatório do Livro e da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-livro, Organização Social Civil de Interesse Publico - OSCIP - e executada pelo Ibope Inteligência.
O leitor representou 55% (95,6 milhões) da população brasileira, e esse público confirma o que foi demonstrado na reportagem do JC: “o exemplo de prazer precisa estar em casa”. Aí se configura a importância das mediações, nesse caso a familiar, em que 49% dos entrevistados afirmaram ter se tornado leitores pela influência da mãe e 30% pela influência do pai. Do total de leitores, 60% afirmaram sempre ter visto os pais lendo em casa. Já entre os 45% (77,1 milhões) que se declararam não leitores, 63% nunca presenciaram esse hábito em casa, e 85% jamais foram presenteados com um livro em toda a infância. É importante destacar que muitos dos não leitores tiveram ou têm pais analfabetos (23%), que cursaram até a 4ª série do ensino fundamental (23%) ou têm fundamental incompleto (15%), enquanto as mães sem qualquer escolaridade são 26%, 22% fizeram até a 4ª série e 16% têm fundamental incompleto, o que dificulta a valorização do hábito da leitura.
Nesse cenário cresce a importância da escola, na tentativa de diminuir o índice de não leitores no país. A leitura, como prática dialógica, convoca a importância do professor para a construção do hábito de ler, pois 33% do total de leitores entrevistados afirmaram que foram os professores a maior influência para o seu gosto pela leitura.
A escola precisa intensificar sua ação em todas as direções que se relacionam com o caminho da leitura: a mediação da leitura é uma prática formadora, e assumir esse saber significa compreender que mediar é criar possibilidades e oferecer condições para a construção do conhecimento. Portanto, o mediador deve ter certos saberes, que não são “simplesmente transferidos”. A reportagem do JC destacou que se o professor não for ele mesmo um leitor, terá um procedimento de mediação que soará como falso. É, portanto, de maior relevância para o professor contar com uma estrutura adequada para ser leitor e mediador de leitura na escola, como o espaço das bibliotecas escolares que devem estar presentes em seu próprio local de trabalho, onde a leitura, tanto de livros clássicos e livros caros, possa ser usufruída gratuitamente tanto por ele como pelo aluno.
Uma grande parte da população brasileira tem pouco acesso a materiais de leitura, em especial, ao livro. O preço médio do livro no Brasil, em torno de 25 reais, é ainda um impedimento a disseminação da leitura. Num país em que 66% dos livros estão nas mãos de apenas 20% dos brasileiros, em que quase 10% da população não tem nenhum livro em casa, aliada a existência de poucas livrarias e a dificuldade econômica de muitos, justifica a necessidade de espaços para a efetiva mediação da leitura, como as bibliotecas comunitárias, públicas e escolares, com materiais atualizados, para apoiar as práticas dos mediadores como o professor, os pais e os bibliotecários, seja com textos literários, informativos ou de mero entretenimento.
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru
Nenhum comentário:
Postar um comentário