sábado, 31 de julho de 2010

DIREITO À LEITURA - Lei manda uma biblioteca em cada escola

Para atingir a meta no prazo determinado, que é de 10 anos, será preciso construir 25 bibliotecas por dia no País

Ana Paula Nascimento

Parecia ser o óbvio, mas só agora o País ganha uma lei determinando que todas as escolas públicas e privadas tenham uma biblioteca e um acervo mínimo de pelo menos um livro por aluno matriculado. A Lei 12.244, de autoria do deputado federal Lobbe Neto (PSDB-SP), foi publicada no dia 25 de maio no Diário Oficial e prevê o prazo de 10 anos para as instituições se adequarem. Com a estimativa do Ministério da Educação de que 37% das 200 mil escolas brasileiras de educação básica ainda não têm biblioteca (Censo/2008), o desafio é grande: seria necessário construir 25 bibliotecas por dia para atingir a meta.

Na biblioteca da Escola Municipal Carlos
da Costa Branco o acervo de mais de 3 mil
livros inclui dicionários, enciclopédias, revistas e gibis

Em Londrina, praticamente todas as 80 escolas municipais (incluindo as rurais), que atendem aproximadamente 37 mil alunos, possuem um bom acervo de livros, mas a Secretaria Municipal de Educação não soube precisar quantas ainda não têm um espaço adequado para biblioteca. É o caso da Escola Municipal América Sabino Coimbra, no Jardim Paulista (Região Norte). Com 110 alunos atendidos em dois turnos, o pequeno espaço improvisado de cerca de nove metros quadrados não comporta de forma confortável mais do que seis crianças por vez.

O local é um dos espaços preferidos dos alunos,
com boa iluminação, mesas, cadeiras e prateleiras
adequadas ao tamanho das crianças

Em prateleiras altas, o acesso aos 600 livros do acervo não é facilitado e a professora regente de biblioteca, Kátia Valéria Rodrigues Monteiro, se desdobra para atender as crianças. A Hora do Conto é feita na sala de aula, assim como o empréstimo dos livros, que são levados em baús. ‘‘Sabemos que isso não é o ideal, que os alunos perdem por não terem um espaço adequado para a leitura, o acesso ao computador e um ambiente mais lúdico’’, lamenta a diretora Marly Guagnini Sander. Recentemente, devido a um problema de infiltração no telhado, cerca de 500 livros novos ficaram estragados.

Por causa da falta de espaço, a Hora do
Conto é feita na sala de aula, assim como o
empréstimo dos livros, que são levados em baús

Segundo a assessoria de planejamento da Secretaria Municipal da Educação, está prevista para o ano que vem a reconstrução da escola – que ainda mantém a estrutura de madeira da sua fundação em 1968 – com a instalação de uma biblioteca adequada.

Ao ser informado sobre esta possibilidade, os olhos do aluno Rafael Alves da Silva, 7 anos, brilharam. ‘‘Sério? Que legal! Eu estava querendo mesmo isso’’, comemora. A aluna Gabriela Moraes Guise, 8 anos, também aprova a iniciativa: ‘‘Eu gosto muito de ler e seria muito bom ter uma biblioteca maior e mais confortável, onde nós mesmos pudéssemos pegar os livros nas prateleiras’’.

Em época de Copa do Mundo, a professora
Maria de Cássia lê um livro que fala das
riquezas da cultura africana

Na Escola Municipal Professor Carlos da Costa Branco, no Jardim Piza (Região Sul), esse sonho já é realidade há seis anos. Inaugurada em 1977, a pequena escola de madeira com cinco salas foi reconstruída em 2004 e, desde então, tem mais salas de aula e uma biblioteca bem estruturada. O acervo de mais de 3 mil livros infantis e infantojuvenis, ainda conta com 14 enciclopédias, 74 dicionários ilustrados, revistas e gibis para o deleite dos 450 alunos que frequentam a instituição.

Na Escola Municipal América Sabino Coimbra a
biblioteca ainda está em um espaço apertado e improvisado

Arejada, com boa iluminação, ventiladores, mesas, cadeiras e prateleiras adequadas ao tamanho das crianças, o local é um dos espaços preferidos delas. A professora regente de biblioteca Maria de Cássia Zamaia Zendrini confirma que o local é ideal para a contação de histórias. Em época de Copa do Mundo ela está trabalhando com os alunos o livro ‘‘A África, Meu Pequeno Chaka...’’ (Cia das Letrinhas), que explora de forma afetiva, através do diálogo entre um avô e seu neto, as riquezas da cultura africana. ‘‘Procuro complementar nas leituras o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula e também aspectos da vida cotidiana dos alunos através das mensagens dos livros. Eles prestam atenção, gostam da atividade, lêem mais e ficam curiosos’’, comenta a professora.

Na opinião do diretor de bibliotecas do município Rovilson José da Silva a nova lei é um passo importante para a valorização das bibliotecas escolares. ‘‘O ideal é que não fosse necessário ter uma lei para isso, mas ela ajuda a reforçar o compromisso do Estado, da União, com esse intrumento de educação. Não é só mandar livros; é preciso ter espaços adequados para o incentivo à leitura, à educação’’, ressalta.

Segundo ele, até pouco tempo a biblioteca escolar era considerada o ‘‘patinho feio’’ e a prioridade dos investimentos ficava por conta das bibliotecas públicas e universitárias.

A nova lei prevê ainda um bibliotecário atuando nas bibliotecas escolares. ‘‘Isso pode gerar uma mudança até na grade curricular do curso de Biblioteconomia. É preciso um olhar diferenciado na capacitação desse profissional que vai atuar diretamente com crianças. Há todo um processo de mediação da leitura, que é fundamental e vai além do aspecto técnico da manutenção do acervo’’, avalia.

Ao saber que sua escola vai ganhar uma biblioteca nova,
Rafael se anima: ‘Sério? Eu estava querendo mesmo isso

Lançado em 2002, o projeto Palavras Andantes, idealizado por Silva, conseguiu modernizar mais de 60% das bibliotecas municipais e impulsionou o incentivo à leitura na rede municipal – de 72 mil livros emprestados em 2002 passou para 650 mil em 2008 (último levantamento realizado). O projeto prevê formação continuada de professores, contação de história e empréstimos de livros semanais, além de revitalização de acervo e infraestrutura das bibliotecas. Há um ano sem coordenadoria, depois que Silva assumiu seu cargo atual, uma nova coordenação deverá ser confirmada ainda nesta semana.

Matéria publicada em 22/06/2010

Sacolas que ensinam e aproximam

Projeto que começa a ser desenvolvido em escolas rurais é um estímulo para famílias se unirem em torno da leitura

Silvana Leão

Sacolas de pano, feitas de tecido reciclado e recheadas de livros, revistas, gibis e de exemplares da Folha de Londrina, é a estratégia de duas escolas rurais de Londrina para aproximar pais e filhos. O projeto, batizado de ''Sacola de Leitura'' foi iniciado na última semana nas escolas municipais Luís Marques Castelo, do Distrito do Espírito Santo, e Francisco Aquino Toledo, do Distrito de São Luís, ambos na Zona Sul.

Vitor Lima: ‘‘Achei legal porque
sentei com minha mãe para ler’’
Os alunos contemplados pela primeira ''visita'' da sacola em suas casas estão empolgados com a ideia. ''Achei legal porque sentei com minha mãe para ler, foi gostoso ficar ali com ela. A gente leu tudo o que foi dentro da sacola'', contou o pequeno Vitor Emanoel Trajano de Lima, de 9 anos, da Escola Luís Marques Castelo. Além do precioso momento desfrutado junto da mãe, ele disse que gostou de poder treinar a leitura, pois sonha com o dia em que será convidado para interpretar passagens da Bíblia na igreja que frequenta com a família. ''Vou querer levar sempre a sacola para casa'', avisou.

Willian José Givigier, 9 anos, da mesma instituição, também viveu uma experiência gratificante. ''Eu sempre levo livros da biblioteca da escola para ler, mas desta vez foi diferente porque eu sentei com meu pai e com a minha mãe para ler. E no final a gente ainda fez um relatório do que mais gostou'', relatou o garoto.

Willian Givigier e Ana Beatriz Terciotti:
experiência gratificante
Já Ana Beatriz Terciotti, que aos 7 anos já sabe que a leitura ''é muito importante'', gostou de ter o pai, a mãe e o irmão para ajudá-la nas pequenas dificuldades ainda enfrentadas para decifrar as letras. Como os demais, ela garantiu que levará o kit para casa sempre que puder.

Termômetro

Segundo o diretor da escola, Rogério Gil Kosteski, foram confeccionadas 24 sacolas, feitas de tecido que já foram as cortinas das salas de aula. A mãe de uma professora se encarregou de confeccioná-las e as educadoras ficaram responsáveis pela decoração das bolsas, que receberam pinturas e colagens. ''Optamos por não padronizar as sacolas, deixando que cada professora imprimisse nelas a sua marca. Isso gera um maior comprometimento com o projeto e estimula maior cuidado'', argumentou o diretor.

Kosteski explicou que além de promover a maior união da família, a iniciativa pretende estimular a participação dos pais no processo de aprendizagem dos filhos, dando-lhe condições de avaliar o seu desenvolvimento na escola. ''Se a criança tem alguma dificuldade de leitura, os pais têm a chance de perceber o problema por contra própria. É uma espécie de termômetro.''

A satisfação das crianças foi sentida também pela comerciária Júlia Kristina Viegas Tosin, mãe de Gabriel, de 6 anos, e de Jéssica, de 10 anos. ''Acima de tudo, foi um momento de união. Foi muito gostoso porque desligamos a TV e cada um leu o que encontrou de mais interessante na sacola. Depois comentamos com os outros o que lemos'', contou Júlia.

Ela revelou que a família faz muita coisa junta, mas nunca pais e filhos tinham se reunido para ler. ''Acho que daqui para frente vamos fazer isso mais vezes. E nem vamos esperar pela próxima sacola'', prometeu, para alegria dos filhos.

Matéria publicada em 27/06/2010

Livros no canteiro de obras

‘‘Era ele que erguia casas/ Onde antes só havia chão./ Como um pássaro sem asas/ Ele subia com as asas/ Que lhe brotavam da mão.’’ Assim começa o poema ‘‘Operário em Construção’’, de Vinicius de Moraes* (1913-1980), que mostra um trabalhador sendo construído através de - suas ideias e ideais.

No poema, o homem adquire força através de sua razão. Assim também o "Plantão Sorriso"** mostrou, em uma apresentação no canteiro de obras do edifício Brisas Igapó, na Gleba Palhano, que as dezenas de operários ali presentes podem crescer através da leitura. A apresentação, ocorrida na semana passada, foi promovida pelo projeto ‘‘Clube da Leitura’’, que a construtora A. Yoshii mantém em três obras.

Em cada canteiro, uma caixa com cerca de 50 livros e revistas é disponibilizada para os funcionários, que desta forma têm acesso a obras de literatura, autoajuda, livros técnicos e outros conteúdos sem nem sair do trabalho. Periodicamente, os exemplares são trocados por outros, como forma de diversificar o acervo oferecido.

Segundo Adriana Castro dos Santos, responsável pelo projeto, o objetivo da iniciativa é simplesmente criar o hábito de leitura nos operários. Porque ela sabe que as consequências dessa mudança vão longe. ‘‘O hábito de ler, mesmo que uma embalagem, um jornal, já faz a diferença em relação a quem apenas executa as coisas e não lê. O raciocínio se desenvolve e os benefícios se refletem não só no trabalho, mas na vida, porque eles crescem como pessoas’’, argumenta.

**Foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro

**Organização cultural criada em 1996 formada por atores especializados na arte do palhaço e treinados para atuar em hospitais. Semanalmente visitam seis hospitais em Londrina e um em Cambé

Matéria publicada em 29/06/2010

Em defesa dos círculos de leitura

A instituição tem 450 alunos e um acervo de 2.500 livros,
que estão sempre à disposição das crianças
 
A criadora do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) no Brasil, Eliana Yunes, sugere a criação de círculos de leitura nas salas de aula, a fim de intensificar a experiência com as palavras. Yunes participa da Coleção Mundo de Ideias com o livro ''Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados''. Na obra ela diz que a oralidade no círculo de leitura se ampara na voz dos colegas e se desdobra numa interatividade entre o texto e os diversos ouvintes. O propósito é fixar na memória o que o autor quis dizer.

Para Eliana, a prática pedagógica do círculo de leitura é um passo para dentro da leitura, que busca resgatar até mesmo os espaços de solidão da ''nossa modernidade''.

Para a autora, o professor precisa entender a dimensão do mundo para mediar uma aula. Para incentivar a leitura, Yunes julga que o professor deve entender que a narratividade não está só nas palavras mas na expressão da arte, nos quadros, na música popular, inclusive na roupa que se veste.

SERVIÇO

- Os doze livros da série Mundo das Ideias estão disponíveis nas principais livrarias do País. Os preços variam de R$ 29 a R$ 49. Maiores informações: http://www.aymara.com.br/

Matéria publicada em 29/06/2010

Formando leitores - como ensinar o gosto pelos livros ?

Faça chuva ou faça sol, de dia ou de noite, há uma biblioteca permanente em espaço aberto no pátio central da Escola Municipal Nympha Peplow, de Curitiba. Localizada no bairro Vista Alegre, a escola possui 450 alunos e duas agentes de leitura, dedicadas a estimular o contato com os livros e a narração de histórias.
A Hora do Conto fica mais interessante com a ajuda de dois
 alunos, que se encarregam da narração utilizando figuras e fantoches

Quarta-feira é o dia em que os alunos sentam-se no tapete da biblioteca e formam uma roda. Logo após o recreio é hora de dar início ao círculo de leitura e contação de história. No canto esquerdo do espaço há um imenso baú de madeira que armazena dezenas de exemplares de livros, pequena fatia das 2.500 obras que compõem o acervo da escola. Ao lado do baú, encabeçando o círculo de leitura, ficam dois alunos com livros nas mãos narrando em mímicas com bichos de pelúcia, numa espécie de teatro de bonecos, o enredo da obra. Assim finalizam o registro da história vivida pelos personagens do livro. Adelfe Santina, professora de Literatura, acredita que é interessante trabalhar a continuidade da leitura, na sala e inclusive em casa, com a família dos alunos.
Toda quarta-feira, depois do recreio, é tempo de contação de
história na Escola Municipal Nynpha Peplow, em Curitiba

Influenciar pai e mãe a ler também é uma das estratégias para estimular o hábito nas crianças. A escola lançou um projeto chamado Mala de Leitura, cujo recheio conta com ao menos sete obras, sobre os mais diversos temas, dedicados a todos da família. Dentro da mala, que cada aluno leva para casa, tem até CD de música popular brasileira e DVD com filmes para a família assistir junta. Toda semana os alunos trazem a mala para a escola e trocam os títulos a fim de criar trocas de experiências.

Jéssica Correia, de 8 anos, e Otávio Bressan, 9 anos, ambos da terceira série, levam a mala para casa e foram premiados pelo colégio pela quantidade de livros que leram durante o mês. Ela conheceu todos os tipos de medos no ''O grande livro dos medos''; Otávio leu a história de Sansão e Dalila na Bíblia.

As crianças e professores que mais leem recebem prêmios no
final do mês, tornando-se exemplos para a comunidade escolar
 
O sucesso dos projetos é percebido pelo fluxo de empréstimos dos livros na biblioteca, pela presença interessada de pais e pelas pessoas que param para ler as poesias transcritas pelos alunos no muro da escola. Quem agradece são os professores, que sentem o quanto o aprendizado da criança evolui quando amplia o seu repertório cultural.

Matéria publicada em 29/06/2010

Lei do Direito à leitura

Carla Barcaro*

A reportagem ''Direito à leitura'', (Folha2, pág. 4, 22/06) bem como os comentários publicados por leitores na seção de cartas da FOLHA, me fizeram lembrar de um sonho secreto que alimentava na infância: ganhar uma biblioteca. Das duas escolas estaduais que frequentei até o término do segundo grau, nenhuma possuía biblioteca. Talvez, por isso, me causa tanta inquietação e interesse. Creio na leitura como forma de acesso à cidadania e democracia. Apesar dos índices que mostram avanços nesse setor, o acesso à leitura e às bibliotecas continua sofrível.

Pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura à Fundação Getúlio Vargas (FGV) - o Primeiro Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais -, estima que haja cerca de 2,67% bibliotecas para cada 100 mil habitantes no país. Quando olhamos para os índices de distribuição regional, percebemos ainda a discrepância existente entre zonas centrais e áreas mais remotas. Cerca de 86% das bibliotecas escolares estão localizadas em áreas urbanas (Inep, 2004). Alguns projetos desenvolvidos pelo setor privado e pelo governo buscam melhorar esses índices. Além do projeto ''Palavras Andantes'', citado pela FOLHA, há também o projeto ''Arca das Letras'', promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Nesse projeto são montadas bibliotecas para uso comunitário na casa de pessoas pertencentes à comunidade local, os agentes de leitura. Cada casa recebe em torno de 200 obras inicialmente, e os títulos variam entre saúde, agricultura, literatura, didáticos, gibis, etc.

Projetos do gênero são importantes, pois oportunizam aos leitores títulos relevantes às suas necessidades (os moradores indicam os livros que querem no acervo), capacitando-os não apenas para a decodificação de mensagens desconexas de seus contextos, mas na formação de leitores conscientes da comunidade onde vivem. A necessidade de acervos e de construção de salas adequados para a reunião dessas obras (como a intentada pela lei Direito à Leitura) é inquestionável. A biblioteca não é apenas um local de leitura e pesquisa, mas um espaço aberto para várias práticas sociais, dentre as quais a integração social, que deve acontecer em todas as esferas da sociedade e não ser polarizadas nas regiões centrais. Essa integração, a meu ver, pode acontecer por meio de um simples círculo de leitura.

A lei do Direito à Leitura, mesmo que óbvia, tardia e com motivações questionáveis, chega para elevar o valor da leitura entre nós e diminuir os entraves de acesso à informação que marca nossa nação e acentua a exclusão social. A lei coloca a biblioteca sob a tutela do Estado (ótimo!) que, por outro lado, terá poder para fiscalizar e punir as instituições particulares que não se adequem a ela. Quero crer que em dez anos não teremos mais escolas públicas em estado precário no país e que cada uma delas estará devidamente equipada, não apenas com espaços de leitura e acervos, mas com um bibliotecário, com é previsto pela lei.

Entendo ser direito legítimo da sociedade exigir uma agência que fiscalize o governo, quanto ao cumprimento da lei que ele mesmo sancionou. Nada mais justo que o governo receber as mesmas punições caso não atinja a meta de adequação, que de acordo com os cálculos apresentados pela reportagem da FOLHA, implica na construção de 25 bibliotecas por dia. Espero ver diferença nas bibliotecas escolares no setor público. Sou esperançosa e sigo sonhando com a valorização da biblioteca como espaço de acesso à cidadania e formação de leitores críticos e atuantes. Como já reconheceram os europeus, ''investir nas bibliotecas significa investir na democracia'' (Parlamento Europeu, 1998, p.3).

*CARLA BARCARO é professora de Inglês e aluna do programa de pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Londrina

Matéria publicada em 13/07/2010

Projeto possibilita leitura em ônibus

Vinícius Fonseca

Paranavaí - A rotina dos usuários do transporte coletivo de Paranavaí (Noroeste) está mais leve. É que na cidade foi implantado neste mês o projeto ''Leitura Sem Fronteiras'', que distribui livros nos coletivos.

Na próxima semana, haverá estreia de uma nova etapa, com encenações de teatro. As peças poderão ocorrer dentro do terminal do município ou mesmo durante a viagem. Ao todo são 15 atores, divididos em grupos de três ou quatro pessoas. O projeto começou com a distribuição de sacolas com mais de 20 livros em toda a frota viária da cidade. ''Os passageiros podem ler durante a viagem ou mesmo emprestar as obras por até um mês'', comenta Alexandre Costa Santiago, gerente da Viação Cidade de Paranavaí (VCP).

Programa distribui livros nos coletivos de Paranavaí

Segundo ele as sacolas contêm clássicos da literatura, além de revistas e almanaques de palavras cruzadas. Os interessados em continuar a leitura em casa devem preencher uma lista distribuída junto com a bolsa. ''Todas as obras são catalogadas, apenas as revistas e os almanaques não precisam ser devolvidos'', esclarece Santiago.

A campanha conquista cada vez mais adeptos e os empréstimos das literaturas têm sido maior desde seu início. Para o gerente, esse comportamento já era esperado e cumpre com o objetivo do projeto. ''O Leitura Sem Fronteiras tem o objetivo fazer com que a população tenha aceeso há esse livros e o aumento na adesão dos passageiros mostra que isso está acontecendo'', argumenta.

Os livros utilizados no projeto foram doados pela Fundação Cultural de Paranavaí através da Biblioteca Municipal Julia Wanderley. Para o Diretor Presidente da instituição, Paulo Cesar de Oliveira, a campanha tem um impacto positivo sobre toda a população. ''Essas ações de incentivo à leitura são importantes pois contribuem até mesmo para formação dos nossos cidadãos''.

O Rotary financiou a produção das sacalas. Essa união em torno do ''Leitura Sem Fronteiras'', além de seu ineditismo são destacados por Oliveira. ''A gente percebe que todo mundo comprou a ideia e o fato de os livros estarem disponíveis dentro dos ônibus é um atrativo''.

Serviço: As doações de livros e revistas podem ser enviadas para a Biblioteca Municipal Julia Wanderley, em Paranavaí. Mais informações pelo telefone (44) 3902-1019.

Matéria publicada em 23/07/2010

Imaginação dos filhos é fértil

Ana Paula Nascimento

Acostumada a ler intuitivamente para os filhos desde quando eles eram bêbês, Vanessa Almeida tem consciência da sua contribuição em cultivar neles desde cedo o prazer pelo hábito da leitura. Hoje Ana Clara, 4 anos, Antônio Miguel, 6, João Gabriel, 10, e Maria Raphaely, 12, são frequentadores assíduos da Biblioteca Pública Infantil de Londrina.

Todo sábado ir à biblioteca é um dos programas favoritos da família leitora, que sempre conta com a presença do pai, Gelson Almeida - contador que passou a gostar de ler por influência da esposa e começou a se preocupar mais com o assunto depois que teve a primeira filha.

No início, com os filhos, Vanessa utilizava os livros de plástico e pano, mas também lia em voz alta trechos de algum livro. ''Mesmo que eles não entendam, prestam atenção e é uma forma de estimular''. Além de ajudar no desenvolvimento da fala e da escrita, trazendo benefícios para a fase escolar, Vanessa conta que a imaginação dos filhos também ficou ''fértil''. ''É impressionante ouvir as histórias que eles inventam.''

Entre os irmãos mais velhos, João Gabriel e Maria Raphaely, a disputa é grande e eles chegam até a terem algumas briguinhas quando um conta o final do livro que o irmão está ainda pela metade. Maria Raphaely gosta de ler livros de aventura e já foi pega lendo à noite com a ajuda de uma lanterna. Seu irmão é fã de histórias de aventura, ação e fantasia.

Além da média de dez livros que a família empresta por semana, o casal sempre separa um livro para a ''leitura da família''. ''Nos reunimos com as crianças e fazemos uma leitura compartilhada com eles, em voz alta, já que não dá para ficarmos individualmente lendo com eles'', lembra Gelson.

Criatividade

A funcionária administrativa Cláudia Fukuda aproveita o período de férias para levar aos sábados as filhas - Emily, 6, e Yukari, 9 - à Biblioteca Infantil. Quando estão em aula, ela dá uma escapadinha do trabalho para fazer o empréstimo dos livros. As meninas nasceram no Japão, e desde quando voltou a Londrina, no ano passado, a leitura tem sido um aliado importante na aprendizagem do português. ''No Japão, é muito comum vermos livrarias e bibliotecas em qualquer lugar. As crianças têm fácil acesso aos livros, que são mais criativos e melhor elaborados que os daqui'', ressalta.

Apesar de não ter desenvolvido o prazer pela leitura desde a infância, Cláudia afirma que tenta fazer diferente com as filhas: ''Eu lia muito por obrigação. Só na fase adulta é que descobri o prazer pelos livros e hoje fico até de madrugada lendo. E tento passar isso para elas''.

Cláudia também tenta driblar com os livros o interesse das filhas pela televisão e Cláudia Fukuda dribla com os livros o interesse das filhas Emily e Yukari pela televisão e jogos no computador: ‘‘Sempre estimulo a leitura dos livros'', destaca.

A Biblioteca Pública Infantil atualmente contém um acervo com 7.557 livros, com uma média mensal de 700 livros por mês. A carteirinha pode ser feita para crianças a partir de cinco anos; para as menores, os pais devem fazer o empréstimo.

Matéria publicada em 25/07/2010

Os benefícios que a leitura proporciona

Dilson Catarino

Dentre todos os benefícios da leitura, talvez o mais importante seja aprender a se comunicar com mais eficiência. Quem lê bastante tem mais cultura e, consequentemente, mais poder de comunicação. Cultura no sentido do conjunto de características humanas que não são inatas, mas que se criam e se aprimoram por meio da comunicação e da cooperação entre os indivíduos. Há outros significados para o vocábulo ''cultura'', mas, neste texto, ater-nos-emos a somente esse.

Observe que ocorre um ciclo: quem tem cultura se comunica bem, e quem se comunica bem tem mais cultura, uma vez que é por meio da interação entre os indivíduos que se cria a cultura, e que, quanto mais cultura tiver o cidadão, mais ele interagirá adequadamente com seus semelhantes. Ninguém é sujeito na solidão, ou seja, é a partir dos relacionamentos que nos tornamos agentes de nossa própria cidadania. Há, no dia a dia, constante troca de experiências e de informações entre os membros da sociedade, o que nos abastece espiritual e intelectualmente. Cultura, portanto, não é algo estanque; não é algo que se compra ou que se adquire gratuitamente. Cultura é o que acrescentamos aos demais seres humanos; acrescentar algo aos demais seres humanos no sentido de ajudá-los a desenvolver-se intelectualmente, a fim de que possam, por conta própria, alcançar a aprendizagem. Tudo o que for edificante, portanto, deve ser considerado cultural.

A leitura de uma obra literária deve ocorrer de acordo com esse ponto de vista. Deve-se ler um livro buscando a comunicação com o seu autor. Este - o autor - é o emissor do contexto; o leitor é o receptor. Não se pode ser, porém, um receptor passivo, mas, sim, indagativo, inquiridor, sempre buscando informações instrutivas em cada linha da obra. Há filosofia onde nem se imagina encontrá-la. Basta ler as frases com a alma, com o espírito, para examinar o conteúdo de cada parágrafo por meio do entendimento, por meio da razão.

Análise psicológica

O leitor é elemento agente; é ele quem dá vida às personagens, participando com elas da história e realizando a análise psicológica de cada uma delas. Se tal ação não for efetivada, a leitura será inútil, ou um mero passatempo. Deve-se ler com a intenção de se tirarem ensinamentos para a própria vida. Os livros são verdadeiros consultórios de psicanálise. Por meio da análise do comportamento de cada personagem, pode-se aprender a viver relacionamentos mais harmoniosos consigo mesmo e com os demais. Seria como se as personagens fizessem parte de nosso mundo, e com elas aprendêssemos a viver e a conviver, como ocorre em nossa vida, mas com a vantagem de podermos analisar friamente as ocorrências, sem a paixão que caracteriza nossos relacionamentos.

Aristóteles, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos, dizia que a diferença entre o filósofo e o cidadão comum é que o filósofo pensa, e o cidadão comum deixa que os pensamentos passem por sua mente aleatoriamente. É preciso, pois, aprender a pensar sistematicamente. E isso só se consegue com muito treinamento. Uma das maiores oportunidades que há para esse treino está no jornal, que, diariamente, nos apresenta textos de diversos gêneros textuais. A partir da leitura desses textos, além de ocorrer o aumento do conhecimento de mundo, há também a oportunidade de o cidadão incrementar seu conjunto de bens intelectuais.

Boa leitura é leitura edificante. Edificar é induzir à virtude. Essa deve ser a missão de todo cidadão educador - professores, jornalistas, pais e mães, dentre outros. Todos os adultos interessados em construir uma sociedade de fato devem preocupar-se com o ''ensinar virtudes'' às demais pessoas. Só ensina algo quem consegue se comunicar adequadamente; só aprende algo quem está preparado para interagir com os demais. Essa é a chave do sucesso: a comunicação.

Um exemplo de leitura edificante é o livro O menino do pijama listrado, que se transformou em filme. É a visão de um menino alemão, filho do comandante do campo de concentração Auschwitz, acerca dos judeus que lá estavam à espera da morte. Ele conhece um menino que está do outro lado da cerca, com quem cria fortes laços afetivos. Ambos estão longe de casa, um por ser filho do comandante, outro por ser judeu. Por ingenuidade própria da idade, desconhecem a realidade um do outro e se envolvem numa aventura sem volta.

Nada mais contarei para não estragar sua leitura. Ah! Leia o livro antes de assistir ao filme!

Matéria publicada em 28/07/2010

Fonte: Folha de Londrina

Leitura e Bebês

Ler em voz alta é tornar-se um encantador de histórias. Com isso em mente, prepare e pratique o que vai ler.
Você vai se surpreender com a atenção que um bebê presta a uma leitura em voz alta. Assim como a gente fala com a criança antes que ela saiba o que as palavras significam, deve-se ler para ela. Isso distrai, faz rir, facilita a aprendizagem da fala e forma uma base para perceber que existem algumas formas de comunicar que são mais ricas e caprichadas do que outras. Pense numa programação específica de leitura para bebês em sua Biblioteca. Descrevemos aqui algumas dicas extraídas do Passaporte da leitura Brincar de Ler, com pesquisa e texto de Maria Betânia Ferreira, da Pingo é Letra. Também desenvolvemos uma imagem que você pode reproduzir e divulgar amplamente em sua comunidade. Acesse o portal do Ecofuturo http://www.ecofuturo.org.br/, para download.

À prova e ao gosto do bebê

Existem livros de materiais que resistem à água, aos tombos, aos puxões… Agradáveis ao tato, sonoros… Para agradar ao gosto e se ajustar à idade, os livros com ilustrações de cores vivas e contrastantes funcionam melhor para atrair a atenção; um tamanho que o bebê dê conta de segurar e nada de muito peso também ajudam. O bebê vai fazer com o livro a mesma coisa que faz com os outros objetos (até mesmo tentar comêlo!), e é isso mesmo o que se espera!

Quietinho com um livro? Nem pensar! Ele precisa de movimento. Tem gente que, nessa fase, começa a formar na criança a ideia de que leitura é uma coisa chata, ao exigir silêncio e imobilidade de um serzinho que é movimento puro.

Rápido, simples, frequente

O tempo de atenção nessa fase é curto. Por isso, é bom ler coisas curtinhas e simples.

Carinho

A atmosfera de conforto e carinho é essencial para criar uma disposição de alegria com relação à leitura. Criança pequena é uma verdadeira esponja, e o adulto é capaz de ficar tão animado que vai querer começar a ensinar a contar e a memorizar as letras do alfabeto. Deixe essa parte de lado nas sessões de leitura com os pequenininhos!

Se você vai ler para grupos

O texto escrito, deitado, ao som da voz se levanta e caminha. Elsa Triolet

 Pense, antes de mais nada, no que você quer trazer ao público com a sua leitura: Interesse? Informação? Esclarecimento? Diversão? Emoção?

Se possível (e é claro que é possível!), fascinação! Com a sua voz, a palavra do autor vai se levantar do livro e caminhar até as pessoas ali reunidas para escutar o que você lê.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

RPG & Educação : Projeto "RPG Leituras" - A Importância do RPG na Leitura e Escrita

Diversos estudos sobre o desenvolvimento social de um país comprovam que o domínio da leitura e da escrita está intimamente ligado à melhora da qualidade de vida dos cidadãos. Sólidos investimentos em educação resultam em melhoria significativa em diversos aspectos da sociedade, tais como saúde, cultura e lazer, além de aumentar a expectativa de vida, etc.

No que diz respeito ao desenvolvimento pessoal, saber ler e escrever dá, ao indivíduo, os subsídios necessários para que ele possa desempenhar adequadamente o papel dele esperado pelo grupo social em que vive. Além disso, o domínio desses códigos contribui, também, para enriquecer o conhecimento e desenvolver o senso-crítico da pessoa frente à realidade, tirando, assim, o sujeito de uma condição passiva perante o mundo.

A leitura e a escrita são, assim, capacidades indispensáveis para que o indivíduo se adapte e interaja com o meio social. Exatamente por serem uma forma de comunicação e de expressão do homem é que, por meio destes processos, ocorre à compreensão de mundo, a transmissão de valores sociais e culturais, a formulação de sentimentos, sensações e valores, a recepção e transmissão de informações, ou seja, a leitura e a escrita auxiliam e fomentam o processo de desenvolvimento do individuo socialmente. (OLIVEIRA, 1997).

Entre os fatores constantemente apontados entre os principais motivos do atraso do Brasil está a ausência do hábito da leitura na população em geral. Não é de hoje, no entanto, que observamos que, entre os jogadores de RPG, a realidade é bem diferente.

As oficinas de criação de Live-Actions, realizadas pela Confraria das Idéias em bibliotecas do município de São Paulo com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, tiveram importante papel na sensibilização de pais e funcionários quanto a esse assunto. As experiências revelaram que, por meio do RPG, os jovens participantes dessas oficinas desenvolveram o gosto pela leitura, pesquisa e escrita, o que resultou no incremento do repertório e das notas escolares desses jovens, além do desenvolvimento de uma postura mais madura e crítica diante de si e da sociedade. Essa situação já foi, inclusive, apontada por educadores e agentes culturais em conferências e simpósios, tais como o I Simpósio de RPG e Educação, organizado pela Ludus Culturalis com apoio da Devir Livraria e da Confraria das Idéias, entre outros.

O RPG exige o exercício constante da imaginação e o contato com o universo das palavras, além da interação com outros indivíduos. Com suas características discursivas, lúdicas e sensoriais, o RPG leva os participantes a desenvolver a imaginação, o raciocínio e a interpretação de fatos e enigmas, além de promover a colaboração não só entre os jogadores, mas também com a comunidade em que vive. Com isso, resgata o gosto pela leitura e ainda promove uma participação direta do jogador de RPG na história, tirando-o de uma postura passiva diante dos fatos.

Ainda não existem estudos científicos que determinem o impacto do RPG sobre o desenvolvimento dos participantes ou possam comprovar o que esses educadores e agentes culturais vêm percebendo ao longo dos últimos 20 anos. Pensando nisso, a Confraria das Idéias dá, agora, início ao projeto “RPG Leituras” que, supervisionado pela psicóloga Tábata de Mello, entrevistará jogadores de RPG e não-jogadores, formando um estudo importante e dimensionando o papel do RPG no universo da leitura e escrita, especialmente no dia-a-dia dos jovens.

Texto: Confrade Tábata
Confrade Godoy

Revisão: Confrade Piu

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e produção num enfoque psicopedagógico. 9ª edição. Petrópolis, Editora Vozes, 1997.

Matéria Publicada em 26/06/2008

Fonte: Rede RPG

Contar histórias vira profissão requisitada

Por Amanda de Santa

A atividade exige, além de técnica, bagagem cultural e imaginação

“Era uma vez uma galinha que nasceu de cara pra trás. Jerusa, como era chamada, andava pra frente como se fosse pra trás, ou pra trás como se fosse pra frente. Era muito engraçado.” Este é um trecho de uma das obras de Sebastião José Narciso - mais conhecido como “Tião Balalão” -, sociólogo e escritor londrinense, que trabalha dando vida a histórias tiradas das páginas de seus livros infantis. Ele, que cresceu ouvindo histórias, hoje leva educação, fantasia e encantamento a crianças e adultos. “Trabalho rindo, brincando. Faço porque gosto, porque é assim que eu sei”. A atividade se tornou profissão em 2001, quando Tião foi convidado a participar de uma oficina de narração de histórias durante o Festival Internacional de Londrina (Filo). O escritor, que perdeu a visão em um acidente automobilístico, se espelhou na própria superação para escrever duas coleções de livros infantis – Engenho da Imaginatião I e II – financiadas pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). “Em todos os livros existem personagens que possuem alguma diferença. São histórias cômicas, de superação”, explica. Para o professor de literatura, doutor em Educação e diretor das bibliotecas de Londrina, Rovilson José da Silva, as histórias são alimento para imaginação, fantasia e espírito. Ele diz que o homem é um ser narrativo por natureza. “Sempre existe algo a contar, seja vivido ou imaginado. Faz parte da busca da nossa essência”, afirma. Segundo Silva, a tendência é que a profissão de contar histórias cresça cada vez mais no Brasil, devido às perspectivas de ampliação das bibliotecas e incentivo a leitura. “Hoje a profissão tem sido muito requisitada, porque é uma ferramenta da educação”, confirma Tião Balalão. O que mais o deixa feliz é o reconhecimento. Se engana quem pensa que o único público dos contadores são as crianças. A atividade de narrar histórias se tornou negócio de gente grande e tem atraído e agradado muitos adultos. “Muitas empresas me convidam para contar aos funcionários histórias de motivação”, revela Tião. O diretor das bibliotecas de Londrina, Rovilson da Silva, diz que o contador profissional prende a atenção de seus ouvintes pela oralidade e habilidade de conduzir a palavra. “Técnica, roupa ou objeto algum suplanta o talento do contador”, garante. Ele afirma que Londrina já tem profissionais realizando este trabalho com eficiência e maturidade.

A bibliotecária e professora do departamento de Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Sueli Bortolin, ministra cursos de narração de histórias, mas diz que mais do que técnica, o profissional precisa de uma boa bagagem cultural e de imaginação. “Narrar é sentir o texto, gostar e vibrar com ele. Passar calor, emoção, permitir flexibilidade e interação com a plateia. Falar com os olhos e com o corpo”, descreve. Serviço: Tião Balalão – 3341-6106 / 9991-3284. www.engenhodaimaginatiao.com.br

Histórias têm o poder de humanizar Histórias são capazes de despertar diversas sensações nos ouvintes. Emoções e sentimentos variam desde alegria, tristeza, susto e alívio. Para a professora pedagoga, Silvia Bortolin Borges, a história amadurece, transforma e faz o espectador entrar em contato com situações da realidade. “Tem histórias que continuam comovendo as pessoas. O tempo não consegue apagar o brilho”. Ela aponta que, recursos como bonecos e teatro de sombra, ajudam enriquecer a narrativa.

Silvia e a irmã, Sueli Bortolin, bibliotecária e professora da UEL, cresceram ouvindo histórias e levaram adiante a tradição familiar. Sueli vê a literatura como uma forma de humanização. Para ela, conviver com personagens de todo o tipo estimula o próprio auto-conhecimento e a preocupação com o outro. “As pessoas não se sentem sozinhas quando comparadas aos personagens”.

Fantasia

A professora, Jaqueline Pucci, é responsável pela “Hora do Conto” - do projeto “Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes” da prefeitura de Londrina – na Escola Municipal Eurides Cunha. Ela afirma que nem crianças nem adultos devem ser privados da fantasia. “Tem histórias que até hoje eu conto e me emociono”, confessa. Jaqueline diz que narra a mesma história para crianças do pré a quarta-série. Após a narração, professora e alunos conversam sobre o tema. “É uma realização muito grande, experiência enriquecedora”.

Mercados de atuação e remuneração

Os valores de remuneração do contador de histórias variam muito de acordo com o tempo de duração da apresentação e também da platéia. A média, segundo o contador Tião Balalão, é de R$ 200 por apresentação de uma hora e meia. Este profissional pode atuar em qualquer espaço coletivo que não tenha sons capazes de intervir na narração: em eventos culturais, escolas, creches, empresas. Tião Balalão diz que pretende atuar também em hospitais, mas de forma filantrópica. “Já cheguei a cumprir um cronograma de 20 narrações por mês.”

Matéria publicada em 07/06/2010

Galeno Amorim - Uma vida em meio a livros

Galeno Amorim fez dos livros e do incentivo à leitura uma meta de vida. Nesta entrevista, ele comenta seus projetos, o perfil dos leitores no Brasil e o que ainda falta ser feito.
Galeno Amorim é diretor do Observatório do Livro e da Leitura. Especialista em políticas públicas do livro e leitura, liderou a criação, entre 2004 e 2006, do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), dos ministérios da Cultura e da Educação, do qual foi seu primeiro coordenador. Presidiu o Comitê Executivo do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc/Unesco) e foi consultor de políticas públicas do livro e leitura da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) para a Educação, Ciências e Cultura, com sede na Espanha. Atuou na Fundação Biblioteca Nacional e Ministério da Cultura e foi membro dos conselhos estaduais de leitura dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi secretário de Cultura de Ribeirão Preto (SP).

É autor de 12 livros, entre ensaios e literatura infantojuvenil, cujas tiragens ultrapassam 350 mil exemplares. Entre as obras publicadas, estão Políticas Públicas do Livro e Leitura (OEI/Editora Unesp) e Retratos da Leitura no Brasil (Imprensa Oficial do Estado de SP e Instituto Pró-Livro), com os resultados e análises da pesquisa do mesmo nome, que ele coordenou.

Galeno criou e dirigiu diversas instituições ligadas à área do livro e leitura: Fundação Palavra Mágica, Fundação Instituto do Livro, Fundação Feira do Livro, Observatório do Livro e da Leitura e Instituto de Desenvolvimento e Estudos Avançados do Livro e Leitura (IDEALL), entre outros. Também esteve à frente de inúmeros projetos e programas no Brasil: Ano Ibero-americano da Leitura Vivaleitura (100 mil ações em 2005); Fome de Livro (para zerar o número de cidades brasileiras sem bibliotecas); Câmara Setorial do Livro e Leitura; Desoneração Fiscal do Livro, Prêmio Vivaleitura (10 mil ações catalogadas); Ribeirão das Letras (implantação de 80 bibliotecas em 3 anos em Ribeirão Preto e criação da Feira Nacional do Livro e da primeira Lei do Livro em um município brasileiro). Também foi responsável pela criação da agência de notícias Brasil Que Lê e do Blog do Galeno.

Conhecimento Prático Literatura - Você está engajado em diversos projetos de incentivo à leitura. Como foi sua vida profissional e esse envolvimento com as causas literárias?

Galeno Amorim - Desde muito cedo me vi envolvido com os livros e a literatura. Como não existiam livros em casa, quando criança eu andava alguns quilômetros por dia para ir ler os livros do Monteiro Lobato, até que descobri a biblioteca pública da cidade. Depois, adolescente, organizava saraus e prêmios literários. No fundo, os livros e a literatura entraram muito cedo na minha vida. Minha mãe adotiva era analfabeta, mas enfatizava o tempo todo que o estudo e os livros eram tudo na vida. Mas meus primeiros contatos com a literatura foram por meio da oralidade: meu pai adotivo, que herdou dos ancestrais africanos o gosto pelos causos, me colocava sentado no colo e contava histórias durante horas e horas. Quase todo mundo ali trabalhava na roça.

Mas a mais nova dos oito filhos gostava muito de ler e me apresentou aos livros. Nunca mais me afastei deles: primeiro, fui jornalista: comecei a trabalhar aos 13 anos em jornais de Sertãozinho e Ribeirão Preto, no interior paulista. Atuei 20 anos na grande imprensa e fui dar aulas na universidade. Mas comecei a escrever livros por acaso: de tanto que lia histórias infantis para meus filhos à noite, um dia acabei escrevendo uma. Abri uma pequena editora e como, no início, quase não havia recursos, eu mesmo acabei escrevendo os primeiros livros. Mas a editora acabou ganhando alguns prêmios importantes (inclusive o Jabuti de Melhor Livro de Ficção do Ano) e recebi um convite para ser secretário de Cultura em Ribeirão Preto em 2001.

Fiz lá a primeira Lei do Livro de uma cidade brasileira, abrimos 80 bibliotecas em três anos e uma Feira Nacional do Livro. Em pouco tempo, o índice de leitura subiu de 2 para 9,7 livros por habitante/ ano. Desde então, me dedico às políticas públicas de incentivo à leitura. No governo federal, criei o Plano Nacional do Livro e da Leitura, que já tem contribuído para os brasileiros lerem mais (era 1,8 livro por ano no início da década e, agora, já é 4,7 livros). Foi quando teve início um novo esforço para zerar o número de cidades brasileiras sem bibliotecas (eram 1.300 em 2003, número que deve chegar a zero em meados de 2010). Passei, então, a atuar em organismos internacionais que atuam principalmente nos países de língua portuguesa e espanhola.

Atualmente dirijo o Observatório do Livro e da Leitura, que mantém uma agência de notícias sobre o tema e um blog, que se tornou uma espécie de referência no mundo do livro. No fundo, acho que foi a causa do livro e da leitura que me achou primeiro, muito antes que eu pudesse descobri-la. E é bom! Afinal, leitura é essencial para o ser humano: além de assegurar o acesso ao conhecimento, é o caminho para a conquista do trabalho, da cidadania e para sua própria realização pessoal.

CP Literatura - Como foi a realização do estudo "Retratos da Leitura no Brasil"?

GA - Esse estudo tornou-se uma referência obrigatória para quem atua na área. Gestores, especialistas, pesquisadores, editores, livreiros e até escritores vão buscar nos resultados e nas análises da pesquisa, a maior já feita no País, entender a quantas anda a leitura no Brasil e o que passa pela cabeça dos leitores e também dos não leitores.

O Brasil foi quem sugeriu e acabou sendo, em seguida, o primeiro país a utilizar da metodologia desenvolvida pelo Cerlalc/Unesco para os países da América Latina. Incluímos nas amostras a população entre 5 e 14 anos, os recém-alfabetizados e mesmo analfabetos e os não leitores assumidos. Foi feita um piloto, em 2004, em Ribeirão Preto (SP), e outro, em 2006, no Rio Grande do Sul. A ideia é que, a partir de agora, a pesquisa também venha a ser realizada nos outros países da América Latina, o que pode dar origem a um banco de dados extraordinário.

A pesquisa confirma, entre outras coisas, que escolaridade e renda estão intimamente associadas aos índices de leitura. Os resultados analisados estão em um livro do mesmo nome, que eu organizei, publicado pelo Instituto Pró-Livro e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Ele também está disponível, gratuitamente, como livro digital (http://www.observatoriodolivro.org.br/ler.php?modo=material&id=27).

CP Literatura - Qual foi o dado do estudo que mais te surpreendeu?

GA - Os brasileiros já estão lendo mais. É menos do que precisamos e podemos; porém, é bem mais do que se imaginava. Outro dado é que as crianças e os adolescentes estão lendo mais do que os adultos. Além disso, o estudo mostrou que as políticas públicas dão resultados em menos tempo do que se pensa: os leitores que estão na escola chegam a ler duas vezes mais do que aqueles que já pararam de estudar. O dado negativo é que ainda estamos falhando na tarefa de formar leitores que gostem de ler e que continuem a fazer isso mesmo distantes da sala de aula: com a idade e o afastamento da escola, a leitura cai muito. Outra boa surpresa foi o fato de Monteiro Lobato, mesmo tendo ficado tantos anos sem ser reeditado, aparecer como o escritor brasileiro mais admirado. Ou, ainda, a poesia figurar entre os cinco gêneros mais lidos pelos brasileiros.

CP Literatura - Você comentou que os índices de leitura no Brasil podem ser diretamente relacionados com o nível de renda da população. Há como tornar o livro mais barato e, portanto, mais acessível a grande parte da população e, ao mesmo tempo, incentivar o mercado editorial do País para estimular o surgimento de novos autores?

GA - Tornar os livros mais baratos é algo que interessa a muita gente, inclusive ao próprio mercado, mas não é tão simples porque envolve vários aspectos. Temos que pensar, por exemplo, que pouco mais da metade da população se declaram leitores de livros, algo como 95 milhões. Desses, apenas 36 milhões consomem livros. Seja porque faltam livrarias, por causa do preço acima da sua capacidade de compra ou porque simplesmente não são levados a comprar um livro. A primeira grande tarefa, agora que o País caminha para zerar seu déficit de cidades sem bibliotecas, é criar um amplo programa de revitalização da rede de 6 mil bibliotecas existentes, boa parte das quais em situação bem precária. Isso permitiria, por exemplo, ampliar as tiragens - além, naturalmente, de estimular os leitores a voltarem às bibliotecas e a lerem mais.

A desoneração fiscal que fizemos em 2004 teve algum reflexo no preço, mas só a ampliação da massa de leitores e, entre eles, de consumidores de livros é que vai permitir tiragens maiores e preços mais baixos. E as políticas públicas devem ajudar a acelerar esse processo. Um exemplo disso foi o fim da cobrança do Pis-Cofins: muitas editoras se animaram, naquele momento, a retomar investimentos engavetados e lançaram coleções de livros de bolso, com preços de capa bem menores. O mercado, de seu lado, também deu passos importantes, como, por exemplo, investir mais em produtos para todo tipo de consumidor, e não apenas só os de classe média e média alta como algumas editoras vislumbravam no passado.

CP Literatura - Como você analisa a entrada dos livros no mundo digital? Você acha que a tecnologia pode ajudar na democratização da leitura?

GA- No Brasil, o livro digital ainda é um conceito novo. Por ora, há certa resistência porque os leitores brasileiros associam muito o livro digital àquela leitura feita na tela do computador (quando isso acontece, já que a maioria dos 4,6 milhões de leitores de livros digitais do País prefere imprimir e depois ler no papel). Um estudo recente que acabo de coordenar mostrou, no entanto, que os leitores brasileiros vão se encantar com as novas possibilidades, as atuais, e, sobretudo, as futuras, trazidas pelo e-reader. Essa democratização do acesso à leitura pode efetivamente acontecer, mas, antes, dependeremos muito da eficiência das atuais políticas de inclusão digital.

Como a grande maioria da população ainda não tem acesso a computadores e menos ainda à internet, há uma lição de casa enorme para ser cumprida. Essa é, sem dúvida, uma condição. Se isso vier a ocorrer - e é muito possível que no futuro isso aconteça, de fato! - então poderemos ter não só livros mais baratos como até novos modelos de negócio que permitam o acesso gratuito a alguns livros, como é o caso daqueles que estão esgotados e, portanto, fora do mercado atual. As políticas do livro escolar, por exemplo, vão, inevitavelmente, caminhar nessa direção. Mas o mercado terá, sempre, um papel fundamental nisso tudo.

CP Literatura - O crítico norte-americano Harold Bloom criou polêmica ao condenar o fenômeno Harry Potter e classificá-lo como prejudicial ao leitor pela falta de qualidade e densidade. Ele defende que as crianças precisam ser apresentadas a obras de qualidade para cultivarem a cultura literária e se tornarem leitores efetivos. Você considera que "qualidade" e "quantidade" são conceitos válidos no que se refere ao hábito da leitura?

GA - O grande desafio no Brasil e em países como o nosso, e mais ainda nos subdesenvolvidos, é outro. Precisamos, antes, de mais gente lendo. Primeiro, dominando as técnicas e habilidades leitoras mínimas; depois, lendo. No princípio, tínhamos raríssimos, ainda que muito bons, leitores.. Aos poucos, esse universo foi se ampliando e provavelmente a média desses leitores já não foi a mesma. Diria que nossa maior tarefa é fazer as pessoas lerem. E os especialistas, enquanto isso, têm sua tarefa: mediar e apoiar de forma que esses leitores sejam formados e tenham fome, cada vez mais, de crescer e se aperfeiçoar como tal. Mas isso é como aprender a andar: damos alguns passos, depois outros e, então, vem uma vontade irresistível de andar mais depressa ou mesmo correr. É preciso respeitar o momento, as dificuldades e as preferências de cada um. Isso vale pra tudo na vida.

Dissertação: Sueli Bortolin - A leitura literária nas bibliotecas Monteiro Lobato de São Paulo e Salvador

BORTOLIN, Sueli. A leitura literária nas bibliotecas Monteiro Lobato de São Paulo e Salvador. 2001. 233f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília.

RESUMO

As bibliotecas públicas infanto-juvenis são agências mediadoras da leitura; portanto, têm um importante papel a desempenhar na sociedade, em especial num país em desenvolvimento. Elas têm realizado cotidianamente inúmeras atividades no sentido de promover a leitura, porém observamos que nem tudo que se faz em nome da leitura, leva à leitura. Assim, esta pesquisa analisou as ações das Bibliotecas Monteiro Lobato de São Paulo e Salvador quanto à promoção de leitura. As informações para análise, foram obtidas por intermédio da literatura pertinente, e também de entrevistas in loco nas referidas bibliotecas. Após a coleta das informações cotejamos estes dados com os pareceres de especialistas em leitura e em bibliotecas infanto-juvenis quanto à eficácia e à pertinência das atividades para a promoção de leitura. Concluímos que as bibliotecas pesquisadas têm ações semelhantes quanto as atividades de promoção de leitura; demonstramos também que em ambas os funcionários não têm clareza de quais atividades realmente levam à leitura. Esperamos que este estudo, venha trazer subsídios a todos os que, de uma forma ou de outra, estejam envolvidos e/ou interessados na formação de leitores e na otimização do uso de bibliotecas e de seus respectivos acervos por meio das atividades culturais desenvolvidas.



Leituras e prazer na escola

Como horas na biblioteca podem fazer a diferença na vida do aluno

por Galeno Amorim*

Passar uma hora inteira, ao menos uma vez por semana, dentro de uma biblioteca folheando e lendo livros, ou simplesmente de papo pro ar, é tão fundamental para o desenvolvimento dos alunos que deveria fazer parte da grade curricular das escolas. A ideia, que ainda arrepia muita gente, ganha, no entanto, cada vez mais adeptos. E também o apoio, dentro e fora dos estabelecimentos de ensino, de especialistas e de gente importante do mundo dos livros e da educação, mas também de pais, gestores de projetos e, naturalmente, educadores.

Mas a verdade é que não é tão simples assim. A inclusão de pelo menos uma hora semanal na grade das escolas do Ensino Médio e Fundamental consta até da Lei do Livro, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Mas, em função das controvérsias em torno do assunto, até hoje a legislação não foi regulamentada.

Há quem diga, por exemplo, que não se pode estipular uma hora única e obrigatória para ler. Isto porque, de acordo com esses argumentos, os livros devem estar presentes durante todo o período escolar e em todas as disciplinas, e não haver uma só matéria para a leitura. Na essência, está absolutamente correto. Só que na vida real não é bem assim que as coisas acontecem.

Os defensores da criação de um espaço permanente no horário escolar para aproximar livros e possíveis leitores e fomentar o hábito e, sobretudo, o gosto e o prazer de ler, pensam diferente. Não se trata, de acordo com esses, de abrir uma nova e única disciplina para confinar e concentrar ali tudo o que for leitura na vida de uma escola.

Mesmo porque, concordam, os livros são fundamentais em qualquer projeto pedagógico e caminho poderoso para a apropriação do conhecimento acumulado pela humanidade. Assim, estão, evidentemente, presentes em todas as disciplinas.

A grande preocupação desses adeptos de maior presença da leitura de literatura na educação brasileira é que, por ausência de políticas mais claras nesse sentido, milhares de escolas brasileiras ainda mantém suas portas fechadas para os livros em geral. A única exceção, naturalmente, fica por conta dos livros didáticos, que são distribuídos gratuitamente pelo governo e costumam ancorar os projetos pedagógicos e as próprias aulas nas diferentes redes de ensino.

Porém, aprender a ler e a gostar de ler livros – ou, no mínimo, tornar essa prática um hábito permanente – continua passando ao largo de boa parte das nossas escolas.

Isso talvez ajude a compreender o atual comportamento da população brasileira, que, com o passar dos anos, simplesmente foge dos livros. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, os maiores índices de leitura estão justamente entre crianças e jovens em idade escolar. Chegam a ser três ou quatro vezes maiores do que na fase adulta, assim como a frequência às bibliotecas, que despenca, até praticamente inexistir, acima dos 30 anos. Este é o caso de nove entre cada dez brasileiros, que deixaram de ir a alguma delas.

Esse mesmo estudo – uma iniciativa do Instituto Pró-Livro e coordenado pelo Observatório do Livro e da Leitura – mostrou, ainda, que os leitores que estão nas escolas chegam a ler duas vezes mais do que aqueles que já saíram de lá. O que mostra que as escolas estão, de certa forma, cumprindo o papel de facilitar o acesso de parte da população aos livros e o de fomentar a leitura entre seus alunos. E, surpresa: enquanto leem, esses leitores acabam associando o ato de ler muito mais a prazer do que propriamente à obrigação, como o senso comum costuma dizer.

Qual é, então, o problema?
Ao mesmo tempo em que tem contribuído, verdadeiramente, para aumentar os índices nacionais de leitura – os brasileiros liam, no início da década, 1,8 livro por habitante/ano, número que saltou para 4,7 em 2008 – a educação brasileira ainda não consegue enfrentar um dilema. Um dilema, por sinal, muito simples e direto, porém de respostas aparentemente nada fáceis: como as escolas, afinal, podem formar leitores que gostem de ler e façam isso pela vida afora, mesmo quando estiverem distantes delas?

Com ou sem obrigação legal, a verdade é que muitas escolas estão, de fato, tentando. E toda diferença, nos mais diversos casos, tem sido feita por uma pequena legião de educadores que acreditam pra valer no valor social da leitura e mesmo nos livros como ferramentas eficazes para seu trabalho na sala de aula e na vida futura de seus alunos.

Não por outra razão, estão sempre animados e dispostos a criar ações simples, porém ousadas, para mudar o quadro atual. E – ainda bem! – eles estão por toda parte. Por sinal, tenho visto muitos deles tanto no site que mantenho sobre esse tema – o http://www.blogdogaleno.com.br/, cuja revista eletrônica é enviada, semanalmente, para 80 mil educadores, escritores, jornalistas, editores, livreiros, bibliotecários e outros interessados no assunto – e em todas as regiões do país onde tenho feito palestras em escolas sobre o poder extraordinariamente transformador da leitura na sociedade.

Sempre com muita criatividade e o esforço pessoal dos professores e dirigentes, um bom número de escolas vem inventando, nos quatro cantos do país, variadas formas para ampliar o acesso aos livros e outros materiais de leitura e, sobretudo, para que esses leitores – no mínimo, leitores em potencial – se sintam estimulados e com vontade de ler. O próximo passo, quem sabe, pode ser aprenderem a gostar de ler – é isso fica pra vida toda.

Em Sinop, no interior do Mato Grosso, por exemplo, uma escola estadual do Ensino Médio motivou a comunidade escolar com uma medida aparentemente simples, e que não exigiu nenhum investimento suplementar. Uma vez por semana, ela simplesmente interrompe as aulas e demais atividades para que todo mundo leia.

Não importa o que estejam fazendo: todo mundo para e, por instantes, entra no mundo mágico da leitura. Para uns, é um mergulho inicialmente raso, para outros, às vezes mais profundo – mesmo porque cada um encontra-se em um estágio e muitos ainda nem aprenderam a nadar.

Sejam professores ou alunos, funcionários ou mesmo pais e outras pessoas que estiverem por lá. Vale tudo: todo e qualquer gênero da literatura, e revistas, jornais, gibis... Seja lá o que for. O que importa, afinal, é ler. Ainda que alguns torçam o nariz, dar os primeiros passos nessa direção é algo sempre muito bem-vindo.

O que se diz por lá é que tudo ficou melhor: o desempenho escolar, a autoestima dos estudantes, funcionários e professores e as próprias relações pessoais entre eles. Até a leitura fora da escola teria evoluído. Ao que parece, as pessoas entenderam a mensagem: que ler é mesmo um valor, e tanto é assim que a escola inteira até para tudo por causa disso.

Os depoimentos que tenho ouvido em outras cidades sobre esse tipo de experiência são igualmente positivos. É bem verdade que os livros de literatura disponíveis nas escolas ainda são insuficientes. Ou que para cada escola que possui uma biblioteca escolar, há outras duas que não têm nada disso – isto vai ser objeto de uma outra conversa, para tratar, de forma específica, da necessidade de uma vigorosa e urgente política nacional de bibliotecas públicas, sejam elas municipais, estaduais, escolares, universitárias ou comunitárias.

Afinal, a leitura tem papel fundamental na formação do ser humano. A capacidade de ler, compreender e processar as informações de um texto é adquirida de uma maneira: lendo. Proporcionar o aprendizado dessa atividade com prazer depende de todos nós – começa na família, em casa (as mães, por sinal, são vistas pelas crianças como aquelas pessoas que mais influenciam no gosto de ler). O resultado de todos os esforços e investimentos será, com toda certeza, uma sociedade de cidadãos plenos.

Com a implantação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), do governo federal, em 2006, passou a existir maior articulação entre Ministério da Cultura e Ministério da Educação para fortalecer as políticas públicas nos estados e municípios para investir mais na formação de leitores e, para tanto, na formação dos chamados agentes mediadores de leitura: professores, bibliotecários, gestores de projetos de leitura. Afinal, quem não gosta de ler, dificilmente conseguirá fazer alguma outra pessoa gostar.

Esta década talvez entre para a história como aquela em que, até hoje, mais se avançou no sentido de tornar esse tema uma política de estado no Brasil. Agora, no entanto, é preciso avançar mais, para que nos estados e municípios exista uma maior percepção por parte de autoridades e lideranças políticas e comunitárias sobre a função social e estratégica dos livros na sociedade. E que podem fazer um grande bem para suas cidades e estados e para seus próprios governos.

Os livros já foram, um dia, objeto sagrado cujo acesso era permitido a poucos. Mais tarde, passou a ser tratado como fonte de prazer e lazer de qualidade. Sem perder uma e outra condição, a verdade é que a leitura também é um meio eficaz para o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo e para ampliar sua visão de mundo e suas possibilidades de intervenção no lugar em que vive. Mas também para melhorar seu emprego e renda.

Dessa forma, tem um novo e importante papel na educação e na sociedade de forma geral, algo que nunca foi muito claro na cabeça das pessoas. Se houve um tempo em que, na economia primitiva, a água e, mais tarde, o petróleo, na era da industrialização, possuíam importância estratégica para as nações, hoje é o conhecimento que faz toda a diferença. É o conhecimento que se constrói com as várias leituras: dos livros, jornais e das diferentes estéticas culturais, com o tempero e fermento das vivências e experiências do cotidiano.

Os livros fazem toda a diferença!

*Galeno Amorim (http://www.blogdogaleno.com.br/) é diretor do Observatório do Livro e da Leitura e foi o criador e primeiro coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL). É autor de 12 livros, entre os quais Retratos da Leitura no Brasil.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fábricas de Diadema ganham bibliotecas - Projeto Ponto de Leitura

Folha de São Paulo – SP, por Grazielle Schneider, em 29/07/2010

Ministério da Cultura investiu R$ 200 mil em kits com computador, móveis e acervo de 650 obras para cada fábrica

Dez empresas de metalurgia de Diadema, na Grande São Paulo, receberão bibliotecas para seus funcionários. A primeira delas foi inaugurada na manhã de ontem, na fábrica da IGP, que atua no mercado de autopeças.

A iniciativa faz parte do projeto Ponto de Leitura nas Fábricas, uma parceria entre a prefeitura local, o Ministério da Cultura e os sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, dos Químicos e da Construção Civil. Até o final de agosto, todas as salas de leitura estarão prontas.

O ministério investiu R$ 200 mil na distribuição de kits -móveis, um computador com impressora e um acervo de 650 obras- para equipar os locais. Já a prefeitura ficou responsável pela implantação do projeto e pela capacitação de dois ou três agentes de leitura em cada fábrica. Esses agentes têm como função promover e organizar as bibliotecas.

“Pretendemos, com os acertos e erros, estender o projeto a outras fábricas pelo Brasil, desde que haja articulação com prefeituras e sindicatos”, afirma Silvana Meireles, coordenadora do Mais Cultura, programa do ministério que abriga a ação.

O projeto atingirá 5.000 funcionários, segundo levantamento da prefeitura. Para Maria Regina Ponce, secretária da Cultura de Diadema, a ideia é criar um ambiente de aprendizado e prazer dentro do local de trabalho para que os funcionários possam ter mais acesso aos livros. Ela destaca que outras empresas do setor químico e de construção civil já se interessaram pela iniciativa.

Como o material poderá ser retirado e levado para casa, estima-se que outras 15 mil pessoas sejam beneficiadas indiretamente. “A pesquisa Retratos da Leitura mostrou que a mãe é a maior responsável pelo interesse dos filhos por livros. Queremos que o funcionário seja um mediador e crie um ambiente familiar de estímulo à leitura”, diz Meireles.

SEM CUSTOS

A única responsabilidade das empresas é ceder o espaço e fazer as adaptações necessárias para a sala de leitura, de acordo com Renato Cicarelli, diretor da IGP.

Um dos escolhidos para ser agente de leitura na fábrica é Laércio Aparecido Beggiora, 45, assistente de departamento pessoal. No curso de capacitação que recebeu da prefeitura, aprendeu a etiquetar os livros, montar o acervo, atender o público e incentivar os colegas a ler.

“Achei maravilhoso. Hoje [ontem], a biblioteca já ficou lotada. Tem poesia, ficção, ação. Tem gibi e contos infantis para a criançada e tem até DVDs que ensinam inglês”, conta.

A empresa tem 380 funcionários e começou a investir na qualificação deles em 2005, com a criação do programa de educação continuada. Cicarelli diz que 70 trabalhadores já se formaram no ensino fundamental e que, hoje, não há na fábrica ninguém que não saiba ler e escrever.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Uma biblioteca para bebês no Recife

Estado é um dos primeiros do país a ganhar um espaço de leitura voltado para primeira infância, período que vai de zero a seis anos

Mirella Marques

Quando a educadora Lílian Veiga começou a ler historinhas para sua primeira filha, Sofia, chamou a atenção dos familiares. Afinal, Sosô, como é chamada, era apenas uma recém-nascida. Hoje, aos oito meses de idade, basta olhá-la para perceber o quanto a pequena gosta dos livros. A mãe não poupa esforços e, além de entonação diferenciada, sempre utiliza bonecos ou musiquinhas nas contações. É um momento de relax, lazer e também de estímulo. Achou estranho? Pois Pernambuco é um dos primeiros estados brasileiros a ganhar uma biblioteca da primeira infância (período que vai de zero a seis anos de idade). A experiência, iniciada na comunidade de Vasco da Gama, Zona Norte do Recife, vem dando certo, de acordo com o Instituto Brasil Leitor, responsável pela unidade. Contar historinhas, segundo os especialistas em educação, estimula o desenvolvimento do gosto pela leitura. Mesmo em quem ainda nem sabe falar.

Antes de sair correndo atrás de um livro para o seu bebê de trêsmeses, saiba que eles não vão compreender toda a história. Óbvio. Mas saiba que a entonação diferenciada usada para a leitura vai colocá-lo em contato, desde cedo, com o mundo dos livros. Por mais inocente que pareça, sentar com a criança de colo e ler faz com que ela desenvolva a oralidade/linguagem, a concentração e a atenção, a percepção e a criação do saudável hábito da leitura. E nem precisa ter sempre um livro à mão. Inventar historinhas desde que o bebê esteja focado no assunto também é uma boa, ensinam as pedagogas. Basta prestar atenção a algumas regrinhas.

Sofia, hoje com oito meses, escuta histórias desde recém-nascida.
Sua mãe, Lílian Veiga, que é educadora, diz que a pequena gosta de livros
Foto: Juliana Leitão/DP DA Press

"Os pais devem caprichar na entonação, utilizar encenações com fantoches ou músicas e escolher histórias curtas. Além disso, devem ter prioridade os livros grandes, de borracha, com figuras ou bonecos que a criança possa ver e interagir com eles", explicou a coordenadora pedagógica do ensino infantil da Escola Primeiro Passo, Mariana de Carvalho. Os pais da pequena Manuela Maranhão, de dois anos, seguiram à risca as dicas. Hoje o presente que elamais gosta de ganhar são livros. Ela adora historinhas e já virou fã da Chapeuzinho Vermelho.

De acordo com Mariana de Carvalho, é desde bebê que se forma o leitor. Na escola onde trabalha, localizada no bairro de Setúbal, a turma ninho, destinada aos alunos de um ano, frequenta a biblioteca uma vez por semana. Isso mesmo. "Na biblioteca, além de livrinhos e revistas, eles também podem brincar com fantoches e outros bonecos. O lúdico deve caminhar com a aprendizagem nessa faixa-etária", disse.

Mas não é preciso estar matriculado em colégio particular para ter acesso à leitura. Na comunidade de Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, está localizada a Biblioteca para Primeira Infância Clélio Queiroga. A unidade realiza contação de histórias com 150 crianças de até seis anos. O espaço é público, oferece um acervo de 720 livros e funciona das 7h às 17h, de segunda a sexta-feira.

"Desde o momento em que o bebê nasce e abre o olho é capaz de ler. Primeiro, ele faz a leitura do mundo por meio das expressões faciais e da voz da mãe. É importante fazer, além da leitura, conexões com brinquedos, já que nos primeiros meses de vida a criança vive num mundo muito concreto. Os pais ou educadores podem deixar, inclusive, que o bebê coloque o livro na boca, por exemplo", afirmou a diretora do Instituto Brasil Leitor, responsável pela biblioteca pernambucana, Ivani Nacked. A Biblioteca da Primeira Infância fica na Rua Alto do Eucalipto, número 20, Vasco da Gama.

Matéria publicada e 25/04/2010