Parece até que a gente sabe esta resposta... mas, no fundo, ainda temos dúvida do papel da literatura em nossas vidas
Cristiane Rogerio
Pelo peso intelectual que ela carrega, a palavra literatura muitas vezes pode causar certo “hummm, mas será que é para mim, isso?”, “humm, será que eu vou ter tempo?”, “hummmm, será que eu vou entender?”.
Uma das maravilhas que o livro infantil faz conosco é que ele quase sempre vem, digamos, acompanhado de uma criança. E, sob essa companhia, somos levados à liberdade de pegar um livro sem-saber-nada-antes. Permitimos que esta leitura nos cause espanto, emoção, surpresa, gargalhada... É uma delícia, apenas esperando ser tocada por ela.
Muitas vezes, mesmo quando somos ávidos leitores, precisamos nos perguntar por que, de fato, lemos. Pois lemos para nos “mantermos humanos”. Para conversar com nossos sentimentos, com nossas angústias e alegrias. Estou começando a leitura de A Casa Imaginária (Ed. Globo), da colombiana Yolanda Reyes, uma pesquisadora da arte de incentivar a ler. Lá, ela traz uma definição de literatura. Começa com um adendo à própria palavra: “É uma fonte de nutrição a que a criança recorre em busca de ferramentas mentais e simbólicas para organizar o fluxo dos acontecimentos e situar-se e revelar-se e decifrar-se, também ela, na cadeia temporal instaurada na linguagem. Enquanto na beira da cama o pai conta uma história de monstros ou versões de Cachinhos Dourados, Os Três Porquinhos ou de qualquer outro conto, ele apresenta pistas: umas visíveis, outras invisíveis.” Será que temos ideia do que estamos fazendo ao ler um livro com uma criança?
É muito complexa esta relação que se estabelece entre o adulto que lê e a criança que ouve, a criança que aprende a entender que o livro o papel de também conversar com ela. Yolanda continua: “Resguardado na atmosfera protetora de seu quarto, o filho ‘lê’ na voz, no rosto, nas ilustrações e nas palavras do pai que as coisas difíceis ou monstruosas podem ser designadas na linguagem cifrada do relato, sem necessidade de submeter-se a confissões incômodas que talvez nenhum dos dois tenha interesse em revelar”.
Percebem a profundidade desse momento? E dá também, por meio disso, entender como é importante começar cedo. Ou a gente adia as demonstrações de afeto pelas crianças? Ler com a criança é muito mais do que reconhecer letras e descobrir significados: mostra que a vida de todos nós é repleta de caminhos, que, como nos livros, as histórias têm começos, meios e finais, pois a vida tem seus ciclos, com nuances e escolhas. Quem não precisa conversar sobre isso?
Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.
Fonte: Revista Crescer
Fonte: Revista Crescer
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