Especialistas garantem: ouvir histórias desde a primeira infância estimula a criatividade, facilita o aprendizado e ajuda os pequenos a compreenderem o universo ao seu redor
Por Paula Desgualdo
Era uma vez um bebê que cresceu em meio a bruxas, castelos e fadas. Das letras, ainda estranhas aos seus olhos curiosos, nada conhecia. A ele, bastava sentir a magia na voz de quem narrasse uma fábula para mergulhar em um jogo de aventuras e descobertas. Assim como nos contos de fadas, essa é uma história com final feliz. É que, como você verá a seguir, estimular a imaginação dos pequenos ainda no berço pode ajudar, e muito, a desenvolver a sua criatividade e a compreensão que eles têm do mundo.
“A primeira leitura que a criança faz é a do rosto dos pais”, afirma Ivani Capelossa, idealizadora do projeto Biblioteca da Primeira Infância, do Instituto Brasil Leitor, em São Paulo. “O tom de voz, as expressões de alegria e espanto que eles demonstram ao ler e contar causos para os pequenos são o início de um longo caminho de aprendizado”, completa.
Por mais que a criança não consiga entender a história ou absorver todos os detalhes, ela aprende uma novidade toda vez que ouve um conto – principalmente se ele for repetido dezenas de vezes, como a meninada gosta. Nos primeiros contatos com as narrativas, sejam elas cantigas de ninar ou historietas, os bebês começam a trabalhar a memória e a capacidade de organizar informações. “Quando percebem que as histórias têm começo, meio e fim, eles estabelecem pela primeira vez a idéia de temporalidade”, exemplifica a pedagoga Eleusa Leardini, professora da Universidade São Francisco, no interior de São Paulo.
Segundo a especialista, que defendeu uma dissertação de mestrado justamente sobre contar histórias na educação infantil, a magia da literatura para pequenos não só desperta a curiosidade como também contribui para o desenvolvimento de aspectos sociais e cognitivos na infância. Ela defende, ainda, a idéia de que é preciso estabelecer uma relação com o livro desde os 6 meses – a partir do momento em que a criança consegue se sentar sozinha. “Bebês fazem uma pseudoleitura, ou seja, eles olham as imagens e criam a sua própria história”, diz.
Meninas e meninos mais novos têm uma capacidade de compreensão limitada. A ficção, nesse caso, é uma forma de conhecer e experimentar sensações que ainda não fazem parte do repertório infantil. “As crianças se projetam nas personagens e vivenciam alegria, medo, tristeza, saudade”, comenta Eleusa. Assim, os pequenos começam a moldar as suas reações diante das eventualidades que acontecem em sua própria vida. Reconhecem, por exemplo, que o medo do escuro de seu quarto é o mesmo que sentiram quando o lobo tentou devorar a menina Chapeuzinho Vermelho.
Além dos benefícios que as narrativas proporcionam para o desenvolvimento da criançada, não há como negar que elas são uma ferramenta e tanto para estreitar os laços de afetividade entre quem conta e quem ouve. “Ouvir e contar histórias é um tipo de amor muito especial”, resume a escritora carioca Ana Maria Machado. Isso porque narrador e ouvinte precisam estar atentos e totalmente entregues a essa atividade. “É um momento em que a criança se sente respeitada nas suas necessidades”, explica Alessandra Giordano, professora do curso Contar e Ouvir Histórias, do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.
Sem contar que, se os pequenos tomarem gosto pela ficção desde cedo, a chance de se tornarem leitores só aumenta. Caso exemplar é o da escritora paulista Lu Martinez, que narrava historinhas para o filho, Gabriel, enquanto ele ainda estava no acalento do útero. Depois que o menino nasceu, as seções de contação ficaram mais freqüentes e o garoto começou a pedir que a mãe repetisse as histórias do dia anterior. Por causa das exigências de Gabriel, Lu passou a registrar as ficções que inventava. Suas anotações renderam sete livros – três deles já foram publicados. “É na primeira infância que se formam futuros leitores”, afirma a pedagoga Creuza Soares, que implantou o projeto Meu Broto de Leitura no berçário municipal Mãe Cristina, em Marília, no interior de São Paulo. Este ano, Creuza inaugurou uma Bebeteca, que, aliás, ganhou o nome da escritora Lu Martinez.
Fonte: Site Bebe.com.br
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