Lauro Neto
RIO - Foi o jornalista e escritor Zuenir Ventura que levantou o debate em sua coluna do GLOBO: a leitura obrigatória de clássicos, como "Iracema" ou "Senhora", é capaz de incentivar um aluno a ler ou vai afastá-lo da literatura? Com essa pergunta na cabeça, a Megazine recolheu as listas de livros cobradas no ensino médio em dez colégios e perguntou aos principais interessados - os estudantes - o que eles acham disso tudo.
Opine: que livros deviam ser adotados pelas escolas no ensino médio?
Fã de "Código Da Vinci", "Anjos e demônios" e "Harry Potter", Luiz Fernando Magalhães, de 16 anos, leu a coletânea "Os cem melhores poemas do século", organizada por Ítalo Moriconi, para um teste de literatura. O aluno do 2 ano do pH da Tijuca confessa que não foi fácil.
Veja aqui a lista de leitura obrigatória de alguns colégios
- Os poemas são mais difíceis de entender que a prosa, por isso não despertam tanto interesse. Não leio poesia fora da escola - diz Luiz, mostrando preocupação com a próxima missão. - Vamos ler "Dom Casmurro". Vai ser tenso. Machado de Assis não deveria ser cobrado. Tinham que ver nosso interesse e explorá-lo. Prefiro ficção. Mas leio, no máximo, um livro por ano fora do colégio.
Editoras repaginam clássicos para fazer com que a literatura chegue até os adolescentes de forma menos chata
Breno Elias de Souza pensa parecido com Luiz, seu colega de turma. Apesar de ter gostado de "O Santo Inquérito" e "O melhor das comédias da vida privada", que leu no 1 ano, ele confessa que não terminou "Memórias de um sargento de milícias":
Leitura escolar: veja aqui a opinião dos escritores e os livros que eles recomendam
- Li o começo e achei chato. Não gosto muito de livros. Prefiro ler sobre esporte na internet. Tinham que procurar algo com nossa linguagem - opina Breno, que, questionado sobre o que sugeriria como leitura na escola, vacila: - Não sei.
Filipe Couto, coordenador de Língua Portuguesa do pH e poeta, defende que a leitura dos clássicos na escola é importante para que os alunos tomem conhecimento de ferramentas da linguagem e aspectos culturais com os quais não têm contato no dia a dia:
- Quando adotamos "Vidas secas" (Graciliano Ramos), não queremos transformar a vida deles num inferno, mas torná-los mais tolerantes a entender a vida dos outros. Se eu não instrumentalizá-los com Clarice Lispector, eles vão subutilizar o "Crepúsculo", que é muito mais fácil de ler. Temos que ampliar a bagagem deles.
As meninas parecem compreender melhor a lição do mestre. Tanto é que são as que mais se destacam no concurso literário promovido pelo colégio. Natália Mourão, do 3 ano, foi campeã nos dois últimos anos nas categorias prosa e poesia. Júlia Senna e Enyla da Fonseca, do 2, também participaram.
- Já li as séries "O diário da princesa" e "Gossip girl", mas, como minha mãe não gosta que eu leia esse tipo de livros, baixei na internet. Li também "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas..." por vontade própria - conta Enyla, de 15 anos.
Para Gustavo Bernardo, professor do curso de Letras da Uerj, o problema não está na leitura obrigatória de clássicos, mas em como os livros são explorados.
- A escola, em si, já é obrigatória. Mas, se o professor, além de cobrar, estimula e provoca os alunos de maneira crítica e lúdica, pode formar leitores. José de Alencar é chato para cacete, mas o professor pode problematizar, mostrando que o autor mata as personagens femininas, como Iracema e Lucíola, pois é um reacionário terrível, o que revela a mentalidade do seu tempo - sugere ele, que é escritor.
No Colégio Estadual Monsenhor Miguel de Santa Maria Mochón, o professor de literatura Marcel Costa tenta realizar esse trabalho com oficinas literárias, como a apresentação teatral adaptada da crônica "O nariz", de Verissimo, na última terça.
- Fazemos uma apresentação visual, pois eles não estão acostumados com a leitura. Começamos com textos menores e mais agradáveis para depois trabalhar os clássicos. Conseguimos leitura integral de 60% dos alunos. Os demais tentamos resgatar através de resumos em rodas de leitura - ele explica.
Luiz Felipe Silva e Letícia Marques, do 1 ano, e Hudson Batista, do 3, estão no primeiro grupo.
- Prefiro ficção estrangeira, mas a literatura brasileira é importante. A nossa visão é diferente da do professor - diz Luiz Felipe, que leu "A cabana" e "A menina que roubava livros" por conta própria.
Fonte: O Globo
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