sábado, 26 de fevereiro de 2011

Professora pode tornar-se leitora com formação e prazer

Adriana Maricato | Brasília/DF

É difícil para uma professora que não lê estimular a leitura dos alunos. Se a criança vem de uma família que não lê e encontra na escola uma professora na mesma situação, a professora não saberá como despertar e cultivar a leitura. O ambiente de Educação Infantil promotor da leitura precisa contar com professoras leitoras.

Para Magda Soares, da UFMG, um programa de formação de leitores deve se preocupar também com o desenvolvimento do professor como leitor, “porque se a pessoa não tem prazer no convívio com o material escrito, é muito difícil passar isso para as crianças”. Por isso, Rosana Becker, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), defende que é preciso trabalhar na formação continuada dessa professora, que precisa se tornar leitora.

Rosana Becker coordena no Paraná o desenvolvimento de cursos e produtos didáticos para a área de Linguagem e Alfabetização. Esse trabalho é feito a partir da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que faz parte da Rede Nacional de Formação Continuada de Pro fessores do MEC (Rede).

Com sua experiência na for mação de professores, Rosana acredita que não basta disponibilizar acervos de livros e espaços de leitura como bibliotecas. “A professora deve ser envolvida em práticas de leitura, entrando em contato com outros professores leitores, participando de grupos de es tudo, freqüentando cursos, fazendo trabalhos, encontrando espaços de leitura nas salas de aula e nas escolas”. Segundo ela, a partir dessas vivências, os professores podem perceber a importância da leitura nas suas próprias vidas, avaliar se são leitores ou não, e construirem -se como leitores, buscando formas de romperem com suas histórias de não-leitura.

Para formar alunos leitores, o professor necessita de uma concepção clara de leitura, como as crianças aprendem a ler e saber como constituir o acervo para trabalhar com elas. “Não pode subestimar a capacidade das crianças de receberem o texto. Enquanto elas folheiam, também constroem conhecimento e práticas”, esclarece Rosana Becker. Isso signifi ca ter atividades permanentes de leitura em sala de aula. Lendo para as crianças, o professor simultaneamente constitui-se como leitor. A escrita torna-se uma descoberta coletiva na sala de aula: “não é porque a criança não teve acesso que não pode aprender a gostar desses materiais de leitura”, acrescenta a professora do Paraná.

Os programas de formação de leitores devem levar em conta que a leitura do professor não é a mesma das crianças. De acordo com Rosana, “é preciso conhecer o perfil do professor, saber o que ele lê de fato e estas informações podem ser conseguidas na Associação de Leitura do Brasil”. Os acervos para os professores devem ser diversificados, com leitura informativa - jornais, revistas, periódicos, textos científicos sobre educação e também literatura. “O professor precisa conhecer o universo simbólico da Literatura Brasileira e Universal”, diz ela.

Mas Rosana Becker adverte que a professora não pode estar sozinha neste trabalho de leitura. Ela precisa do apoio da direção. A diretora deve garantir um espaço de leitura dentro da creche ou escola e garantir livros de literatura infantil adequados às turmas de Educação Infantil, deixando o material disponível para ser pego, folheado, trocado, acompanhado, cuidado. "Não é para o livro ficar apenas como enfeite bonito na estante da escola, a criança tem que pegá-lo".

Secretarias estaduais e municipais de educação e instituições de ensino superior podem procurar os centros da Rede/MEC na área de Alfabetização e Linguagem para criar programas de formação de professores leitores. Isto trará ganhos para os profissionais e para as crianças. E muito prazer também. Fazem parte da Rede Nacional de Formação Continuada: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mais informações no telefone (0 xx 61 2104-8672) e no site http://www.mec.gov.br/.
 
 
Fonte: Revista Criança nº 41

Amigo

Texto: Regina Célia Melo
Ilustração: Rachel Dumont*

Numa poltrona macia,
No colo da avó,
Na cama aconchegante,
Debaixo da amiga árvore...
É avião que me leva ao
Japão, Quixadá ou Bagdá!
Se a tristeza vem,
Traz asas ligeiras, verdes de esperanças...
Se a euforia é crescente,
Tece na medida a melancolia boa pra pensar.
Se o sono não vem,
Se o medo quer brincar,
Inventa sonhos azuis
Pra eu acordar
Manhãs de sol e emoções...
Se eu quero entender, desvendar o porquê, pra quê,
Como, onde, cadê?
É você a chave que abre
As gavetas, janelas e portas!
É você: Livro Amigo!

*Regina Célia Melo e Rachel Dumont são professoras do Jardim de Infância da 114 Sul, em Brasília. O material faz parte do Projeto “Livrinho na mão”.

Ler é o melhor remédio

Giani Peres*

Eis aí um grande desafio:
Criar ávidos leitores!
Que leiam, leiam, horas a fio
Sobre ciência, poesia e amores.
Adquirir o hábito de ler é importante
Para investigar, pesquisar, delirar
Ler é mesmo algo fascinante,
Envolvente, pois te leva a criar.
Diria que ler é o melhor remédio
Contra a ignorância, desinformação e tédio
E qual é afi nal o papel do professor?
Ser um exemplo, ser um elemento motivador
Oferecendo pílulas diárias de leitura
Que leve as idéias a constante fervura.


* Giani Peres
Pedagoga formada pela Unicamp, especialista em Educação Infantil, pós-graduada em Métodos e Teorias de Pesquisa.

Bem-vinda, leitura

Monica Martinez  - São Bernardo do Campo/SP

Coruja, coruja, venha à minha festa! Obrigado, irei sim, se você convidar a Chapeuzinho. Chapeuzinho, Chapeuzinho, venha à minha festa! Obrigada, irei sim, se você convidar as crianças. Crianças, crianças, venham à minha festa! Irei sim, se você convidar... a bruxa! Os colegas de turma da pequena Gabriele Trindade Pereira, 6 anos, explodem em gostosas gargalhadas ao ouvir o término da história narrada pela amiguinha.

É pra lá de lúdico o ambiente da biblioteca infantil do Colégio Termomecânica, localizado no bairro Alvarenga, em São Bernardo do Campo (SP). Mantida pela Fundação Salvador Arena – que leva o nome do engenheiro fundador da empresa, fabricante de ligas metálicas não ferrosas –, ela foi inaugurada em abril de 2003 e acolhe duas vezes por semana 65 alunos do colégio e os 48 da Escola Infantil Salvador Arena, todos entre 5 e 6 anos e, além de atender cerca de 400 alunos do Ensino Fundamental. Ambos são localizados no mesmo bairro Alvarenga, contudo os critérios de seleção são diferentes. “Em 2004, 4,2 mil crianças concorreram às 65 vagas do colégio”, diz a coordenadora Heloísa Villas Boas. Já a Escola Infantil privilegia os moradores da favela recentemente urbanizada que divide muros com a instituição. “Abrimos 40 vagas anuais no maternal, que ano passado foram disputadas por 300 pessoas”, conta a diretora, Angela Maria Guariglia. Tanto no colégio quanto na escola infantil as vagas são decididas por sorteio.


Muito além dos livros

A infoeducadora Cláudia Aparecida Branco Guedes explica que o propósito da biblioteca é possibilitar às crianças o contato com variadas formas de informação, como internet, revistas, CD-Rom, fitas de vídeo, além dos livros e gibis infantis adorados pelos freqüentadores. No quesito obras literárias, a escolha prima pela diversidade. “No começo foram selecionados 2,5 mil títulos. Hoje são mais de 3 mil obras”, conta a bibliotecária Miriam da Silva.

Por meio de atividades como contar histórias, pesquisar, assistir a filmes, desenhar e, claro, manusear os livros, os professores facilitadores procuram construir paulatinamente o entrosamento dos pequenos com o universo da leitura. Tudo a seu tempo, claro. “A idéia não é alfabetizar as crianças, mas respeitar os repertórios que trazem de casa e estimular a vontade de ler e decifrar conteúdos”, explica Cláudia. Além das duas visitas semanais, a criançada retira exemplares, que podem curtir em casa de quinta a segunda-feira, o que permite a participação da família no processo. Afinal, há pais que trabalham o dia todo e só têm os finais de semana para compartilhar essa atividade com os filhos.

Para manter a ordem impecável da biblioteca, a infoeducadora conta com o auxílio simbólico de Chiquinho, um simpático fantoche que fica empoleirado sobre sua mesa que faz às vezes de coordenador durão, ensinando os pequenos a desfrutar do material, mas também a preservá-lo. A biblioteca fica aberta na hora do almoço das crianças, quando os pequenos alunos precisam de uma senha – geralmente carregada no bolsinho detrás da calça do uniforme – para usufruir do espaço. Em tempo: as estantes foram planejadas para que os petizes se sirvam à vontade, com autonomia e liberdade, de contos de fadas a biografias, de ciências a autores indígenas.

Ao final da entrevista, os alunos, debruçados sobre seus livros favoritos, são convidados a retornar à sala de aula. A queixa por abandonar o espaço é geral. Espontânea e sabendo que semana que vem tem mais, a pequena Gabriele não perde tempo e sapeca: “Esta história entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser que conte outra”.

Fonte: Revista Criança nº 40

Semente de leitores

Renato L. -  Recife/PE

Antes de tudo, um aviso: não há um herói na “historinha” que contamos a seguir. Não existe uma professora para servir de fio condutor no relato das experiências da Sementinha do Skylab. A ausência está ligada à trajetória da própria creche: como tantas, ela surgiu em 1988 a partir da luta da comunidade, ameaçada por um projeto de reurbanização. O esforço coletivo vitorioso marcou a vida de todos – a tal ponto que os professores pediram para não serem retratados individualmente.

Essa, no entanto, foi a única exigência feita ao repórter. No restante daquela manhã de verão, só encontrei portas abertas, boa vontade e... livros expostos nas paredes das salas arejadas dos grupos 1 (crianças de 1 a 2 anos), 2 ( de 2 a 3), 3 (de 3 a 4) e do berçário. Para o visitante, não resta dúvida: o manuseio de livros é parte do cotidiano da Skylab. Todo dia, confirmam os professores, são criadas situações de leitura, ou durante "A hora do conto" – após as atividades musicais e corporais, quando crianças e/ou professoras narram histórias nas salas – ou nos períodos de livre escolha, em que há a preocupação de se reservar tempo e espaço para o ato de ler.

Tanto cuidado, claro, não surgiu do nada. Primeiro, é bom notar que as professoras têm formação superior – inclusive com cursos de formação continuada – e são leitoras. Segundo, a prefeitura da cidade do Recife, principalmente nos anos entre 1993 e 1996, elaborou políticas com ênfase na formação docente e na organização de acervos. Juntos, esses dois fatores foram decisivos nas experiências da creche nesse campo, inclusive na mais importante delas, a Mostra de Livros da Sementinha.


Sua primeira edição aconteceu em 1999, como produto de uma reavaliação do projeto pedagógico, que apontou a necessidade de se ampliar o trabalho de leitura. Crianças, pais e funcionários são incentivados a escrever. Veja bem, não é uma tática para ampliar a capacidade de escrita. É parte da estratégia de incentivo à leitura. Até hoje, a estrutura básica da Mostra permanece: as crianças são envolvidas numa série de atividades (visitas a bibliotecas públicas e a editoras; conversas com escritores, inclusive com escritores-mirins; teatro de fantoche mostrando a importância do livro, personagens narrando contos de fadas...) capazes de reforçar o prazer de ler.
 
Ao mesmo tempo, elas são convidadas a criar histórias, convite que, nas edições mais recentes, foi estendido aos funcionários e aos pais dos alunos. Esse material é transformado em livros artesanais pela Editora Sementinha, incorporado ao acervo da Skylab e, importante, trocado com outras creches. Além disso, são organizadas campanhas de doação de livros para a biblioteca (que também atende a pais e funcionários) e oficinas de leitura com os pais, tarefas básicas numa comunidade de baixa renda, onde livro é artigo de luxo.


Tudo isso deságua na própria mostra de anos), 2 ( de 2 a 3), 3 (de 3 a 4) e do berçário. Para o visitante, não resta dúvida: o manuseio de livros é parte do cotidiano da Skylab. Todo dia, confirmam os professores, são criadas situações de leitura, ou durante “A hora do conto” – após as atividades musicais e corporais, quando crianças e/ou professoras narram histórias nas salas – ou nos períodos de livre escolha, em que há a preocupação de se reservar tempo e espaço para o ato de ler.

Tanto cuidado, claro, não surgiu do nada. Primeiro, é bom notar que as professoras têm formação superior – inclusive com cursos de formação continuada – e são leitoras. Segundo, a prefeitura da cidade do Recife, principalmente nos anos entre 1993 e 1996, elaborou políticas com ênfase na formação docente e na organização de acervos. Juntos, esses dois fatores foram decisivos nas experiências da creche nesse campo, inclusive na mais importante delas, a Mostra de Livros da Sementinha.


Sua primeira edição aconteceu em 1999, como produto de uma reavaliação do projeto pedagógico, que apontou a necessidade de se ampliar o trabalho de leitura. Crianças, pais e funcionários são incentivados a escrever. Veja bem, não é uma tática para ampliar a capacidade de escrita. É parte da estratégia de incentivo à leitura. Até hoje, a estrutura básica da Mostra permanece: as crianças são envolvidas numa série de atividades (visitas a bibliotecas públicas e a editoras; conversas com escritores, inclusive com escritores-mirins; teatro de fantoche mostrando a importância do livro, personagens narrando contos de fadas...) capazes de reforçar o prazer de ler. livros. Concebida e desfrutada coletivamente pela comunidade, ela serve como exemplo de estratégia de incentivo de baixo custo e integradora, capaz de reunir ao prazer da leitura – e aí temos um dado fundamental para sua eficácia! – as delícias do ato de narrar. É assim que a comunidade do Skylab faz uma semente germinar, crescer e dar frutos: a do gosto de ler histórias, primeiro passo para que se possa criar, mais tarde, uma outra história...
 
Fonte: Revista Criança nº 40

Literatura para bebês, livros para pais

Marli Henicka - Blumenau/SC

do Centro de Educação Infantil (CEI) Hilca Piazero Schnaider, de Blumenau (SC) fazem quando pegam um livro é colocá-lo na boca. Mas isso quando têm quatro ou cinco meses, porque com dez eles já querem ler sozinhos. De tanto que gostam das histórias, nessa fase eles nem esperam a professora terminar a leitura para tomar dela o livro e com seus próprios dedinhos apontar para as figuras e imitar os sons. “Seis meses depois do primeiro contato com os livros alguns já ficam na frente da estante apontando e pedindo para eu ler uma história”, conta a professora Valdirene Passamai Knott.

A turma atual tem 12 bebês de 0 a 2 anos. No início, eles recebem livros bem coloridos de materiais resistentes como plástico, tecido ou madeira para brincar e morder à vontade. Aos poucos, a professora começa a mostrar e a dar nome às figuras, ensina a folhear e só depois inicia a leitura. “A intenção é criar um vínculo entre a criança e o livro para que ela se torne um adulto com paixão pela leitura”, diz Maristela Pitz dos Santos, diretora do CEI.


A creche é pública e atende em período integral 80 crianças. A maioria não tem livros em casa nem o estímulo dos pais para a leitura, o único contato com a literatura acaba sendo o da sala de aula. Os cerca de 150 livros do acervo foram comprados com recursos doados pelos pais por intermédio da associação de pais e professores ou com a renda obtida na venda de materiais reciclados. Todo mês pelo menos dois novos livros comprados ou adquiridos em sebos são acrescentados. “São obras de qualidade, resistentes, que tenham ilustrações com nuances de cor, textos interessantes e histórias intrigantes, que não sejam bobinhas”, diz a diretora. A creche ainda não tem biblioteca, os livros ficam numa caixa que circula pelas salas de aula.

Já no Centro de Educação Infantil Olga Bremer, também mantido pela Prefeitura de Blumenau e que atende 250 meninos e meninas, as professoras desenvolvem um projeto com crianças de 4 e 5 anos no qual os pais são diretamente envolvidos na leitura. A partir do segundo bimestre letivo, todo final de semana, uma criança leva para casa um clássico da literatura infantil para que o pai ou a mãe leia para ela. Na segunda-feira, ela deve recontar com suas palavras a história para os colegas. “O maior objetivo é que os pais percebam a qualidade das histórias que estão sendo trabalhadas com seus filhos”, diz a professora Ilda de Carvalho Silva. O aluno que vai levar o livro é escolhido por sorteio; já a escolha da obra fica por conta do gosto da criança e não há problema se ela já tiver levado o livro antes.

Fonte: Revista Criança nº 40

O prazer da leitura se ensina

Adriana Maricato - Brasília/DF

Quanto mais cedo histórias orais e escritas entrarem na vida da criança, maiores as chances de ela gostar de ler. Primeiro elas escutam histórias lidas pelos adultos, depois conhecem o livro como um objeto tátil “que ela toca, vê, e tenta compreender as imagens que enxerga”, diz Edmir Perrotti, professor de Biblioteconomia da Universidade de São Paulo (USP) e consultor do MEC. “As crianças colocadas em condições favoráveis de leitura adoram ler. Leitura é um desafio para os menores, vencer o código escrito é uma tarefa gigantesca.”

A criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização, folheando e olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Ela aprende observando o gesto de leitura dos outros – professores, pais ou outras crianças. O processo de aprendizado começa com a percepção da existência de coisas que servem para ser lidas e de sinais gráficos.

Para Magda Soares, do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Ceale/UFMG), esse aprendizado chama-se letramento: “É o convívio da criança desde muito pequena com a literatura, o livro, a revista, com as práticas de leitura e de escrita”. Não basta ter acesso aos materiais, as crianças devem ser envolvidas em práticas para aprender a usá-los, roda de leitura, contação de histórias, leitura de livros, sistema de malas de leitura, de casinhas, de cantinhos, mostras literárias, brincadeiras com livros. Edmir afirma que “a criança pode não saber ainda ler e escrever, mas ela já produz texto: ela pensa, fala, se expressa”.

Segundo Magda, um programa de formação de leitores deve se preocupar também com o desenvolvimento do professor como leitor, “porque se a pessoa não utilizar e não tiver prazer no convívio com o material escrito, é muito difícil passar isso para as crianças” (veja matéria na próxima edição da revista).

“É preciso desmanchar essa idéia do livro como objeto sagrado; é sagrado sim, mas para estar nas mãos das pessoas, ser manipulado pelas crianças”. Magda Soares

 
A descoberta coletiva da leitura e da escrita

Algumas crianças não têm ambiente favorável à leitura em casa, mas há outras que ouvem histórias lidas pela família. “Se for criado um ambiente de leitura nas escolas, as crianças levarão a prática para suas casas. E vice-versa, haverá crianças que trarão leitura para a escola”, argumenta Jeanete Beauchamp, diretora de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC).

Participar de grupos que usam leitura e escrita é, de acordo com Ester Calland de Souza Rosa, professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o caminho do aprendizado. Na escola, a criança deve ser rodeada de livros e materiais em espaços de leitura, seja biblioteca, sala ou um cantinho dentro da sala de aula. Para Magda, “o papel da professora é intermediar o contato do aluno com a escrita e a leitura, colocar o livro disponível e orientá-la no seu uso, no convívio com o material escrito”. As atividades são várias: contar e ler histórias, folhear, mostrar o material, buscar informação, usar material escrito de diferentes gêneros, como acontece no Sementinha do Skylab, em Pernambuco (veja matéria na página 22). “Mesmo que a professora saiba a resposta, é a primeira oportunidade para dizer ‘vamos buscar na enciclopédia, que traz informação’”, diz a pesquisadora mineira.

O medo de a criança rabiscar e rasgar os livros faz os professores criarem dificuldades de acesso ao material. Essas restrições acabam mostrando o contrário do que deveria ser: que a leitura é difícil, chata, porque não pode tocar no livro. “Vai estragar sim porque ela ainda não tem os hábitos e a habilidade motora para lidar com o livro”, esclarece Magda. Mas é também a oportunidade de a professora ensinar a criança a respeitar o livro e como manipulá-lo sem rasgar, “senti-lo como alguma coisa familiar”. Assim a criança entra no mundo da literatura, da escrita, do livro.

Quando a criança está na fase de experimentação inicial, os de durabilidade maior – feitos de pano, de plástico, emborrachado, de papelão duro – são mais adequados. A experiência do Centro de Educação Infantil Hilca Piazero Schnaider, em Blumenau (SC) é exemplar (veja box abaixo). Mesmo livros de papel são úteis para os pequeninos porque a professora pode folheá-los, ler a história, mostrar o livro, ensinando zelo pelo objeto. “Todo suporte de texto é fundamental para a criança de Educação Infantil”, diz Rosana Becker, pró-reitora de Graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), associada à Rede Nacional de Formação Continuada do MEC.


O trabalho com o livro de literatura infantil exige preparo, ensinando para as crianças o que é um material para ser lido e não para ser rabiscado. “A criança precisa experimentar a escrita também, mas vai ser no papel sulfite ou craft, no caderno de desenho, na lousa, no chão”, diz Rosana, “e não no livro”.

“A professora tem o papel essencial de escriba e de leitor de estória para a criança”. Edmir Perrotti 

 Textos bons e diversos

Para as crianças cujas famílias têm baixa escolaridade ou são analfabetas, a escrita pode parecer inútil porque elas não conhecem o “gesto de leitura” em casa. Na escola, a criança deve crescer num ambiente em que veja que a leitura e a escrita estão presentes em muitas situações, “tanto nas lúdicas – leitura de livros de história, poesia, brincadeira com trava-línguas e parlendas – até os usos mais sociais – jornal, listas, 22cartazes”, afirma Ester.

As crianças querem ouvir histórias desde pequenas, mas essas histórias, segundo Magda, “têm de ser adequadas, com tamanho adequado, contadas ou lidas da maneira adequada à idade” para elas gostarem da atividade. “A criança precisa muito de fantasia e de imaginação”. Livros de literatura infantil, contos de fadas, fábulas e contos do folclore favorecem a fruição estética. Becker alerta: nessa fase de audição de narrativa, a professora não pode escolher livros apenas para ensinar algo como higiene, cuidado ou valor moral.

Ester sugere o uso de textos rimados porque os mais novos podem memorizar o texto. “Aí ela faz de conta que está lendo, mostra com o dedo num cartaz ou livro sabendo que o texto está escrito ali”. A criança vai progressivamente identificando os sinais gráficos, uma letra, uma palavra, sons que se repetem, e começa a perceber as regularidades da língua. “Assim você faz essa passagem da oralidade para a escrita”, sintetiza a professora da UFPE.

Mesmo que narrativas e poemas sejam prioridade nas atividades de leitura, Magda chama a atenção dos professores para não se trabalhar exclusivamente com o que diverte e agrada. Os alunos precisam ter contato com textos impressos não literários que têm diferentes funções e objetivos. Revistas infantis, em quadrinhos, propaganda, embalagens, receitas, bulas de remédio, certidão de nascimento também devem ser objetos de experimentação. “Revistas e jornais, a princípio para adultos, têm muita ilustração, muito texto, a criança gosta de manipular e até de recriar”, diz ela, “recortando figuras, letras, palavras”.

Familiarizada com a diversidade de textos que existem – suportes diferentes (cartaz, livro, jornal, revista, etc.), variedade de formato e tamanho de letras, composição gráfica, disposição da imagem em relação ao texto –, a criança deduz o funcionamento da escrita. “Mesmo antes de ler e escrever de forma autônoma, ela descobre coisas sobre o código justamente em contato com esses tipos diversos de materiais”, diz a pesquisadora de Pernambuco, “e não só aqueles que foram produzidos especificamente para a escola, como abecedários e jogos com letras”.  

Acolher o interesse dos pequenos

“O espaço de leitura tem de ser extremamente acolhedor, preparado na medida da criança; ela não pode encontrar obstáculos nem sentir medo de chegar ali”, afirma Edmir. A biblioteca do Colégio Termodinâmica, em São Bernardo do Campo (SP) é um bom exemplo (veja box acima). As regras de uma biblioteca para adultos – silêncio e imobilidade – não valem para crianças, principalmente as mais novas. O espaço deve ser convidativo e confortável, permitir que elas circulem e falem. “E tem de ser um lugar de muita interação, onde adulto apóia e compartilha, ajudando a encontrar o caminho da leitura”, detalha o especialista.
 
Seja uma biblioteca, uma sala exclusiva ou o cantinho da sala de aula, as regras são negociadas com os alunos, educando a criança para a participação. O respeito pelo interesse dos pequenos garante que a leitura esteja associada à escolha e ao prazer.


O contrário disso é o espaço que associa leitura a obrigação, exigindo que a criança fique amarrada na cadeira, quieta, sem se relacionar com os objetos culturais. “Não pode. O material tem de estar na altura da criança”, diz Edmir.

A organização deve incorporar a idéia de leitura como atividade dinâmica, diferente em cada idade, presente em vários materiais e situações da vida. Além de iluminação, ventilação e limpeza, o espaço precisa ter uma linguagem adequada: cores, dispositivos com materiais organizados de forma lógica à disposição dos usuários. Essas idéias foram testadas num laboratório da Creche-Oeste da USP, na capital de São Paulo, e foram posteriormente difundidas para outras escolas desse estado.

O que faz a diferença no espaço de leitura não são recursos fartos, mas criatividade: “Se tiver dinheiro, você compra o móvel; se não tem, inventa. A gente não tinha um tostão”. Um mutirão dentro da própria creche montou a sala de leitura: a partir do tema “floresta”, a sala de leitura ganhou painel com um lobo de feltro confeccionado em três pedaços, almofadas, trilhos de cortina colocados invertidos que servem de suporte para expor os livros novos que chegam, caixotes coloridos para pôr livros, cada cor correspondente a determinado gênero (conto de fada, poesia, livro de informação). Um móbile no teto criou mais um apelo visual. “Ficou um lugar gostoso, as crianças iam e não queriam sair”, recorda o professor da USP. A creche também tem cantinhos de leitura em cada sala de aula.

Para Edmir, essa mesma lógica de relação com outras linguagens e equipamentos precisa estar nesse local. Se não há recursos para equipar o espaço com televisão, vídeo, aparelho de som, álbum de fotos, computador e internet, é preciso começar com livros, mas sabendo que faltam outros elementos: “Se um canto de leitura é o único espaço possível que você tem dentro da escola, então comece por aí”.
 
Fonte: Revista Criança nº 40 

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Banco de Livros


Esta postagem complementa uma postagem anterior: Projeto Banco de Livros: proposta da Fiergs e a Câmara Rio-Grandense do Livro

------------------------

O Banco de Livros é uma das iniciativas da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, que foi instituída pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul - FIERGS.

O Banco de Livros é uma instituição criada para garantir um maior acesso da população á cultura. Para isso, monta bibliotecas em locais de baixa renda como comunidades carentes, hospitais, escolas e asilos. Para o sucesso do projeto, era preciso mobilizar as pessoas para que doassem o maior número possível de livros.


Além do Banco de Livros, fazem parte dos Bancos Sociais: Banco de Alimentos, Banco de Voluntários, Banco de Computadores, Banco de Projetos Comunitários, Banco de Materiais de Construção, Banco de Medicamentos, Banco de Mobiliários, Banco de Órgãos e Transplantes, Banco de Refeições Coletivas, Banco de Resíduos, Banco de Tecido Humano e Banco de Vestuários.

Banco de Livros já é uma realidade

6/11/2008 - O Rio Grande do Sul é o primeiro Estado do Brasil a contar com um Banco de Livros. A iniciativa é da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, ligada ao Sistema FIERGS, e foi lançada na noite desta quarta-feira (05/11/2008), no Memorial RS, dentro da programação da 54ª Feira do Livro.


O projeto foi trabalhado por 18 meses até que se tornasse realidade e só durante a cerimônia, já captou mais de 5 mil títulos doados por empresas e entidades. O Banco de Livros vai funcionar nos mesmos moldes dos outros 13 Bancos Sociais existentes, transformando o desperdício em benefício social. Os volumes vão ser usados para a montagem de novas bibliotecas em comunidades carentes, presídios, cidades sem biblioteca. "A idéia é levar livro para quem quer ler. Todos nós temos livros que estão só ocupando espaço em casa. Temos que colocar todo este conhecimento para circular e o Banco de Livros é a melhor maneira de fazer isto", entusiasma-se o presidente Waldir da Silveira.




Galeria de Fotos Banco de Livros


















quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ilustração com temática leitura

Fui buscar mais informações sobre o escritor Jonas Ribeiro na internet. Acabei achando muita coisa interessante sobre o próprio Jonas e de mais pessoas. Navegando na página adorei as ilustrações com a tématica leitura feitas por diversos ilustradores nacionais. Vejam abaixo as ilustrações que tirei do site do escritor Jonas Ribeiro: http://www.jonasescritor.com.br/


Autoria: Márcia Szélica
Título: Bicho Papão Leitor 02/2009

Autoria: Lúcia Hiratsuka
Título: Menina lendo 04/2009

Autoria: André Neves
Título: Árvore leitura 06/2009

Autoria: Ana Terra
Título: Leitura sideral 07/2009

Autoria: Ivan Zigg
Título: Quatro porquinhos e um livro

Autoria: Claudia Cascarelli
Título: História pra boi e Saci dormirem 07/2010 

Autoria: Marco Antonio Godoy
Título: Naná Bicho-papão 07/2010

Autoria: Flávio Fargas
Título: Menina Lendo 2º semestre/2010 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Livros interativos começam a ser usados na educação de crianças

Matéria publicada em 14/02/2011
Talita Bedinelli

Pedro Henrique Soares, 8, e Lui Furlan, 7, leem na tela do computador um livrinho que explica o significado da palavra "porta". Ficam encantados, não apenas pela história, mas pelos recursos que a acompanham: músicas, narração, vídeo e um "quiz" sobre o que leram.


Veja mapa múndi interativo dos biomas

Leitores vorazes dos livros de papel, segundo eles mesmos contam, os dois começam agora a se aventurar pelo mundo da leitura digital.

O colégio onde estudam, o Notre Dame, na zona oeste de São Paulo, adotou na semana passada uma biblioteca virtual de literatura infantil, criada pela editora Callis.

Ela será usada ao menos uma vez por semana com as crianças dos ensinos infantil e início do fundamental.

A biblioteca é a primeira do tipo no Brasil, segundo a Callis. Mas outras editoras, de olho no crescimento do uso de tablets tipo iPad, também investem em livros digitais para o público infantil, que vão além da simples digitalização do livro impresso.

O objetivo das editoras é criar livros mais interativos: além de poder virar a página e colori-las com o mouse, os leitores podem ouvir músicas e a narração das historinhas. Em versões para iPads, as crianças podem tocar na tela do dispositivo e mover os personagens, por exemplo.

Na última Bienal do Livro, em agosto, a Globo Livros lançou "A Menina do Narizinho Arrebitado", de Monteiro Lobato, em uma versão de aplicativo para iPad.

Com ilustrações atraentes, o livro permite que, com um toque, a criança mude letrinhas de lugar, faça a personagem espirrar ou toque um gongo para que apareça na tela um exército de grilos.

A Abril Educação também lançou em aplicativos similares dois livros de Walcyr Carrasco no final do ano passado. Em "Meus Dois Pais", a criança pode "montar" um retrato da própria família e, em "A Ararinha do Bico Torto", é possível pintar a ave.

As opções tendem a aumentar neste ano. A Zahar afirma que está estudando projetos de livros digitais mais interativos, assim como a editora Melhoramentos, que está desenvolvendo 12 livros em formato aplicativo, afirma Breno Lerner, superintendente da editora.

Ele acredita que os livros digitais interativos podem despertar o interesse da criança pela literatura.

LIVRO COMPLEMENTAR

Educadores ouvidos pela Folha dizem, entretanto, que o uso desses dispositivos requer cuidado: como funcionam como uma proposta diferente da do livro de papel, não devem substituí-lo. Os dois devem conviver.

A escola deve manter e estimular a ida das crianças à biblioteca tradicional. E os pais não podem trocar a leitura de historinhas em livro de papel pelas do iPad.

"É a emergência de outro tipo de mídia, que dá a possibilidade de usar outro suporte, como som, música. Mas o importante é saber lidar com a diversidade", afirma Maria José Nóbrega, assessora pedagógica de literatura da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e de colégios particulares.

Segundo ela, o livro digital, com recursos que simulam barulhos ou ações do personagem, acabam não permitindo que a criança imagine o que está lendo e exerça a criatividade, por isso é importante manter a leitura do livro de papel.

Ilan Brenman, doutor em educação pela USP e escritor de livros infantis, acredita que o livro digital interativo se aproxima mais da linguagem da televisão, do cinema e dos jogos eletrônicos.

"Quando você dá um iPad para a criança, ela brinca com aquilo. Leitura não é exatamente o que ela está querendo", afirma.

Fonte: Folha.com

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Como despertar o interesse pela leitura

Matéria publicada em 25/01/2011

Redação Pritt

Foto: Jack Horst

Iniciar as crianças no mundo da leitura é papel dos pais e dos professores. A psicopedagoga Marcia Zebini, de São Paulo, explica que narrar histórias, interpretar, passear por bibliotecas e livrarias pode ser um ótimo começo para construir, tijolinho por tijolinho, um leitor apaixonado

Contar histórias é uma boa forma de incentivar a leitura?
Sim. Os pais devem ler para os filhos desde que são bebês. Isso estimula a parte criativa, percepção auditiva.

Na idade escolar, a partir de 6 anos, quando a criança tem contato com o livro, é importante que o adulto ajude no entendimento do que é lido.

Em muitos casos, a criança tem dificuldade de compreensão. Ler como eles motiva muito. Outra coisa que dá muito resultado é levar os filhos a bibliotecas, eventos com presença de autores e espaços infantis nas livrarias, onde elas possam escolher os livros.

Se os pais tiverem o hábito de ler pode ajudar?
Sim, porque você educa pelo exemplo. Muitas vezes, as crianças têm problemas na escola e com a leitura porque tem problemas familiares e emocionais. E quando os pais mudam a conduta e lêem junto com os filhos, melhora também o relacionamento entre eles. A partir do momento que o adulto para a correria, lê com o filho e interpreta, ele dá atenção, carinho, amor.

Como o livro deve ser trabalhado na escola?
Nas salas de aula, tem que ter um cantinho da leitura para que os alunos possam pegar um livro quando terminarem os exercícios. Se o professor sugerir uma leitura, faça um círculo, peça para cada um ler um trecho, faça perguntas, interprete. Isso vai desenvolver o senso crítico dos alunos. Caso contrário, eles não saberão interpretar o que estão nas entrelinhas do texto.

Você é a favor de ter uma avaliação sobre o livro?
Sou contra. Existem muitas maneiras de verificar se o aluno leu ou não o livro e acho que a prova desestimula. Nas primeiras séries, acho importante leitura em grupo, em círculo. Depois do sexto ano em diante, concordo que possa ter uma avaliação, mas isso não deve ter um peso muito grande. Pedir para dramatizar uma obra, por exemplo, é uma boa atividade.

Como estimular os alunos a freqüentarem mais a biblioteca?
Para tudo, a gente precisa de um modelo. Então, primeiro o pai e a mãe devem levá-los. Tem bibliotecas que podem ser um ótimo passeio. Eles podem ir, levar o livro para casa, ler com o filho e devolver depois. Dá trabalho, mas é uma forma de conhecer o espaço. Tem que mostrar para a criança que a biblioteca é um lugar que ela possa recorrer. O professor deve ir com a turma para a biblioteca, explicar como é o espaço, estimular os alunos a pegarem livros. Só assim eles vão conhecer o espaço e passar a frequentá-lo.

Fonte: Blog Pritt

Frase leitura

"Se os pais tiverem o hábito de ler e aprender coisas novas, há grande possibilidade de os filhos trilharem o mesmo caminho"

Cássia Urbano Gallo
Licenciada em Educação Artística e com Especialização em Psicopedagogia pelo Instituto "Sedes Sapientiae"

Como os pais podem ajudar na aprendizagem dos filhos

"Alunos que leem mais têm desempenho melhor, importando pouco o que leem: a correlação é observada para livros, jornais e revistas. Alunos que tiveram pais que leram para eles na tenra infância têm melhor desempenho"

Photoalto/Getty Images
As boas escolas ensinam, mas só quem pode educar para a vida são os pais

Os pais zelosos costumam fazer grandes esforços pela educação de seus filhos. Têm razão. Há poucas áreas da vida de uma pessoa que não são direta e positivamente influenciadas pela sua educação. Estudo aumenta a renda, reduz a criminalidade e a desigualdade de renda, tem impactos positivos sobre a saúde e diminui até o risco de vitimização pela violência urbana. Muitos pais, porém, concentram seus esforços no lugar errado: procuram escolas caras, com instalações vistosas e tecnologicamente avançadas, e entopem seus filhos de atividades extracurriculares. A pesquisa empírica, ainda que esteja longe de poder prescrever um mapa completo de tudo aquilo que os pais podem fazer para que seus filhos cheguem a Harvard, já identifica uma série de fatores importantes (e outros irrelevantes) para o sucesso acadêmico das crianças.

Comecemos pelo início. Ou, aliás, antes dele: na escolha do(a) parceiro(a). As pesquisas revelam que o fator mais importante para o aprendizado das crianças é o nível educacional de seus pais. A escolarização dos pais é mais importante do que a escolarização dos professores (três vezes mais, para ser exato) e do que qualquer outra variável ligada à educação — inclusive a renda dos pais (um aumento de um ano da escolaridade dos pais tem impacto nove vezes maior sobre a escolaridade dos filhos do que um aumento de 10% da renda). Não é que a renda dos pais não seja importante: ela é, sim, em todo o mundo. Mas a escolaridade é mais. Muito do que atribuímos ao nível de renda dos pais é, na verdade, determinado por seu nível educacional, pois pessoas mais instruídas acabam ganhando mais dinheiro.

Nascido o filho, uma boa notícia: não há, que eu saiba, comprovação de que os métodos de aceleração de desenvolvimento cognitivo para bebês, sejam eles quais forem, tenham qualquer impacto. Alguns, como a linha de produtos Baby Einstein, por exemplo, foram recentemente identificados como tendo inclusive uma relação negativa com o desenvolvimento vocabular. As pesquisas também vêm demonstrando que não há correlação do QI de uma criança em idade pré-escolar com seu desempenho futuro (a relação começa a aparecer lá pelos 8 ou 9 anos), de forma que não há razão para desespero se o seu filho não estiver fazendo cálculo infinitesimal antes de abandonar as fraldas.

Não há, igualmente, impactos positivos para os bebês que frequentam creches. Há, sim, impactos significativos e bastante relevantes para as crianças que frequentam a pré-escola. Falaremos mais sobre ela no próximo mês, mas quem puder colocar o filho na pré-escola estará dando um importante empurrão ao desenvolvimento do filho, que perdura a vida toda.

Finda a pré-escola, os pais que têm a sorte de poder colocar seus filhos em escolas particulares deparam com a decisão que parece ser a definitiva: em que escola matricular o rebento? A boa notícia é que essa decisão é bem menos importante do que parece. A má é que o trabalho dos pais não termina depois da decisão de onde colocar o filho. Pelo contrário: a pesquisa mostra que aquilo que acontece dentro de casa é mais importante do que a escolha da escola. Um estudo recente, por exemplo, decompôs a diferença de performance entre escolas públicas e particulares no Saeb, teste educacional do MEC, e encontrou o seguinte: nos resultados brutos, a escola particular tem desempenho 50% acima da pública. Porém, quando inserimos na equação o nível de renda dos pais dos alunos, essa diferença cai para 16%. Dois terços da diferença entre escolas públicas e privadas se devem, portanto, não a fatores da escola, mas do alunado. (Esse estudo e todos os outros mencionados neste artigo estão disponíveis em twitter.com/gustavoioschpe.)

Isso não quer dizer que a escola não importa, obviamente. Ela importa, e muito. Mas as diferenças mais importantes são entre sistemas escolares de países ou regiões diferentes. Dentro do mesmo sistema, em termos de aprendizagem, as diferenças são menos importantes do que a maioria imagina. Para os pais preocupados em escolher a melhor escola possível para o sucesso acadêmico do seu filho, o Enem é um bom sinalizador. Não é uma ferramenta definitiva, já que a participação no exame é opcional, produzindo uma amostra não aleatória, mas é um bom começo. Para escolas com resultados parecidos no Enem, usaria, como critério de “desempate”, as práticas consagradas de sala de aula e os critérios de formação de professores e gestores detalhados na trilogia publicada neste espaço nos últimos meses.

O mais importante que os pais podem fazer, porém, está dentro de casa, diuturnamente. O acesso e o apreço a bens culturais, especialmente livros, são fundamentais. A quantidade de livros que o aluno tem em casa é apontada, em diversos estudos, como uma das mais importantes variáveis explicativas para seu desempenho. É claro que não basta ter livros: é preciso lê-los, e viver em um ambiente em que o conhecimento é valorizado. Alunos que leem mais têm desempenho melhor, importando pouco o que leem: a correlação é observada para livros, jornais e revistas. Alunos que tiveram pais que leram para eles na tenra infância têm melhor desempenho. Pais envolvidos com a vida escolar dos filhos e que os incentivam a fazer o dever de casa têm impacto positivo (curiosamente, o envolvimento dos pais no ambiente escolar tem se mostrado irrelevante). Porém, pais que fazem o dever de casa com (ou pelo) seu filho provocam piora no desempenho acadêmico, por melhores que sejam as intenções.

Morar perto da escola ajuda. Em uma resenha de oito estudos sobre o tema, os oito indicaram relação negativa entre distância casa-escola e aprendizado dos alunos. Talvez essa relação influencie outro detrator do aprendizado: o absenteísmo. Aluno que falta à aula é, em geral, aluno que aprende menos. Outro fator negativo é o trabalho: alunos que trabalham além de estudar aprendem menos. Infelizmente não conheço estudos sobre o impacto do trabalho nos alunos universitários, mas aposto que parte da enorme diferença de qualidade entre as universidades brasileiras e as americanas se deve ao ambiente de dedicação exclusiva que estas conseguem impor aos seus alunos.

Ter computador em casa também tem resultados mensuráveis sobre o aprendizado. Quem pode comprar um que o faça.

Finalmente, falemos sobre aspectos psicológicos. Um dos grandes esforços dos pais modernos é aumentar a autoestima de seus filhos. Na educação, seu impacto é incerto: de catorze estudos analisando o assunto, só em metade se viu relação positiva entre autoestima e aprendizado. Em outro estudo, descobriu-se que o impacto do desempenho acadêmico é três vezes mais importante que a autoestima do jovem do ensino médio para a determinação do seu salário quando adulto.

Os fatores que têm impacto sobre o aprendizado são outros: gostar de estudar, ter maior motivação, aspirações de futuro mais ambiciosas, persistência e consistência são todas variáveis que estão correlacionadas a melhores notas. Os pais não podem incutir em seus filhos todas essas virtudes (e a interessante discussão sobre quanto controle os pais têm sobre o destino de seus filhos é tema para artigo futuro), mas há muito que podem fazer para criar ambientes domésticos mais propícios ao surgimento ou fortalecimento dessas características.

Por fim, duas ressalvas. Ser bom aluno não significa ser feliz ou bom cidadão ou quaisquer outras virtudes que são tão ou mais desejadas pelos pais que o sucesso acadêmico dos filhos. Elas simplesmente não estão mencionadas aqui porque não constituem minha área de estudo. Segundo, talvez falte nessa lista — por ser simplesmente imensurável — aquilo que de mais importante um pai pode dar a seu filho: amor.

Fonte: Veja

365 dias de incentivo à leitura


Diz a lenda que, em Buenos Aires, o leitor não precisa sair em busca dos livros; eles mesmos se encarregam de ir ao encontro dele. A mais literária das cidades latino-americanas tem motivos de sobra para festejar o ano de 2011: no próximo 23 de abril, passa a ser Capital Mundial do Livro, título conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) às cidades que se candidatam a esta designação e são consideradas merecedoras. Apenas um município é escolhido anualmente. Ao longo de 12 meses – até 23 de abril de 2012 –, o mundo editorial será a grande estrela em Buenos Aires. A capital, que já tem uma rica agenda anual de eventos de literatura e poesia, será palco de inúmeras manifestações para celebrar a nomeação: seminários sobre tradução, leitura digital e autores; semanas de livrarias nos bairros; tertúlias literárias em bares e hotéis; festivais de literatura fantástica e poesia são algumas das atividades previstas.

Em vigor desde 2001, a distinção outorgada pela Unesco é alvo de acirrada disputa entre cidades do mundo todo. A seleção é realizada por uma comissão que analisa os projetos apresentados, o histórico do setor livreiro e editorial, os programas de incentivo à leitura e à difusão do livro, a agenda anual de eventos, incluindo os festivais e concursos literários promovidos pelo poder público ou pela iniciativa privada. A escolha não implica prêmio material, mas é um reconhecimento simbólico à trajetória livreira. “Esta nomeação é uma merecida homenagem aos nossos escritores, livreiros, editores, tradutores, educadores e a todos aqueles que trabalham por amor à palavra”, afirmou o secretário de Cultura de Buenos Aires, Hernán Lombardi. Ele sublinhou que a cidade almejava conquistar o título especialmente em 2011, porque neste ano se celebra o 200º aniversário do Decreto e Regulamento sobre a Liberdade de Imprensa, assinado logo após a independência da Argentina, em 1810. O decreto foi o marco inicial da transformação de Buenos Aires em centro de efervescência literária.

O livro está tão incorporado na alma dos portenhos que até seria o caso de perguntar se ocupa o mesmo patamar do tango ou do doce de leite. Muitos desfrutam do ócio criativo nos cafés, lendo durante horas enquanto degustam um cortado (café com leite) e saboreiam um pãozinho medialuna. Mais de 300 livrarias de todos os tipos e formatos servem a um público fiel e regular. Uma rede de 28 bibliotecas públicas cobre todo o município. Os cafés que fazem parte do programa municipal Yo Leo en el Bar têm alguns títulos à disposição dos clientes. É só pegar, ler e depois colocar de volta na estante. Sem pagar a mais por isso. Um sistema semelhante, mas voltado para as crianças, funciona na área destinada aos equipamentos infantis de algumas praças.

Madri foi a primeira Capital Mundial do Livro. Em seguida vieram Alexandria (Egito); Nova Délhi (Índia); Antuérpia (Bélgica); Montreal (Canadá); Turim (Itália); Bogotá (Colômbia), Amsterdã (Holanda) e Beirute (Líbano). Liubliana foi a última a desfrutar da nomeação, em 2010. A capital da Eslovênia conclui seu mandato em 23 de abril, quando Buenos Aires dá início ao seu, em cerimônia a ser realizada na Feira Internacional do Livro, que acontece todos os anos na cidade. A data foi escolhida criteriosamente por ser o Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral e lembrar a data de morte de dois grandes da literatura universal: William Shakespeare e Miguel de Cervantes.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uso de gibis em sala de aula incentiva o aprendizado e o gosto pela leitura

Matéria publicada em 7 de outubro de 2010

Por Cleide Quinália Escribano

Há tempos os gibis deixaram de ser apenas uma diversão para a garotada para se tornar também uma ferramenta pedagógica. Cada vez mais presentes em salas de aula, hoje eles são vistos como uma ótima opção para incentivar a leitura em quem está começando a conhecer o mundo das letras. No município de São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal (RN), por exemplo, a Escola Municipal Vicente de França encontrou nos gibis o caminho para estimular o processo de alfabetização das turmas de 1º e 2º ano do ensino fundamental. Adotado há cerca de dois anos pela professora Conceição Lourenço, o projeto Gibiteca Itinerante – Jovens Leitores, implantado na escola, vem apresentando resultados positivos já observados na avaliação dos alunos.

A professora conta que na sua época escolar a leitura de gibis era simplesmente proibida no colégio, mas ela sempre dava um jeito de escondê-los sob os livros na carteira. Com os gibis, Conceição diz que aprendeu o gosto pela leitura, despertou para muitos aspectos da vida pessoal e, atualmente, eles têm uma função importante na sua vida profissional.

“Os gibis são uma excelente ferramenta para incentivar a leitura nas crianças já que elas se identificam com os personagens. “Eles são protagonistas de situações semelhantes a dos leitores. Vão à escola, ao parque, têm medo do dentista e escovam os dentes, brincam, caem, se machucam, têm pai e têm mãe, o que possibilita uma verdadeira identificação dos alunos com a estória”, diz a professora Conceição.

Para ela, o mais interessante do projeto é que as imagens associadas aos textos permitem que o aluno atribua sentido à história, mesmo sem ainda saber ler, fazendo aumentar o seu campo de conhecimento e percepção de vida.

Nas aulas, Conceição conta com o apoio de um grupo voluntário de 12 alunos do 9º ano do ensino fundamental, que juntos com a professora procuram ajudar a criançada no processo de aprendizagem. Ao ver as revistinhas espalhadas sobre as mesas a turma já sabe que é hora de leitura. Alessandra Bernardino, 8 anos, conta que prefere a revistinha da personagem Mônica “porque ela é muito divertida e parece muito comigo”. Já o menino Elizanildo Robert de Calazans, 9, gosta mais do Cebolinha porque ele mexe muito com a Mônica.

Leitura: uma janela que se abre para o mundo

Matéria publicada em 23 de junho de 2010

Por Cleide Quinália Escribano

“Um dos momentos inesquecíveis da vida de qualquer criança é quando, pela primeira vez, ela junta uma letrinha, mais outra, e mais várias delas e começa a… ler! É uma conquista tão importante que será usufruída pelo resto de sua vida e abrirá, a cada dia, uma nova janela para o mundo” – Maurício de Sousa, cartunista e criador da Turma da Mônica.

A exemplo da citação do famoso cartunista, em Niquelândia, interior de Goiás, novas janelas também estão sendo abertas para o mundo de centenas de alunos do Colégio Estadual Coronel Joaquim Taveira. Isso vem sendo possível graças ao projeto de leitura “Igualdade que Promove a Diferença”, criado com o intuito de despertar nos alunos o interesse pela leitura, contribuindo assim para que se tornem leitores hábeis e capazes de interpretar o mundo.

De acordo com a professora Maristela Aidar, diretora do colégio, a ideia de criar um projeto de leitura na escola surgiu em razão da dificuldade que muitos alunos tinham na hora de ler e escrever e que acabava se refletindo no desempenho deles como um todo. “Ler e escrever corretamente precisam ser a base do aprendizado de todo o aluno. Quando um desses pontos primordiais falha (no singular), todo o processo seguinte também fica prejudicado, daí nosso esforço em trabalhar com os alunos essas duas questões”, explica Maristela.

Ela explica que o Colégio há tempos já procurava desenvolver atividades voltadas à leitura, porém agora foi dada uma nova roupagem ao projeto, com metodologias e ações que procuram valorizar os assuntos de interesse dos alunos e despertar, assim, o prazer pela leitura. “Adotamos como primeira etapa uma conversa informal com os estudantes, na qual eles contam quais os tipos de histórias gostam de ler, que tipos de publicações (livros, revistas, gibis etc) têm em casa, se alguém da família costuma ler para eles, entre outras coisas”, conta. “A partir dessas informações, damos início a uma série de atividades abrangendo leitura, interpretação e produção de textos”.

E os frutos desse trabalho já começam a ser colhidos. Segundo a diretora, recentemente representantes da Sub-Secretaria de Educação de Niquelândia estiveram no colégio para aplicar aos alunos do 2º ano do ensino fundamental a prova de sondagem para o Provinha Brasil deste ano e a nota obtida foi 4,5, um ponto a mais do que vinha sendo registrado nos últimos anos (3,5).

Dos gibis às poesias

Um dos focos do projeto é o incentivo à leitura de histórias em quadrinhos, já que esta é uma forma divertida de atrair o interesse dos alunos pela leitura. Este, porém, é apenas o ponto de partida do projeto, que inclui ainda diferentes tipos de publicações e textos como fábulas, clássicos, romances e até poesia.

O projeto também prevê atividades a partir de histórias infantis narradas em CDs e que são recontadas depois pelos próprios alunos. Outra metodologia utilizada são as histórias contadas pelos familiares e amigos mais velhos. “Nessa atividade, os estudantes compartilham com os colegas os relatos colhidos e, muitas vezes, produzem textos a respeito”, conta a professora.

Ainda segundo Maristela, o projeto de leitura não se restringe apenas aos trabalhos desenvolvidos em sala de aula. A idéia é que mesmo fora do ambiente escolar o interesse pela leitura continue vivo no aluno e sirva, inclusive, como estímulo para a participação da família. “Para tanto, criamos uma espécie de “receita para gostar de ler” (veja abaixo), a qual motivamos os alunos a seguir e compartilhamos com a família, que, aliás, “já deu mostras de estar contente com a iniciativa”, comenta.

Confira a receita criada pelas professoras do projeto:

02 visitas semanais a biblioteca do colégio
01 cantinho de leitura em seu quarto
01 visita quinzenal à banca de revista
01 pouco de leitura antes de dormir
01 história por dia para contar ou ouvir dos pais
01 porção de leitura dos rótulos de produtos consumidos pela família