segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Imagens tiradas da internet para repensar a leitura





Pesquisador: impresso ainda é melhor meio de estimular a leitura

As histórias em quadrinhos foram o ponto de partida para que a produtora musical Magali Romboli transformasse a filha em uma leitora assídua. Nada de tablets, computadores e outros estímulos eletrônicos - Melissa Romboli Andriole, 9 anos, ainda prefere passar horas folhando as páginas de um livro. "É muito mais legal do que brinquedo", garante. Mãe e filha não são exceção: na hora de introduzir as crianças ao mundo da leitura, muitos pais abrem mão da tecnologia e continuam recorrendo ao tradicional impresso, medida apoiada por especialistas.

 Melissa Romboli Andriole, 9 anos, prefere passar
horas folhando as páginas de um livro
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Magali conta que começou a estimular a filha ainda bebê, com livros de plástico para brincar na banheira. Aos poucos, o passatempo deu lugar a gibis e livros de história. Recorrer ao impresso foi uma das maneiras que encontrou para evitar que Melissa passasse o dia todo em frente ao computador e à televisão. "Talvez essas ferramentas não façam mal agora, mas como saber seu efeito quando ela tiver 50 anos?", questiona.

A preocupação com a saúde não é o único motivo pelo qual o impresso reina na casa da família. Segundo Magali, uma das grandes vantagens do livro em papel é a possibilidade de compartilhar histórias. De tempos em tempos, elas doam alguns exemplares para crianças carentes. "A Melissa pega livros emprestados da escola, leva o que está lendo em casa, comenta com colegas e com a professora. No tablet, você baixa o arquivo, outra pessoa baixa outro. Não é uma relação entre pessoas, é uma relação entre tecnologias", reflete.

Segundo o professor do Centro de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcello Barra, o livro impresso continua decisivo na formação de crianças e jovens. "Por ter muito mais estímulos, a mídia eletrônica dispersa quem está começando a ler. O saber e a profundidade são maiores no livro convencional", afirma. Barra explica que as possibilidades abertas pelo tablet podem estimular a criança a buscar novos conteúdos, em vez de se ater àquilo que está lendo. "O resultado é um conhecimento superficial. Os eletrônicos são uma raiz muito longa, mas não muito profunda. Eles são complementares. Nessa fase, incentivar a leitura por meio do impresso é o melhor meio de desenvolver a concentração", enfatiza.

Férias são uma boa época para estimular a leitura
Aproveitar o tempo livre é uma boa saída para desenvolver o gosto pelas obras literárias. Vale recorrer desde a séries infantis até ao gibi, aliado de Magali na formação da filha. "A linguagem objetiva das historinhas da Turma da Mônica ajudou a Melissa no início. Depois, para melhorar o repertório, pegamos livrinhos de histórias", conta.

O momento também é bom para fazer passeios culturais. "A melhor coisa é levar os filhos às livrarias, que cada vez mais têm seções voltadas a crianças e adolescentes. Lá, devem ajudá-las a escolher seus próprios livros", aconselha o professor. As bibliotecas públicas também podem estar no roteiro de férias. "Os pais devem dar o exemplo. É muito mais fácil a criança gostar de ler se ela está acostumada a ver os pais lendo", diz.

Outra alternativa para o período e que pode ser levada adiante durante o ano todo são as rodas de história. Segundo Barra, reunir a família é uma das melhores formas de instigar a curiosidade dos pequenos. "O ambiente familiar é muito rico e influencia muito na formação da criança", diz. 

Fonte: Terra

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Cartaz de Incentivo à Leitura - Biblioteca Pública Municipal Prof. Benito Caliman

Gostaria de Parabenizar a Bibliotecária Sandra Küster e sua equipe da Biblioteca Municipal Prof. Benito Caliman pela iniciativa. A Biblioteca é seguidora de nosso blog. Parabéns!!

Fonte: Blog da Biblioteca Prof. Benito Caliman

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Livro, para que te quero?


Foruns de literatura na internet, saraus na periferia e sebos com preços reduzidos tentam promover democratização da cultura e revelam carências da educação

SYLVIA MIGUEL

Bem-vindo ao Bookcrossing, onde 631.184 pessoas em 130 países se encontram para dividir com o mundo a paixão por livros. Essa é a chamada de abertura da página de uma comunidade da internet que se propõe a reunir pessoas que amam livros e amam dividir. Qualquer um pode simplesmente criar um perfil ou mesmo montar uma crossing zone (zona oficial de troca), que funciona como um tipo de prateleira em espaço público na qual é possível pegar ou deixar um livro para que outras pessoas tenham acesso à leitura gratuitamente.

O destino de cada exemplar fica nas mãos do acaso. Mesmo assim é possível seguir suas pegadas e saber um pouco sobre a obra e seu paradeiro através de um número de identificação e, principalmente, dos comentários deixados no site pelo leitor bookcrosser. O mais viajado é escrito em alemão, já passou por 295 pessoas e tem 30 páginas só com figuras: Der seltsame Bücherfreund, de Annetta Hoffnung.

Há exemplares que viajam o mundo. Um leitor pegou um livro na Austrália e acaba de disponibilizá-lo aqui no Brasil. A própria trajetória do livro vira uma história à parte, diz Helena Vitória Diniz Castello Branco, gestora cultural de uma zona oficial de troca de livros do Bookcrossing que começou a funcionar num restaurante da Vila Madalena, em São Paulo.

Enquanto a comunidade virtual funciona como fórum de discussão sobre literatura em geral, o projeto começou a engatinhar no Brasil como forma de democratizar o acesso à leitura. Ex-aluna do curso de Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Helena conta que a idéia de introduzir o Bookcrossing no Brasil foi a maneira que encontrou de aplicar os conceitos aprendidos no curso.

Incentivar a cultura implica promover valores como a cidadania, e não focar apenas o lucro ou dar uma abordagem mercadológica à cultura. Há muitos que se aproveitam dos benefícios de algumas leis apenas para ter abatimento em impostos, diz Helena. Acredito que muita gente não tem contato com a cultura porque um show, um CD ou um livro custam caro. Daí a idéia de promover algo gratuito, que fosse fácil de fazer e que promovesse a troca.

E se um leitor se apropriar do livro ou mesmo vendê-lo e não deixar qualquer comentário no site? É um risco. Há lugares onde as pessoas entregaram o livro em seções de achados e perdidos porque não conhecem o projeto. Por isso, além dos selos de identificação do Bookcrossing, coloquei outro explicando a idéia, afirma a gestora. Para ela, ainda que a pessoa se aproprie do exemplar e não o coloque novamente em circulação, o processo já terá valido para alguma coisa desde que o livro seja lido.

Resistência

Se a internet é um espaço democrático, o que se pode dizer de um bar? Alguns deles têm se transformado em verdadeiros pontos de encontro para saraus de literatura, música e teatro. Essas iniciativas têm proliferado especialmente na periferia de São Paulo. Na segunda-feira da semana passada, o Sarau do Binho agitou um bar na região de Campo Limpo com poesia e música (leia endereços abaixo).

Já o Sarau da Cooperifa tem revelado autores em publicações marginais e também por meio da Global Editora, que, entre outros alternativos, publicou O colecionador de pedras, de Sérgio Vaz. Outra iniciativa vem do Centro Educacional Unificado (CEU) Meninos, na zona sul da capital, que durante dois anos promoveu o Sarau Rap e agora planeja abrir para outras manifestações.

Começamos o projeto pela grande quantidade de grupos de hip hop e rap existentes na região de Heliópolis. Estamos planejando um formato mais aberto a outras linguagens, como literatura, teatro e dança. A idéia é promover um intercâmbio de experiências culturais, diz Fabiano Pedrosa, coordenador de projetos culturais do CEU Meninos.

Contra a fotocópia

Promover o acesso à leitura tem sido também o papel de livreiros de sebos. Pelo menos para aqueles que se consideram militantes culturais. Há vinte e um anos para ser mais preciso, desde 8 de março de 1987. Raul Amaro Piegas abriu sua banca no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Hoje expõe parte do estoque de 3 mil livros em frente à entrada do Restaurante Central, junto aos blocos do Conjunto Residencial da USP (Crusp).

O que faço é uma campanha contra a fotocópia, pois nenhum livro meu custa mais que R$ 0,05 a página, enquanto uma cópia xerox sai por R$ 0,12. A fotocópia fere o direito do autor e promove a fragmentação da cultura, defende. Morador de um sítio, conta que sua atividade é um trabalho de militância, pois não lhe rende nada. Sobrevivo porque não tenho compromisso com nada nem ninguém. Tudo o que os livros me dão é a liberdade e o conhecimento, diz.

Jornalista formado pela ECA, Silvio Diogo Lourenço dos Santos vende livros num sebo montado no saguão da FFLCH. Considero que essa é uma função de comunicação. Presto um serviço para estudantes, professores e funcionários e, indiretamente, para a Universidade, diz. Os livros e a leitura são ferramentas essenciais ao desenvolvimento da percepção, da sensibilidade, da reflexão e do senso crítico, o que apenas o ensino formal não é capaz de proporcionar. Silvio ressalta que não é contrário à fotocópia, mas acredita que depender dela fragmenta o conhecimento. A pesquisa de um autor ou de um livro subentende autonomia, maior amplitude e profundidade do conhecimento, defende.

O vendedor também milita do outro lado do balcão. É autor do livro de poesias Desenho do chão, que será lançado em breve pela editora Toró (informações pelo e-mail edicoestoro@yahoo.com.br). Essa editora está ligada a um movimento de democratização do acesso à cultura na periferia de São Paulo e já lançou 11 títulos de autores alternativos a preços populares. Acho que é uma forma de o livro circular onde normalmente a cultura não seria acessada, afirma. 

Iniciativas são positivas, mas não abrangentes, diz professor

O poeta gaúcho Mario Quintana dizia que o verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê. Para o professor Vitor Henrique Paro, da Faculdade de Educação da USP, a falta do hábito de leitura entre os brasileiros é mais grave do que parece, pois os potenciais leitores que freqüentaram escolas e são até pós-graduados não lêem. É fato que grande parte da população não tem acesso a bens culturais. Porém, pior é ter acesso e não usufruir.

Vitor Paro: “A escola deveria ser um lugar de brincadeira e prazer. Porém, é onde as pessoas acabam odiando ler e escrever”
Na visão de Paro, esse comportamento reflete uma sociedade que não exige indivíduos cultos. Além disso, as escolas não se ocupam em educar, mas em passar informações e conhecimento. Educar implica ensinar valores, comportamentos e crenças.

Parte do problema está no formato em que se estrutura o modelo educacional brasileiro. A escola deveria ser um lugar de brincadeira e prazer. Porém, é onde as pessoas acabam odiando ler e escrever. O modelo escolar tem cinco séculos de atraso e está mais antenado com a Idade Média, critica. 

As políticas públicas culturais deveriam mudar esse estado de coisas, defende. As iniciativas populares revelam justamente a falta de ação do Estado. As pessoas ou organizações não-governamentais buscam preencher essa lacuna. Essas medidas, embora positivas, são pontuais e têm efeito apenas local. Precisamos de algo mais abrangente. 

Se a ação governamental revela a direção das políticas públicas, por que não criar a obrigatoriedade de salas de leitura em locais públicos, como é o caso das áreas reservadas a fumantes?  pergunta o professor. Salas de consultório médico ou outros locais públicos onde há televisores em volume altíssimo que atrapalham a leitura das pessoas constituem uma ditadura. O empresário de visão deveria dar mais importância para essa realidade.


Sarau do Binho
Às segundas-feiras, às 20h30. Rua Avelino Lemos Jr., 60, Campo Limpo. Fones (11) 5844-6521 e 5844-4532. 

Sarau da Cooperifa
Às quartas-feiras, às 20h. Bar do Zé Batidão. Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Chácara Santana. Fone (11) 5891-7403.

CEU Meninos
Rua Barbinos, 111, São João Climaco. Fones (11) 6945-2552 e 6945-2559.

Sebo do Raul
Espaço de convivência do Crusp, na Cidade Universitária.

Sebo do Silvio
Espaço de convivência do prédio de História, na FFLCH, na Cidade Universitária.

Zona Oficial de Troca de Livros do Bookcrossing
Central das Artes. Rua Apinagés, 1081. Fone (11) 3865-4165. Na internet: www.bookcrossing.com.

Fonte: Jornal da USP

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Livros e quebra-cabeças reduzem proteína relacionada com Alzheimer

As pessoas que mantêm o cérebro ativo durante toda a vida com atividades cognitivamente estimulantes como leitura, escrita e jogos têm menores níveis de proteína beta amiloide, vinculada com o Mal de Alzheimer, indicou um estudo publicado na edição digital da revista Archives of Neurology.

A proteína em questão forma placas senis no cérebro dos pacientes com Alzheimer ao concentrar-se e afetar a transmissão entre as células nervosas do cérebro.

Embora estudos anteriores já tenham sugerido que realizar atividades mentais poderia contribuir para evitar o Alzheimer na idade adulta, esta nova pesquisa identifica o fator biológico, o que pode ajudar a desenvolver novas estratégias para os tratamentos.

"Mais que simplesmente proporcionar resistência ao Mal de Alzheimer, as atividades de estímulo do cérebro podem afetar um processo patológico primário da doença", indicou um dos principais envolvidos no estudo, William Jagust, professor do Instituto de Neurociência da Universidade da Califórnia.

Isto indicaria que o tratamento cognitivo "pode ter um importante efeito 'modificador' da doença se forem aplicados os benefícios do tratamento com suficiente adiantamento, antes que apareçam os sintomas", explicou.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta principalmente os adultos de idade avançada. Seu principal sintoma é a perda de memória, que tem como consequência a demência.

Os pesquisadores pediram a 65 adultos sãos, cognitivamente normais e maiores de 60 anos, que indicassem a frequência com a qual participaram de atividades mentais como ler livros e jornais e escrever cartas ou e-mails. As perguntas foram focadas em vários pontos da vida desde os 6 anos até a atualidade.

Os participantes fizeram testes neuropsicológicos amplos para avaliar sua memória e outras funções cognitivas, além de terem se submetido a scanners cerebrais e a um exame desenvolvido no Laboratório de Berkeley a fim de visualizar as proteínas beta amiloides.

Os pesquisadores compararam os resultados dos indivíduos sãos com os de 10 pacientes diagnosticados com Alzheimer e os de 11 pessoas sãs de 20 anos, descobrindo uma associação significativa entre os níveis mais altos da atividade cognitiva durante toda a vida e níveis baixos da proteína.

"Esta é a primeira vez em que o nível de atividade cognitiva se relaciona com a acumulação de beta amiloide no cérebro", assinalou Susan Landau, pesquisadora do Instituto de Neurociência Helen Wills e do Laboratório de Berkeley (Califórnia).

"A acumulação dessas proteínas provavelmente começa muitos anos antes do aparecimento dos sintomas. O início da intervenção pode ser muito antes, e é por isso que estamos tentando identificar se os fatores de estilo de vida podem estar relacionados com as primeiras mudanças", explicou Susan.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Leitura - Caminhos da Reportagem

(08/12/2011)

O Caminhos da Reportagem mostra os passos de quem dedica tempo e energia para formar um país de leitores. O programa revela projetos inusitados de escritores, pedagogos, instituições públicas e privadas no esforço conjunto de incentivar o hábito da leitura.

O programa também discute qual o papel da escola e da família? E mostra os livros que ganham as ruas com iniciativas dos militantes da palavra: em bicicletas, feiras ou nas bibliotecas montadas em borracharia, presídio, posto de gasolina e até nas paradas de ônibus.

Em São Paulo, a equipe de reportagem visita o Museu da Língua Portuguesa, que se tornou um dos mais modernos e visitados do Brasil. É a literatura dialogando com as novas tecnologias. Em Itabira, Minas Gerais, os integrantes do projeto social Drummonzinhos declamam a obra de Carlos Drummond de Andrade e encantam o público com os versos do nosso poeta maior.

http://tvbrasil.org.br/caminhosdareportagem/

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Onde comprar estantes de livros?

Autor(es): Cláudio de Moura Castro

Veja - 10/01/2012

Em 1970, voltando do meu doutoramento, comecei a montar casa no Rio de Janeiro. Logo notei que as lojas não ofereciam estantes de livros. Havia estames de tudo, menos de livros. Diante do orçamento apertado, descobri uma solução. Por serem feitas em série, escadas de subir em postes de luz são muito baratas. Com elas e mais tábuas - para colocar os livros - resolvi o problema. Quando fui morar em Brasília, em 1980, foi a mesma coisa, pois nas lojas só havia estantes profundas, para jarras ou processos administrativos. Para livros, nem pensar. Comprei sólidas tábuas de mogno e fiz minha linda estante. Recentemente, com mudanças de escritório, precisei novamente de estantes. Debalde, peregrinei por Tok & Stok, Ema, Walmart e Leroy Merlin. Eram as mesmas de antes, para bibelôs e jarros. Para livros, ou são horrendas e mal-acabadas (para bibliotecas públicas e feitas de chapa de metal) ou são os precários trilhos verticais, com mãos francesas de encaixe duvidoso. Acabei comprando gôndolas de quitanda, no mesmo gênero, mas um pouquinho mais robustas. Por desfastio, busquei também no site do Magazine Luiza, encontrando centenas de estantes mas nem uma só para livros (a maioria era para TV).

Como os donos dessas empresas não são tontos, é inevitável concluir que, se não oferecem boas estantes, é porque não há compradores. Ou seja, o brasileiro frequentador dessas lojas não possui o volume de livros que provocaria a demanda por elas. Os poucos que precisam de estantes mais avantajadas se entendem com seu marceneiro e pagam as comas, também mais avantajadas. Triste constatação, pois não? E como será no mundo mais rico? Apenas para ter gosto. Digitando a palavra bookcase, aparecem 725 itens. Há um número para cada cor, aparecendo também acessórios e modelos menos apropriados para livros. Por seguro, digamos que•existem mais de 300 modelos de estantes para livros. A comparação é escandalosa.

Falando de estantes de livros, em uma área rural da Islândia, uma casa de camponeses modestíssimos foi transformada em um museu sobre os hábitos e os estilos de vida locais. Mostra a casa como estaria por volta de 1920, austera e espartana, como tudo no país. Chamou atenção a biblioteca do dono. A estante, mais alta do que eu e com um bom metro e meio de largura, estava repleta de livros, com o desgaste que corresponde ao uso frequente. Quem já viu estante de livros nas aristocráticas fazendas brasileiras? Na realidade, os islandeses estão entre os leitores mais furiosos, comprando oito livros por pessoa/ano e os domicílios abrigando uma média de 338 livros. Na Austrália e na Nova Zelândia, acima da metade dos lares tem mais de 100 livros.

Como serão os hábitos de leitura dos brasileiros? Os resultados não são nada lisonjeiros. A média brasileira é de 1,8 livro lido por habitante/ ano. Isso se compara com 2,4 para nossos vizinhos colombianos, cinco para os americanos e sete para os franceses.

Diriam os cínicos, e daí? Um passatempo como outro qualquer. Infelizmente, não é assim. Uma pesquisa em 27 países mostrou que a biblioteca familiar se correlaciona mais com bons resultados na educação do que a própria escolaridade dos pais.

Uma biblioteca de 500 livros se associa a acréscimos de escolaridade que vão de três a sete anos. Segundo os autores, "uma casa onde os livros são valorizados fornece às crianças ferramentas que são diretamente úteis no aprendizado escolar...". E tem mais, leitores mais assíduos visitam mais museus, fotografam mais e, surpresa, praticam mais esportes.

A revista The Economist inventou uma brincadeira que era avaliar o realismo das taxas de câmbio pela diferença de preço dos hambúrgueres no McDonald"s, já que em todos os países ele é o mesmo sanduíche detestável. Surpresa! O "índice do hamburguer" revelou-se uma medida respeitável e tem vida longa. Quem sabe, além do Pisa, não poderíamos passar a medir educação e hábitos de leitura por uma simples pesquisa nos sites das lojas de móveis? Bastam alguns minutos. Isso é fácil, difícil será mudar essa triste situação.

Fonte: Veja

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sobre a leitura nas férias

"Nas férias, é preciso ler livros grandes, Madariaga. Livros gigantescos, cheios de personagens, livros que pareçam viagens. Então você terá férias duplas." (Via essa garota Clarice Cardoso, no Facebook)

Fonte: A Biblioteca de Raquel - Raquel Cozer

Na era da globalização, o que deveríamos ler?

Umberto Eco
Professor de semiótica, crítico literário e romancista. Entre seus principais livros estão "O Nome da Rosa" e o "Pêndulo de Foucault".

“O Cânone Ocidental” de Harold Bloom define o cânone literário como “a escolha de livros em nossas instituições de ensino”, e sugere que a verdadeira questão que ele suscita é: “o que o indivíduo que ainda deseja ler deveria tentar ler, a essa altura da História?” E ele observa que, na melhor das hipóteses, dentro do tempo de uma vida é possível ler somente uma pequena fração do grande número de escritores que viveram e trabalharam na Europa e nas Américas, sem contar aqueles de outras partes do mundo. Mesmo nos atendo somente à tradição ocidental, quais são os livros que as pessoas deveriam ler? Não há dúvidas de que a sociedade e a cultura ocidentais foram influenciadas por Shakespeare, pela “Divina Comédia” de Dante, e – voltando atrás no tempo – por Homero, Virgílio e Sófocles. Mas será que somos influenciados por eles porque os lemos de fato em primeira mão?

Isso lembra o argumento de Pierre Bayard, em “Como Falar Sobre Livros que Você Não Leu”, de que não é essencial ler de fato um livro de capa a capa para entender sua importância. Por exemplo, é nítido que a Bíblia teve uma profunda influência tanto sobre a cultura judaica como sobre a cristã no Ocidente, e mesmo sobre a cultura de não-crentes – mas isso não significa que todos aqueles que foram influenciados por ela a tenham lido do começo ao fim. O mesmo pode se dizer sobre os escritos de Shakespeare ou James Joyce. É necessário ter lido o Livro dos Reis ou o Livro dos Números para ser uma pessoa culta ou um bom cristão? É necessário ter lido Eclesiastes, ou basta simplesmente saber em segunda mão que ele condena a “vaidade das vaidades”?

Sendo assim, a questão do cânone não é homóloga à do currículo escolar, que representa o conjunto de obras que um estudante deverá ter lido ao fim de seus estudos. Hoje o problema é mais complicado do que nunca e, durante uma recente conferência literária internacional em Mônaco, houve um debate sobre o lugar do cânone na era da globalização. Se roupas de marca “europeias” são produzidas na China, se usamos computadores e carros japoneses, se até em Nápoles comem hambúrgueres em vez de pizza – resumindo, se o mundo encolheu a dimensões provincianas, com estudantes imigrantes em todo o mundo pedindo para aprender sobre suas próprias tradições – então como será o novo cânone?

Em certas universidades americanas, a resposta veio na forma de um movimento que, mais do que “politicamente correto”, é politicamente estúpido. Como temos muitos estudantes negros, algumas pessoas sugeriram ensinar-lhes menos Shakespeare e mais literatura africana. Uma ótima piada à custa de todos aqueles jovens destinados a saírem pelo mundo sem entender referências literárias universais como o solilóquio do “ser ou não ser” de Hamlet – e, portanto, condenados a permanecerem à margem da cultura dominante. Se tanto, o cânone existente deveria ser expandido, e não substituído. Como foi sugerido recentemente na Itália, a respeito de aulas semanais de religião nas escolas, os estudantes deveriam aprender algo sobre o Corão e os ensinamentos do Budismo, bem como sobre os Evangelhos. Assim como não seria mau se, além de suas aulas sobre a civilização grega antiga, os estudantes aprendessem algo sobre as grandes tradições literárias árabe, indiana e japonesa.

Não faz muito tempo, fui a Paris para participar de uma conferência entre intelectuais europeus e chineses. Foi humilhante ver como nossos colegas chineses sabiam tudo sobre Immanuel Kant e Marcel Proust, sugerindo paralelos (que poderiam estar certos ou errados) entre Lao Tsé e Friedrich Nietzsche – enquanto a maioria dos europeus entre nós mal conseguia ir além de Confúcio, e muitas vezes com base somente em análises em segunda mão.

Hoje, no entanto, esse ideal ecumênico esbarra em certas dificuldades. Você pode ensinar a jovens ocidentais a “Ilíada” porque eles ouviram algo sobre Heitor e Agamêmon, e porque seus rudimentos de cultura incluem expressões como “o julgamento de Páris” e “calcanhar de Aquiles” (embora em um recente exame de admissão de uma universidade italiana um candidato tenha pensado que o termo “calcanhar de Aquiles” se referia a uma doença, como cotovelo de tenista). Ainda assim, como conseguir fazer com que esses estudantes se interessem pelo poema épico sânscrito “O Mahabharata”, ou pelos poemas dos “Rubaiyat de Omar Khayyam” de forma que essas obras permaneçam em suas memórias? Será que realmente podemos adaptar o sistema educacional a um mundo globalizado quando a vasta maioria dos ocidentais cultos ignora totalmente que, para os georgianos, um dos maiores poemas na história literária é “O Cavaleiro na Pele de Pantera” de Shota Rustaveli? Quando acadêmicos não conseguem nem concordar se, na versão georgiana original, o cavaleiro do poema está na verdade usando uma pele de pantera e não de tigre ou de leopardo? Chegaremos sequer a esse ponto, ou continuaremos simplesmente a perguntar: “Shota o quê?”
Tradução: Lana Lim