sábado, 19 de junho de 2010

A leitura no contexto escolar

Cassiane Schmidt

A leitura é fundamental para o desenvolvimento intelectual do ser humano, uma leitura de qualidade representa a oportunidade de ampliar a consciência, a visão do mundo. O desenvolvimento tecnológico contribuiu e vem contribuindo para agravar o abissal distanciamento do homem com o livro, comprometendo a saudável relação do leitor com o livro.

A leitura representa uma ferramenta eficaz nos processos de aprendizagem, há vista, que através da leitura é possível criar uma série de conceitos e significações acerca do objeto estudado. O contato com livro torna-se um encontro sagrado, comprometimento cultural, é possibilidade de voar, de encarnar personagens, de sonhar, de manifestação, reconhecimento com aquilo que se lê.

No século XX, o consumo e a produção de livros aumentaram progressivamente, sem dúvida a palavra escrita é considerada uma das mais importantes heranças culturais da humanidade. A palavra escrita dominou os tempos, e o livro colaborou para a universalização do conhecimento, devido à facilidade de acesso.

Mas nem sempre foi assim, até o século XV tinha acesso aos livros somente uma pequena minoria de sábios e estudiosos que formavam a classe intelectual da sociedade (reservados em mosteiros durante o começo da Idade Média), somente eles tinham acesso às bibliotecas.

Hoje as facilidades em relação ao acesso aos livros, às bibliotecas constituem fator importante para o crescimento intelectual, significa o livro gratuito na mão do povo, simboliza o acesso efetivo do público de baixo poder aquisitivo.

Mas parece-me que na mesma proporção das facilidades nasceu o distanciamento do brasileiro com o livro. Contudo é importante ressaltar, a fim de não cometer injustiças e nem se aliciar ao radicalismo, que há alguns casos de pessoas que não lêem porque não têm dinheiro para gastar com livros, ou moram em cidades onde não existem livrarias e bibliotecas. Pesquisas apontam que os brasileiros lêem pouco e mal.

Todavia é importante destacar que o perfil dos leitores tem uma relação direta com os fatores escolaridade e classe econômica, evidenciando que, quanto maior a escolaridade, maiores são os índices de todos os tipos de leitores e que os maiores percentuais de leitores são encontrados nas classes sociais economicamente mais privilegiados.

A leitura é fundamental para o desenvolvimento intelectual do ser humano, uma leitura de qualidade representa a oportunidade de ampliar a consciência, a visão do mundo. O desenvolvimento tecnológico contribuiu e vem contribuindo para agravar o abissal distanciamento do homem com o livro, comprometendo a saudável relação do leitor com o livro.

Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas primeiras leituras.

Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma prática consciente.

Esse movimento dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador.

A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade.

No fundo esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura” anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e “reescrita” do lido.

A internet com suas falsas facilidades tornou-se a patrocinadora, a madrinha de milhões de jovens semi-analfabetos, que estão desaprendendo o pouco de que sabiam escrever, e abandonando quase completamente o habito de ler. Quem não lê, não pensa, não sabe, não vive, não formula, não diferencia.

O trecho a seguir foi retirado prova de vestibular no RJ (Universidade Gama Filho) a questão proposta: Faça uma análise sobre a importância do Vale do Paraíba.
Resposta do candidato:

“O Vale do Paraíba é de suma importância, pois não podemos discriminar esses importantes cidadãos. Já que existe o vale transporte, o vale do idoso, por que não existir também o Vale do Paraíba??!!! Além disso, sabemos que os Paraíbas, de um modo geral, trabalham em obras e portarias de edifícios e ganham pouco. Então, o dinheiro que entra no meio do mês – que é o vale- é muito importante para ele equilibrar sua economia familiar”.

É lamentável pensar no futuro do nosso País ao ler tamanha barbárie, e chamam isso de pérolas? Nossos jovens estão perdidos, casmurros sem instrução, lançando-se ao degredo voluntário da ignorância. Segundo pesquisas do IBGE o índice de analfabetismo no Brasil vem caindo nos últimos anos, no entanto a qualidade de leitura não corresponde a este índice, não basta saber assinar o nome, ler palavras isoladas entre si.

Sabe-se, contudo, que é preciso muito mais para formação cultural de um povo, para efetiva compreensão global do que se lê, exige interpretação, assimilação, para a efetiva compreensão da leitura que se faz. Alfabetizado é aquele que consegue ler um texto e interpretá-lo, aquele que consegue redigir um texto conseguindo expressar sua opinião de forma ordenada e coerente.


O contato com livro torna-se um encontro sagrado, comprometimento cultural, é possibilidade de voar, de encarnar personagens, de sonhar, de manifestação, reconhecimento com aquilo que se lê. Neste contexto, faz-se urgente a conscientização de pais e professores, pois eles irão constituir os preclaros mediadores no encontro da criança com a leitura.

A infância, terreno fértil para a formação de bons leitores depende da mediação inteligente de pais e professores. Muitas vezes a leitura é apresentada aos pequenos infantes de maneira impositiva e obrigatória, o que por sua vez, compromete a relação, o nascimento do encantamento necessário para todo bom futuro leitor.

Através do hábito da leitura, é possível acreditar que a sociedade se transforme em um varal literário, uma sociedade composta de leitores conscientes, de bons escritores, de gente que pensa, de gente que fala, de gente que faz a diferença.

As crianças devem encontrar nos livros encantamento, liberdade, harmonia, pois assim será possível pensar em uma sociedade constituída de bons leitores, por conseguinte, excelentes escritores. A leitura é pura liberdade, a escrita maturidade.

A importância dos livros assume uma oportunidade impar na promoção da leitura, o livro é um mecanismo através do qual os alunos encontrarão a possibilidade de pesquisar sobre determinado assunto ou tema, descobre afinidades com as idéias do autor, desenvolve o senso crítico, enriquece seu vocabulário, enfim, inúmeros são os benefícios da leitura no quotidiano escolar.

Ler é saber. O primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico. Ler é trocar. Ler não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando idéias e revendo conceitos.

Ler é dialogar. Quando lemos, estabelecemos um diálogo com a obra, compreendendo intenções do autor. Somos levados a fazer perguntas e procurar respostas. Ler é exercitar o discernimento. Quando lemos, colocamo-nos de modo favorável ou não aos pontos de vista, pesamos argumentos e argumentamos dentro de nós mesmos, refletimos sobre opções dos personagens ou sobre as idéias defendidas pelo autor.

Ler é ampliar a percepção. Ler é ser motivado à observação de aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos. Ler bons livros é capacitar-se para ler a vida. Penso em um futuro formado por uma sociedade alfabetizada intelectualmente, que consiga refletir, pensar criticamente, abandonar a consciência ingênua, assumindo uma postura crítica dentro do contexto social brasileiro.

A leitura é um caminho promissor capaz de transformar a realidade, é a vacina contra a ignorância e o conformismo, este filho daquela. Que a sociedade se transforme em um varal literário, uma sociedade composta de leitores conscientes, de bons escritores, de gente que pensa, de gente que fala, de gente que faz a diferença.

Ganhar o gosto pela leitura é como provar o vinho pela primeira vez, a princípio parece-nos amargo, mas depois habituamo-nos ao gosto e, passado algum tempo, quem não sente um enorme prazer em saborear um bom cálice de vinho?
Ler um livro na sociedade em que vivemos é lutar por encontrar a calma, a paz e a serenidade que ganhamos ao passar doce e calmamente mais uma página, é enriquecer constantemente a nossa cultura, o nosso mundo interior, é dar espaço ao sonho, à magia, à procura do nosso tão nobre e individual "Eu"

Concluí-se que para os educadores melhorarem sua prática, devem começar a avalizar a importância do ato de ler, assumindo o papel de incentivadores da leitura. Sabemos que, ao mudar a postura sobre o ato de ler, ter-se-á condições de formar alunos leitores, e conseqüentemente ótimos escritores.

O contato com livro amplia o trabalho do professor em sala de aula, estende o processo de aprendizagem para fora da escola, pois a leitura começa a fazer parte da rotina do aluno, uma espécie de comprometimento cultural, é possibilidade de voar, de encarnar personagens, de sonhar, de manifestação, reconhecimento com aquilo que se lê.

Conclui-se, portanto, que os pais e professores desempenham papel fundamental na aproximação da criança/aluno com o livro. O contexto, nesta perspectiva, é algo decisivo no hábito da leitura. A criança precisa ver livros, toca-los, manuseá-los, tê-los ao alcance!

Os pais devem começar a presentear seus filhos com livros e não apenas com brinquedos, a partir de pequenas mudanças diárias, começa-se a construção de uma nova fase, quiçá a construção de uma nova identidade no perfil dos leitores brasileiros.


REFERENCIAS

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 Ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.


Fonte: Overmundo

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