Saber ler é uma exigência das sociedades modernas. Há, contudo, uma importante diferença entre saber ler e a prática efetiva da leitura. Se a habilidade de leitura é uma necessidade pragmática e permite a realização inclusive de atividades básicas, como identificar uma linha de ônibus, ler ofertas ao realizar compras, entre outras ações, a prática da leitura é importante instrumento para o exercício da cidadania e para a participação social.
Anualmente vejo, leio, ouço discussões imensas sobre a necessidade de estimular nosso estudante ao hábito da leitura, fazendo disso uma meta que envolve destinação de verbas de governos municipal, estadual e federal. Então acontecem encontros, simpósios, congressos e outros eventos que reúnem profissionais da educação para discutir o tema com apoios de empresas e entidades. Aqui mesmo em Blumenau acontecerá nos dias 29 e 30 de maio o Encontro Municipal do Proler.
Para quem não sabe (e pouca gente sabe), o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitura) é um programa nacional criado através do Decreto Presidencial nº 519, em maio de 1992 e vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura. Articulado em diversas regiões do país, desenvolve ações voltadas aos educadores no estímulo da leitura. Mas será que estas ações revertem efetivamente em prática de leitura?
Percebo o esforço de professores levando crianças às bibliotecas, promovendo sessões de leitura, recebendo os escritores em sala de aula (projeto autor-escola), envolvendo o aluno na criação literária (projeto aluno-escritor). Percebo também o esforço dos pais, comprando, muitas vezes com sacrifício, livros para seus filhos, e o esforço do governo, distribuindo livros, promovendo bibliotecas (o governo federal é o maior comprador de livros de todo o país). Tudo isso é importante, mas não muda a situação.
A situação da leitura no Brasil é precária. Todo o conhecimento acadêmico da humanidade está nos livros, sejam eles concretos ou virtuais. É preciso ler, e saber ler. Na França, cada pessoa lê, em média, 25 livros por ano. No Brasil, a estatística aponta a leitura de pouco mais de um livro por brasileiro. A questão é cultural, de hábito, de vivência.
É difícil tornar um adulto não leitor em leitor. Mas é muito fácil tornar uma criança em leitora. As crianças costumam adorar livros, as histórias, as ilustrações, têm sede de conhecimentos, de fantasias, de descobertas, estão em fase de formação e de adquirir os gostos e hábitos que as acompanharão por toda a vida. Porque não introduzir em todos os currículos escolares a matéria leitura? Uma matéria agradável, de baixo custo e grande rendimento, que não precisa de novos professores, nem de professores especializados. Basta instruir os professores: leiam com as crianças, todos os dias.
O livro deve estar presente, ali perto, ao alcance da mão. É preciso haver em cada sala de aula uma estante com livros, e que todos os dias as crianças fiquem, por um tempo qualquer, meia hora, uma hora, lendo ou ouvindo a leitura, manuseando livros, olhando-os, criando intimidade e amizade com o livro. Todos os dias. E um livro deve ser levado para casa, diariamente, a fim de que os pais promovam também um horário de leitura, todos os dias, mesmo que por apenas meia hora.
O caminho é o de trazer o livro para o cotidiano, dele integrar a rotina tanto na escola como em casa. Não basta gostar, é preciso ter o hábito. E as crianças poderão desenvolve-lo se forem estimuladas e verem seus professores, seus pais, seus colegas lendo diariamente. Simples, aplicável, de resultado certo.
Fonte: Overmundo
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