O estudo, publicado nesta quarta-feira (14) na revista científica "Nature", reuniu 42 voluntários de ambos os sexos
Ex-guerrilheiros colombianos participaram de uma pesquisa para identificar as regiões do cérebro relacionadas à alfabetização. O estudo, publicado nesta quarta-feira (14) na revista científica "Nature", reuniu 42 voluntários de ambos os sexos. A maioria era de combatentes que abandonaram a luta armada e chegaram à idade adulta sem saber ler e escrever. Donas de casa, oriundas de um contexto socioeconômico semelhante, completaram o grupo estudado.
Pesquisadores espanhóis, colombianos e ingleses dividiram os voluntários em dois grupos: aqueles que aprenderam a ler depois de adultos - 20 indivíduos com idade média de 31 anos - e aqueles que nunca participaram de nenhum projeto de alfabetização - 22 pessoas com idade média de 33 anos.
O estudo optou por analisar adultos, pois, na infância, o aprendizado da leitura concorre com a aquisição de outras aptidões. Torna-se quase impossível isolar as mudanças no sistema nervoso central decorrentes da alfabetização daquelas observadas quando alguém aprende a jogar futebol ou assimila uma nova regra social.
"Trabalhar com ex-guerrilheiros colombianos foi uma oportunidade única para descobrir como o cérebro muda ao adquirir a aptidão da leitura", afirmou, em um comunicado, a pesquisadora Cathy Price, da University College London, coautora do estudo, financiado pela farmacêutica Wellcome Trust e pelo Ministério da Educação e Ciência da Espanha.
Um equipamento de ressonância magnética registrou imagens dos cérebros dos voluntários e os cientistas identificaram as diferenças presentes nos dois grupos. Descobriram que os adultos alfabetizados experimentavam um aumento na densidade da substância cinzenta - responsável pelo processamento das informações - em várias áreas do lado esquerdo do cérebro, onde ocorre o reconhecimento das letras e sua tradução em sons e significados. Também foi observado um fortalecimento das conexões na substância branca - responsável pela transmissão dos impulsos - entre as diferentes zonas de processamento.
"É uma ótima notícia", comenta o neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN). Ele aponta que o estudo questiona a crença de que deficiências na aprendizagem poderiam ser explicadas pela atrofia de alguma região do cérebro. O trabalho inverte a relação: a atrofia seria causada pela falta de instrução. "O artigo comprova que a alfabetização pode reverter esse processo mesmo em cérebros adultos", afirma Ribeiro.
DISLEXIA - A pesquisa vai contribuir para entender melhor doenças como a dislexia. Estudos mostraram que disléxicos possuem menos substância cinzenta e branca nas regiões que se desenvolvem com a alfabetização. O novo trabalho sugere que tais diferenças podem ser mais uma consequência da dislexia do que sua causa.
Outro resultado interessante questiona um consenso construído sobre uma área do cérebro chamada giro angular. Há 150 anos cientistas sabem que essa região é importante para a leitura. "A visão tradicional apresentava o giro angular como um dicionário que traduzia as letras da palavra em um significado", explica Cathy. "Mostramos que seu papel é tentar antecipar o que vamos ler - de um modo semelhante à função que tenta prever o resto da palavra quando escrevemos algo no celular."
Fonte: Bem Paraná
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