A história das letras grafadas nasceu há mais de 5 mil anos. Após um longo processo evolutivo, iniciado com os primeiros desenhos pictográficos pré-históricos, os sumérios, civilização mesopotâmica, hoje Oriente Médio, decidiram estampar em barro um código de sinais que convencionasse por escrito as palavras proferidas. Consistiam em pequenos cones que, agrupados em diferentes posições (na horizontal, na vertical e na diagonal), construíam os vocábulos. Os signos sumérios eram muito simples se comparados ao primeiro alfabeto moderno, de origem fenícia (1200 aC), que foi a base da maioria dos alfabetos ocidentais, como o latim, o cirílico (eslavo) e o grego.
Quase no mesmo período, os egípcios também desenvolveram um sistema de sinais. Mais complexo que os cuneiformes mesopotâmicos, os hieróglifos tiveram uma importância cabal na evolução da escrita. Pela primeira vez as palavras foram gravadas em um plano flexível, urdido a partir de fibras vegetais. A pedra e o barro cederam lugar ao papiro, muito mais apropriado para condicionar os documentos de época.
Com o passar de muitos séculos, percebeu-se que as fibras vegetais eram o melhor suporte para abrigar as letras. A tecnologia criada pelos egípcios culminou no emprego maciço do papel que ganhava, assim, litros de tinta despejados, principalmente, pelas penas dos abades. Havia nos monastérios, inclusive, a tarefa hercúlea do copista que, em caligrafia demorada de letras rebuscadas, transcrevia as palavras de um livro para o outro, restringindo, por motivos óbvios, a disseminação dos exemplares a alguns poucos letrados.
Em meados do século 15, a reprografia manual foi por fim abolida em decorrência da invenção da imprensa. Quando Gutenberg alinhou os tipos de madeira, reproduzindo as idéias em série e copiosamente, as letras encontraram seu lar definitivo. Impresso por mãos mecânicas, o livro, durante séculos, carregou conhecimento, provocou revoluções, desabou ideais e construiu países. Mas, a forma consagrada, engendrada pela encadernação de várias folhas encerradas por duas extremidades mais consistentes, vem sofrendo concorrência. Além das revistas e dos jornais, também confeccionados em papel, através da informática, condensam-se as letras em planos diversos. Enquanto os CD Roms as compactuam e as compõem com sons e imagens, a novíssima Internet as transmite à distância.
Suplantados 5 mil anos de vida, à beira de mais um milênio, a informação escrita se multiplica e as possibilidades de acessá-la também. Além das vetustas bibliotecas e dos tradicionais sebos, a atualidade apresenta novas maneiras de se possuir leitura. A comodidade de receber um jornal em casa, comprar um livro de madrugada, ler sobre o assunto predileto em uma revista são apenas pequenos exemplos que se agigantam diante do advento tecnológico. O contato com as letras, restrito aos ofícios religiosos tempos atrás, ampliou-se em virtude da tecnicidade do processo, da tecnologia da produção e da comodidade. Hoje, para qualquer lugar que se olhe, há uma palavra prestes a ser lida.
Visite uma Biblioteca
A trajetória da "casa dos livros" costuma traduzir os ideais de época. O acesso às idéias conflitantes com o pensamento dominante da ocasião era obstado. A promiscuidade literária presente em páginas ofensivas à moral e aos bons costumes permanecia devidamente vedada à curiosidade geral. Exemplo disso vem resumido no index de livros proibidos pela Igreja Católica durante a inquisição. Para se ter uma idéia, o ranço autoritário medieval influenciou, até há pouco tempo, a arquitetura dos prédios das bibliotecas. Os resquícios da mentalidade retrógrada marcaram, inclusive, a disposição da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, projetada na década de 30. Quem afirma isso é seu diretor, José Eduardo, no cargo há dois anos. "Havia um pensamento autoritário que visava dificultar o acesso das pessoas às informações, por isso eram construídos edifícios em que os livros ficavam longe do alcance dos leitores. Essa concepção perdurou por muito tempo e a Mário de Andrade seguiu o padrão."
Inaugurada em 43, a Biblioteca Municipal foi concebida em meio à euforia cultural da Semana de Arte Moderna de 22. O projeto sofreu críticas severas da comunidade, inconformada com um edifício daquela magnitude para abastecer uma cidade de pouco mais de um milhão de habitantes. "Naquela época, havia mato onde hoje está o prédio do Diário Popular (em frente à biblioteca). Agora, no fim da década de 90, a cidade precisa de mais duas Mário de Andrade", lembra o diretor.
O acesso aos 350 mil volumes de livros e os 10 mil títulos de periódicos não é direto. "Os livros e periódicos ficam confinados na torre e o usuário pede aos atendentes para que providencie o exemplar", informa. "Ocorre, no entanto, que as obras de referências - enciclopédias, dicionários e livros didáticos - ficam à disposição do leitor e, com isso, atendemos a 60% da nossa demanda, formada por estudantes." A consulta ao acervo de obras raras, 90 mil no total, é restrito a quem demonstre inteira necessidade. Acondicionadas em salas especiais, expostas à iluminação e à temperatura adequadas, as raridades comportam a coleção completa do jornal O Estado de S. Paulo, desde 1870, gravuras do pintor francês Debret, além de uma bíblia impressa em 1492.
Apesar do acesso restrito, impedindo aos usuários o contato direto com os livros, a sala de leitura da biblioteca, com capacidade para 250 pessoas, recebe em média mil leitores por dia. Para atender o público restante, tolhido pelas limitações físicas, há a possibilidade de se tirar cópias reprográficas. "Eu abomino essa prática, pois os livros sofrem demais. No entanto, é impossível manter uma outra política, já que a biblioteca não empresta os livros. O que nós recomendamos é a microfilmagem, mas ela é muito cara", atesta o zeloso diretor.
A concepção moderna e adequada de biblioteca visa o contato direto entre o leitor e a obra. A troca física entre o papel e a pessoa desperta o interesse pela leitura. As prateleiras baixas e a organização metódica dos livros são essenciais para o bom funcionamento. O Sesc, cioso das novas tendências, mantém as bibliotecas da Pompéia e do Carmo em perfeita sintonia com o público.
Os usuários dispõem de um acervo sempre atualizado, além de atendimento exemplar. O serviço atento dos bibliotecários garante a fidelidade do público, que não mede esforços para saciar o desejo de leitura. "Nós temos um público assíduo, principalmente em busca das revistas e jornais. Há pessoas que vêm aqui diariamente há muito tempo", informa Celina Dias, técnica e bibliotecária do Sesc Carmo. O acervo da unidade gira em torno de seis mil livros, dos quais 90% são de ficção. "Os cerca de 500 associados, habilitados a retirar por empréstimo os livros, são, na maioria, idosos atrás de um passatempo. Aqui, não distinguimos os tipos de literatura, ou seja, os livros vão de encontro ao leitor. Assim, as aquisições são ecléticas, pois se privilegiássemos alguma forma de literatura em detrimento de outra, exerceríamos uma desconfortável censura."
Na unidade Pompéia, a biblioteca segue os mesmos padrões. A disputa pelos jornais e revistas é muito concorrida durante a semana. Aos sábados e domingos são as crianças quem invadem o local. Nesses dias, a gibiteca atrai um público peculiar. Alguns entusiastas dos quadrinhos são assíduos frequentadores e elogiam o acervo da unidade. "Eu vou à gibiteca há mais de cinco anos, considero o espaço muito bom. Aqui, posso encontrar a coleção completa de Asterix e do Snoopy, por exemplo", conta o arquivista e desenhista Haroldo Silva Filho, 28 anos. Como bom entendedor de quadrinhos, ressalta a qualidade da conservação dos gibis e a variedade de títulos, inclusive com publicações estrangeiras.
Mais Conforto aos Leitores
As bibliotecas são o local mais tradicional de abrigo para os livros. Independentemente do estilo, elas suprem boa parte das necessidades dos leitores. Atualmente, no entanto, existem inúmeras outras possibilidades muito mais confortáveis de se chegar à leitura. Além das bancas 24 horas e dos serviços em domicílio, as bibliotecas e livrarias convencionais receberam a companhia das megalojas, onde pelo menos 90% dos títulos publicados no Brasil podem ser comprados no ato (ver box). Há, ainda, a Internet que, além de oferecer na tela muitos textos e obras completas, dispõe de catálogos extensos para a compra tanto no Brasil como no exterior.
As possibilidades de acesso à informação escrita crescem a cada dia, mas a qualidade decorrente da enxurrada de palavras - impressas e eletrônicas - tende a se perder. Quem faz a ressalva é o filósofo, Roberto Romano, titular da Faculdade de Filosofia da Unicamp. "O problema da relação entre a quantidade e a qualidade é antigo. É certo que o advento das novas tecnologias contribui na obtenção de informação. Entretanto, em certa medida, o texto escrito é como o som que, a uma certa altura, fica ininteligível. Boa parte da educação passa despercebida do público e a captação lógica do conhecimento fica prejudicada. A apreensão do conhecimento não depende apenas da reprodução do que é lido. O exercício do conhecimento está relacionado à capacidade lógica de interferir no mundo."
Ainda segundo o filósofo, existe a obstrução material em forma de censura intelectual e econômica do acesso à leitura. "O preço abusivo dos livros afasta o público leigo do debate científico, mas a iniciativa de vender livros de filosofia, por exemplo, em bancas de jornais, é uma forma de ampliar o diálogo e qualificar as discussões."
Ainda que relevadas as considera-ções restritivas de Roberto Romano, torna-se inexorável concluir que hoje há opções de leitura em número suficiente. Para cada preferência surgem diversas alternativas e os canais para alcançá-las são múltiplos e bem visíveis. Claro que a plena democracia letrada só será atingida com o fim do analfabetismo que assola cerca de 20% dos brasileiros. O óbice econômico surge também como o grande empecilho. Mas, mesmo convivendo com a indecente falta de educação, as facilidades de aproximação com a leitura e o auxílio das novas tecnologias têm permitido o contato cada vez maior do brasileiro com o universo das letras escritas.
Esse é o caso das revistas que, nos últimos dois anos, ganharam 800 títulos na praça. A segmentação dos temas, visível em qualquer banca é, segundo o diretor de redação da revista Imprensa, Ari Schneider, uma estratégia de sobrevivência. "A segmentação significa a busca de um público específico. Pulverizar as revistas em diversos assuntos ajuda a fugir da concorrência." Schneider explica: "A disponibilidade dos produtos no mercado é muito grande, assim, um anunciante de fraldas vai expor o produto em uma revista que atinja o público específico interessado em fraldas. Dessa forma irá procurar uma edição sobre crianças e bebês. Quando há o interesse mútuo do anunciante e do público, a revista ganha o mercado."
O sucesso e o fracasso de uma publicação dependem, portanto, do orçamento destinado à propaganda. Para assegurar a verba publicitária e garantir sobrevivência, ela conta com a fidelidade do leitor, que vem se interessando cada vez mais pelas páginas de temas específicos. "O leitor habitual está procurando títulos particulares e, consequentemente, há um crescimento no número de revistas vendidas, principalmente quanto aos assuntos pertinentes à vida moderna."
As Novas Mídias
Desde que o CD Rom e, mais recentemente, a Internet começaram a se popularizar, instaurou-se a discussão sobre o futuro do papel. Há argumentos para os dois lados. Mas, passados alguns anos de convivência mútua, a maioria dos entendidos prevê vida longa para os livros e afins. A alegação mais comum (e lógica) dos apologistas do papel rechaça qualquer possibilidade de se ler um texto longo pela tela do computador.
Há uma pessoa, no entanto, que ousa levantar a voz contra a unanimidade. É Silvio Gianini, comandante da redação da Neo, a primeira e única revista brasileira editada inteiramente em CD Rom. "O papel continua tendo espaço, mas, sem dúvida, vai acabar", profetiza resoluto. "A entrada das novas tecnologias é um avanço inegável. O computador como suporte de informações é mais poderoso do que foi a TV ou o rádio. Cada um desses meios achou o seu espaço, mas no futuro o computador vai incorporar a televisão, o rádio e o livro."
A Neo participa vivamente da "revolução" eletrônica. A publicação, diferente da maioria das publicações em CD Rom, não utiliza o meio como mero banco de dados, a exemplo das enciclopédias, dicionários e códigos legais. "Para dar um exemplo: caso você esteja lendo a crítica de uma música, na Neo é possível ouvi-la também. Além disso, o leitor pode assistir ao videoclip. Em um CD Rom há possibilidade de mistura de mídias, aumentando a eficiência e a potencialidade dos meios." É o que ocorre também com o CD Rom Memórias do Comércio, produzido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Sesc, Senac e Sebrae, e realizado pelo Museu da Pessoa. A história do comércio paulistano é narrada através das lembranças pessoais dos comerciantes pioneiros, reconstituíndo o mundo dos negócios, a época, os costumes e a pai-sagem da cidade nas primeiras décadas deste século.
Os recursos inerentes ao CD Rom dependem, é claro, do intermédio de um computador, que, apesar de popularizado, é inacessível à maioria da população. Mas a crescente popularidade das revistas de informática que encartam os CDs está estampada nos números. Em 1995, havia apenas três títulos com as vendas em torno de 750 mil exemplares. Em 1996, passaram a 12 publicações e 3,5 milhões de exemplares vendidos. A Neo, criada em abril de 1994, nasceu trimestral e ao preço de R$ 37. Hoje é mensal e custa R$ 12,90.
Explorar o CD Rom em seu viés educativo a fim de transmitir conhecimento foi a proposta de Jorge Caldeira para apresentar sua interpretação do cotidiano brasileiro desde o descobrimento até 1985. No livro Uma Viagem Pela História do Brasil, Caldeira traz o livro junto do CD, em um único encarte. No suporte de papel existe um guia para extrair os melhores recursos do CD Rom que instiga em detalhes de som, imagens e palavras, o leitor-espectador a percorrer 500 anos de História. "Para a argumentação que desejava enfocar da História brasileira, pouco mostrada pelos livros didáticos, o CD Rom era adequado. A integração entre as mídias é inseparável. O berço eletrônico da informação abre novas possibilidades de trabalho e de necessidades de conhecimento", explica Caldeira.
A invenção de novas tecnologias sempre contribuiu para o incremento do fluxo do conhecimento. Espraiar as informações e dinamizar o trânsito das idéias foi a intenção da prensa de tipos no fim da Idade Média. O computador abre a mesma alternativa, permitindo que o papel interaja com outros suportes. A troca de informações quase instantânea via Internet, abarcando, literalmente, o planeta inteiro, vem enriquecida de detalhes vivos, como o som e a imagem. Nesse sentido, a Internet, mais do que o CD Rom, permite o concurso de sensações, aditivando a palavra escrita que, afinal, forma a base da comunicação entre os internautas.
No plano incorpóreo dos computadores, o livro (revistas e jornais) convive em harmonia com o elemento virtual. Através da rede, textos completos, discussões acerca de obras e principalmente as livrarias eletrônicas permitem que o leitor disponha de acesso fácil, eficaz e prestativo com o livro-tátil. Em última análise, a Internet alimenta o viço do papel.
A livraria Amazon Books (americana) não existe fisicamente. Através da Internet, porém, é possível receber em casa, em qualquer lugar do mundo, por preços bem acessíveis (mesmo no Brasil), qualquer um dos 2,5 milhões de títulos do catálogo. Além da operação mercantil, há espaço para ler resenhas, comentar sobre obras e participar de debates. Nesse sentido, a Internet funciona como um painel. Uma espécie de feira onde as pessoas informam e são informadas. Esse fórum informal contribui para que os livros circulem entre os leitores, já que os sites e e-mails são um dos mais eficazes pontos de encontros do mundo.
Todo o rebuliço gerado em torno da informação acarreta uma conclusão inabalável. De alguma forma o brasileiro está lendo mais. Números da Câmara Brasileira do Livro (CBL) atestam que, entre 90 e 96, a média de livros adquiridos por brasileiro em um ano subiu de 1,6 para 2,57 (incluem-se aí os livros didáticos e os não-didáticos) e, na cidade de São Paulo, salta para 6,7. A média é baixa se comparada a outros países. Nos EUA e na Alemanha, lê-se até cinco vezes mais. Porém, os números provam, de certa maneira, que a tendência é progressiva (ver box). As novas facilidades de acesso; a iniciativa de abaixar o preços dos livros; a confluência de mídias e possibilidades, mesmo diante das mazelas econômicas, são um caminho seguro para garantir a parcela saudável de leitura aos brasileiros.
Páginas Abertas
O gesto é característico. O friccionar dos dedos, o olhar vago, deitado em um ponto fixo da estante, e a dificuldade brutal de verbalizar o sentimento gerado pelo contato físico e íntimo com as páginas são comportamentos corriqueiros quando os leitores tentam explicar a paixão pelo livro. Há algum tempo esse comportamento só era observado na intimidade de cada um: em casa, quando o indivíduo se entregava a um volume ou, no máximo, entre pessoas circunspectas e compenetradas, frequentadoras de bibliotecas e livrarias convencionais. Hoje, a obsessão pela leitura se espalha por todos os cantos. Em bancas de jornal, com livros de boa qualidade a R$ 2,00, em bares que trazem acoplada uma livraria e nas locadoras de livros que fazem serviço em domicílio. Mas são as feéricas megalojas que atraem a atenção do público e permitem que a prática da leitura atinja o máximo do prazer.
Primeiro, a Saraiva, e, depois a Ática, investindo, R$ 11 milhões, a primeira e R$ 25 milhões, a segunda, brindaram à cidade com mais de 7,5 mil metros quadrados lotados de publicações. Nesses espaços, o cliente tem oportunidade de realmente ter o livro nas mãos. Pode desfrutar bem mais do que em uma singela livraria. Ele tem ao seu dispor quase um centro de convivência. "Estamos situados entre o centro cultural, pois, além da mercadoria, oferecemos serviços, eventos e uma grande loja, já que comercializamos mais de 105 mil títulos, entre nacionais e estrangeiros. Mesmo assim, os visitantes podem abrir o livro em uma poltrona ou sobre as várias mesas e realizar um trabalho escolar", atesta o diretor da Ática Shopping Cultural, Nicolau Youssef, inaugurada no fim de junho.
O sucesso estonteante do empreendimento verifica-se pela quantidade de visitantes que lotam os corredores. "Recebemos em média quatro mil pessoas por dia. Nos finas de semana, as visitas passam de 10 mil. É impressionante como essas pessoas se portam diante do livro. Parece que estão liberando uma demanda cultural que estava reprimida até agora." Segundo Youssef, o tíquete médio de compras gira em torno de R$ 60,00 e os livros respondem por 57% das vendas da loja, que oferece CDs musicais, artigos de papelaria e multimídia. "Funcionamos como o sistema solar, em que o livro é o sol e os outros artigos os planetas", compara. A abertura de grandes lojas de livros é vista como resposta à maior aptidão do paulistano pela leitura. "Estamos desvinculados da elitização. Aqui expomos Euclydes da Cunha ao lado de Paulo Coelho, ou seja, a venda de Paulo Coelho não cai, mas passamos a vender Euclydes da Cunha. A possibilidade de se investir esse montante abrindo uma loja de livros é consequência do aumento de leitores", finaliza Youssef.
Páginas Ampliadas
O mercado editorial brasileiro acompanha o crescimento do número de leitores. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) realiza pesquisas sistemáticas para aferir o desempenho do setor. Em 1996, houve um aumento de 21,48% na venda de livros em relação ao ano anterior. Foram comercializados 244,21 milhões de exemplares contra 296,701 milhões. O faturamento cresceu 18,03% (US$ 1,395 bilhão contra US$ 1,647 bilhão). Esses números referem-se apenas aos exemplares comercializados no mercado, excluindo-se os livros didáticos adquiridos pelo Ministério da Educação. A queda nesse segmento foi de 30,98%. Em 1995, o governo comprou 130,406 milhões de livros didáticos (US$ 461,664) contra apenas 90 milhões de exemplares em 1996 (US$ 219,600 milhões). Nos anos anteriores verificava-se movimento inverso, com a maior prosperidade do comércio dos livros didáticos. No total foram comercializados, em 1996, 386,701 milhões, com faturamento total de US$ 1,867 bilhão.
O negócio monumental que envolve o mercado editorial poderia ser mais proeminente, se houvesse um melhor sistema de distribuição. O diretor da CBL, Raul Wassermann, aponta falhas lamentáveis no momento de se levar o livro ao leitor. "Estamos observando uma maior vontade das pessoas lerem, mas falta apresentar o livro ao leitor. Mesmo com o aumento da média de livros por brasileiro, o produto cultural foi o que menos cresceu com a implementação do Real. Para se ter uma idéia, segundo estimativas, existem apenas 1500 livrarias no Brasil. Para reverter esse quadro deveria-se, em primeiro lugar, aumentar as campanhas de leitura, depois mudar o sistema de aquisição de livros pelo governo, dando mais liberdade às escolas. Além disso, é necessário desenvolver a rede de distribuição. As bibliotecas, por exemplo, não consomem nem 1% da produção editorial e a prática de xerocar os livros sem respeitar os direitos autorais é absurda. O preço do livro está em função direta à tiragem, portanto, se aumentarmos o sistema de vendas, o preço de capa vai cair."
O dono da Livraria Cultura, Pedro Herz, que ampliou sua loja para 1,3 mil metros quadrados e dispõe de cem mil títulos que alimentam há 50 anos a intelectualidade paulistana, não é tão otimista quanto aos dados da CBL. "O mercado está estagnado. A venda em livrarias está estagnada faz tempo e não considero o comércio de livros didáticos do governo. O que eu observo é a possibilidade de crescimento, pois está sobrando dinheiro nas classes mais baixas e existe por parte dessas pessoas um investimento em educação. Primeiro compra-se um caderno e um lápis, o passo seguinte é a aquisição de um livro".
A difusão da leitura também é preocupação do Sesc. Através das bibliotecas, dos cursos e das publicações que promove, a entidade auxilia o crescimento desse hábito saudável. É isso que explica Dante Silvestre Neto, técnico do Sesc. "Procuramos, além de fornecer a leitura, possibilitar ao iniciado desenvolver uma relação completa com o livro. Assim, incentivamos a prática da escrita através das oficinas. Apenas o consumo das idéias é insuficiente. A posterior organização das idéias e a exposição de leituras mais elaboradas são muito importantes no processo de aprendizado. Por meio da leitura, o sujeito incrementa sua própria relação com o mundo."
Fonte: Revista E SESCSP
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