São 11 estações de metrôs em cinco Estados, com acervos para emprestar aos usuários. Iniciativa inaugurada em 2004, ultrapassa todas as expectativas de sucesso. Foram emprestados mais de 600 mil livros
Quem pega metrô cruza com multidões apressadas, trens chegando e partindo, catracas girando, quiosques chamando atenção. E livros. Por empréstimo. De graça.
E o que é mais incrível, contrariando o conceito de que emprestar livro é dizer adeus a ele. Nada disso.
“Nossa proposta é colocar um livro no caminho do cidadão que não lê, pelo menos regularmente, e vive estressado com esse corre-corre. Ele precisa tropeçar no livro, do contrário, passa direto, pensa em outra coisa”.
A explicação é do presidente do Instituto Brasil Leitor, William Nacked. A entidade se dedica a ‘expandir o uso e a familiaridade com os livros, jornais, revistas e computadores entre jovens, crianças, famílias e professores, em especial os das grandes periferias, abandonadas à barbárie da urbanização selvagem’.
Nacked e o IBL falam também de ‘novo apartheid’, o apartheid da informação.
O IBL iniciou sua trajetória pelos trilhos em 2004, quando abriu uma biblioteca na estação Paraíso, em São Paulo. Entroncamento que junta duas linhas, por ali passam cerca de 500 mil transeuntes, todo dia. Gente que não quer outra coisa senão baldear, sair, embarcar. É diante desse frenesi constante que surpreende o sucesso da iniciativa ‘Embarque no Metrô’, hoje espalhada por nada menos que seis pontos, inclusive a recém-inaugurada biblioteca na estação Brás, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
A meta de Nacked é montar uma dezena de pontos na malha metroviária paulistana, mas o sucesso, que começou há cinco anos, vai estourar as previsões. A própria CPTM colocou mais dois locais à disposição do IBL, Itaim Paulista e Osasco. Ambas estão em fase de instalação e vão funcionar ainda neste semestre. E a própria expansão do sistema vai levar à multiplicação rápida das unidades. Os terminais de ônibus da estatal SPTrans, mais de duas dezenas pela cidade, também serão brevemente contemplados.
A viagem pelo mágico mundo dos livros, via metrô, não pára em São Paulo. O IBL estendeu a iniciativa ao Rio, Recife, Porto Alegre e, em início de agosto, inaugurou em Belo Horizonte a primeira unidade do ‘Estação Leitura’, na estação Central do metrô, que é administrado pela CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos). Como todas as outras bibliotecas movidas a passageiros, tem patrocínio. A da capital mineira tem o apoio da Fosfértil. Outros parceiros do IBL, que investem nas instalações e nos salários dos funcionários das onze bancas, em cinco capitais, são Visa, Votorantim e Usiminas.
O êxito pode ser medido pelos quase 500 mil livros emprestados até hoje. Em um País sem tradição de leitura e, mais ainda, sem frequência de público em bibliotecas, o pulo do gato foi simplesmente inverter o processo. Em lugar do interessado buscar a biblioteca, ela é que aparece em seu caminho.
A mais antiga biblioteca de metrô, a já citada estação Paraíso, já realizou 170 mil empréstimos a seus 18 mil sócios – divididos em 12,5 mil mulheres e 5,5 mil homens. Goleada feminina nesse placar de leitura. Só em 2007 houve um incremento masculino, da ordem de 38%, mas isso se deu em função do marketing do próprio funcionário, que expôs livros sobre esporte durante a realização dos Jogos Panamericanos do Rio.
Para fazer o cadastro e receber uma carteirinha, o interessado só precisa apresentar identidade, CPF, foto 3x4 e comprovante de residência. “Essas bibliotecas instaladas nos metrôs, declara William Nacked, pai da ideia e gestor do IBL, provam que o brasileiro quer e gosta de ler. Facilitar o acesso aos livros era o que faltava para incentivar a leitura em um mundo moderno e apressado”.
Nos quiosques instalados nos metrôs das cinco capitais, o cardápio é semelhante. Um mínimo de 2 mil títulos, que oferecem de tudo um pouco: best-sellers, literatura brasileira, infanto-juvenil, autoajuda, filosofia, linguística, religião, artes, história.
Orgulhoso, Nacked lista os três mitos que as bibliotecas derrubaram, ao longo desses cinco anos de operações:
Mito nº 1: o brasileiro não gosta de ler
Mito nº 2: ele não devolve livros que toma emprestado
Mito nº 3: ele só escolhe porcaria
A perda, isto é, a taxa de não-devolução, e de 0,24% Um índice praticamente zero.
Foram emprestados, até junho passado, data do último levantamento, 617.568 livros.
O livro mais procurado é ‘Caçador de Pipas’, de Khaled Hosseini (Nova Fronteira), seguido por ‘Fortaleza Digital’, de Dan Brown (Sextante) e Marley&Eu, de John Grogan (Ediouro). Outros títulos bem cotados nas 12 bibliotecas, são ‘A menina que roubava livros’, Markus Zusak (Intrínseca); ‘O Código Da Vinci’, Dan Brown (Sextante); ‘O Monge e o Executivo’, James C. Hunter (Sextante); ‘A Pétala Vermelha’, Octávio Augusto (Lachatre); ‘O Menino do Pijama Listrado’, John Boyne (Cia. das Letras).
Números expressivos
600 mil livros emprestados, em um acervo de...
...35 mil títulos, somadas
10 estações, até junho de 2008 (agora são 11), para mais de
50 mil sócios cadastrados, com idade média entre
21 e 30 anos, sendo
65% de mulheres.
0,24% é o índice de não-retorno de livros
Fonte: Panorama Editorial
Nenhum comentário:
Postar um comentário