quinta-feira, 27 de maio de 2010

A importância de contar histórias para as crianças

Cláudia Marques Cunha Silva

Como recurso psicopedagógico a história abre espaço para a alegria e o prazer de ler, compreender, interpretar a si próprio e à realidade

Por que contar histórias para as crianças?

A história é uma narrativa que se baseia num tipo de discurso calcado no imaginário de uma cultura. As fábulas, os contos, as lendas são organizados de acordo com o repertório de mitos que a sociedade produz. Quando estas narrativas são lidas ou contadas por um adulto para uma criança, abre-se uma oportunidade para que estes mitos, tão importantes para a construção de sua identidade social e cultural, possam ser apresentados a ela.

Qual a diferença entre ler e contar uma história?

São duas coisas muito diferentes, porém ambas muito importantes. Um texto escrito segue as normas da língua escrita, que são completamente diferentes daquelas da linguagem falada. Quando uma criança ouve a leitura de uma história ela introjeta funções sintáticas da língua, além de aumentar seu vocabulário e seu campo semântico. Porém, aquele que lê a história deve dominar a arte de contá-la, estar preparado suficientemente para fazê-lo com apoio no texto, sabendo utilizar o livro como acessório integrado à técnica da voz e do gesto.

Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história; promovendo seu encontro com a leitura, possibilita-lhe adquirir um modelo de leitor e desenvolve nela o prazer de ler e o sentido de valor pelo livro.

Há opiniões divergentes neste campo: alguns autores consideram que o contador sem o livro tem mais liberdade de acentuar emoções, modificar o enredo segundo as reações da criança e portanto, melhor comunicação com o público infantil. Teria ainda mais disponibilidade para trabalhar sua voz e seu gesto.

Somos partidárias, neste aspecto de que o importante é como ler e como contar, porque é preciso que se tenha técnica e preparo para despertar o desejo e o prazer das crianças.
Para que contar histórias?

Um dos principais objetivos de se contar histórias é o da recreação. Mas a importância de contar histórias vai muito além. Por meio delas podemos enriquecer as experiências infantis, desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o vocabulário, formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem, proporcionando a ela viver o imaginário.

Além disso, as histórias estimulam o desenvolvimento de funções cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as figuras e o texto lido ou narrado) o pensamento hipotético, o raciocínio lógico, pensamento divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais( toda história tem princípio, meio e fim ) Os enredos geralmente são organizados de forma que um conteúdo moral possa ser inferido das ações dos personagens e isso colabora para a construção da ética e da cidadania em nossas crianças.

Como selecionar histórias para ler ou contar?

Segundo Luiza Lameirão, existem dois tipos de histórias: aquelas que servem de alimento para a alma, permitindo a transmissão de valores e de imagens arquetípicas fundamentais para a construção da subjetividade; e aquelas que servem para despertar o raciocínio e o interesse da criança para formas de agir e estar no mundo

- são chamadas histórias matéria - importantes para a estruturação dos aspectos objetivos de nossa personalidade. Estas últimas devem ser selecionadas de acordo com o desenvolvimento cognitivo do ouvinte porque exigem maior compreensão racional e analítica.

Como se aprende a contar histórias?

Em cursos de capacitação pode-se adquirir as competências necessárias para se contar histórias, aprendendo as técnicas básicas de voz, gesto, materiais de apoio, dentre outras.

Podemos destacar algumas orientações básicas para contar histórias:

· Escolha leituras que tenham ligação direta com o sexo, a idade, o ambiente familiar e o nível sócio econômico da clientela.

· Incentive as crianças diariamente, contando pequenas histórias sem mesmo ter o livro nas mãos.

· Use entonação de voz atraente, sem exageros, faça suspense, faça drama, se emocione, expresse sua opinião sobre o tema e dê oportunidade para que a criança também apresente sua opinião.

· Enriquecer a narração com ruídos (onomatopéias) como miau! Au! Au!

· Movimente o corpo (olhos, mãos e braços), mas sem exageros.

· Evite cacoetes como: aí... então... entenderam... não é?

· Crie a “hora da história”. Na escola, um bom horário é após o recreio para acalmar a turma; em casa pode ser à noite, antes de dormir;

· Determine um dia ou horário para cada aluno ler ou contar uma história. Não force mingúem.

· Em casa, estimule a criança a recontar a história que ouviu; compre livros, dê livros de presente em aniversários, natal e outras festividades;

· Sempre que possível sente-se no nível das crianças.

· Explique quando necessário, o significado das palavras novas.

· Preserve a atenção das crianças no local em que a história está sendo contada. (muito barulho, pessoas estranhas interrompendo, etc.).

Quais as implicações psicopedagógicas do ato de contar histórias?

A história, como já foi dito, possibilita a articulação entre objetividade e subjetividade, espaço “ entre “ no qual se situa o trabalho psicopedagógico. É, portanto, um recurso que pode ser usado tanto no diagnóstico como na intervenção psicopedagógica em instituições e na clínica. O conteúdo mítico, as ações praticadas pelos personagens, os valores morais implícitos na narrativa, permitem projeções que facilitam a elaboração de questões emocionais, muitas vezes expressas como sintomas que se apresentam na aprendizagem. A compreensão dos enredos, a análise dos conteúdos, a estrutura lingüística subjacente ao texto, permitem ao profissional investigar questões cognitivas presentes nas dificuldades do processo de aprendizagem.

Como recurso psicopedagógico a história abre espaço para a alegria e o prazer de ler, compreender, interpretar a si próprio e à realidade.

Cláudia Marques Cunha Silva - Mestra em Engenharia de Produção com ênfase em Mídia e Conhecimento pela UFSC; Psicopedagoga, coordenadora do Núcleo Sul Mineiro da ABPp; Docente de vários cursos de Pós-Graduação em Psicopedagogia no sul de Minas, tais como: UNINCOR, UNIVAS, UEG-Campus Divinópolis, UCAM, UVA (Convênio com Aprender-atividades integradas) e FEFC- Formiga.

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