Doutora em Ciências da Comunicação (USP-SP), docente da Universidade Federal de São Carlos; e-mail: elimey@power.ufscar.br
Luciana Nazaré Constantino
Graduanda do Curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Universidade Federal de São Carlos; e-mail: lunaconsta@ig.com.br
Michelle Flores
Graduanda do Curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Universidade Federal de São Carlos; e-mail: floresmi01@gmail.com
Naira Christofoletti Silveira
Mestre em Ciência da Informação (PUCCAMP), bolsista CNPq; e-mail: naira_csilveira@yahoo.com.br
Sonia Maria Pinheiro
Graduanda do Curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Universidade Federal de São Carlos; e-mail: soniaufscar@yahoo.com.br
Vinícius Lourenço de Camargo
Graduando do Curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Universidade Federal de São Carlos; e-mail: vlcestudo@gmail.com
Profª Zaira Regina Zafalon
Mestre em Comunicação (PUC-SP), docente do Centro Universitário Assunção (UNIFAI) e docente substituta da Universidade Federal de São Carlos; e-mail: zaira@zafalon.eti.br
Revisão: Marília Motta Ludgero da Silva, bibliotecária e revisora;
e-mail: lialud@hotmail.com
Ética, Etiqueta & Cia.: rumos para o incentivo à leitura
Ethics, etiquette & Co.: ways for reading incentive
Resumo: Apresenta algumas barreiras tradicionalmente encontradas nas bibliotecas, assim como posturas caricaturadas dos bibliotecários. Ao mesmo tempo, sugere diversas ações e enfoques, obtidos através de experiências e observações, embora se reporte a algumas indicações bibliográficas. Tais sugestões visam incentivar a leitura dos usuários. Igualmente, avalia as atitudes do profissional em relação a seus colegas de trabalho e a seus usuários. Abarca, ainda, questões éticas que permeiam a postura, o linguajar, o comportamento e os trajes do bibliotecário. Do mesmo modo, identifica ações aplicáveis para redimensionar os espaços na biblioteca, ampliar a comunicação com os usuários, melhorar o uso do acervo, por meio de sinalizações mais amigáveis. Posteriormente, sugere ações para promoção do incentivo à leitura. Ao final, arrola os projetos públicos que podem servir de auxílio às bibliotecas. As sugestões relatadas se caracterizam por sua simplicidade e praticidade, que independem de decisões governamentais. Cabe, apenas, ao bibliotecário realizar mudanças em sua rotina, de maneira que beneficiem a leitura de seus usuários.
Palavras-chave: Incentivo à leitura. Bibliotecas. Bibliotecários.
Abstract: It presents some barriers traditionally found in libraries, as well as some caricatural librarian’s profile. At the same time, it suggests different activities and foci, obtained through experiments and observations, although it refers to a few bibliographic items. These suggestions have the objective of motivating the users’ reading. On the same way, it evaluates the professionals’ attitudes, related to their colleagues and users. It also encompasses ethical questions, that permeate the librarian’s posture, mode of speech, behaviour, and clothes. It identifies, in addition, applicable actions to resize the library’s spaces, to amplify the communication with the users, and to improve the collections’ use, through friendly signs. Likewise, it suggests some actions for reading improvement. It finishes by listing Brazilian public projects, which may help the libraries. The related proposals are characterized by their simplicity and practicability, which independ of government decisions. The librarian, alone, can perform changes in his(her) routine, and in that way, to benefit his (her) user’s reading.
Key-words: Reading incentive. Libraries. Librarians.
1 Introdução
As diversas experiências pessoais e profissionais em bibliotecas, assim como diferentes leituras sobre o uso de bibliotecas e a personalidade dos bibliotecários, levaram-nos a buscar algumas estratégias que, acreditamos, talvez se mostrem úteis para tornar a leitura e a cultura fontes de prazer e lazer. Também nos fortalece a idéia de que uma boa biblioteca se constitui não apenas em um bom acervo, mas também em ambientes agradáveis e acolhedores, por sua distribuição espacial e, fundamentalmente, pelas pessoas que ali atuam.
Para início de conversa, recolhemos de algumas fontes um anedotário que ridiculariza e estigmatiza a biblioteca e o bibliotecário, e assim buscamos chamar a atenção para a necessidade de atitudes inversas, que os valorizem e estimulem a leitura. Entre Manguel (2006), Chalámov (2004) e Battles (2003), citando a si e a outros, a biblioteca pode significar: prisão, purgatório, enfermaria, claustro ou clausura, inclusive gerando claustrofobia. Ao bibliotecário, não restam poucas alternativas horripilantes: ogro vociferante, bruxa, maníaco de silêncio e outras mais, com o indefectível coque no cabelo das bibliotecárias; enfim, sempre personalidades assustadoras, problemáticas, desinteressantes e desinteressadas de seu trabalho, limitadas a regras e códigos. Italo Calvino (2001) descreveu uma das poucas imagens salvadoras, em Um general na biblioteca, quando o bibliotecário culto e tranqüilo, através da indicação de leituras, transforma os censores (o general e seus subordinados) e suas idéias: um claro exemplo do papel maior das bibliotecas, o de possibilitar o crescimento dos indivíduos.
E o que se considera biblioteca?
Segundo Houaiss (2001), de acordo com a etimologia da palavra:
bibli(o) - antepositivo, do gr. biblíon,ou ‘papel de escrever’, carta, lousa, tábula de escrever e (num esboço evolutivo) livro [...];
fr. bibliothéque (1493) do gr. Biblíon ‘livro’ + téké ‘caixa, depósito’, através do latim bibliothéca,ae; ver bibli(o)- e -teca; f.hist. 1670 bibliotheca (sXVII) […];
edifício ou recinto onde ficam depositadas, ordenadas e catalogadas diversas coleções de livros, periódicos e outros documentos, que o público, sob certas condições, pode consultar no local ou levar de empréstimo para devolução posterior.
Fonseca (2007, p. 48) complementa: “Théke, por sua vez, é qualquer estrutura que forma um invólucro protetor: cofre, estojo, caixa, estante, edifício”.
Cabe um pequeno parágrafo sobre a questão, muito difundida, de que “biblíon” significaria “livro”. A nosso ver, os gregos, que não possuíam livros mas rolos de papiros, oriundos da cidade fenícia de Biblos (hoje no Líbano), referiam-se na verdade a suporte para escrita (como explica Houaiss, op. cit., na etimologia de “bibli(o)”). Os códices surgem com os romanos (como placas enceradas articuladas por dobradiças) e desenvolvem-se em Pérgamo, através da costura de pergaminhos, muito semelhantes aos livros atuais. Assim, “biblioteca”, por demais vinculada aos textos escritos e impressos – devido a sua introdução na língua francesa no mesmo período do aparecimento do livro impresso – pode abranger todo e qualquer tipo de material, tangível ou ciberespacial, desde que destinado ao registro do conhecimento.
Para a obra Terminology of documentation, de Wersig e Neveling (1979) biblioteca é:
Qualquer coleção organizada de livros impressos e periódicos, ou quaisquer outros materiais gráficos ou audiovisuais, e o serviço da equipe de modo a prover e facilitar o uso de tais materiais, como requerido para ir ao encontro das necessidades informacionais, de pesquisa, educacionais ou recreativas de seus usuários.
Finalmente, com base em texto de Mey (1987, p. 1), aqui compreende-se biblioteca, em seu sentido amplo, como instituição voltada à reunião, organização e disseminação do conhecimento registrado (tangível ou ciberespacial), não importando o nome pelo qual essa instituição se denomine. Em princípio, uma biblioteca existe para propiciar alternativa, possibilidade e oportunidade às pessoas. Alternativa, para que possam escolher entre vários, não havendo nunca um caminho único. Possibilidade, para que tenham acesso ao que, de outro modo, lhes estaria vedado, por empecilhos de ordens diversas. Oportunidade, porque apenas através do conhecimento as pessoas se podem transformar e transformar o mundo em que vivem.
O objetivo geral deste trabalho, escrito a muitas mãos e cabeças pensantes, consiste em apresentar algumas propostas visando a um melhor uso das bibliotecas e ao incentivo à leitura. Pretende, também, oferecer sugestões para transformar a biblioteca em local atraente a todos os tipos de pessoas, de diferentes idades. Não se trata de diretrizes ou normas a serem seguidas rigorosamente, mas recomendações sugeridas, que, uma vez aceitas, deverão ser aplicadas com compromisso e comprometimento profissional. As propostas se baseiam, muito mais, no saber vivido de cada um, do que em saber acadêmico. Tais sugestões se dividem em quatro partes: a) postura do bibliotecário; b) espaços, ambientes e ações gerais; c) propostas de incentivo à leitura; d) políticas públicas.
Finalmente, cabe uma palavrinha importante: quem faz a biblioteca é o bibliotecário, com ações e atitudes voltadas a seu público. Biblioteca não se pode transformar em muro das lamentações: “o governo não ajuda”, “a prefeitura não apóia”, “os professores não colaboram”, “a população não lê”, “a verba não chega”, “o bibliotecário não é valorizado”, e assim por diante. Lembremo-nos de que até um “jegue biblioteca” funciona. Mesmo nas condições mais adversas, a imaginação, a engenhosidade, a criatividade e o empenho no trabalho podem gerar frutos inesperados e surpreendentes. Nós todos possuímos a capacidade necessária e as habilidades para realizar um trabalho maravilhoso, em uma profissão maravilhosa. Ânimo e mãos à obra!
2 Perfil deontológico do profissional bibliotecário
Ética, segundo Houaiss (2001), entre outras acepções, define-se como “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”. Weiszflog (2004) define ética como sinônimo de deontologia, ou seja, “conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão”. Houaiss (op. cit.) aprimora: "Deontologia – conjunto de deveres profissionais de qualquer categoria profissional minuciados em códigos específicos”.
O Conselho Federal de Biblioteconomia dispõe sobre a deontologia, ou ética, do profissional bibliotecário na resolução CFB n.º 42, de 11 de janeiro de 2002. Esse código descreve as normas de conduta, os direitos e os deveres do bibliotecário, e encontra-se disponível para leitura e conhecimento no sítio do CFB: http://www.cfb.org.br/.
Com base nesse código, observa-se que o relacionamento do profissional bibliotecário norteia-se por três eixos distintos, porém interligados: com a classe, com os colegas de trabalho e com o público. A tônica do primeiro eixo de relacionamentos consiste na noção de que cada membro da classe bibliotecária se torna, direta ou indiretamente, representante de toda a classe junto à opinião pública. O respeito e os bons modos devem permear o relacionamento harmonioso e de ajuda mútua entre colegas; afinal os diferentes setores de uma biblioteca devem considerar o objetivo maior de atendimento ao público. As mesmas recomendações se aplicam às relações interpessoais de bibliotecário e público. O bibliotecário deve sempre ser solícito e atento, de modo que inspire confiança e deixe o usuário à vontade, propiciando uma melhor interação e, com isso, maior satisfação pelos serviços prestados. A tais aspectos se acrescentam a discrição e o sigilo, no que se refere às opiniões sobre os usuários e às informações que estes fornecem e que lhes são fornecidas.
Passamos muitas horas no trabalho. Na verdade, temos maior convivência com os colegas do que, muitas vezes, com a nossa família. Mas cada pessoa tem sua história de vida, suas origens, sua formação. Para conciliar tanta diversidade, fechada em um ambiente restrito durante mais de oito horas por dia (porque há os horários de refeições), precisa-se de absoluta discrição e urbanidade. A intriga, vulgarmente conhecida como “fofoca”, mostra-se um dos mais destrutivos elementos da convivência humana, ao lado da impolidez e do desrespeito. Devemos ter como princípio que, se não há nada a dizer sobre o clima (britanicamente), o mundo, os livros, os filmes, ou os projetos para a biblioteca, ou ainda algo de agradável a um colega ou usuário, preferível calarmo-nos e fazermos voto de silêncio. Cada um de nós, comprovadamente, se sentirá melhor com tal diretriz como linha mestra.
Paldrön (2003, p. 15-16; 18) observa, com muita clareza:
Todos os seres, objetos e acontecimentos dependem de inúmeros outros e, por conseguinte, cada ação, como um fio puxado numa imensa e complexa rede de relações interdependentes, interfere com todo o resto. Desta forma, é absurdo pensar que os atos que praticamos apenas afetam a nós mesmos, como se estivéssemos isolados numa redoma, e que uma coisa pode, simultaneamente, fazer mal a outros e ser-nos benéfica. A experiência empírica demonstra o contrário e basta um pouco de reflexão para dissipar nossa cegueira habitual [...]. Os resultados patentes da falta de valores levaram a nossa sociedade à crise em que se encontra, e parece-me que todos os problemas com que nos defrontamos, em nível pessoal e planetário, nascem de duas graves lacunas: a falta de ética e a falta de sentido da vida. Vivendo vidas absurdas, baseadas exclusivamente em atividades triviais de sobrevivência e alienação, a maior parte das pessoas comete, sem qualquer discernimento, ações negativas que conduzem apenas ao sofrimento.
Existe, ainda, um problema adicional, oriundo de práticas empresariais: o culto à (pseudo) racionalidade. Para Dupas (2001, p. 71), “O técnico atual aspira tornar-se um deus cibernético”. Nós, bibliotecários, influenciados pelos meios de comunicação, tendemos a nos transformar em bibliotecários-robôs. Em nome da racionalidade, dos valores corporativos, assim como em nome de diferentes religiões ao longo da História, quantos crimes se cometem! Devemos ter em mente, a cada instante, que nossa profissão é uma ciência social aplicada, isto é, realizada por seres humanos e para seres humanos. Parte de nossa ética consiste em colocar, acima de todos os instrumentos, e acima das técnicas e “racionalizações” administrativas, as pessoas. Estas se mostram os verdadeiros motores da Biblioteconomia: quando produzem, quando organizam e quando buscam conhecimento.
A ética profissional pode envolver outras diferentes questões, que influenciam a boa relação do bibliotecário com o ambiente de trabalho e os usuários. Primeiramente, o profissional deve conhecer e atentar para a cultura local, seja ela organizacional ou comunitária. Por exemplo, não se fará um evento com bebidas alcoólicas em uma comunidade muçulmana. Implica, também, respeito aos objetivos da instituição de trabalho. Por exemplo, uma biblioteca de apoio a pesquisas sigilosas não pode ser aberta ao público em geral. Ao inserir-se em uma instituição, o bibliotecário deve compartilhar de seus valores. Como auxílio, existem inúmeros manuais sobre etiqueta no trabalho.
Ao mesmo tempo, sendo a linguagem falada responsável pelo processo comunicativo, e essencial a ele, deve ser correta sem se tornar pedante, adequando-se aos usuários e à cultura local. Mesmo a linguagem simbólica ou escrita precisa ser compreensível aos usuários locais. Palavras e gestos deselegantes, intimidantes ou preconceituosos não devem, em momento algum, fazer parte do linguajar ou dos modos do bom profissional. Aliado às questões do linguajar, do gestual e do vocabulário, o tom de voz precisa manter-se normal, controlado, nunca alto, nem tão baixo que não possa ser ouvido.
O vestuário também retrata a pessoa e a instituição em que ela trabalha. Portanto, apesar de muitos considerarem desnecessário e fútil o cuidado com o vestir-se apropriadamente, este é um item importante a ser considerado. Há manuais de etiqueta empresarial, que orientam tanto o homem quanto a mulher, sobre o bem vestir em diversas ocasiões profissionais. Determinados empregadores – e até mesmo alguns grupos de profissionais ou de empregados – exigem, eles próprios, trajes específicos para o seu trabalho. Por exemplo: o Congresso Nacional determina terno e gravata para os homens e saias para as mulheres; outros exigem uniformes, maquilagem, saltos altos e assim por diante. Se não há exigências, nem restrições da instituição, cabe ao bibliotecário manter o bom senso e o bom gosto, pois uma vestimenta inadequada pode constranger usuários e empregadores. Assim, devem ser deixadas de lado as bermudas, as sandálias do tipo “havaiana”, os decotes exagerados, bem como as saias, calças e blusas que de tão curtas ou justas pouco cubram o corpo, às vezes tornando visíveis as roupas íntimas; também as camisetas regatas, as roupas transparentes e os trajes de ginástica devem ser de todo evitados. Se você vai lidar com crianças o dia inteiro, precisa vestir-se de forma casual e usar sapatos confortáveis. Se trabalha com populações carentes, não deve vestir-se de modo exageradamente elegante, pois intimidaria seus usuários. Em resumo, o importante é o bom senso na escolha dos trajes, para que estejam sempre de acordo com o ambiente de trabalho. Se por exemplo você conseguiu emprego numa biblioteca que funciona em posto salva-vidas na beira da praia, muito do que foi dito acima ficará sem efeito; mas por favor, não vá trabalhar de sunga, maiô ou biquíni!
Atenção, portanto! Cuidado para não intimidar seus usuários, por quaisquer meios. Postura, vestimenta, linguajar e outras atitudes podem criar barreiras intransponíveis para o resto de suas vidas, ou favorecer o bom relacionamento entre os funcionários e com os usuários, num ambiente de harmonia que, certamente, propiciará a leitura e a aquisição de conhecimento.
3 Espaços, ambientes e ações gerais
Nos primórdios, as bibliotecas eram vistas como templos impenetráveis, dos quais apenas os intelectuais, de certa categoria social, podiam desfrutar. Organizavam-se entre si, de forma indecifrável aos leigos nos assuntos biblioteconômicos, tendo como guardião dos livros o bibliotecário, com sua caricatura severa, mas também um intelectual e pesquisador.
Neste tópico, contrapomo-nos às características físicas das antigas bibliotecas e abordamos a distribuição e a organização dos espaços. Estas se mostram de fundamental importância para o cumprimento da meta ou razão de ser das instituições bibliotecárias: disponibilizar conhecimento e informação aos usuários.
A arquitetura do prédio, suas formas, a exposição e a disposição das estantes, a iluminação, entre outros, são fatores essenciais a um centro de informação, como discorre Manguel (2006, p. 116):
Não leremos um livro da mesma maneira se estivermos dentro de um círculo ou de um quadrado, num cômodo de teto baixo ou em outro de caibros altos. E a atmosfera mental que criamos no ato da leitura, o espaço imaginário que construímos quando nos perdemos nas páginas de um livro é confirmado ou refutado pelo espaço físico da biblioteca, e é afetado pela distância entre as estantes, o apinhamento ou a escassez de livros, as qualidades tácteis e olfativas, os graus variáveis de luz e sombra.
Portanto, como o usuário é o personagem principal de nosso estudo, torna-se necessário pensar na organização física do ambiente e de seus respectivos materiais; deve-se pensar ainda em um layout atrativo e aconchegante, que proporcione aspecto acolhedor e de melhor aproveitamento para todos aqueles que procurem os serviços de uma biblioteca. Cabe lembrar que existem parâmetros internacionais para o seu dimensionamento físico, como as diretrizes da Unesco (WITHERS, 1974). Também o nosso Ministério da Educação possui alguns critérios para as bibliotecas universitárias. Tais recomendações ajudam os bibliotecários a adequar os espaços, a seus usuários.
Com tais idéias em mente, propomos algumas iniciativas que visam minimizar distâncias físicas, sociais e mesmo intelectuais, assim como as dificuldades por elas criadas na relação entre usuários e bibliotecas, em qualquer tipo de público: universitário, infantil, juvenil, adolescente ou adulto, leigo ou especialista.
Quem nunca ficou ansioso ao chegar a um lugar estranho, desconhecido e fora da sua realidade? Assim parece a biblioteca. Sua estrutura – estantes, livros, mesas, cadeiras, balcão, funcionários fechados em salas e placas de silêncio – a torna um ambiente hostil àqueles não acostumados a tais espaços, e até mesmo àqueles que um dia já usufruíram de seus serviços.
Para tornar o ambiente da biblioteca mais agradável e menos assustador, precisamos minimizar as barreiras (rançosas) existentes entre usuários, funcionários e os registros do conhecimento. Primeiramente, os usuários precisam sentir-se envolvidos com a biblioteca. Por que não convidá-los para uma exposição, palestra, ou outro evento, e um café, de modo que se integrem e que venham a organizar-se em um Conselho de Usuários?
O Conselho de Usuários favorece a participação ativa e permite à direção conhecer a visão do público e sentir suas demandas. Representantes de cada categoria do público (inclusive infantil), formariam esse Conselho. Em caso de biblioteca pública, por exemplo: um representante da comunidade, um representante infantil, um representante juvenil, um representante da terceira idade, um representante de pessoas com necessidades especiais, um representante do governo municipal, entre outros, de acordo com as características de cada localidade. O que nos leva a um ponto indispensável: a administração da biblioteca precisa conhecer o público a que deve atender e apoiar; do mesmo modo, precisa conhecer a própria cidade, sua história e formação; ou a escola em todos os seus aspectos; ou a universidade, enfim, quaisquer ambientes em que atue. Toda decisão a ser tomada deve, antecipadamente, tornar-se objeto de discussão e aprovação pelo Conselho. Além de dividir a responsabilidade da direção, o Conselho favorece maior aproximação da biblioteca aos interesses dos usuários e revela a importante faceta democrática dessa instituição.
Um dos aspectos em que o Conselho (ou os próprios usuários) deve opinar trata-se das sanções por atraso, perda ou dano de materiais bibliográficos. Em contrapartida, também deve arbitrar sobre anistia às sanções. Sabe-se que somente o envolvimento de usuários conscientes pode diminuir, de forma significativa, os prejuízos ao acervo. Por outro lado, promoções aos bons leitores também ajudam a minimizar o problema.
Os acervos fechados, os quais dependem de funcionários para acesso, constituem-se em barreira significativa. Em primeiro lugar, o usuário precisaria saber, com exatidão, aquilo que procura. No entanto, muitas vezes, nem ele mesmo sabe o que quer ou o que gostaria de consultar. Em segundo lugar, ao dirigir-se ao acervo, poderia encontrar, ao acaso, materiais pertinentes a seu objeto de estudo ou lazer. Finalmente, acervos fechados impedem a geração de alternativas aos usuários, o que prejudica este aspecto fundamental da instituição bibliotecária. Por melhores que sejam os catálogos, nem sempre é possível introduzir todas as formas de busca, ou todas as relações cogitadas pelo usuário. Assim, propomos livre acesso às estantes por seus freqüentadores, embora estes possam contar, também, com a ajuda de um profissional, se necessário.
Entendemos que tanto professores quanto pais e bibliotecários têm sua parcela de responsabilidade no desestímulo à leitura. Um dos aspectos contraproducentes ao bom aproveitamento dos serviços bibliotecários vem de práticas escolares. O uso da biblioteca, pejorativamente assumida como lugar de castigo para os alunos, fez com que lhe fosse associada uma imagem depreciativa, com diversas proibições quanto a barulho, conversas e risadas, atitudes naturais para as crianças.
É fato que essas mesmas crianças, quando adultas, permanecem com a imagem do “não-barulho” e do não-pertencimento à biblioteca. Por outro lado, muitas vezes, as escolas criam as ditas “aulas de biblioteca”, sem nenhuma liberdade de escolha para as crianças e, muitas vezes, sem atrativos: atividade obrigatória, quando deveria ser prazerosa. Quanto aos pais, já se presenciou, muitas vezes, a atitude paterna em feiras de livros: “Vou comprar este livro para você; mas é muito grande e, se não ler até o fim, vai ficar de castigo”; e outras mil invenções coercitivas, de alguém que, definitivamente, não deseja um filho leitor. Quanto aos bibliotecários, tratamos de seu papel especificamente em outros tópicos.
Outro fator que inibe os usuários são as portas fechadas do corpo administrativo da biblioteca, em que o medo de incomodar dificulta a solicitação de serviços a esses profissionais. Muitas vezes, além das portas fechadas, as salas também exibem a placa “entre sem bater”. Evidentemente, o usuário pode ter a sensação de incomodar o profissional. Sem saber o que encontrará pela frente, preferirá, mais uma vez, não utilizar os serviços. Salas com portas fechadas se mostram úteis apenas para serviços técnicos, assim mesmo com meia parede em vidro, com divisórias internas baixas. Se a biblioteca possui poucos bibliotecários, todos deveriam voltar-se ao atendimento do público.
Cabe uma observação sobre os famosos balcões de empréstimos. Estes móveis feios, desagradáveis, uns monstrengos desconfortáveis tanto para funcionários como para usuários, precisam ficar mais escondidos, não à entrada da biblioteca. Podem mesmo desaparecer, pois criam uma barreira intransponível entre leitor e instituição. Definitivamente, balcão de empréstimo parece um cérbero, guardião da biblioteca. Se indispensável, precisa de absoluta discrição. Sugere-se a alternativa de utilizar mobiliário mais baixo e funcional.
Aprendemos com as Bibliotecas da UNESP, que possuem uma excelente distribuição espacial padronizada, assim como ótimos atendimento e receptividade, que sala de chefia deve localizar-se na entrada da Biblioteca, com porta aberta ao público. Apenas dessa forma, a direção permanece inteirada de todos os atos e fatos e pode medir a satisfação dos usuários.
Do mesmo modo, o serviço de referência (nada a ver com balcão de empréstimo), com ou sem sala, precisa situar-se à entrada, onde há trânsito obrigatório das pessoas, permitindo contato dos usuários com os funcionários de quaisquer níveis hierárquicos, levando à identificação nominal, à interação face-a-face, à comunicação oral, enfim, a relações visíveis e perceptíveis, de forma que crie sociabilidade, pelo menos aqueles tipos de mediação, histórica e culturalmente definidos. Quem sabe, até, (para usar certa expressão de Edson Nery da Fonseca) consigam transformar usuários em leitores?
Uma biblioteca pode proporcionar diversos ambientes, voltados a diferentes interesses do público, em diferentes momentos: ambiente silencioso, para leitura ou estudo individual; ambiente para estudos em grupo; ambiente para conversa, troca de idéias, risadas, descontração e encontro com amigos; ambiente para jogos de raciocínio e concentração, como xadrez, quebra-cabeça ou outros jogos educativos; ambiente para cursos, palestras ou exibição de vídeos.
A primeira sugestão consiste em um café filosófico, dentro da biblioteca, onde as pessoas possam encontrar-se, fazer lanches, tomar café, enquanto trocam idéias, refletem e discutem sobre assuntos diversos: um lugar que possa servir de ponto de encontro. O café também exporia as revistas da semana e os jornais do dia. Por outro lado, um jardim interno, ou uma varanda, com cadeiras e mesas confortáveis, proporciona um contato diferente com o material de leitura.
Torna-se imprescindível pensar em salas para estudo em grupo, bem como locais de absoluto silêncio (espaços ou salas), para estudo e leitura individuais. Caso a biblioteca não tenha espaço ou condições para salas independentes, precisa separar ambientes, com relativa distância, entre os silenciosos e os barulhentos. No lugar de placas de silêncio, colocam-se avisos, como por exemplo: “Espaço destinado ao estudo e à leitura individuais” ou “Espaço destinado ao trabalho e ao estudo em grupo”.
O acervo, preferivelmente, deve localizar-se ao centro da biblioteca, com uso de luz artificial. As mesas de estudo devem situar-se ao largo, em torno do acervo, providas de luz natural. Esse modelo favorece a concentração nos estudos e leituras, preserva a acuidade visual dos leitores e lhes proporciona a contemplação do dia, da noite e das condições climáticas. A disposição das estantes também permite a separação de ambientes.
Faz-se necessária, ainda, a determinação de ambientes segundo critérios de faixa etária ou interesses dos usuários. Os materiais escolhidos devem favorecer a aproximação e o contato entre o usuário e os registros do conhecimento. Para tanto, sugerimos:
¨ o uso de estantes e demais mobiliários apropriados a seu público. Por exemplo: altura;
¨ placas com identificação das grandes áreas e subáreas do conhecimento, assim como identificação de diferentes acervos, por meio de sinais mnemônicos, símbolos ou cores;
¨ identificação dos números de classificação e dos assuntos correspondentes nas laterais das respectivas estantes;
¨ uso de borrachas imantadas, com classificações e letras dos autores em cada prateleira. Quando possível, deve-se acrescentar o assunto propriamente. Por exemplo: ANIMAIS, ZOOLOGIA 590 A-V;
¨ organização por gêneros ficcionais, para literatura e vídeos, com o uso de símbolos (em vez de números de classificação). Tal prática vem mostrando utilidade e atraindo o público, tanto infanto-juvenil quanto adulto;
¨ adoção de cores, nas paredes, no chão e no mobiliário, que diferenciem os espaços, promovam a concentração e a fluidez da leitura, assim como despertem a criticidade.
Um aspecto fundamental e muitas vezes ignorado diz respeito ao horário de funcionamento das bibliotecas. O ideal, lógico, seria abertura por 24h, sete dias na semana, porém sabemos que dificilmente se chegará a isso, inclusive por questões de segurança. A menos que haja um único bibliotecário, sem nenhum auxiliar, a biblioteca deve abrir durante 12 horas por dia, preferencialmente todos os dias da semana. Esse horário permite que as pessoas trabalhadoras utilizem a biblioteca e que estudantes a freqüentem no final de semana. Façamos as contas: um servidor público trabalha 40 horas por semana; com um bibliotecário e dois auxiliares, se bem divididos os turnos, torna-se possível sem grandes problemas a abertura da biblioteca, pelo menos por 12 horas de segunda a sábado, com mais algumas horas no domingo.
Sugerem-se, abaixo, outras práticas acolhedoras e envolventes:
¨ exposição, em lugar visível, de uma pergunta a cada vez, voltada ao público adolescente; por exemplo: qual o elemento químico usado como princípio ativo de refrigerantes e que efeitos podem causar a sua saúde?;
¨ exposição de um quebra-cabeças por vez, a ser completado pelo público;
¨ promoção de gincanas orientadas (do tipo “siga as pistas e descubra de qual livro estamos falando”);
¨ promoção e exibição de experimentos em feiras de ciências;
¨ formação de acervos de espécimes, com a colaboração do público, como por exemplo: de pedras, de insetos, de plantas, entre outros;
¨ exposições regulares, visando à promoção de artistas locais, ou de outras pessoas com atividades interessantes (orquidófilos, filatelistas, artesãos, entre outros);
¨ workshops sobre elaboração de monografias, trabalhos e pesquisas escolares;
¨ oficinas diversas, inclusive sobre “como fazer”; por exemplo: a Prof. Rosinês Sebin, quando trabalhava na biblioteca municipal de Ibaté (SP), realizava oficinas para o ensino do xadrez e a produção do jogo em si, a partir de materiais recicláveis;
¨ acesso a determinados sítios da internet;
¨ exibição de telecursos e vídeos educativos;
¨ mercado de pulgas, ou feiras de troca-troca, de livros, vídeos e outros materiais;
¨ mural de avisos e divulgação, simples, barato e de grande receptividade;
¨ caixa de sugestões ou reclamações, onde os usuários possam deixar suas opiniões, críticas e sugestões sobre o espaço e as atividades da biblioteca;
¨ tratando-se de bibliotecas públicas, criação de acervo especial com a história da cidade, inclusive promovendo o registro da história (oral, escrita, visual), com a colaboração do público, a exemplo do Projeto Memória, da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, de Araraquara (SP). O mesmo se aplica a outros tipos de biblioteca.
Todas as sugestões acima, embora por vezes singelas, mostram-se baratas e, comprovadamente, ajudam a promover maior aproximação dos usuários e a transformar a biblioteca em lugar aconchegante e acolhedor, de incentivo à leitura, à pesquisa, ao lazer e ao conhecimento.
4 Práticas para incentivo à leitura
No mundo de hoje, particularmente visual e cibernético, a leitura de livros passou a um indiscutível segundo plano, chegando mesmo a terceiro ou quarto em determinadas culturas. Grande parte da população brasileira se constitui de analfabetos funcionais: pessoas que aprenderam a ler e a escrever, mas que não desenvolvem tais habilidades e tornam-se incapazes de compreender um texto qualquer, até mesmo um panfleto de seu interesse. A leitura apenas ciberespacial, a livre comunicação de besteirol via Internet, a carência da leitura fluente, reflexiva e compreendida, impedem o cidadão ou cidadã de conhecer seus direitos; de tomar conhecimento real do que se passa no município, estado ou nação; de cuidar melhor de sua saúde, família e filhos; de conseguir empregos mais qualificados, entre outras oportunidades. Não importa a origem da pessoa, a leitura a transporta a um melhor patamar na qualidade de vida. Fato mais do que comprovado, não necessita indicações bibliográficas; sugerem-se apenas Paulo Freire (c1992), Richard Bamberger (2002) e Ezequiel Theodoro da Silva (2005), por instigantes e de extrema clareza.
Em amplo estudo internacional, o PISA (Project for International Student Assessment), ou projeto de avaliação internacional de estudantes, do qual participaram 41 nações (2003), sendo o Brasil voluntário, assim como outros nove países, “brigamos” com a Indonésia e a Tunísia pelos últimos lugares! Dois aspectos favoráveis: desde 2000, somos voluntários na participação, o que demonstra interesse por parte de nosso Ministério da Educação em diagnosticar o problema; segundo aspecto, houve uma ligeira melhora, da avaliação de 2000 para a de 2003 (ainda não se obteve o resultado final para 2006). Na leitura dos testes realizados, observa-se que nossos alunos, com 15 anos, na oitava série ou além (parâmetros da investigação), não são capazes de entender o que lêem, do Oiapoque ao Chuí. Não mais por falta de livros: a indústria editorial nunca esteve tão forte em nosso país, nunca se publicou tanto, nem se vendeu tanto. Inúmeros programas governamentais adquirem livros e os mandam para as escolas, para os alunos, para as bibliotecas (cf. tópico 5). O que falta, então, para a leitura? O que se torna necessário, urgente e mesmo indispensável para a volta ao livro como referência de vida e de lazer? Qual o papel do bibliotecário nessa travessia?
A nosso ver, o que falta para a leitura são ações de bibliotecários em todas as categorias de bibliotecas: escolares, públicas, universitárias, comunitárias, especiais (destinadas a pessoas com necessidades especiais) e especializadas. Aqui, cabe um parêntese: não apenas ações bibliotecárias, mas formação especializada de bibliotecários para o incentivo à leitura.
Como já dito em tópico anterior, primeiramente o bibliotecário precisa conhecer o público e o ambiente onde se insere a biblioteca, para bem realizar seu trabalho. Por outro lado, precisa ser um bibliotecário leitor e um leitor bibliotecário ou seja, ler como deseja que leiam seus leitores e atendê-los como se também fosse um usuário.
Na escola, existem diferenças básicas, de princípios e de objetivos, entre professores e bibliotecários. O professor tem um currículo a seguir, um conteúdo de aprendizagem, uma diretriz maior; provas a realizar, resultados a obter. O bibliotecário promove a liberdade: de escolha, de vestimenta, de horário, de ritmo próprio no caminho do conhecimento. Tais diferenças não os tornam concorrentes, mas parceiros na formação de cidadãos. O bibliotecário escolar precisa interagir com professores, tornar-se o elo professor-aluno na elaboração de trabalhos, propor leituras, participar ativamente dos projetos da escola, conhecer o currículo e as estratégias de ensino, de modo que demonstre capacidade em prover os materiais necessários aos docentes e aos alunos. Por outro lado, devem estar presentes, ao lado da função educativa, as funções cultural e de lazer, tanto para alunos como para professores. O mesmo se aplica às bibliotecas universitárias, embora em outro nível de estudo.
A biblioteca pública apresenta um espectro maior de usuários, quanto a faixas etárias e formações assim como a interesses: um procura a biblioteca para a leitura de jornais e revistas; outro, para leitura prazerosa e divertida; outro ainda, para estudo ou informação; enfim, imensa gama de buscas, de demandas e de pessoas em si. O bibliotecário precisa conhecer um pouco de psicologia e de relações interpessoais, para saber a quem ajudar e como fazê-lo, de modo que deixe os usuários satisfeitos e agradecidos. Mais ainda, precisa interessar o público pela leitura, o que obterá somente se for aceito pela comunidade. As bibliotecas comunitárias em tudo se assemelham às bibliotecas públicas, embora possam agrupar características de outros tipos de biblioteca.
A biblioteca especializada pode promover a leitura e o estudo da própria literatura especializada, pela divulgação e pelo estabelecimento de perfis dos usuários, com disseminação seletiva da informação, pois seu público é menor e de interesses restritos, comparativamente às demais bibliotecas.
A biblioteca especial, além de cumprir todas as funções de uma biblioteca pública e, às vezes, da escolar, ainda requer treinamento não só para lidar com pessoas especiais e ajudá-las, bem como para criação e organização de acervos.
A seguir, arrolamos sugestões para incentivo à leitura, em qualquer tipo de bibliotecas:
¨ Concurso literário – com poesias e histórias que podem ser publicadas;
¨ Concursos diversos a partir de um livro, um tema, uma história;
¨ Valorização, por meio de exposições, da produção literária local;
¨ Histórias contadas pelo bibliotecário, com escolhas adequadas à faixa etária do usuário;
¨ Histórias contadas pelos usuários, leitores interessados em compartilhar suas experiências de leitura, independentemente da faixa etária;
¨ Saraus literários e musicais, sobre temática específica (por exemplo: literatura e música brasileiras do século XIX);
¨ Encontro com autores – um espaço onde os usuários possam ter contato com autores de livros preferidos, ou mesmo desconhecidos;
¨ Encontro de leitores, com debates sobre o livro lido, onde um grupo de leitura (ou vários diferentes) escolhe um livro, para ser debatido em espaço próprio na biblioteca;
¨ Exposição de novidades – um espaço só com os lançamentos;
¨ Marcadores de livros com literatura semelhante à escolhida pelo usuário;
¨ Marcadores de livros elaborados pelos usuários, por meio de concursos;
¨ Folhetos com literatura relacionada a palestras ou eventos realizados na biblioteca;
¨ Sinopses ou avaliações de livros, elaboradas pelos usuários e expostas na biblioteca, para despertar o interesse de outros leitores;
¨ Promoções para os bons leitores.
Todas as atividades citadas podem ser desenvolvidas em bibliotecas escolares, públicas, comunitárias ou universitárias, desde que adequadas à realidade dos usuários, assim como a suas demandas e faixas etárias correspondentes.
5 Políticas públicas nacionais de incentivo à leitura
A leitura tem sido foco de preocupação em vários países, sobretudo por ser o meio por excelência para consolidar a cidadania. No Brasil, políticas públicas podem ser observadas não apenas no âmbito federal, como nas esferas estadual, regional e municipal. Entendemos que essas políticas, por mais abrangentes e estruturadas se mostrem, patenteando inclusive credibilidade em seus planos de ação, não possuem mecanismos capazes de incentivar e promover, efetivamente, a prática e a promoção da leitura. Tais políticas podem desenvolver e consolidar as bibliotecas; mas para o alcance do objetivo maior do hábito de leitura, precisam da participação ativa de um bibliotecário, especializado na promoção da leitura. Acreditamos que políticas públicas consistentes, aliadas ao trabalho de profissionais competentes, resultarão na profícua atividade de incentivo à leitura, de modo que nos tornemos todos leitores e cidadãos críticos.
Destacam-se, entre as iniciativas de âmbito nacional:
a) Plano Nacional do Livro e da Leitura
Criado por Portaria Interministerial, pelo Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), conferido como política de Estado, de natureza abrangente, anseia nortear e garantir políticas, programas, projetos e ações continuadas desenvolvidas nos âmbitos ministeriais, estaduais, municipais, empresariais, em organizações de sociedade e de voluntários em geral. Para alcançar as metas deste Plano, quatro eixos orientam sua organização: [1] democratização do acesso; [2] fomento à leitura e à formação de mediadores; [3] valorização do livro e comunicação; e [4] desenvolvimento da economia do livro.
b) Prêmio Viva Leitura, integrante do PNLL
Objetiva reconhecer e estimular ações em prol das práticas referentes à leitura, e reconhecer e premiar experiências de formação de leitores. Divide-se nas categorias: [1] bibliotecas públicas, privadas e comunitárias, [2] escolas públicas e privadas e [3] pessoas físicas, universidades e instituições da sociedade.
c) Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER)
Vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, pretende contribuir com ações propiciadoras de condições para o exercício da leitura, respeitando as diversidades culturais e sociais do Brasil. Como objetivos do PROLER destacam-se: [1] promover o interesse nacional pela leitura e pela escrita, considerando a sua importância para o fortalecimento da cidadania; [2] promover políticas públicas que garantam o acesso ao livro e à leitura, contribuindo para a formulação de uma Política Nacional de Leitura; [3] articular ações de incentivo à Leitura entre diversos setores da sociedade; [4] viabilizar a realização de pesquisas sobre livro, leitura e escrita; e [5] incrementar o Centro de Referência sobre leitura. Apresenta, para tanto, três eixos de ação: [1] fomento e divulgação; [2] formação continuada de promotores de leitura; e [3] pesquisa e documentação.
Dentre as atividades desenvolvidas em âmbito regional, cita-se o “Programa São Paulo: um Estado de Leitores”. Trata-se de um programa, criado em 2003, para incentivar a leitura por prazer e facilitar o acesso aos livros. Uma de suas mais importantes metas foi obter, pelo menos, uma biblioteca pública em todos os municípios do Estado. O projeto de apadrinhamento enviava às bibliotecas um computador e um acervo básico de 600 ou 1000 títulos, definidos pela Secretaria. O Estado tomou a si, também, a responsabilidade de capacitar os funcionários municipais, de modo que desenvolvessem as atividades de estímulo à leitura. Às prefeituras coube oferecer as áreas para a implantação das unidades, além de profissionais para operá-las. Outras atividades também foram desenvolvidas como parte desse projeto: [1] Revitalização das Bibliotecas Públicas Municipais; [2] Salas de Leitura; [3] Campanha Permanente de Captação de Livros; [4] Investimento em recursos humanos: Formação de Contadores de Histórias, Capacitação dos responsáveis pelos novos espaços criados, Oficinas Regionais de Capacitação de Informação, Curso “Entre na roda” Leitura e Escola na Comunidade, Portal Leia Livro, Corredor Literário na Paulista 2007, Rua do Livro, Concurso “História do meu bairro, história do meu município”, Fórum “São Paulo: um Estado de Leitores”, Letras da Luz, Prefeito Amigo da Leitura, Selo Iniciativa Amiga da Leitura.
Citam-se, abaixo, algumas iniciativas desenvolvidas em âmbito local:
a) Oficina Palavra Mágica de Leitura e Escrita (Ribeirão Preto)
Programa que visa ao desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e linguagem oral, destinado a jovens e adultos com baixo desempenho na leitura e na escrita. Como resultados, esperam-se: [1] desenvolvimento do hábito e do gosto pela leitura entre os participantes; [2] aprimoramento das habilidades de escrita e expressão dos participantes; [3] estímulo ao protagonismo dos participantes atendidos, junto a suas comunidades; [4] aumento do interesse dos participantes pela leitura de outros textos; e [5] melhoria do rendimento escolar e/ou profissional dos participantes.
b) Projeto Fome de Livro (Ribeirão Preto)
Objetiva estimular o hábito e o prazer da leitura e, através dela, contribuir para o desenvolvimento da formação cultural de jovens e adolescentes. Inclui a capacitação de professores, realização de apresentações de teatro, torneio de futebol entre as classes (tema do primeiro livro doado) e a produção de autobiografias inspiradas na leitura do livro.
c) Campanha Faça Parte do Clube dos Amigos da Leitura (São Paulo)
Campanha da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, visa despertar o interesse pela leitura entre os funcionários da empresa e seus familiares, bem como, futuramente, nas comunidades vizinhas à ferrovia. Recebeu, em janeiro de 2006, duas mil publicações entre livros e revistas, da Fundação Padre Anchieta.
d) Parceiros da Leitura (Rio de Janeiro)
Iniciativa da organização não-governamental Viva Rio, com os jornais de Bairro do Rio de Janeiro e de 29 shoppings do Grande Rio e Região Serrana; tem o objetivo de arrecadar livros que serão doados para salas de aula e instituições de comunidades de baixa renda, para a criação de bibliotecas abertas ao público e para estimular a leitura. Essa iniciativa teve início em 2003 e, em três edições, arrecadou quase 200 mil livros. Só em 2006 foram beneficiadas 23 instituições.
6 Considerações finais
O presente trabalho apresentou sugestões baseadas nas experiências de seus autores, com vistas a melhorias na distribuição dos espaços da biblioteca, inclusive relativas à sinalização, ao contato com os usuários, à convivência entre os colegas de trabalho e à postura profissional perante a instituição. A idéia da construção de um ambiente, físico e humano, agradável torna-se vital para proporcionar ao leitor um clima de concentração e confiança.
Esta perspectiva nos leva a acreditar, firmemente, que nos tornaremos capazes de desenvolver projetos voltados ao incentivo à leitura, tendo em vista ser esta, repetimos, essencial ao conhecimento reflexivo. As ações sugeridas independem de vontades políticas, ou de patrocínios e financiamentos governamentais. Devemos lembrar-nos, sempre, que o bibliotecário é um profissional indispensável ao crescimento individual dos seres humanos e, portanto, ao crescimento coletivo de comunidades e da sociedade em geral.
7 Referências
BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. 7 ed. São Paulo: Ática, UNESCO, 2002.
BATTLES, M. A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003.
CALVINO, I. Um general na biblioteca. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
CHALÁMOV, V. Minhas bibliotecas. In: SILVEIRA, J.; RIBAS, M. (Orgs.). A paixão pelos livros. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004.
CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Resolução CFB n.º 42, de 11/01/2002. Disponível em:
DUPAS, G. Ética e poder na sociedade da informação. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Ed. da UNESP, 2001.
FONSECA, E. N. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2007.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1993.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. [s.l.]: Ed. Objetiva, 2001. 1 CD-ROM.
MANGUEL, A. A biblioteca à noite. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
MEY, E. S. A. Catalogação e descrição bibliográfica. Brasília: ABDF, 1987.
PALDRÖN, T. A arte da vida. Rio de Janeiro: Ground, 2003.
SILVA, Ezequiel T. da. Leitura na escola e na biblioteca. 10. ed. Campinas: Papirus, 2005.
WEISZFLOG, W. (Org.) Michaelis língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2004.
WERSIG, G.; NEVELING, U. (Orgs.). Terminology of documentation. Paris: Unesco, 1979.
WITHERS, F.N. Standards for library service. Paris: Unesco, 1974.
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