segunda-feira, 19 de julho de 2010

Leitores de livros eletrônicos dão força à digitalização de obras e podem aumentar a pirataria

Ataide de Almeida Jr.

Publicação: 13/07/2010

Os e-readers resolveram se modernizar e enfrentar a concorrência dos tablets e dos livros tradicionais. Com telas e peso semelhantes às publicações de papel, conectividade 3G e Wi-fi e compartilhamento das opiniões com outros leitores pelas redes sociais, os leitores de livros digitais conseguiram conquistar milhares de adeptos. De abril a maio de 2010, foram vendidas 740 mil unidades no mundo, sendo a liderança atingida pelo Nook — um e-reader da Barnes & Nobles, a livraria norte-americana. No primeiro quadrimestre, o acumulado chega a 1,4 milhão de aparelhos vendidos, de acordo com dados da Digitimes Research.

Não são apenas as empresas que fabricam os leitores de livros digitais que estão comemorando os resultados. As editoras também encontraram um novo segmento para faturar. Uma pesquisa da comScore apontou uma alta tendência entre os consumidores de e-readers — principalmente o público jovem — de pagar por jornais e revistas formatadas para esse aparelhos. Entre os usuários de 25 a 34 anos, 59% disseram que pagariam por um conteúdo virtual. O interesse se reflete nos lucros. De acordo com a consultoria norte-americana PricewaterhouseCoopers, o mercado de e-books vai passar de US$ 1,1 bilhão, índice atingido em 2009, para US$ 4,1 bilhões até 2013.

As editoras de livros e revistas há alguns anos já se preparavam para esse mercado. A Editora Matrix, com 10 anos de mercado, foi pioneira em fechar contratos para publicação de livros tanto no formato digital como em papel. “Somos uma das poucas editoras que, desde que surgimos, estamos nesse mercado. Fomos um dos primeiros a lançar um livro virtual há 5 anos, mas foi algo que não pegou porque o mercado ainda não estava pronto. Hoje, estamos mais preparados, há aparelhos e leitores para isso, além da disseminação mais segura e organizada”, explica Paulo Tadeu, da Matrix.

Ele acredita que o mercado de e-books é novo e não será algo que vai acabar com os livros de papel. “Eles vão conviver, não posso falar em proporção, ou quanto um vai tirar de vendas do outro. Mas aposto que é uma nova forma de se ver os livros”, ressalta Tadeu. A forma de leitura também deve mudar, assim como a revista Wired fez ao lançar a publicação para iPad com recursos interativos e multimídia. “O livro ter apenas letrinhas é questão de tempo para mudar. Uma série de ferramentas de interação, como vídeos e gráficos, vão começar a surgir a partir de agora”, acredita.

Os e-books também devem ser responsáveis por criar uma nova legião de leitores. “O livro virtual vai dar acesso à leitura para um novo público e a tendência é que haja mais leitores. No fim das contas, todos vão sair ganhando”, afirma Tadeu. Para os autores, os livros digitais serão uma nova forma de ganhar dinheiro com as vendas das publicações. “A próxima briga agora vai ser em relação ao preço. Os autores vão querer ganhar mais e os autores exigindo pagar menos. As editoras terão que balancear os dois lados”, explica.

A Companhia da Letras promete uma parceria com a norte-americana Penguin. “Todos os títulos dessa parceria serão lançados simultaneamente como livros impressos e e-books. A partir do final de julho, os leitores poderão escolher entre clássicos de papel ou digitais”, dizem os representantes da empresa.

As livrarias virtuais brasileiras também já começam a aderir o sistema de compras de e-books. A Livraria Saraiva disponibiliza no seu site uma loja exclusiva para a venda de livros digitais, inclusive com títulos gratuitos(1), como Cidade dos Homens, de Elena Soárez, e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. A Cultura também põe à disposição o programa Adobe Digital Editions, para leitura no computador.

Prateleira pirata
Com a popularização dos e-books, outra questão também é levantada pelas editoras: a distribuição ilegal das publicações na internet. A Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) retirou do ar de agosto do ano passado até janeiro deste ano 15,7 mil links para download piratas de livros. Cerca de 80% dos pedidos para remoção do material foram acatados sem o acionamento da Justiça. “A maioria das pessoas que disponibilizam esse material na rede não sabe o crime que está cometendo e aceita retirá-lo”, afirma Dalízio Barros, consultor jurídico da ABDR.

A fiscalização na internet é feita diariamente pela Associação. A equipe desenvolve pesquisas para descobrir os sites no qual estão sendo feito o maior número de downloads ilegais. “Alguns associados também denunciam quando veem o conteúdo em alguma página”, diz.

A Matrix trabalha comuma empresa de segurança que impede a distribuição de livros entre usuários. “No entanto, ainda há a possibilidade de alguém digitalizar um livro e distribuí-lo É uma forma mais difícil de repreensão, mas possível. A pirataria deve ocorrer dessa forma no campo dos e-books”, acredita Paulo Tadeu, da Matrix.

Na Europa, dados apontam um efeito contrário com a chegada dos leitores de livros, principalmente no âmbito universitário, com a diminuição do download pirata. “O conteúdo do livro digital é mais barato. Quando você precisa de uma visualização rápida ou uma simples consulta, o formato digital é mais rápido. Se o preço do produto é melhor que em uma livraria, ele vai adquirir a publicação”, explica Barros.

A ABDR possui um projeto voltado aos estudantes para evitar a propagação de livros digitais sem autorização. O portal Pasta do Professor foi criado para atender a demanda dos alunos em adquirir conteúdo de suas bibliografias de forma fracionada — pode-se baixar apenas os trechos pedidos por professores nas salas de aula. Grandes editoras já fazem parte da iniciativa. “O maior problema para ampliar esse projeto nas universidades públicas é a burocracia. Instituições particulares, como a Estácio de Sá, já abandonaram as fotocópias e o adotaram”, ressalta Barros.

1 - Google Books
A empresa conhecida pelo sistema de busca fechou um acordo com a Associação de Editoras Americanas e mais 20 mil outras editoras no mundo para trabalhar em conjunto e montar um grande acervo de livros on-line. No momento, é possível pesquisar o texto completo de cerca de sete milhões de publicações. Há ainda o Projeto Biblioteca, que conta com a parceria de bibliotecas, como a da Universidade de Harvard, para disponibilizar o acervo no site. Os livros que possuem direitos autorais têm apenas trechos exibidos.

EPUB OU PDF
» A maior parte dos leitores de livros digitais e também dos tablets adotam o ePub e o PDF como principais formatos para leitura. O ePub é um formato criado pela união de várias empresas ligadas à área de produção e comercialização dos livros e representado pela International Digital Publishing Forum (IDPF). O formato permite que as obras sejam produzidas e enviadas em apenas um arquivo e com proteção à edição. Já o PDF é o formato mais conhecido. Criado pela Adobe, os e-books ganham uma aparência original no formato e preservam as informações dos arquivos de origem. No entanto, a edição pode ser feita pelo programa Acrobat.

LEITURA MAIS LENTA
» A falta de concentração na leitura dos livros ainda é um problema para os e-readers. Um estudo da Nielsen Norman Group feito com 24 participantes mostrou que a velocidade de leitura cai 6,2% no iPad e 10,7% no Kindle se comparado à versão impressa. De acordo com a Nielsen, é esperado que as empresas invistam em telas de qualidade melhor para melhorar o tempo de leitura.

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