Texto publicado em 11/7/2006
Maria Carolina
Professora de Língua Portuguesa e Redação do Ensino Médio e Normal
Professora de Língua Portuguesa e Redação do Ensino Médio e Normal
A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento
em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante
desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de
perceber o mundo sob
diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que
vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos,
de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos demos conta.
A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de
símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê.
Segundo Angela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda
o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de
signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos.
Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns
conhecimentos prévios do leitor: os linguísticos, que correspondem ao
vocabulário e regras da língua e seu uso;
os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o
texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa
leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão
do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em
interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo.
Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a
compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa
atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo
ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é
necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto
faz
da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que
cada leitor é co-autor.
A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento
leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para
que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da
leitura e conhecimentos prévios
necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua
leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê,
não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se
projeta no texto, levando para dentro dele
toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus
preconceitos etc. É por isso que consegue ser tocado pela leitura.
Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu
sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes, quando compara o leitor a
uma aranha:
[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo;
perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se desfaz nele, qual
uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua
teia.
Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do
leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo.
Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e
prazerosa. Por meio dela, além de adquimirmos mais
conhecimentos e cultura - o que nos fornece maior capacidade de diálogo e
nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de
trabalho exigente -, experimentamos novas experiências, ao conhecermos
mais do mundo em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela
nos leva à reflexão.
E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua
percepção. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o
homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar
no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê,
do sistema
em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu
horizonte de expectativas.
Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem.
Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e
válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac, "o verbo ler não
suporta o imperativo". Quando transformada em obrigação,
a leitura se resume a simples enfado. Para suscitar esse desejo e
garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do
leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em
qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler.
Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e
valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A
leitura passa a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação de
amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.
A leitura é muito importante pois melhora na nossa escrita e na convivencia no dia-a-dia até mesmo em ambientes formalizados.
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