*João José Forni
O
Instituto Pró-Livro divulgou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
feita em 2011. O objetivo foi levantar perfil do leitor e do não leitor
brasileiro, preferências e barreiras à penetração da leitura no país. É
um retrato bastante denso dos nossos hábitos de leitura. A surpresa foi
que andamos para trás.
Nada inesperado, para um
país onde a televisão tem a preferência de 85% dos entrevistados, ao
responderem "o que gostam de fazer em seu tempo livre". Se alguém
esperava respostas como descansar (51%), sair com amigos (34%) ou
praticar esportes (23%), errou. O hábito de ler agrada apenas a 28% da
amostra.
Talvez o mais chocante foi descobrir
na pesquisa que 76% dos entrevistados, em amostra de 5.012 pessoas, em
315 municípios, nunca pisaram numa biblioteca. Embora 71% admitam que
existe esse tipo de ambiente e o acesso é fácil. Para eles, a biblioteca
é um lugar para "estudar". Somente 8% dos brasileiros vão à biblioteca
regularmente. 17% vão de vez em quando. Ou seja, quase nunca. Só 16%
sabem que a biblioteca existe "para emprestar livros".Não foi
coincidência, mas para comemorar o Dia Mundial do Livro, o Ministério da
Cultura anunciou investimentos de R$ 374 milhões no Plano Nacional do
Livro e Leitura (PNLL) para 2012. Mais recursos são bem-vindos. Mas
talvez o problema não seja apenas esse.
Por que
o brasileiro pouco frequenta as cerca de 1.000 bibliotecas existentes
no país? A maioria alega falta de tempo como o principal empecilho. 12%
acreditam ser um lugar para "lazer". A pesquisa ainda mostrou que a
maior parte dos brasileiros que vai à biblioteca está na vida escolar
(64%), utilizando os espaços nas escolas ou universidades.
Curioso
não aparecer na pesquisa a alegação de não frequentar, porque não
existe biblioteca. Até porque, entre países do mesmo nível de
desenvolvimento, o Brasil é um dos que possui o menor índice de
bibliotecas e livrarias por habitante.
Para a
presidente do IPL, Karine Pansa, os dados colhidos pelo Ibope
Inteligência mostram que o trabalho não é mais possibilitar o acesso ao
equipamento, mas fazer com que as pessoas o utilizem. "O maior desafio é
transformar as bibliotecas em locais agradáveis, onde as pessoas gostem
de estar, com prazer. Não só para estudar." Ninguém vai atrás de um
produto, no caso o livro, para o qual não foi estimulado pelos pais,
professores, amigos.
Quando a pesquisa pergunta
aos entrevistados, que já cultivam o hábito de ler, quem foram seus
"influenciadores", o professor desponta primeiro com 45% das indicações,
seguido da mãe, com 43%. Ou seja, o hábito da leitura começa em casa e
se consolida na escola. Filhos de pais leitores têm muito mais
probabilidade de também serem leitores na idade adulta.
As
mulheres leem mais do que os homens e, assim como o número de leitores
caiu de 55 milhões em 2007, para 50 milhões na pesquisa 2011, a média de
livros lidos pelos chamados "leitores" caiu também de 4,7 para 4,0 no
mesmo período. Isso poderia indicar que a internet e outras atividades
audiovisuais estão seduzindo mais a juventude do que a leitura. A média
dos livros lidos também caiu, de 2,07 para 1,85 livro por ano, em 2011.
Índice baixíssimo para os padrões internacionais. Esse é um fenômeno que
ocorre em todas as regiões do país.A pesquisa do Instituto Pró-Livro
deveria ser apresentada e em todos os estabelecimentos de ensino do
Brasil. Tanto superiores quanto de nível médio e fundamental. Se
professores e alunos tomassem conhecimento dos detalhes, poderiam
sugerir ideias para estimular a leitura no ambiente escolar e em casa.
Descobririam onde estão as falhas.
Mais do que
recursos, extremamente importantes, talvez esteja faltando no Brasil uma
cultura da leitura. Vemos pouca colaboração dos meios de comunicação,
principalmente a televisão. Os jornais, tão importantes no passado para
estimular a leitura, com suplementos literários emblemáticos, hoje
preferem os de gastronomia, tecnologia, esportes, turismo. Os literários
ficaram na história.
Por que o brasileiro não
gosta de ler? Ou por que universitários, até em cursos de pós-graduação,
ficam esperando os professores fornecerem os links da internet de todos
os textos para leitura, em vez de irem atrás das publicações? Preferem
tirar cópias de capítulos de livros, atividade ilegal, do que comprá-los
ou utilizar exemplares disponíveis nas bibliotecas.
Talvez
porque pais e professores estejam falhando desde os primeiros momentos
em que a criança começa a descobrir o mundo das letras. Se eles, quase
sempre adotados como exemplos, não leem, nem se preocupam em facilitar o
acesso das crianças aos livros, como irão estimulá-las para um hábito
que está sendo atropelado pelos apelos e seduções tecnológicas do
computador e dos smartphones?
Fonte: Folha do Sul Gaúcho
O livro, porque nos demanda tempo, dedicação e disciplina espiritual, está entre os produtos possivelmente menos atraentes aos indivíduos da cultura do efêmero ou da modernidade líquida. É compreensível, nas condições sociais líquidas da atual modernidade, que o livro não atenda aos anseios pelo novo, pelo imediato. A leitura cansa, dirão, exige que fiquemos muito tempo parados. Mas nossos espíritos estão já condicionados ao ritmo veloz com que as informações e conhecimentos são consumidos.
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