Os clássicos são sempre alvo de um “ah, mas eu sabia a história desse jeito...”. Mas as versões em livros, filmes e outras mídias nos mostram que talvez não precisemos ser tão radicais
As histórias que ouvimos na infância são uma espécie de nossa marca. O jeito que as ouvimos, ou melhor, o jeito que nos contaram também. Eu sempre me lembro da versão da minha mãe de A Festa do Céu. Ela ia contando que o sapo queria entrar na festa, e o urubu dizia vários “pré-requisitos” para ele poder ir, e o sapo ia respondendo “Obaaaaa” com a bocona de sapo bem aberta. Até que o urubu explica: “mas só entra quem tem boca pequena” e o sapo responde “Ubuuuu”. Eu amava aquilo, com morria de rir da boca da minha mãe, e adorava repetir a dose, claro.
Mas quando a gente fica adulto, passa por um monte de versões de tudo. No meu curso de pós-graduação A Arte de Contar Histórias, que faço no Sieeesp, a turma é cheia de histórias e, claro, de versões. Às vezes, há uma disputa ou outra do tipo ‘ah, eu conheço uma versão assim’ e outro ‘ah, a minha é diferente’... A gente não chega a brigar, mas que dá um aperto no coração, dá. Como assim alguém mexendo na SUA história?
E a gente não morre de rir quando criança faz isso? A Daniela Tófoli mesmo, minha colega aqui na CRESCER, estava contando que Helena, sua filha de 2 anos, fica indignada com o fato de a Cinderela da mãe não ser a mesma Cinderela do pai! Ela já decorou as partes que gosta – e isso a deixa segura, veja o porquê na reportagem fantasia de criança – e exige que sejam contadas do mesmo jeito. Mas isso é pura diversão! Delícia provocar a criança para entender que as histórias podem ser contadas de formas diferentes e que ela também pode mudar tudo se quiser! Isso é mais do que enriquecedor. É como diz o poeta Manoel de Barros: “Tudo que não invento é falso”. Tem melhor coisa?
Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros
Fonte: Revista Crescer
Nenhum comentário:
Postar um comentário