As listas de livros “obrigatórios” da escola são o alvo sempre quando a discussão é incentivar crianças e jovens a ler. Mas o que temos de bom para falar disso?
Esta semana minha sobrinha Letícia, de 7 anos, deu uma parada “superestratégica” em minha biblioteca particular de livros infantis para pegar emprestado o fabuloso A Velhinha Que Dava Nome às Coisas, escrito por Cynthia Rylant e ilustrador por Kathryn Brown, lançado aqui pela editora Brinque-Book. O motivo era ainda melhor: estava na lista feita pela escola para montar a biblioteca de classe do primeiro trimestre. Fiquei muito feliz porque é um livro que amo muito (veja a resenha no Livros Pra Uma Cuca Bacana) e que está inaugurando na vida da Letícia a lista de “leitura obrigatória” da escola, o que me faz pensar em como esta relação precisa ser cuidada. Muito cuidada.
Este foi um dos temas da minha primeira conversa com a ilustradora e escritora Eva Furnari, em 2007. Perguntei a ela sobre o fato de se obrigar uma criança a ler, e se isso seria um estímulo ou desestímulo pelo amor pela leitura. Ela disse: “A gente tem que ter uma ordenação, disciplina, se não ela não realiza nada na vida sem autodisciplina. Não acho ruim ser obrigado a ler quatro livros por ano. Mas tem que ver caso a caso. Vai ter livro que é inadequado à idade, tem que pensar nas formas de avaliação... Sempre depende do livro, do professor, da escola, do aluno.” Ou seja, para Eva, a questão é manter o ritmo da leitura e, claro, tomar cuidado com a forma. Fez-me lembrar um encontro que participei ano passado, promovido pela Editora WMFMartins Fontes, em que o professor de literatura infantil da USP José Nicolau Gregorin Filho disse uma frase bem interessante. Para ele, quando pensamos no papel do professor no incentivo ao prazer pela leitura, temos que pensar que a tarefa é árdua. Pois o amor pela leitura, é o mesmo amor pelo teatro, pelo cinema, pela música... é da característica de cada um. Gosto não se ensina. “Se você incentivar o hábito de ler já está bom demais!”, diz Gregorin Filho.
O que fazer, então? Dar oportunidades. Esta é a principal função de um educador, seja ele pai, mãe, professor, avó, tio. E insistir nelas, claro. Tem que ter treino, tem que ter disciplina. Tem que fazer parte do dia. Agora, o como fazer é que pode ser sempre melhorado. A promessa da escola à Fabiana, mãe da Letícia, é de que o livro – e os outros que outros alunos vão levar durante o ano – será lido junto, por ela, em sala de aula. Ou seja, degustado em grupo. Em casa, você pode sempre fazer o mesmo. A leitura pode ser associada à parte boa do dia e, mais para frente, conforme os livros ficarem mais densos e profundos, a criança pode ir se acostumando a sempre estar disposta a experimentar. E entender que para ter o livro dentro de si precisa de tempo e, para conseguir tempo (principalmente hoje em dia), é necessário esforço. Entendido isso, bom leitor será. E acompanhem o que ele vem lendo na escola: será uma aprendizado para os dois e uma oportunidade de divulgar algo que vocês tenham gostado.
Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.
Fonte: Revista Crescer
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