Artigo do leitor Afonso Vieira*
"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias" - Mario Vargas Llosa
Há tempos vivemos numa época de ostracismo intelectual. Os títulos de livros que fazem maior sucesso entre leitores nada mais são que obras de cunho duvidoso - salvo raríssimas exceções. De nada adianta a leitura se o entendimento e capacidade de estimular a imaginação forem irrisórios.
Na semana passada, li uma reportagem que dizia que a vendas dos chamados e-books superaram a dos livros convencionais, mas - cabe ressaltar - que a comercialização dos livros de capa dura também continua a crescer. Os dados são de um dos maiores sites do gênero no mundo, a Amazon . O crescimento de livrarias em nosso país é mais um dado a ser comemorado pelos ávidos por conhecimento.
Segundo pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, 46% da população brasileira costumam ler jornais. Mas o fato de quase metade da população declarar "ler jornais" não quer dizer muita coisa, haja vista que de nada adianta ler e não entender, ou ler somente o que lhes interessa, de forma míope e superficial.
Jornais e revistas são coisas obrigatórias: mesmo dentre as mais duvidosas das publicações pode-se ter certeza que conseguimos extrair algo para estimular nosso senso crítico. Quanto ao crescimento da leitura de livros e de novas bibliotecas, sei perfeitamente do calvário que é estimular isso, afinal, também sou educador.
Ler qualquer coisa é melhor que não ler nada?
Há oportunidade de se encontrar muito blogueiro culto, que nos transmite coisas muito além da mediocridade convencional, inclusive indicações a publicações estrangeiras e obras que jamais sonharíamos em ver na lista dos "mais vendidos". Curiosamente, há uma massa que pulula na internet, achando que o fato de frequentarem blogs e fóruns, tecendo comentários dos mais variados assuntos - com a profundidade de um pires -, é sinônimo de intelectualidade e cultura. Pessoas que há tempos leem apenas um autor, acreditam em uma única verdade e não possuem o menor senso crítico, pelo menos para enxergar sua infinidade de defeitos.
Não custa dizer que os livros mais vendidos, via de regra, não são perfeitos exemplos de excelência, ao menos os atuais. Quantidade não é qualidade. Mas, em contrapartida, não me preocupo muito com títulos destinados ao público infanto-juvenil. É melhor que eles leiam a saga dos vampiros da moda a nada.
*Afonso Vieira é administrador e professor
Fonte: O Globo
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