A intenção do “Ler e Escrever”, aplicado em uma escola municipal, é fazer com que os alunos não leiam por obrigação
Quando você imagina uma sala de aula com 25 alunos de, em média, 8 anos de idade, o que vem à sua mente? Gritaria, conversas, brincadeiras, risadas e muita leitura. Sim, a leitura faz parte desse contexto e a pretensão é crescer ainda mais. Pelo menos é esse o objetivo do programa “Ler e Escrever”, da Secretaria Municipal de Educação.
Um dos lugares de aplicação do projeto é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Lydia Alexandrina Nava Cury. O coordenador pedagógico, Jair Sanches Vieira, explica que o programa é recente, mas está otimista em relação aos resultados.
“O projeto com os alunos começa no próximo semestre. O primeiro semestre foi apenas de preparação. A Secretaria de Educação ofereceu cursos aos coordenadores para qualificá-los e mostrar como tocar esse programa. Os coordenadores passam aos professores, que é quem lidará diretamente com os alunos”, explica.
São distribuídos dois cadernos: um ao professor e outro ao aluno. O docente tem as diretrizes sobre os métodos de conduzir as atividades. Já o aluno tem as atividades em si, que precisam ser lidas para serem desenvolvidas.
“Por exemplo, o caderno do professor traz o local adequado para se conduzir uma brincadeira, já no do aluno aparecem as regras desse jogo. Para que a brincadeira possa acontecer, é preciso que eles leiam. É um modo de estimular a leitura por meio da brincadeira”, complementa o coordenador.
Segundo a diretora da escola, Maria da Graça Bertolini Silva, além do aprendizado, a sociabilidade do aluno também é estimulada. “Quando há uma brincadeira, os alunos precisam estar em contato com outros. E no próprio processo de leitura das regras isso ocorre. Temos partes no caderno que falam para o aluno ler para si e outras que falam para ler e divertir o outro”.
Outro ponto diferencial no material é a questão dos gêneros literários. Por todo o caderno existem poemas, quadrinhos e até piadas. De acordo com a diretora, “eles já têm esse conhecimento de gêneros literários diferentes na 3.ª série. E eles notam que há diferença entre os textos. Isso é enriquecedor”.
O coordenador pedagógico Jair Vieira explica que o grande trunfo do projeto é criar o hábito da leitura. “O ideal é fazer as crianças lerem por gosto. Ler pelo prazer de ler. Quando você lê apenas por obrigação, a leitura perde o seu gosto. E é oposto a isso que estamos estimulando aqui”, conclui.
A importância do pré
Atualmente, o projeto “Ler e Escrever” é destinado aos alunos do 3.º ano do ensino fundamental. Quando questionado sobre o motivo da escolha desse público-alvo, Jair Vieira afirma que é devido à disparidade apresentada entre as crianças que fizeram e as que não cursaram a chamada fase “pré-escolar”.
Segundo ele, no ano passado a Secretaria de Educação, em conjunto com as escolas, verificou uma grande dificuldade em lidar com o 3.º ano, por ser exatamente onde as crianças com e sem o pré se reúnem e, consequentemente, as diferenças começam a ficar mais evidentes.
“Nos primeiros anos, há a progressão continuada. Então, no 3.º ano, há crianças com conhecimentos muito diferentes. Por isso, esse ano foi escolhido para a aplicação do projeto. A ideia é estender para os demais anos, mas o começo foi com o terceiro por ter sido constatado esse problema”.
O coordenador pedagógico ainda afirma que o pré é importante para o contato social do aluno. De acordo com ele, “a educação infantil faz com que a criança tenha uma convivência social. A sociabilidade é um dos principais objetivos dela. Quando o aluno vem direto para o primeiro ano, ele pula essa parte. Então, o pré é muito importante por isso”.
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‘Eu amo ler’, diz Yasmin, de 8 anos
Hoje em dia, há uma grande programação infantil nas grades das televisões. E muitas vezes, as crianças fogem dos programas destinados a elas e acabam assistindo a atrações não recomendadas, como novelas polêmicas e filmes violentos. Mas, será que toda criança tem esse apreço enorme pela TV?
Yasmin Rosalin Francelina Moreira, de 8 anos, afirma que não. Quando perguntada se gosta de ler, a garota é enfática: “Eu amo”. Ela afirma que a leitura a diverte mais do que a televisão. “Na leitura, a gente imagina as coisas como se estivessem acontecendo. Quando estou lendo e falam de um sítio, imagino um sítio na minha cabeça. Na TV, já vem tudo pronto”, conta.
E a leitura realmente auxilia no aprendizado. No momento em que seu nome era anotado para ser citado na reportagem, Yasmin foi rápida para não haver dúvidas: “Meu nome é Yasmin. Com ‘y’ no começo e ‘n’ no final”.
Já Lucas Jesus Oliveira, da mesma idade, gosta de passar algumas horas em frente ao televisor, porém, sabe que ler tem uma grande importância. “Na TV tem bastante coisa para assistir. Mas, para aprender, é melhor a leitura. Eu levei um monte de livros para casa e estou lendo. Gosto de um que tem uns ratinhos que ficam procurando aventuras. É bem legal”.
A professora do 3.º ano do ensino fundamental, Roseli Corrêa de Oliveira, acredita que o gosto pela leitura em crianças como a Yasmin e Lucas é devido a um estímulo que cresce nos dias de hoje.
“Atualmente, há muitos livros, bibliotecas à disposição, etc. Antes, não era tanto assim. E isso faz com que a leitura cresça também. É algo importante, pois ler é fundamental. Ler abre horizontes e preenche o ser humano em todos os pontos”, conclui.
Matéria publicada em 08/07/2010
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru
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