sábado, 26 de fevereiro de 2011

Professora pode tornar-se leitora com formação e prazer

Adriana Maricato | Brasília/DF

É difícil para uma professora que não lê estimular a leitura dos alunos. Se a criança vem de uma família que não lê e encontra na escola uma professora na mesma situação, a professora não saberá como despertar e cultivar a leitura. O ambiente de Educação Infantil promotor da leitura precisa contar com professoras leitoras.

Para Magda Soares, da UFMG, um programa de formação de leitores deve se preocupar também com o desenvolvimento do professor como leitor, “porque se a pessoa não tem prazer no convívio com o material escrito, é muito difícil passar isso para as crianças”. Por isso, Rosana Becker, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), defende que é preciso trabalhar na formação continuada dessa professora, que precisa se tornar leitora.

Rosana Becker coordena no Paraná o desenvolvimento de cursos e produtos didáticos para a área de Linguagem e Alfabetização. Esse trabalho é feito a partir da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que faz parte da Rede Nacional de Formação Continuada de Pro fessores do MEC (Rede).

Com sua experiência na for mação de professores, Rosana acredita que não basta disponibilizar acervos de livros e espaços de leitura como bibliotecas. “A professora deve ser envolvida em práticas de leitura, entrando em contato com outros professores leitores, participando de grupos de es tudo, freqüentando cursos, fazendo trabalhos, encontrando espaços de leitura nas salas de aula e nas escolas”. Segundo ela, a partir dessas vivências, os professores podem perceber a importância da leitura nas suas próprias vidas, avaliar se são leitores ou não, e construirem -se como leitores, buscando formas de romperem com suas histórias de não-leitura.

Para formar alunos leitores, o professor necessita de uma concepção clara de leitura, como as crianças aprendem a ler e saber como constituir o acervo para trabalhar com elas. “Não pode subestimar a capacidade das crianças de receberem o texto. Enquanto elas folheiam, também constroem conhecimento e práticas”, esclarece Rosana Becker. Isso signifi ca ter atividades permanentes de leitura em sala de aula. Lendo para as crianças, o professor simultaneamente constitui-se como leitor. A escrita torna-se uma descoberta coletiva na sala de aula: “não é porque a criança não teve acesso que não pode aprender a gostar desses materiais de leitura”, acrescenta a professora do Paraná.

Os programas de formação de leitores devem levar em conta que a leitura do professor não é a mesma das crianças. De acordo com Rosana, “é preciso conhecer o perfil do professor, saber o que ele lê de fato e estas informações podem ser conseguidas na Associação de Leitura do Brasil”. Os acervos para os professores devem ser diversificados, com leitura informativa - jornais, revistas, periódicos, textos científicos sobre educação e também literatura. “O professor precisa conhecer o universo simbólico da Literatura Brasileira e Universal”, diz ela.

Mas Rosana Becker adverte que a professora não pode estar sozinha neste trabalho de leitura. Ela precisa do apoio da direção. A diretora deve garantir um espaço de leitura dentro da creche ou escola e garantir livros de literatura infantil adequados às turmas de Educação Infantil, deixando o material disponível para ser pego, folheado, trocado, acompanhado, cuidado. "Não é para o livro ficar apenas como enfeite bonito na estante da escola, a criança tem que pegá-lo".

Secretarias estaduais e municipais de educação e instituições de ensino superior podem procurar os centros da Rede/MEC na área de Alfabetização e Linguagem para criar programas de formação de professores leitores. Isto trará ganhos para os profissionais e para as crianças. E muito prazer também. Fazem parte da Rede Nacional de Formação Continuada: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mais informações no telefone (0 xx 61 2104-8672) e no site http://www.mec.gov.br/.
 
 
Fonte: Revista Criança nº 41

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