"As atuais políticas de incentivo à cadeia do livro têm modificado a realidade leitora"
O caixeiro viajante era mais que um vendedor de tudo um pouco pelos
lugarejos País afora. Ele levava também estórias, leituras de mundo; e
de porta em porta chamava o povo também aos livros. As obras eram
restritas a poucos que tinham como opção tomar de empréstimo a amigos ou
fazer pedidos através de cartas às editoras.
Se hoje há
um pouco mais de facilidade de acesso com as livrarias e bibliotecas
existentes, a necessidade de buscar novos leitores não mudou. Não
podemos tratar essa questão analisando apenas o fator econômico, mas
também o educacional e a desvalorização do ato de ler.
As
atuais políticas de incentivo à cadeia do livro têm modificado a
realidade leitora. Os gestores estão mais sensibilizados que estas ações
não podem ficar restritas aos grandes centros. Tanto que a Fundação
Biblioteca Nacional (FBN) e o Ministério da Cultura (MinC) criaram o
Circuito Nacional de Feiras de Livros que estimulará e apoiará tais
eventos nos municípios.
Em Maranguape, duas iniciativas do
governo municipal se destacam por dinamizar o acervo da Biblioteca
Capistrano de Abreu e aproximar a população da leitura. Os livros saem
deste ambiente formal e percorrem ruas, indo ao encontro da vida que
pulsa em cada esquina até a zona rural. Os espaços da leitura de livros
já não se resumem a salas de aula e bibliotecas, podem ser um banco de
praça, a sombra de uma árvore.
No “lombo” de motores, os
livros são levados aos 17 distritos do município, através do
ônibus-biblioteca do “Ensino sobre rodas”, da Secretaria de Educação e
do projeto “Literatura Rural”, onde um veículo Rural, sob a organização
da Fundação de Turismo, Esporte e Cultura (Fitec), dá destaque à
literatura de cordel.
A visita dos projetos mostra que o
encanto não se perdeu e a cada nova chegada o entusiasmo é o mesmo. É
nessa aproximação, mesmo que rápida, que o despertar pode acontecer:
quando se descobre o cheiro do livro, o toque macio das palavras, o
sabor das frases juntas, a alquimia que tudo isso junto pode
“perigosamente” causar.
No corpo a corpo, entre mediadores e
leitores, não basta contar estórias, é preciso transformar, provocá-las
a tornarem-se leitoras, a fazer deste encontro com as letras, um ir e
vir constante.
Será mesmo que o brasileiro não gosta de ler
ou faltam-lhe oportunidades de provar do prazer que só uma boa leitura
sem obrigação pode proporcionar?
Luiza Helena Amorim - Luiza.helena.amorim@gmail.com
Jornalista, escritora e conselheira Municipal de Políticas Culturais na área do Livro e Leitura
Fonte: O Povo
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