05/11/2011
Mesmo com tanta tecnologia, ferramentas e meios digitais de disseminação da informação, os livros ainda são apreciados por muitos na busca pelo conhecimento
Patrícia Emiliano
Desde o final do último século, especialistas ao redor do mundo vêm prevendo o sumiço dos livros e o declínio do hábito da leitura em impressos. O apego ao cinema, televisão, videogames e o fascinante mundo da internet são alguns dos elementos responsáveis por essa “profecia”. Aliados a essa tendência, o pouco apreço à instrução como valor social, a pobreza e a falta das bibliotecas públicas, além do corre-corre da vida cotidiana, poderiam conspirar para que o livro como objeto de desejo estivesse fadado ao desaparecimento. Mas, contrariando as expectativas, jovens e crianças itabiranas cultivam o prazer da leitura e reconhecem que um bom texto ainda é imprescindível para o crescimento na vida pessoal e profissional.
Aarão Moreira de Castro Almeida, 10, apesar da pouca idade, rapidamente tomou gosto pelos livros. O garoto já perdeu a conta de quantos leu. Atualmente, lê “Coração de Tinta”, da escritora alemã Cornelia Funke, de 456 páginas. A vontade de devorar histórias começou graças aos pais, que o incentivavam dando livros de presente, mesmo antes de ele saber ler. “Eles traziam livros com histórias curtas e liam para mim e eu fui gostando”, lembra o pequeno leitor.
Em casa, Aarão tem um balcão de livros. Quando há algum de que goste mais, logo pede para os pais toda a coleção do autor. “Às vezes, leio o mesmo livro mais de uma vez. Se começo um e não gosto, troco para outro e depois volto nele, mas nunca deixo um livro pela metade. Muitas vezes eu prefeito ler do que ver televisão ou ficar no computador”. Para Aarão não importa o tamanho do livro, mas o conteúdo que ele oferece. Se lhe interessar, com certeza será lido. O estudante, de dez anos, pega emprestado um livro por semana na biblioteca da escola e o maior livro lido por ele até hoje foi “Ilíadas: Odisseia Original”, de 1.003 páginas.
Para o pai de Aarão, o técnico de automação industrial, Antônio Rubens de Castro Almeida, ter apresentado a leitura ao filho desde criança fez com que hoje ele entenda e tenha uma percepção melhor da vida e do mundo. “O hábito de ler ajuda as crianças a se relacionar melhor com os outros, a aprender mais facilmente e a gostar de descobrir coisas novas”, diz o pai.
Além do incentivo dos pais, o garoto também recebe incentivo na escola onde estuda. Para a professora e coordenadora de Português da Fide, Maria Ruth de Castro Almeida, é dever de todas as instituições de ensino investir em livros e impressos. Ambos requerem habilidades que favorecem o foco, leitura linear, concentração e conhecimento de mundo. “A linguagem é rica e, através da leitura, a pessoa adquire poder de argumentação, melhora a escrita e sabe se expressar melhor. Nada que a tecnologia substitua”, opina a professora.
Na escola em que Ruth trabalha, os alunos do 2º ano, com idade de 7 anos, levam livros para casa semanalmente. Eles também têm, uma vez por semana, aula de Literatura. Os alunos ainda trabalham com as obras de Carlos Drummond de Andrade e de outro autor que escolherem. Ruth considera imprescindível que o hábito de ler seja incentivado na base e tenha início em casa, sendo complementado e reforçado na escola.
Outra amante da leitura é Beatriz Leite Pessoa, também de dez anos. Assim como o menino Aarão, ela teve o incentivo à leitura em casa, por meio dos pais. Hoje, o hábito é continuado e estimulado pelos projetos literários da escola que constantemente apresenta novidades aos alunos. “O livro distrai, me ensina e imagino tudo o que leio. Às vezes leio até no recreio”, conta Beatriz. A garota entende que a leitura a ajuda na escola, principalmente quando precisa usar a imaginação para fazer redações. Entre os preferidos estão os romances e obras de ficção, como as sagas Crepúsculo e Harry Potter. Todos já foram lidos.
Já a colega Amanda, de 11 anos, gosta de ler de tudo. O seu interesse se estende a revistas, jornais, livros e impressos em geral. Como a mãe é professora, em casa sempre tem acesso a livros e a assinaturas de revistas e jornais. Começou a ler por curiosidade e logo se apaixonou. Amanda diz que hoje tenta influenciar o irmão mais novo, de sete anos, “mas ele prefere mesmo é ficar no computador”. No entanto, ela não desiste e quer aproveitar junto do irmão os três armários repletos de livros que a família tem em casa. Hoje, ele só é usufruído pela irmã mais velha, de 16 anos.
Conhecimento à disposição
A biblioteca Luiz Camillo de Oliveira Netto, da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, única biblioteca pública de Itabira, conta, atualmente, com um acervo de cerca de 30 mil livros. Lá podem ser encontradas obras de literatura infanto-juvenil e para adultos, obras de referência e obras informativas de todas as áreas do conhecimento. Tem também acervo em Braille, que inclui obras de diferentes escritores, como Machado de Assis, Victor Hugo e também de autores de Best Sellers, como Dan Brown. Nela também é possível ter acesso a periódicos, como jornais e revistas, e também à internet.
Segundo a bibliotecária Elisabete Tércio dos Santos, os livros disponíveis são bastante utilizados e a biblioteca frequentada, ao contrário do que muita gente pensa. O público, em sua maioria, é formado por estudantes e jovens em geral. Os adultos procuram mais livros de auto-ajuda e romance. Por semana, de acordo com Elisabete, passam pelo local cerca de 600 usuários. Somente em agosto foram emprestados, exatamente, 1.089 livros.
Como forma de incentivar a leitura na cidade, a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade promove alguns projetos como o “Pegue, leia e repasse”, e “Leia mais”, no qual um lote de 913 livros é distribuído em sete pontos da cidade. Quem queira ter acesso aos livros da Biblioteca Pública deve fazer um cadastro mediante taxa única de R$ 2,00.
Livros e cinema
A proprietária de uma livraria em Itabira, Juliana Cássia Naves Araújo, atribui o resgate do interesse dos jovens pela leitura aos livros cujos roteiros basearam filmes no cinema. É o caso das sagas Harry Potter, Crepúsculo, Percy Jackson, Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia, verdadeiros fenômenos de vendas. “Muitos jovens que não gostavam de ler adquiriram o hábito por meio dos livros de Harry Potter, por exemplo. Foi uma febre de vendas”, conta a empresária.
De acordo com Juliana, as pessoas compram mais os livros divulgados pela mídia. O que escapa dessa onda de mercado são os livros infantis, escolhidos, normalmente, por um impulso afetivo das crianças. “É importante que os pais deixem seus filhos optar pelo que eles querem ler. Claro que é necessário orientar naquilo que é adequado para a idade. No entanto, vejo aqui muitos pais querendo que os filhos leem literatura, obras que eles consideram de qualidade. Neste momento cria-se uma antipatia entre a criança e o livro”, explica Juliana.
Com o know how de quem vive do mercado literário, a empresária avalia, ainda, que em Itabira falta incluir o hábito de ir a uma livraria como cultura e como forma de lazer. “Nos grandes centros, levar os filhos à livraria é uma forma de diversão. Hoje, os livros também estão evoluindo, ganhando maneiras, texturas, formas diferenciadas, sons, línguas estrangeiras. Ele deve ser dado como presente, incentivando a leitura. Um livro pode ser muito mais divertido que um brinquedo e é muito mais barato e didático”.
Livros para educar
Há quem tenha paixão por livros e não abra mão de estar sempre atualizado frente às novidades oferecidas no mercado, como é o caso da empresária Carolina Lage e Silva, de 33 anos. Toda semana, ela vai à livraria em busca de novidades previamente pesquisadas. Ela conta que sua casa se tornou uma biblioteca para amigos e parentes e exibe entusiasmada a estante com centenas de livros.
O seu amor pelos livros surgiu na escola, quando ainda estava na 4ª série. Toda semana, a professora pedia que os alunos levassem um livro para casa e, assim, ela se apaixonou por eles. “Quando comecei a trabalhar, passei a comprar livros. São meus companheiros. Não consigo dormir sem ler. E, como viajo muito a trabalho, sempre tem um na minha bolsa. Até nas viagens de férias sempre levo um comigo”, diz a empresária.
O hobby de Carolina já influencia a filha Luíza, de três anos e meio. De tanto receber livros de presente, a pequena já se sente confortável transformando o cenário de casa em biblioteca. No momento em que a mãe era entrevistada, Luíza se mantinha entretida com livros aos montes, espalhados pela sala, e contando histórias para a coleguinha Laura a partir das gravuras que via em seus livrinhos.
Para a pedagoga Leir Lage, quando os pais leem para os filhos pequenos, mais que um incentivo, o gesto representa um ato de carinho. “A criança se sente acolhida e associa essa sensação a coisas boas. É um ganho para a vida toda, fazendo com que ela sinta essa relação com o livro. A criança só se tornará um leitor no futuro se conseguir adquirir o hábito desde cedo”, conclui a pedagoga.
Fonte: DeFato Online
Concordo que estamos longe do ideal de leitura e compreensão e interpretação do que foi lido.Mas percebo melhoras na requalificação de professores e também uma intenção de tornar a leitura mais atraente para os alunos de todas as idades e ciclos de estudo.
ResponderExcluirque bom!! :D