Distrito escolar nos Estados Unidos adotou a prática com base em indícios de que a leitura livre é melhor do que as tarefas
Alunos de ensino primário em um distrito escolar da Flórida terão uma
bem-vinda – mas controversa – nova política quando retornarem para a
escola no ano letivo que começa no próximo mês: nada de lição de casa
tradicional.
Eles terão que fazer outra coisa para ajudá-los academicamente: ler por 20 minutos todas as noites.
Heidi Maier, nova superintendente do distrito de escolas públicas do
condado de Marion, na Flórida, formado por 42 mil estudantes, disse em
uma entrevista que ela tomou a decisão com base em uma pesquisa sólida
acerca do que funciona melhor para aumentar o desempenho acadêmico dos
alunos.
Isso pode parecer óbvio, mas no mundo da educação, os decisores
políticos são notáveis por criar muitas políticas sem saberem e/ou se
importarem com as evidências das melhores pesquisas.
A política será aplicada a todos os alunos do primeiro ciclo do
ensino fundamental no distrito – cerca de 20 mil – mas não valerá para
os demais alunos de ensino fundamental e médio. Maier, uma especialista
em leitura que começou a liderar as escolas de Marion em novembro,
depois de atuar como professora de licenciatura no College of Central
Florida, disse que está baseando sua decisão em uma pesquisa que mostra
que lição de casa tradicional nos primeiros anos escolares não melhora o
desempenho acadêmico, mas a leitura – e ler em voz alta – sim.
Uma análise muito citada de uma pesquisa sobre o tema, publicada em
2006, constatou que lição de casa no primeiro ciclo do ensino
fundamental não contribui para ganhos acadêmicos e tem apenas um efeito
moderado para estudantes mais velhos em termos de melhorias de
desempenho acadêmico. Apesar da lição de casa ser uma das questões mais
controversas na educação básica, não existe nenhum estudo experimental
sobre os possíveis efeitos da prática.
Mas especialistas dizem que a pesquisa é clara quanto aos benefícios
da leitura diária, com estudantes escolhendo seus próprios livros, lendo
em voz alta e escutando um adulto fluente ler para eles.
Maier citou o trabalho de Richard Allington, especialista em
aquisição de leitura, que pesquisou e escreveu extensivamente sobre como
ensinar os alunos a lerem.
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“A
qualidade da lição de casa é tão pobre que simplesmente fazer as
crianças lerem em substituição a lição de casa, com leituras
selecionadas por elas mesmas, é uma alternativa poderosa”, diz
Allington. “Talvez alguns tipos de lição de casa possam aumentar os
ganhos acadêmicos, mas esse tipo de lição é incomum em escolas dos
EUA.”
Maier diz que os estudantes poderiam selecionar o seu próprio
material de leitura e teriam ajuda de professores e bibliotecas
escolares. Para as crianças que não têm um adulto em casa para ajudá-las
a ler – os mesmo alunos que não tinham um adulto em casa para
auxiliá-los com lição de casa tradicional – seriam disponibilizados
voluntários, audiolivros e outros recursos.
Maier conta que teve um retorno positivo dos pais e professores,
muitos dos quais aplaudiram a decisão, mas alguns são céticos. “Nós
precisamos deixar a nossa mensagem clara e explicar por que isso é
benéfico”, disse, acrescentando que em breve serão realizadas
assembleias para os pais.
Lição de casa tem sido uma questão controversa para educadores e
famílias por mais de um século. No final do século XIX, um herói da
Guerra Civil Americana que se tornou membro do conselho escolar, Francis
Walker, acreditava que lição de casa de matemática prejudicava a saúde
das crianças e levou o conselho a bani-la como parte de uma febre
nacional contra a lição de casa. A Ladies’ Home Journal, uma revista do
período voltada para mulheres, chamou a lição de casa de algo “bárbaro” e
muitos educadores disseram que essas tarefas causariam condições
nervosas e doenças cardíacas em crianças, que se beneficiariam mais em
brincar ao ar livre.
A lição de casa, é claro, passou a ter importância na educação – com
crianças de 3 e 4 anos agora participando – e, hoje, defensores dizem
que ajuda a fixar informações na memória das crianças e as ensina a
estabelecer uma rotina.
O distrito de Marion se juntará a um pequeno grupo de escolas e
distritos cujos líderes decidiram trocar a lição de casa tradicional por
leitura diária nas primeiras séries. Apesar de não terem resultados
definitivos, educadores apontam que as notas em avaliações e outras
aprendizagens não foram prejudicadas.
Tradução: Andressa Muniz
Fonte: Gazeta do Povo
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