Os leitores estão mais contentes e satisfeitos que os não leitores, de modo geral são menos agressivos e mais otimistas, diz estudo
![Julio Cortázar, buscando livros em Paris. Julio Cortázar, buscando livros em Paris.](http://ep01.epimg.net/elpais/imagenes/2016/01/22/eps/1453483676_726569_1453483770_noticia_normal.jpg)
“A leitura
nos torna mais felizes e nos ajuda a enfrentar melhor a nossa
existência. Os leitores vivem mais contentes e satisfeitos do que os não
leitores, e são, em geral, menos agressivos e mais otimistas”. A
afirmação é dos responsáveis por uma análise efetuada recentemente pela Universidade de Roma III
a partir de entrevistas com 1.100 pessoas.
Aplicando índices como o da
medição da felicidade de Vennhoven e escalas como a Diener para medir o
grau de satisfação com a vida, os pesquisadores chegaram a essas
conclusões, que demonstram, como afirma Nuccio Ordine, autor do
manifesto A Utilidade do Inútil,
que “alimentar o espírito pode ser tão importante quanto alimentar o
corpo”. E que precisamos, bem mais do que se imagina, dessas
experiências e conhecimentos que não se traduzem em benefícios
econômicos.
Como nos sentimos e quais mudanças experimentamos ao mergulhar em uma
história? Há um efeito transformador? Os protagonistas das ficções nos
levam a que enxerguemos as nossas contradições e nossos desejos? Fazem
com que nos recordemos de coisas essenciais, talvez esquecidas?
A ciência possui cada vez mais recursos para responder a essas perguntas. Artigos publicados em revistas especializadas expõem resultados de ressonâncias magnéticas que revelam a alta conectividade que se estabelece no sulco central do cérebro, região do motor sensorial primário, e no córtex temporal esquerdo, área associada à linguagem, enquanto lemos um livro e depois de acaba-lo.
O estresse se reduz e a inteligência emocional sai ganhando, assim
como o desenvolvimento psicossocial, o autoconhecimento e o cultivo da
empatia, segundo uma equipe de neurocientistas da Universidade de Emory,
em Atlanta, que monitoraram as reações de 21 estudantes durante 19 dias
seguidos. A leitura pode até mesmo alterar comportamentos por meio da
identificação com os protagonistas das histórias lidas, defende Keith
Oatley, romancista e professor de Psicologia Cognitiva da Universidade
de Toronto.
“É muito custoso, para nós, colocarmo-nos no lugar do outro no dia a
dia, mas quantas vezes já não nos colocamos na pele de um personagem de
romance? Criamos uma empatia com ele, e isso nos ajuda a compreender
melhor os sinais emitidos pelos outros”, argumenta Antonella Fayer,
psicóloga e coach especializada no desenvolvimento de
liderança, para quem “as lições sobre dilemas morais e emocionais que
encontramos na literatura são necessárias para todas as pessoas, e muito
especialmente para líderes e políticos, que estão convencidos de que
não têm tempo. Atuam, avaliam e fazem discursos, mas seria conveniente
para eles mesmos se conseguissem parar um pouco e fazer leituras para
melhorar a sua compreensão dos outros”, assinala Fayer, fazendo uma
alusão às palavras de Alan Brew, ex-editor do Financial Times: “Ler os grandes autores faz de você uma pessoa mais bem preparada para tomar decisões criativas, interessantes e educadas”.
O convencimento quanto aos benefícios gerados pela leitura é o que move a School of Life,
um centro londrino de biblioterapia que prescreve livros para ajudar na
superação de conflitos (rupturas, disputas...). Como diz o filósofo
Santiago Alba Rico, autor de Leer con niños
(Ler com crianças), um ensaio que estimula nos pais o prazer de
compartilhar histórias com seus filhos, a leitura, como a paixão, é um
“vício virtuoso”. Quando conhecemos o bem que ela nos proporciona, não
conseguimos deixar de praticá-la. Voltemo-nos, portanto, para a
literatura, como convidava Cortázar, “como se vai aos encontros mais
essenciais da existência, como se vai ao encontro do amor e às vezes da
morte, sabendo que fazem parte de um todo indissolúvel e que um livro
começa e termina muito antes e muito depois de sua primeira e de sua
última página”.
Fonte: El País
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