por Alex Botsaris
"A constatação que a leitura melhora alguns
problemas é clinica. Ou seja, foi percebida nos pacientes, sem que
houvesse uma ideia exata de como isso ocorria. O hábito de ler ajuda
na atividade cerebral: lentifica as ondas cerebrais induzindo a um estado
de mais relaxamento e estimula a memória; além da influência
do conteúdo da leitura"
Biblioterapia - "Não somente o ato de ler é benéfico, mas os conteúdos também são importantes para os resultados esperados. A prática da biblioterapia está em escolher conteúdos, tipos de texto, tamanho e ritmo de leitura, adequados, para o resultado esperado. Por exemplo, a leitura adequada para insônia é mais lenta e repetitiva. Não é adequado propor um texto excitante de um romance para isso. Por outro lado, muitas ficções romanceadas podem ajudar na elaboração de conflitos pessoais, e por isso estão indicadas em diferentes problemas psiquiátricos. Alguns psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação a poesias e outros textos altamente simbólicos" | Biblioterapia é um termo criado por médicos norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Nessa época psiquiatras que acompanhavam as tropas americanas notaram que os soldados feridos, que tinham acesso à leitura, e liam muito durante sua recuperação no hospital, tinham uma evolução melhor, em diferentes tipos de problemas de saúde, comparados àqueles que ficavam sem nada para fazer. |
Baseados nessa observação, esses psiquiatras conseguiram
um incentivo para dar acesso à leitura a todos os pacientes, ao
mesmo tempo que começaram a investigar o efeito da leitura em alguns
problemas psiquiátricos. Na sua investigação, soldados,
que tinham um problema comum nas guerras, chamado estresse pós-traumático,
também se beneficiaram da leitura de livros. Isso popularizou esse
tratamento entre médicos militares.
Hoje em dia a VA (Veterans Administration) entidade que cuida da saúde dos militares norte-americanos possui um extenso manual de biblioterapia, com indicação para várias doenças psiquiátricas, além de disponibilizar biblioterapêutas para seus pacientes. No material da VA há indicação de uso da leitura específica para tratar depressão, ansiedade, distúrbio bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, dependência química, programas de bem-estar, prevenção de várias doenças, distúrbios sexuais, e obviamente, em estresse pós-traumático.
Hoje em dia a VA (Veterans Administration) entidade que cuida da saúde dos militares norte-americanos possui um extenso manual de biblioterapia, com indicação para várias doenças psiquiátricas, além de disponibilizar biblioterapêutas para seus pacientes. No material da VA há indicação de uso da leitura específica para tratar depressão, ansiedade, distúrbio bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, dependência química, programas de bem-estar, prevenção de várias doenças, distúrbios sexuais, e obviamente, em estresse pós-traumático.
Não só na experiência do VA, mas também em
outros centros de pesquisa e universidades do mundo, o emprego da biblioterapia
em psicologia e psiquiatria tem sido crescente. Entretanto, num segmento,
o da a psicologia e psiquiatria infantil, essa técnica se revelou
especialmente eficiente. Um dos pioneiros nessa área foi o psicólogo
austríaco radicado nos Estados Unidos, Bruno Bettelheim, diretor
por muitos anos do Instituto Sonia-Shankman para crianças psicóticas
em Chicago. Ele descobriu o poder de histórias, mitos e jogos infantis
sob o estado psicológico das crianças, e utilizava exclusivamente
esses recursos no tratamento de seus pequenos pacientes, com resultados
extraordinários.
Bettelheim costumava selecionar um grupo de mitos e histórias,
conforme o histórico das crianças, que ia contando, até
descobrir qual tinha mais impacto. Em geral os pacientes sinalizavam que
gostariam de ouvir novamente a história que mais se encaixava em
sua problemática – e então revisitando muitas vezes
a mesma história e trabalhando seu conteúdo simbólico,
Bettelheim conseguia que essas crianças elaborassem seus conflitos.
Hoje em dia, quase todos terapeutas de crianças trabalham com essas
técnicas em virtude do sucesso relatado por psicólogos e
psiquiatras em todo mundo. Bruno Bettelheim nunca usou o termo biblioterapia,
mas a sua técnica, sem dúvida está dentro desse conceito.
Por que ler traz bem-estar mental?
Os estudos recentes mostram que o tipo de simbolização
(e imaginação) que as pessoas fazem quando leem um livro
é muito diferente daquela gerada por um filme ou outro método
audiovisual. A pessoa constrói as imagens livremente em sua imaginação
de acordo com seu universo conceitual. Dessa forma, ela adapta o imaginário
da leitura, às suas vivências, e pode elaborá-las
de forma mais eficiente, que nas experiências com recursos que possuem
imagem, como o cinema. Também a leitura permite que a pessoa releia
certas partes do conteúdo diversas vezes, quando há uma
motivação, o que não ocorre em outros tipos de mídia.
Isso reforça a importância da leitura, e o porquê da
sua não substituição total por outras formas de acesso
a informação e ao conhecimento.
Biblioterapia tem sido proposta para o tratamento de vários outros
problemas de saúde além das doenças psiquiátricas.
Uma das áreas onde há um forte benefício para o emprego
da leitura é nos distúrbios do sono. Numa época onde
os meios eletrônicos se expandem cada vez mais, e há indícios
que essa expansão possa ter relação com o aumento
dos casos de insônia e distúrbios do sono, resgatar a importância
da leitura para regularizar o ritmo do sono é um avanço.
Leitura à noite pode ajudar a combater insônia
Talvez a primeira referência do uso da leitura no tratamento de
insônia seja a lenda das mil e uma noites. Nela a princesa Xerazade,
estaria condenada a morrer, porque o Rei Persa Xariar mandava decapitar
todas esposas na noite seguinte às núpcias temendo uma traição.
Ela escapa da morte contando histórias que fazem o rei dormir.
Ansiando para saber o final de cada história, e agradecido por
ela ter resolvido sua dificuldade de dormir, ele poupa a vida da princesa
dia após dia contabilizando mil e uma noites, até que ele
desiste da execução. Hoje em dia muitos especialistas em
sono têm recomendado aos portadores de insônia para evitar
televisão e computador no final do dia, trocando pelas páginas
de um bom livro. As evidências são que ler a noite ajuda
a reduzir a atividade cerebral, o que auxilia a conciliar o sono.
Há ainda referências de que a leitura habitual auxilia a
minimizar o distúrbio de memória do idoso, conhecido pela
sigla ARMI (age related memory impairment). Durante a leitura há
um estímulo específico no cérebro que ajuda na formação
de sinapses numa estrutura cerebral chamada corpo caloso. Em geral quanto
mais conexões através do corpo caloso, mais conexões
de memória a pessoa tem, auxiliando esse processo. Outra forma
que a leitura ajuda na memória é melhorando a qualidade
do sono, já que a memória transitória se transforma
em definitiva nesse período.
Para ter alguns benefícios da leitura, basta começar a
ler um bom livro todos os dias. Mas quando se trata de um tratamento com
biblioterapia, a estratégia é mais complexa, e exige uma
participação fundamental do terapeuta. No tratamento o terapeuta
escolhe os livros que o paciente vai ler – que ele conhece o conteúdo
– para, em seguida, conversar sobre os conteúdos lidos. O
paciente pode receber uma recomendação de reler o texto,
em situações específicas. Ele pode também
ser estimulado a escrever ou desenhar sobre os conteúdos lidos.
As vezes o biblioterapeuta pode ler os conteúdos para o paciente.
Não somente o ato de ler é benéfico, mas os conteúdos
também são importantes para os resultados esperados. A prática
da biblioterapia está em escolher conteúdos, tipos de texto,
tamanho e ritmo de leitura, adequados, para o resultado esperado. Por
exemplo, a leitura adequada para insônia é mais lenta e repetitiva.
Não é adequado propor um texto excitante de um romance para
isso. Por outro lado, muitas ficções romanceadas podem ajudar
na elaboração de conflitos pessoais, e por isso estão
indicadas em diferentes problemas psiquiátricos. Alguns psicóticos,
como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação
a poesias e outros textos altamente simbólicos.
No Brasil a biblioterapia ainda é muito incipiente. Alguns pesquisadores
têm se interessado, mas a sua pratica é limitada pela falta
de terapeutas treinados. Esperamos que em breve seja possível contar
com mais essa ajuda para a saúde. Enquanto ela não vem,
a solução é começar logo a ler um bom livro.
Alex Botsaris
é médico especializado em Medicina Complementar
Alex Botsaris
é médico especializado em Medicina Complementar
Fonte: Vya Estelar
Nenhum comentário:
Postar um comentário