A professora Cristiane Tavares, coordenadora do curso de pós-graduação "Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica", comenta o valor da literatura na formação crítica das crianças
(Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil)
A leitura literária é importante na infância por vários motivos, mas
vou citar quatro razões que considero essenciais. Pensando
especificamente na primeira infância, podemos dizer que a leitura
literária – aqui entendida de modo amplo, incluindo textos produzidos
oralmente, como canções, cantigas de ninar, parlendas, trava-línguas – é
uma das primeiras experiências de comunicação poética que a criança
tem, o que pode proporcionar sensações de bem-estar e fortalecimento da
subjetividade importantes para o desenvolvimento emocional, por exemplo,
além de desafios cognitivos lúdicos, considerando-se que a comunicação
poética convida a um instigante jogo com o sentido das palavras e com os
sentidos da percepção.
O ritmo do texto poético falado ou cantado, a sonoridade das palavras, a
constância de um determinado timbre de voz e suas entonações comunicam
sentimentos específicos e ampliam a capacidade de percepção e interação
da criança, inclusive em se tratando de bebês. É por isso que, mesmo em
contextos em que o livro como objeto está ausente, mas a palavra
literária é de alguma forma criada e compartilhada oralmente, podemos
dizer que há leitura literária porque há uma interação marcada pela
intenção de se comunicar de forma singular com a criança, tendo a
palavra poética como principal recurso. Além disso, avançando um pouco
mais, a leitura literária na infância é necessária para garantir o
acesso da criança à cultura escrita, sobretudo, o acesso à cultura
escrita em sua expressão artística.
A leitura literária pode ser, por exemplo, um dos primeiros contatos da
criança com uma obra de arte, se considerarmos a literatura como
linguagem artística. Essa imersão na cultura escrita adquire ainda mais
valor, pensando-se no que ela pode proporcionar socialmente. Integrar
uma comunidade de leitores, desde cedo, mesmo antes de saber ler
convencionalmente, pode ser uma experiência coletiva extremamente
formativa: ouvir a leitura de um adulto, falar sobre os livros, discutir
preferências e pontos de vista, buscar sentidos implícitos, construir e
validar interpretações de forma partilhada são experiências que a
leitura literária pode proporcionar.
O direito à fabulação, como nos ensinou o mestre Antonio Candido, é
mais um aspecto que torna a leitura literária tão necessária, desde a
infância. Fabular ou buscar modos simbólicos de compreender e recriar a
realidade é condição para o desenvolvimento humano porque permite
encontrar formas cada vez mais elaboradas de compreensão de si, do outro
e do meio social em que se vive. A leitura dos chamados contos
maravilhosos e das narrativas míticas, que tanto atraem as crianças, são
meios potentes de exercitar a fabulação. Por fim, uma quarta razão que
torna a leitura literária na infância necessária é a experiência de
alteridade que ela proporciona (tão em falta no tempo que vivemos!), ou
seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro, de estabelecer uma
relação de empatia e respeito com outras experiências humanas, em
distintos contextos culturais. Como diz a espanhola Teresa Colomer,
especialista em literatura infantojuvenil, a literatura nos permite “ser
outro, sem deixar de ser a gente mesmo”.
Cristiane Fernandes Tavares é mestre em Literatura
e Crítica Literária pela PUC-SP (2005) e graduada em Jornalismo pela
Faculdade Cásper Líbero, atualmente coordena o curso de Pós-Graduação "Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica", no Instituto Vera Cruz - SP.
ótimas indicações para levarmos para o berçario zona norte sp, dicas boas demais, legais, belo trabalho, vai ajudar
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