Era comum no tempo dos nossos avós a
expressão “Ah! Se eu tivesse leitura!”. Não ter leitura significava a falta de
oportunidade de aprender a ler. Há cinquenta anos, 40% da população brasileira
eram de analfabetos e o governo militar criou, em 1967, o Movimento Brasileiro
de Alfabetização (Mobral), com a tarefa de alfabetizar em massa, na tentativa
de reduzir a estatística e dar ao povo melhores condições de vida.
O que era provisório reinou de 1967 a 1985. Reduzir estatística de analfabetismo não é o mesmo que erradicar a fome do saber e não preparou o povo para a leitura compreendida e refletida e não se resolve isso, num passe de mágica, por decreto federal.
O que era provisório reinou de 1967 a 1985. Reduzir estatística de analfabetismo não é o mesmo que erradicar a fome do saber e não preparou o povo para a leitura compreendida e refletida e não se resolve isso, num passe de mágica, por decreto federal.
Atualmente, a taxa de analfabetismo é de 9%,
totalizando 13 milhões de brasileiros. O percentual, ainda, é alto e não se
deve confundir alfabetização com escolaridade. O fato de se frequentar uma
escola, não é suficiente, para que uma pessoa seja considerada alfabetizada.
Saber juntar as palavrinhas não é ser alfabetizada. A pesquisa do IBGE não leva
em conta o nível de proficiência dos alunos em leitura e escrita, o que torna a
situação da leitura no Brasil estarrecedora. O Indicador de Alfabetismo
Funcional – INAF - informa que 70% da população têm dificuldades para ler e que
apenas 16% dos que concluem o ensino fundamental são alfabetizados.
Quanto à escolarização, o Brasil tem mais de 3,5 milhões de
crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola e a metade corresponde
a jovens de 15 a 17 anos. Na Pesquisa SAEB/MEC, de 2011, com alunos concluindo
o curso fundamental, incluindo escolas públicas e privadas, 44% não sabiam ler
e 47% não sabiam escrever e em alunos da 4.ª série, só 34% têm o aprendizado
adequado em português e, por via de consequência, no ensino médio, somente 29%.
Eu não sei se tem a ver, mas em 2010, o Brasil, excluindo-se a impressão de
livros escolares, imprimiu 493 milhões de livros contra 2,57 bilhões de livros
nos Estados Unidos. A diferença é gritante.
Nos países europeus, a média de leitura é de 8 a 10 livros ao
ano e o brasileiro lê, em média, 4,0 livros ao ano. Os dados fazem parte da
pesquisa Retratos da Leitura, de 2012, pelo Instituto Pró-Livro. O pior de tudo
é saber que do total de 4,0 livros lidos ao ano pelos brasileiros, 2,1 livros
são lidos inteiros e dois em partes. Além do total ser pequeno, é preciso
analisar a qualidade do que se lê. Este é outro sério problema.
Pesquisas recentes indicam que os professores são os que mais
influenciam os alunos à leitura, tomando o lugar das mães. Respire fundo porque
professores bem treinados dependem de bons salários para acesso a livros não
didáticos. De novo, esbarramos nas políticas desfocadas que os governos têm
para a educação.
Você deve estar reagindo – Mas, o Brasil melhorou e hoje, o povo
tem “leitura”. Será? Não é suficiente saber ler, o grande desafio é preparar os
leitores para a interpretação de textos, pois, os textos não devem ser somente
melodiosos e bonitinhos, eles têm que ser compreendidos e refletidos e os
leitores precisam adquirir a capacidade de enxergar por trás das palavras
(metapalavra).
O Brasil precisa investir mais no ensino, avançar na educação do
povo e criar programas de incentivo ao prazer da leitura, de tal forma que a
gente veja nas filas e nos ônibus as mãos cheias de livros e as pessoas
frequentem livrarias e bibliotecas, o que é muito comum ver na Europa e nos
Estados Unidos. O hábito da leitura é formado também através da conscientização
das famílias. Crianças que veem seus pais lendo e os vê fazendo anotações,
grifando e trocando dicas de leitura com os amigos, são modeladas à leitura.
A estatística de leitura tem melhorado sim, nos últimos anos,
mas o Brasil está longe de ter políticas públicas de incentivo à leitura. Ora,
se “nada está no intelecto, sem antes passar pelos sentidos” e só se escreve
com competência quem lê regularmente, eu não sei o porquê do silêncio da
sociedade brasileira e das instituições, diante desse quadro chocante.
Desconfio que os políticos não se interessem muito, a apuração do senso crítico
do povo, que o transforme em questionador e aumente a sua taxa de exigência,
não os agrade.
Saber ler e escrever é o conhecimento mais importante para a
plena conquista do ser humano. Um povo que lê é um povo culto. Posso assegurar
que o extraordinário poder da leitura me ajudou a quebrar a inércia de origem e
a vencer as grandes dificuldades que cruzaram o meu caminho.
Imagine se o nosso povo lesse mais!
Eudes Moraes
é autor dos livros Multiverso e No Divã com Deus.
Londrinense, com curso de graduação em Psicologia pela Unifil.Fonte: Sistema de Bibliotecas da UEL
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