Ao ouvir histórias, os bebês, assim como as crianças, têm seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social estimulado.
Por
que as crianças gostam de ouvir histórias? A história contada é
diferente da lida? São questões que devem ser discutidas entre os
educadores e também no seio das famílias. A leitura é um alimento
necessário para a participação na vida social e para a formação cidadã
da criança. Ao aprender a ler, ela se apropria do mundo ao seu redor.
Isso se dá quando diferentes práticas de leitura acontecem.
As
crianças hoje são levadas para a escola cada vez mais cedo, onde ela
precisa brincar, aprender e ser cuidada. Brincar é uma atividade
necessária para todos. Na infância, a brincadeira possibilita o
exercício da fantasia e facilita a comunicação. Mesmo que não haja
brinquedos, a criança os inventa. Desde pequena, ela estabelece uma
relação com algum objeto ao seu redor, que pode ser um brinquedo ou
também um livro. É por meio do contato com esses objetos que ela vai
conhecer as coisas e as pessoas: ao tocar, ao levar à boca, ao sentir o
que existe perto dela.
Ao
mesmo tempo, a entrada no universo da linguagem se dá antes mesmo de a
criança ingressar na escola. A maneira como os adultos a cuidam: o
olhar, os gestos, os ruídos (desde os sons sem sentido às cantigas),
tudo isso inaugura o processo de aproximação com a leitura. Antes da
comunicação verbal, o bebê aprende a não verbal, revelada pelos modos
como os adultos interagem com ele.
Em
pesquisa recente da Fundação Itaú Social, 96% dos brasileiros
consideram importante ou muito importante o incentivo à leitura para
crianças de até 5 anos. Porém, apenas 37% dos entrevistados leem livros
ou contam histórias para elas. Por que poucos adultos leem para as
crianças?
A
leitura não atrapalha o desenvolvimento escolar da criança, ela é uma
ferramenta para os pais e educadores. As crianças precisam ouvir
histórias para aguçar sua imaginação. Isso facilita o processo de
letramento, de aquisição da leitura e escrita autônomas. Ao ouvir
histórias, seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social é
estimulado.
Os
educadores podem e devem criar situações lúdicas, em que os sons e as
palavras são os instrumentos para introduzir a criança no mundo da
literatura. Ao cantar versos para as crianças ou juntamente com elas, o
educador traz um ritmo e uma melodia que são repetidos por elas. Novas
palavras e novos sons são descobertos. Ao fazer uma roda e ler uma
história ou um poema, o educador estabelece um momento de encantamento e
descobertas.
Muitas
vezes, por falta de informação ou de esclarecimentos, o contato com a
leitura se dá de uma forma mecânica e pouco natural. Ao cantar (cantigas
de ninar e de roda, adivinhas, parlendas) para os bebês e crianças, os
adultos contribuem para a aproximação deles com a literatura. A tradição
oral revela um manancial de expressões que podem iniciar os pequenos no
universo literário. Ao mesmo tempo, a cultura letrada está cada vez
mais perto de nós.
Antes
de a criança frequentar a escola, os pais deveriam envolve-la com a
literatura, seja por meio de acalantos, das cantigas, seja por meio de
livros de histórias e de poesia. É importante a criança ouvir o texto
lido. Um conto lido é diferente de uma história contada. O que está
escrito tem pausas, silêncios, ritmos próprios da língua escrita. A voz e
a cadência da leitura marcam uma relação de confiança, de acolhimento
para quem ouve. Para tanto, é necessário que o local seja preparado para
o conforto das crianças, estejam sentadas ou deitadas. O adulto deve
ler e ao mesmo tempo olhar para as crianças. Não deve se preocupar com
conteúdos pesados (a violência, por exemplo) que estejam em textos
ficcionais. A ficção é uma coisa que foi criada para divertir, distrair
quem lê. As crianças sabem que nos livros há histórias cheias de
encantamento, de fantasias, de terror. Elas precisam disso para viver,
para elaborar as vicissitudes da vida cotidiana.
Quando
sonhamos, reproduzimos imagens e sensações que fogem ao nosso controle,
à nossa razão. As histórias ficcionais são feiras também desse
material: da desrazão, daquilo que não tem explicação racional. Esses
elementos presentes na literatura ajudam as crianças a entenderem os
mistérios da nossa existência: o crescimento, as mudanças no corpo, as
separações e as faltas.
As
famílias devem se comprometer com o trabalho desenvolvido pela escola. O
educador pode convidar os responsáveis pelas crianças para encontros
com a leitura de obras selecionadas. Por sua vez, pedir a criança para
trazer um livro de casa é uma maneira de conhecer o repertório da
família. Um convite aos pais para irem à escola lerem ou contarem uma
história pode ser um passo para um vínculo entre a escola, a família e a
leitura.
Ninfa Parreiras – psicanalista, professora, autora de obras literárias e de ensaios para adultos, como O Brinquedo na Literatura Infantil: uma leitura psicanalítica (Biruta) e Do ventre ao colo, do som à literatura: livros para bebês e crianças (RHJ).
Fonte: Carta Fundamental, n.43, p.20-21, nov. 2012
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