Aumento de conexões em algumas áreas cerebrais faz com que o leitor se sinta na pele do personagem
Leitura: efeitos no cérebro continuam mesmo depois que o livro termina
(Thinkstock)
Para leitores, o fato de que histórias podem mudar uma pessoa não é
nenhuma novidade. Porém, um novo estudo indica que a leitura de um
romance pode provocar mudanças reais no cérebro, que persistem por
alguns dias mesmo depois que o livro acaba. Os resultados foram
publicados na edição de dezembro do periódico Brain Connectivity.
Enquanto outras pesquisas nessa área começaram a utilizar a
ressonância magnética para identificar as redes cerebrais associadas à
leitura, principalmente enquanto as pessoas leem, o estudo de Berns e
sua equipe teve como foco os efeitos naturais que permanecem no cérebro
após essa atividade.
“Histórias ajudam a dar forma às nossas vidas, e às vezes ajudam a
definir uma pessoa. Nós queremos entender como elas entram no nosso
cérebro, e o que são capazes de fazer com ele”, conta Gregory Berns,
neurocientista da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, e principal
autor do artigo.
Acompanhamento – Participaram do estudo 21
estudantes de graduação da Universidade de Emory, que se submeteram à
ressonância magnética por 19 manhãs consecutivas. Os primeiros
cinco dias serviram apenas para registrar a atividade normal dessas
pessoas durante o repouso. Depois, durante nove dias, eles leram o
romance Pompéia, escrito por Robert Harris. A história se
baseia em um evento real, a erupção do Monte Vesúvio na Itália, e
acompanha um protagonista que, de fora da cidade de Pompéia, percebe a
fumaça ao redor do vulcão e tenta voltar para salvar sua amada.
Os participantes deveriam ler uma parte do livro à noite, e passar
pela ressonância magnética na manhã seguinte. Terminado o período de
leitura, os eles foram ao laboratório por mais cinco dias, para que os
pesquisadores avaliassem se os efeitos da história permaneceriam.
Nas manhãs seguintes à leitura, os resultados mostraram um aumento na
conectividade de uma região do cérebro associada à recepção da
linguagem. “Apesar de os participantes não estarem lendo enquanto eram
avaliados, eles retiveram esse aumento de conectividade”, explica Berns.
Um aumento de conexões também foi identificado no sulco central do
cérebro, região ligada à função motora. Os neurônios dessa região estão
relacionados à criação de representações de uma sensação do corpo – o
simples pensar em correr, por exemplo, pode ativar os neurônios
associados ao ato físico de correr.
Sentir na pele – Para os pesquisadores, essas
mudanças cerebrais provocadas pela leitura, que têm a ver com a
movimentação e sensações físicas, sugerem que um romance pode, de certa
forma, transportar o leitor para o corpo do protagonista. “Nós já
sabíamos que boas histórias podem te colocar no lugar de outra pessoa,
em um sentido figurado. Agora estamos percebendo que algo assim também
ocorre biologicamente”, explica Berns.
Os pesquisadores ainda não sabem dizer até onde essas mudanças podem
ir, mas elas persistiram pelo menos durante os primeiros cinco dias após
a leitura, analisados neste estudo. “O fato de que detectamos esses
efeitos alguns dias depois da leitura de um romance escolhido
aleatoriamente por nós sugere que os romances favoritos de uma pessoa
podem desencadear efeitos mais intensos e duradouros”, afirma o
pesquisador.
Fonte: Veja
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