No Sítio Boa Liga, em Pedro do Rio, Monteiro Lobato, Cecília Meireles e Ruth Rocha são velhos conhecidos das crianças. Três vezes por semana, a garotada encontra esses e outros escritores, antes de ir para escola, e brinca com suas prosas, enquanto se diverte tomando banho no rio, pegando frutas do pé e encenando histórias.
A brincadeira com jeito de coisa séria faz parte do projetos “Paiol de histórias”, da Fundação Lygia Bojunga, que completa cinco anos em 2011. A instituição surgiu quando a escritora ganhou o prêmio sueco Astrid Lindgren Memorial Award, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil. A partir daí, Lygia decidiu dar o troco a tudo que o livro proporcionou.
A escritora Lygia Bojunga conhecia Pedro do Rio, e já tinha lá o Sítio da Boa Liga. Adaptou então um paiol e construiu aqui e ali alguns espaços, tudo bem simples, para trazer as crianças da região. A ideia era nutrir uma relação mais próxima entre os pequenos e os livros, estimulando a leitura.
— Era importante para mim casar tudo com a natureza, por isso o sítio. Eles fazem caminhadas, tem a praça da poesia e a praça da música. Quase todas as atividades buscam casar literatura e natureza — conta a autora.
Para coordenar o projeto, Lygia chamou a professora Francisca Valle, que pesquisava literatura infanto-juvenil. É ela que orienta as escolhas literárias de cada criança. Se uma mais novinha insiste em uma obra mais densa, como a de Clarice Lispector para jovens, a professora sugere outra mais adequada. Francisca também já conhece os gostos de cada um. Cecília Meireles, por exemplo, foi tema de um trabalho durante o ano passado e fez sucesso com as meninas. A própria Lygia Bojunga, que escreveu o clássico “A bolsa amarela”, é uma das preferidas. Mas Francisca admite que esse gosto pela leitura nem sempre pega fácil.
— As crianças que participam do projeto são de áreas muito humildes. Muitas vezes, nem os pais nem parentes e nem vizinhos têm o hábito da leitura. É algo fora da realidade deles. Então vemos que, no começo, eles estão lendo, chegam a uma palavra mais complexa e desistem. Não tem a compreensão completa, daí a importância de estarmos mediando a leitura nesse projeto.
Fonte: O Globo
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